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Aquela palavra com F

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Venho de uma família com mulheres fortes e independentes. Minhas duas avós tem diploma de graduação, ambos conseguidos depois da aposentadoria, que só veio depois de muito trabalho. Minha mãe se formou na faculdade comigo no colo, terminou o mestrado antes que eu completasse dez anos, e deixava meu pai se virando comigo quando precisava sair e ser maravilhosa em congressos por aí. Minha mãe e minhas avós me criaram pra ser forte e independente como elas, e suas vidas são ótimos símbolos de uma luta por igualdade e girl power, mas nenhuma delas, quando eu perguntei, me respondeu que era feminista.


Eu ainda lembro daquela época quando, na minha cabeça, a feminista era praticamente uma bruxa. Lembro de O Cravo e a Rosa, da Catarina e de suas amigas feministas, que eram loucas e chatas, e foram todas curadas por um grande amor. Eu ainda lembro de pensar que as feministas não me deixariam depilar as axilas, que iriam rir do meu sonho de casar com um homem vestida de noiva e que pra elas pra elas tudo era noooossa. 

Mas eu lembro também de ficar incomodada com várias coisas, como o fato do meu avô nunca ajudar minha avó em casa ou quando uma amiga me disse que os garotos não gostavam de mim porque eu era inteligente e tinha muitas opiniões fortes, e garotos não gostam de meninas assim - logo, era pra eu parecer ser menos inteligente, dar menos opiniões, e ser mais fofinha também, se não for pedir demais. Outra vez eu ouvi que o suposto motivo do casamento dos pais de uma conhecida ter acabado era porque a mãe ganhava mais que o pai, e lares assim não funcionam direito (e a culpa, claro, era da mulher). Eu ouvia meninas falando que preferiam a amizade de meninos, porque meninas não são confiáveis e têm inveja umas das outras. Já conheci várias meninas que deixaram de usar alguma coisa porque o namorado "não deixava", e por isso não passavam esmalte escuro ou usavam batom vermelho. Quando cortei o cabelo curto pela primeira vez, aos 14 anos, ouvi de muitas pessoas que aquela era uma péssima ideia e que homens não gostam de meninas de cabelo curto - e até hoje no salão se eu mando cortar tudo tem alguém que vira e pergunta: mas seu namorado vai deixar? 

Eu ouvia essas coisas por aí e ficava muito desconfortável, discordava de tudo, questionava tudo, mas não sabia o que isso significava. Porque eu achava que era obrigação do meu avô - e de todos os homens - cuidar da casa também. Porque eu não queria que um garoto gostasse de mim só se eu fosse menos inteligente, tivesse menos personalidade, ou fosse mais fofinha, coisa que eu não era. Porque o fato da mulher ganhar mais não era um pecado. Porque eu tinha amigas maravilhosas e não acreditava que elas me fariam mal em busca de vantagens. Porque eu xamais deixaria de pintar minhas unhas de determinada cor, de usar algum batom, ou de cortar meu cabelo porque meu suposto namorado não permitiria

Então, no segundo ano do ensino médio, minha turma passou o ano todo trabalhando num projeto cujo tema era mulher. A gente desenvolvia várias atividades em sábados letivos e no fim do ano apresentava pro resto da escola, como numa feira de ciências. Foi em 2010, ano em que a Dilma foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil, e numa dessas atividades nós fomos pra rua fazer algumas perguntas sobre igualdade de gênero. A última pergunta do questionário era: "você é feminista?" e nem preciso dizer que a maioria das pessoas disse que não, ainda que elas tivessem respondido sim pra todas as outras perguntas - sem saber que essa coleção de sim os colocava de acordo com a definição mais básica do que é ser feminista:



Mas olha só que coisa, eu também não tinha coragem de dizer que era feminista. Pelo menos não em voz alta.

Quem disse isso pra mim pela primeira vez foi minha professora de Sociologia do ensino médio. Ela estava orientando minha turma naquele projeto, e no fim tínhamos que entregar um relatório contando o que aprendemos ao longo do ano. Fiz esse relatório de um jeito bem passional, desabafando sobre todas as coisas que me desgraçavam a cabeça, compartilhando todos os absurdos que tinha ouvido das pessoas na rua, fazendo um inventário de todos os absurdos que eu tinha ouvido das pessoas na vida, de modo geral. Eu estava nervosa. Aí uns dias depois essa professora me chamou pra conversar, disse que tinha gostado muito do meu relatório, pediu pra usá-lo num artigo que ela estava escrevendo, e disse que ficava muito feliz por estar formando jovens feministas na sua sala de aula.

Uéééé...

Foi a primeira vez que eu ouvi aquela palavra, aquele palavrão, como algo positivo. Ela tinha me chamado de feminista, aquela professora maravilhosa, a mesma que um dia contou pra turma que nunca quis casar vestida de noiva, até que um dia ela quis, e se casou, vestida de noiva e tudo, e foi maravilhoso. Foi ela que começou a me mostrar que ser feminista era ter a chance de ser maravilhosa sem pedir desculpas, e poder ser que a gente quiser sem ter que se explicar pros outros, ou sentir vergonha, ou achar que você está fazendo algo errado por querer ser livre. Foi ali que eu percebi que feminismo era justamente uma luta pela liberdade.

O feminismo me mostrou também que, como eu já desconfiava, a gente ainda estava muito longe de ser livre. 

Hoje é o Dia Internacional das Mulheres, uma data tão controversa que sinto que a cada ano tenho uma opinião diferente sobre ela. Em 2015, fico feliz porque me sinto mais mulher do que em qualquer outro ano. Estava certa nossa deusa, nossa louca, nossa intensamente citada feiticeira Simone de Beauvoir quando diz que a gente não nasce mulher, mas se torna mulher. 

Me tornar mulher foi ter consciência das opressões que sofro, das lutas que tenho que abraçar, de perceber a mim mesma como minha só minha e não de quem quiser, e ter coragem de enfrentar esse nosso mundão, que é tão duro com a gente. Me tornar mulher foi ver que eu estava cheia de irmãs, aliadas maravilhosas, e nunca inimigas. Me tornar mulher foi perceber que esse processo nunca vai estar completo, todo dia é uma nova descoberta, e eu não sou perfeita e impecável, assim como não existem pessoas perfeitas e impecáveis, mas todo dia é um novo dia pra se aprender algo novo, desconstruir preconceitos e julgar menos as pessoas. Me tornar mulher foi aprender a ser mais gentil comigo mesma e com os outros,  mas principalmente com as outras. 

No entanto, em 2015, também fico triste porque mais uma vez vamos ganhar rosas de quem dali cinco minutos vai julgar a menina pela roupa que ela usa ou me chamar de mal comida porque não quero ser assediada nas ruas. Fico triste porque ontem duas mulheres apresentaram o maior telejornal do país - uma homenagem ao dia da mulher, mas isso só acontece no dia da mulher. A gente continua morrendo por ser mulher, dia sim, outro também, e não é uma flor ou um bombom que vai mudar isso. Então deixe suas rosas pros mortos e os discursos de delicadeza e elegância pra Barbie Malibu (?), porque a vibe aqui é faca na bota mesmo. 

Venho de uma família com mulheres independentes e fortes, que me criaram para ser independente e forte, e queria muito que um dia essas mulheres - e todas as outras - se vejam e se sintam como as mulheres independentes e fortes que são e não tenham medo de serem feministas, porque uma mulher feminista é uma mulher que não tem medo de ser - e querer ser - livre.


Alguns links para você saber mais: 
Humildemente, três links da casa:

O ser humano é o único animal que não aprende com seus erros

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Ou: Porque fazia tempo que eu não tomava uma chuva daquelas


Como todo quadrúpede da sua espécie, Francisco, o cão, gosta de andar de carro com a cabeça pra fora, curtindo aquela fresca. Ou melhor, gostava. Isso porque certo dia, enquanto punha sua alva cabeça na janela pra apreciar o movimento, ele apertou o botão de fechar o vidro com a patinha e quase se enforcou. Foi um momento dramático nas nossas vidas, porque o vidro foi fechando, Francisco chorando, e eu não entendendo que ele mesmo estava travando o vidro. Passado o susto felizmente salvaram-se todos, mas Francisco, o poodle, nunca mais colocou a cabeça pra fora do carro. 

De vez em quando ele esquece e até ameaça um movimento ousado, mas logo se retira, como se algo nas imediações da janela lhe desse um choque e trouxesse de volta as trágicas lembranças do passado. É isso que acontece quando a gente aprende uma lição.

Infelizmente, eu não sou tão boa em aprender lições.

Veja bem, hoje eu saí de casa pra ir trabalhar. Mais ou menos no meio do caminho, percebi que tinha esquecido meu guarda-chuva em casa. O céu estava cinza e eu moro relativamente perto do estágio, então dava pra voltar. Dava, mas não dava - sabe assim? Pra variar, eu estava atrasada e dar meia volta, subir em casa de novo, etc, me tomaria uns dez minutos. Achei mais fácil seguir em frente e torcer pra não chover. 

"HM, ENTÃO ELA VAI CONTAR COM A SORTE" VIDA, Minha. 2015.
Depois do estágio tinha que dar um pulo na universidade pra uma reunião com minha orientadora. Cortei caminho pelo shopping e quando saí, adivinhem: estava chovendo. Quer dizer, estava chuviscando, aquela chuvinha fina que só serve pra fazer raiva e deixar o cabelo todo arrepiado, mas que não mata ninguém. Esperei uns 10 minutos e, como ela não aumentou nem diminuiu, achei que estava segura pra seguir em frente, a pé mesmo. E sem guarda-chuva. 

Se eu tivesse sorte, a garoa continuaria naquele ritmo até eu chegar na faculdade, certo?


Bom, no meio do caminho a chuva engrossou. Tive a sorte de achar uma farmácia no meio, onde consegui me esconder até o pior passar, mas ainda assim andei um bocadinho embaixo de uma garoa forte e cheguei na reunião atrasada, descabelada, aquela coisa bem bonita de se ver. Ao chegar em casa, me olhei no espelho e pensei que tudo aquilo teria sido evitado se eu tivesse voltado pra casa pra pegar o maldito guarda-chuva. Eu entendi tão perfeitamente que o episódio daquela tarde fora um aviso que, inclusive, registrei minha epifania na posteridade:

Mas, como eu disse, aprender lições não é o meu forte.

Eu tinha uma horinha pra matar antes de sair de novo pra aula de francês, e passei esse tempo todo ponderando que eu não queria realmente ir pra aula de francês. Não era a preguiça típica que eu sinto toda terça e quinta antes da aula, não era (só) a vontade de ficar em casa vendo a novela nova, tampouco (só) o fato de que meu cabelo estava horroroso e tem um novo professor de inglês gato na escola. Eu simplesmente não queria ir, um sentimento meioI would prefer not to, quase uma intuição me dizendo pra ficar em casa. Não foi a primeira vez que eu tive uma intuição de ficar casa, vejamos o que eu disse na época: 

"A lição que fica disso, queridos leitores, é que quando algo disser pra vocês não saírem de casa, não saiam."

CELULAR, Eu Mesma Depois de Ter Saído de Casa e Perdido o. 2014.

Quando eu estava praticamente decidida que o melhor a fazer era passar um café pra eu tomar assistindo minha novelinha™ (que começou ontem e eu já estou apegada, veja bem), tive um impulso de levantar do sofá e ir pra aula. Lembrei que eu tinha feito lição mais cedo e não queria perder a chance de, ao menos uma vez na vida, entregar a tarefa no dia. Chegando no ponto de ônibus, percebi que, de novo, eu tinha esquecido o guarda-chuva. Até dava pra eu voltar em casa e pegar. Dava, mas não dava - de novo. Cinco minutos é tempo o suficiente pra se perder um ônibus, então achei melhor não. Nem ia chover, e se chovesse não seria forte o bastante pra me atrapalhar. Eu tomei chuva à tarde e não morri, certo? Ia ficar tudo bem. 

"HAHAHAHA ELA VAI SE FERRAR TANTO ESTOU ANSIOSA"
Bom, logo quando eu entrei no ônibus começou a chover. Muito. Uma tempestade. Do tipo que a gente não consegue enxergar o lado de fora. Do tipo que faz as pessoas fecharem a janela e o teto solar (?), senão vai todo mundo se molhar lá dentro. Do mesmo jeito que estavam molhadas as pessoas que foram entrando no ônibus depois que a chuva caiu. Meu ponto estava cada vez mais próximo e não tinha a menor condição de eu descer, então meu plano de emergência foi seguir até o ponto final e de lá voltar pra casa. 

Coloquei o disco novo do Sleater Kinney pra tocar (inclusive fica a dica), dei um suspiro e aceitei meu destino com resignação - afinal, era isso que eu ganhava por não ter aprendido a lição de mais cedo. Se fosse eu um cachorro, já teria morrido enforcada. Eu ia passar uma hora andando de ônibus pela cidade, perder minha aula, a tarefa feita, o professor gato e a novela e tudo bem. Era esse o meu castigo. Certo?

"TADINHA ELA NÃO APRENDE MESMO"
Quando cheguei no ponto de ônibus perto de casa, aquele mesmo que eu tinha pegado o ônibus uma hora antes (nem preciso comentar o olhar de julgamento que o Harrison Ford do Busão me lançou, ele que absolutamente não entendeu por que diabos eu fiquei uma hora dentro do ônibus pra descer onde tinha entrado), não conseguia ver se estava chovendo muito ou pouco, se dava ou não pra descer. Só que era ou encarar a chuva ou ir parar no Santa Luzia e ficar ilhada até algum Adulto Responsável ter a bondade de me buscar. Se você não mora em Uberlândia, deixa eu te situar: o Santa Luzia é meio longe. Resolvi descer correndo e seja o que Deus quiser. 

Bom, tomei chuva, né? Aquela chuva gelada, de raios, trovões, e enxurrada que chega até o meio da rua. Usei as marquises da padaria e do armazém como check-points no meio do caminho, onde parava pra recuperar minha coragem e tentar proteger um pouco mais os meus livros. O problema é que nem fazia diferença estar protegida, porque é óbvio que estava chovendo pro lado e eu continuava me ensopando mesmo com um teto sobre minha cabeça. Minha mãe estava presa no trânsito e a cada parada eu ligava pra ela pra avisar do meu paradeiro. "Oi mãe, tô na padaria". "Oi mãe, agora eu andei um quarteirão e tô aqui no armazém". Ela deve ter ficado bem feliz. 

Na última corrida pra casa, comecei a pensar no céu roxo e lembrar das minhas aulas de física. De acordo com a teoria das pontas, o corpo mais pontudo acumula mais densidade elétrica do que aqueles que não são curvados. Numa rua residencial, minha cabeça era uma ponta maravilhosa (isso provavelmente não faz o menor sentido, mas debaixo de chuva eu não faço sentido mesmo). Nessa hora eu só bati um lero com Deus falando que não estava num bom momento da minha vida pra ser atingida por um raio, então seria bom evitar essa morte. 

Felizmente não fui atingida por um raio, mas cheguei em casa fazendo aquele típico rastro de água por onde passava e deixei Francisco, o poodle, deveras atordoado com minha entrada triunfal em casa. Eu pingando até a alma, sentada no chão tentando arrancar fora meus tênis molhados, foi bonito de se ver. Enquanto observava a cena, ele certamente se lembrava do episódio da janela, em como aquilo aconteceu uma única vez com ele, e como ele já tinha perdido as contas das vezes que me viu chegar em casa pingando de chuva. Nessa hora, ele teve certeza que um dia os cães dominariam o mundo. Os cães, os golfinhos, as lhamas ou qualquer outro bicho que use as lições que a vida dá pra algo além de um post enorme num blog.

Recapitulando: por ter esquecido o guarda-chuva duas vezes num mesmo dia eu perdi: a aula, a novela, uma hora e meia da minha vida, a dignidade e provavelmente a saúde. Moral da história: querido leitor, na dúvida, chegue atrasado, MAS CHEGUE SECO. Volte pra casa e pegue seu guarda-chuva. 

Risos.

ATÉ A PRÓXIMA TEMPESTADE

Então eu fiz um vídeo sobre novelas

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Não apenas passei 28 minutos falando sobre elas como usei do meu tempo e da minha criatividade (e do tempo da Analu e da sua criatividade) para criar uma TAG, sim, uma TAG, a primeira desse blog, dedicada a falar sobre: novela. Eu gasto um bom tempo da minha vida falando sobre novelas, e tenho a sorte de viver rodeada de pessoas que gostam do tema tanto quanto eu, pessoas maravilhosas que já pararam pra pensar sobre qual o melhor trabalho do Zé Mayer, sobre aberturas e sobre suas tramas favoritas dividas por faixa de horário, o meu tipo de pessoa. Quando a Analu propôs criarmos esse meme, me pareceu simplesmente lógico trazer esse papo pra internet - um lugar que graças ao Twitter e aos capítulos na íntegra no site da Globo #ad #publi #merchãs tornou a experiência de ver novela bem mais legal.

Querido leitor, se você não gosta de novela e considera os folhetins o ópio do povo, tenho sete anos de post pra te divertir aí, mas hoje não. Hoje eu vou falar de novela. Aos outros, divirtam-se! E nem preciso dizer que quem se interessar está mais que convidado pra responder também, só me avise nos comentários porque quero palpitar nas respostas de todos vocês!

* A luz do vídeo tá MUITO estourada e estou fazendo cosplay involuntário de vampira. Vi isso só depois de gravar e não ia fazer isso de novo, flw vlw. 


Filminhos da vez #9: férias e ressaca do Oscar

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Agora que o Oscar passou e minhas férias estão quase no fim, é chegada a hora de dividir aqui o que andei assistindo nesse meio período, quando entrava naquela eterna angústia existencial de nunca saber se deveria terminar a quinta temporada de Downton Abbey, assistir um filme que negligenciei na temporada de premiações, ou ver mais um episódio de The Office. Como sempre, vocês podem ver que não foi nem um, nem outro, e nem aquele lá, mas a mistura de sempre. 

The Babadook (Jennifer Kent, 2014): Eu nunca tinha visto um filme de terror australiano, e como a origem do filme costuma fazer uma boa diferença principalmente em terror - o medo e a forma de expressá-lo é uma coisa bem cultural - estava bem curiosa pro resultado dessa. Mas sei lá? Achei o filme meio preguiçoso em diversos pontos: a gente já viu a história antes - criança que vê fantasmas, morte na família, loucura vs. realidade, etc - e ele é cheio de lugares comuns, tipo a fotografia, sempre em tons de cinza e destaque em vermelho. Ele não tem muitos sustos, o terror está mesmo no climão e no desconforto da história. Até aí seria um filme como vários por aí, mas no final a coisa descontrola e até agora não formei opinião. Achei estranho, mas não sei se de um jeito bom. 

Into The Woods (Rob Marshall, 2014): Amigos, que bomba. Vamos fingir que o problema não é só ninguém aguentar mais releituras de contos de fada com live action e nos concentrar no simples fato de que esse filme é muito chato e não faz o menor sentido. A proposta aqui é fazer uma historinha X cruzar com vários contos de fada, e até um determinado ponto isso funciona, mas o filme sofre uma virada quando tem a deixa PERFEITA pra acabar, e você jura que ele vai acabar e vai ser só um filme ok pra ser esquecido nas próximas duas horas, mas não. Ele continua. E quando ele resolve continuar, num plot que já não tem nada a ver com o do começo, o único efeito possível é ele ser tão chato, irritante e ALEATÓRIO que você vai se lembrar pelos próximos dois anos dessas duas horas mais longas da sua vida. 

Tabu (Miguel Gomes, 2012): Gente, esse filme. Meu Deus do céu esse filme. Tabu é tão lindo e incrível que eu assisti duas vezes em menos de uma semana. O filme é português e conta uma história de amor a partir da lembrança de um de seus protagonistas, agora velho. Metade do filme é um flashback, e nessa hora os diálogos somem e é tudo guiado por uma narração em off, os sons ambientes e uma trilha sonora maravilhosa. Gian Luca Ventura conta sua história de amor com Aurora como se estivesse falando de um sonho, ou como se ele mesmo fizesse um filme do grande amor da sua vida. É muito metalinguístico, cinema puro, daquele tipo de coisa que faz a gente lembrar por que assiste filmes e o que existe de tão mágico em histórias de amor. É tudo ardido de lindo, ASSISTÃO!!11

Two Night Stand (Max Nichols, 2014): Sabe aquele filme que é besta até a medula, que nunca quis te convencer que é mais do que isso, e mesmo assim você assiste e sorri feito besta? Pois é, Two Night Stand é assim. Olha a história: esses dois mocinhos se encontram num site de relacionamento, rola uma booty call desesperada, e no dia seguinte, quando ela está prestes a ir embora, eles descobrem que está caindo uma nevasca lá fora e não tem a menor condição de sair de casa. Então os dois tem que passar o dia seguinte juntos e é assim que a mágica acontece. É muito besta. Mas é muito divertido. Queria ressuscitar a Nora Ephron pra reescrever os diálogos e usar esse plot pra nova melhor comédia romântica de todos os tempos, com o Tom Hanks e a Meg Ryan. Mas esse é com o Miles Teller, então bão também.

Chef (Jon Fraveau, 2014): Outro filmes simples, previsível até os ossos, mas que funciona por ser muito simpático e por não querer ser mais que um filme simpático pra gente ver domingo a tarde. Aqui o Jon Fraveau é um chef de cozinha que sai do restaurante chique pra apostar na comida que ele acredita, e assim ele parte numa road trip a bordo de um foodtruck, vendendo sanduíches cubanos de encher os olhos e ao mesmo tempo tendo bonding moments com o filho. O que mais gostei, além das comidas, foi a forma como ela aborda as redes sociais (muito preciso e nada forçado) e a trilha sonora, que acompanha as cidades onde o El Jefe passa: salsa em Miami, jazz em Nova Orleans, blues em Austin e o resto é a história. Sério, as músicas são quase tão incríveis quanto os pratos. Assistam e ouçam, por favor.

O Abutre (Dan Gilroy, 2014): Desaplaudido pelo Oscar, O Abutre acabou ficando naquela interminável lista de "pra ver depois" e isso só aconteceu tão rápido porque ele apareceu no catálogo da Netflix. Benzadeus! Porque olha, que filme incrível. É um thriller muito do bom sobre esse cara que vive de filmar acidentes, prisões e outros desastres para vender pra televisão, e é muito bacana a forma como o filme discute ética e sensacionalismo no meio jornalístico sem ser didático ou moralistão, e mais incrível ainda é como o personagem cresce e se revela cada vez mais psicopata. O Jake Gyllenhaal está MUITO bom no papel, performance de Oscar, e talvez por isso esteja horroroso também, fiquei atordoada - será que foi praga de Taylor? Sdds. Apesar da história não tem nada a ver, lembrei de Drive o tempo todo.

Pitch Perfect (Jason Moore, 2012): Eu provavelmente era a única pessoa no mundo que não tinha visto esse filme ainda, talvez porque as pessoas sempre falassem que ele era uma espécie de Glee e eu tenho pavor de Glee (DSCLP). Mas aí domingo de madrugada ele me pareceu uma boa ideia, e foi tão boa que me segurou acordada - tarefa árdua, viu? Achei deliciosamente cafona e é impossível não curtir Anna Kendrick emo e gótica junto com Rebel Wilson sendo Rebel Wilson, mas só acho que o filme poderia ser ainda mais legal se se passasse no colégio e se escolhessem músicas melhores pras apresentações. Detesto trilha top TVZ, porque depois de uns meses ela perde a relevância e fica meio ridículo um diálogo como "Ain então você conhece David Guetta?". Tipo, o sonho da menina é ser DJ e o exemplo dela é o David Guetta. Não dá.

Romy and Michele's High School Reunion (David Mirkin, 1997): MEU DEUS ESSE FILME É TUDO NA MINHA VIDA. Não sei como pude passar 21 anos sem essa pérola que define perfeitamente tudo que eu penso sobre vida no ensino médio e expectativas da vida adulta. Quando Romy e Michele resolvem inventar uma trajetória de sucesso pra impressionar os colegas de escola a gente descobre que todo mundo, de um jeito ou de outro, foi meio infeliz no colegial, mas que todo mundo, de um jeito ou de outro, viveu momentos maravilhosos no colegial. E que sua vida não precisa estar perfeita dez anos depois pra ser maravilhosa. E que mais importante que dinheiro e sucesso em qualquer fase da vida é ter melhores amigas maravilhosas, que estejam com você. O filme é uma overdose de estética errada dos anos 90, e ainda tem no elenco a Phoebe e a Jeanine Garofalo, minha rainha. 

Heather Mooney, my spirit animal

Rory & Jess

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(Contém alguns spoilers de Gilmore Girls que não vão atrapalhar sua vida) 

Minha maratona de Gilmore Girls tem ido muito bem, obrigada. Não vou dizer a todo vapor porque estamos há meses nessa e eu ainda estou no meio da terceira temporada, mas meu ritmo com série é assim mesmo. Fico revezando entre várias e não termino nenhuma, é absolutamente ineficiente (principalmente se já assisti antes) - recomendo a todos. O importante é que entre a segunda e a terceira temporada acontece a coisa mais emocionante de toda a série: Rory e Jess começam a namorar.

Gente, Jess Mariano. Como começar a explicar Jess Mariano pra um leitor não familiarizado com esse conceito de bad boy complicado e perfeitinho, que gosta de punk, de literatura e de cometer pequenos delitos com a mesma paixão? Tudo isso de jaqueta jeans, munhequeira, sobrancelha levantada, e um sorriso torto que faz até com que a gente esqueça que ele é baixinho. 

OLAR
De todos os namorados que a Rory tem ao longo da série, o Jess é de longe o meu favorito. Aliás, deixa eu ser sincera: o Jess é o único realmente interessante. Ok, ele também é um babaca. Babaca o suficiente pra eu não ter coragem de relativizar a imaturidade e o egoísmo dele em nome da sua linda boquinha torta, mas o importante é que Jess é o namorado que desperta o lado mais legal da Rory. 

Veja bem, eu AMO a Rory, ela é uma das minhas personagens femininas favoritas da TV e o principal motivo pra isso é que ela é muito mais que a menina que vive com o nariz enfiado nos livros. Adoro me identificar com o amor dela pelos livros, e tenho a moça como minha inspiração sempre que quero muito alguma coisa ou quando penso em todos os livros do mundo que eu ainda tenho que ler. No entanto, ela tem esse outro lado de pessoa obcecada por cultura pop e filmes ruins, ela lê livros subversivos e gosta de punk, e é capaz de sair totalmente da sua figura de menina de ouro de Chilton/Yale pra fazer umas loucuras. Tipo matar aula e fugir pra Nova York. Tipo atirar ovos no carro dos outros só porque está muito brava. Tipo roubar um beijo do menino que ela gosta, por mais que ache isso errado. Tipo todas as coisas que ela faz pelo Jess. 

Não tem nem discussão, os episódios em que ele aparece são sempre os melhores. 


E como cheguei na fase em que eles finalmente namoram, meu mundo foi abaladíssimo por esse relacionamento. Tudo porque, meu Deus, TODOS OS SENTIMENTOS!!111 O legal dessas séries mais sutis e lentinhas é que um casal demora tanto pra se formar que fica tanta tensão e expectativa acumuladas que um segurar a mão do outro já é motivo pra um surto fangirl. Eu, pelo menos, quase sofri um derrame cerebral numa cena em que Jess entrelaça seus dedos no de Rory, puxa ela pra mais perto, os dois dizem "Hi" e é isso. Não me surpreende o fato dos atores terem começado a namorar de verdade nessa época. Os dois se apaixonaram por eles mesmos. Eles nem chegam a se beijar e dá pra ouvir meu coração batendo mais forte. Porque eu sou patética assim mesmo, e acredito que se a Rory um dia assistisse Gilmore Girls, ela e a Lorelai teriam o mesmo tipo de reação. 

Eis que hoje de manhã eu percebi que, além de sofrer com borboletas na alma vendo casal adolescente dar a mãozinha, eu tinha todas as músicas deles no meu celular - e sabia dizer exatamente quando cada uma tocada, inclusive com alguns diálogos decorados. Percebi que isso poderia ser um bom mote para mixtape, já que a trilha de Gilmore Girls é sensacional, e em menos de uma hora tinha uma lista completa. Nesse mix coloquei as músicas que tocam em momentos importantes da história de Rory e Jess e também algumas outras que me fazem lembrar os dois, por diversos motivos - clique em 'leia mais' para saber o contexto de cada uma. Como estava com muito tempo livre, subi as músicas no 8Tracks, que é minha plataforma favorita pra isso, mas também montei uma listinha no Rdio e no Spotify. Fala sério, melhor blogueira. 

Mas usuários do Spotify vão perder a maravilhosa faixa bônus, um motivo pra vocês abandonarem esse site feio pra brincar comigo lá no Rdio - que tem uma interface bonita e Taylor Swift no catálogo. 


Ouça também no Rdio ou no Spotify

01 Then She Appeared (XTC)
02 Girl From Mars (Ash)
03 Monkey Gone to Heaven (Pixies)
04 Human Behaviour (Björk)
05 Beat Your Heart Out (The Distillers)
06 I Blame Myself (Sky Ferreira)
07 That Great Love Sound (The Raveonettes)
08 Suffragette City (David Bowie)
09 Cool Jerk (The Go Go's)
10 52 Girls (The B-52's)
11 You're No Rock'n'Roll Fun (Sleater-Kinney)
12 Troublemaker (Weezer)
13 3AM (Kate Nash)
14 Oh! (Sleater-Kinney)
++ Bônus track: Treacherous (Taylor Swift)

FAIXA A FAIXA


01 Then She Appeared (XTC)
É a música que toca no primeiro beijo oficial dos dois, quando eles começam a namorar. "É bom saber que, independente do que aconteça entre a gente, pelo menos agora a gente sabe que essa parte funciona". ♥

02 Girl From Mars (Ash)
É a música que toca depois de eles terem uma daquelas tantas briguinhas que são meio flerte, meio raiva, e aqui um dos primeiros grandes reconhecimentos de um no outro - já que Jess usa referências literárias maravilhosas e Rory fica balançadinha. Porque lógico.

03 Monkey Gone to Heaven (Pixies)
É a música que está tocando na loja de discos que os dois visitam juntos em NY.

04 Human Behaviour (Björk)
Essa música toca no final do episódio do Bracebridge Dinner, quando Rory vê que a l g u é m destruiu o boneco de neve super elaborado do concurso dos bonecos de neve, colocando o que ela e Lorelai fizeram em vantagem. Foi o Jess que disse também que o boneco delas parecia com a Björk.

05 Beat Your Heart Out (The Distillers)
A música não toca na série, mas tá aqui porque uma vez Jess surpreendeu a Rory com ingressos pra ver um show da banda.

06 I Blame Myself (Sky Ferreira)
O refrão dessa música diz "I blame myself for my reputation", o que me lembra um pouco a Rory cansada das pessoas ficarem culpando o Jess pelo acidente de carro que eles sofreram, quando na verdade ela sente que a culpa foi dela, uma vez que ela que pediu que ele dirigisse e ela que pediu pra eles andarem mais de carro.

07 That Great Love Sound (The Raveonettes)
Não aparece na série e nem tem uma referência auspiciosa, mas acho essa música a cara deles? Gotta love amor punk rock.

08 Suffragette City (David Bowie)
Essa música toca rapidinho ao fundo numa cena, e é o Jess sozinho que ouve, mas qualquer motivo é motivo pra se colocar David Bowie numa playlist.

09 Cool Jerk (The Go Go's)
Além do fato de a Rory comprar um disco das Go Go's em Nova York com o Jess, essa música se chama COOL JERK, a definição perfeita de Mr. Mariano. Pra deixar minha curadoria ainda mais precisa, essa música está no disco que a Rory compra - só faltou o autógrafo da Belinda.

10 52 Girls (The B-52's)
Música toca aleatoriamente no fundo num episódio em que eles conversam por telefone, logo depois de Jess se mudar pra NY.

11 You're No Rock'n'Roll Fun (Sleater-Kinney)
Gente, tudo que eu queria dizer pro Dean. Amigo, YOU'RE NO ROCK'N'ROLL FUN.

12 Troublemaker (Weezer)
O nome diz tudo, Jess é o troublemaker que abala nossos corações.

13 3AM (Kate Nash)
A letra dessa música é super fofa, com uma Kate Nash apaixonadinha e sofrendo com insônia e ideia fixa. Me lembra a Rory quando começou a gostar do Jess e a ficar meio biruta por conta disso.

14 Oh! (Sleater-Kinney)
Musiquinha punk de amor cuja letra me lembra muito os dois ♥

++ Bônus track: Treacherous (Taylor Swift)
Gente. THIS SLOPE IS TREACHEROUS, THIS PATH IS RECKLESS, THIS SLOPE IS TREACHEROUS AND I I I LIKE IT 

A problemática dos guarda-chuvas

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Eu tinha um guarda-chuva cor-de-rosa. Era o guarda-chuva mais lindo do mundo, talvez vocês se lembrem dele. Cor-de-rosa, gente. No fim do cabo, ao invés de um gancho, ele tinha um par de galochas, e no topo uma cabeça de boneca que estragou na primeira semana, completando o conjunto. Ele veio de Paris pra mim, ainda que eu já tenha aprendido com a Sabrina que Paris é uma cidade onde não se deve andar de guarda-chuva: "Never a briefcase in Paris. And never an umbrella." 

Talvez por isso me pareça ainda mais cabalístico que ele tenha saído de lá pra vir me proteger em Uberlândia. A garoa em Paris me aguarda em algum ponto do futuro, mas esse não é o assunto deste post. 

Como eu estava dizendo, eu tinha um lindo guarda-chuva cor-de-rosa. Tinha, assim no pretérito imperfeito mesmo. Vivemos grandes aventuras juntos, eu e ele, muita chuva, muito samba e rock'n'roll, mas um dia acabou. Ironicamente, acabou num dia de sol, um sol tão forte que me fez sair com ele fazendo as vezes de sombrinha, um acessório indispensável nesse grande cosplay de aposentadoria que é a minha vida. Só que, além de sol, o dia tinha vento, muito vento, e eu disse que meu guarda-chuva cor-de-rosa era bonito, mas todos sabemos que beleza não é sinônimo de eficiência. Como de costume, bastou um ventinho pra que o guarda-chuva virasse do avesso e a única coisa mais patética do que se digladiar com seu guarda-chuva virado no meio da chuva, é se digladiar no meio da rua com seu guarda-chuva virado quando não está chovendo. 

EXPECTATIVA


REALIDADE


Nesse dia eu entendi que nosso relacionamento tinha acabado - até porque nesse vira-desvira ele quebrou uma perna e já estava micão sair por aí com um guarda-chuva capenga e com goteira.

Para substituí-lo, roubei o guarda-chuva que fica no carro da minha mãe e ela não usa nunca. Era meu guarda-chuva de rica: enorme, transparente, com a bordinha estampada de xadrez Burberry. Sentia alguns zeros aparecerem na minha conta bancária só de andar com ele por aí. A primeira chuva que tomei com ele me mostrou que eu vinha lidando de forma equivocada com essa história de chuva. Tudo que o guarda-chuva cor-de-rosa me apresentou foi um mundo em que guarda-chuvas são bonitos e elegantes, mas fazem pouco na hora de te proteger da chuva. Com o guarda-chuva de rica foi diferente: ele era bonito & eficiente. 

O único problema (e sempre tem um problema) é que o guarda-chuva de rica era enorme. Ele não era retrátil e muito menos cabia na bolsa, de modo que eu tinha que sair por aí segurando ele como se fosse uma bengala. Se tem uma coisa que diminui imediatamente o valor-de-rica da imagem de uma pessoa é ela sair por aí andando com um guarda-chuva-que-parece-bengala, tropeçando muito nele (estamos falando de mim aqui), e ainda por cima batendo com ele nas pessoas. Você já experimentou entrar num ônibus com um guarda-chuva enorme? Sugiro que evite. 

Então, pra evitar esses constrangimentos e complicações, eu deixava o guarda-chuva em casa com mais frequência do que deveria. Era mais um ato falho do que uma coisa proposital, mas eu me conheço bem pra saber que minha cabeça leve tem muito a ver com a preguiça de andar segurando um objeto pesado, inconveniente, que eu vivia esquecendo nos lugares - só pra voltar correndo pra recuperá-lo depois, feito uma maluca. E vocês sabem muito bem o que acontece com gente que deixa o guarda-chuva em casa. 

A maior parte dos comentários daquele post são de pessoas lindas e muito bem intencionadas me aconselhando a sempre sair de casa com uma sombrinha. Porque lógico, né? É o que as pessoas sensatas recomendam. Só que tinha uma variável que complicava a equação, pois eu precisava de um guarda-chuva que fosse ao mesmo tempo portátil e eficiente. Tinha que caber na bolsa, mas tinha que me proteger. Os que eu conhecia que cabiam na bolsa não me protegiam, e os que eu conhecia que me protegiam não cabiam na bolsa. Amigos, eu não tinha pra onde correr - e enquanto isso estava lá bem gata tomando chuva.


Até que essa semana minha mãe chegou em casa com um lindo presente pra mim: um guarda-chuva! Mas não era qualquer guarda-chuva, esse guarda-chuva que minha mãe me deu é retrátil, cabe na bolsa, e é GIGANTESCO quando aberto. Sim, ele tem duas dobras, de modo que é o dobro do tamanho de um guarda-chuva de bolsa normal, grande o suficiente pra eu ter direito a um +1 no rolê das tempestades, forte o bastante pra de fato garantir minha integridade física embaixo de chuva. Como se fosse possível melhorar, meu novo guarda-chuva, que a partir de agora estarei chamando de guarda-chuva dos sonhos, tem estampa de bolinhas.

Eu, você, dois filhos e meu guarda-chuva de bolinhas. E aí, cê topa?


É possível que eu tenha assustado minha mãe com a reação diante do guarda-chuva dos sonhos. Pode ser que eu tenha gritado: UM GUARDA-CHUVA?? É PRA MIM?? ELE É ENORME!!!, pode ser que eu tenha aberto ele na sala da casa e pulado com ele como se dançasse frevo no corredor, pode ser que eu tenha me pendurado no pescoço da minha mãe e agradecido 765 vezes. A última vez que fiquei tão feliz com alguma coisa foi quando comprei meu Kindle. Antes disso, quando consegui ingressos pro show do Paul McCartney. E antes disso, só mesmo quando Chico, o poodle, entrou em casa pela primeira vez.

Meus amigos, por sua vez, entenderam totalmente a empolgação. Para eles o fato de eu ficar feliz com um guarda-chuva não era uma virtude de quem se contenta com o pouco, mas a única reação possível para uma pessoa que reconhece é benção que é ganhar um (bom) guarda-chuva de presente. Guarda-chuvas, assim como caderninhos fofos e ovos de Páscoa, são o tipo de coisa que a gente nunca compra: ou ganha ou rouba de alguém. Tenho uma teoria de que eles possuem um ciclo onde passam de mão em mão, entre ser esquecido no consultório médico, depois apropriado pela secretária, que chega em casa e dá pra filha, que vai esquecer na escola, pro coleguinha levar pra casa e assim por diante. Guarda-chuvas existem entre apropriações de usucapião, presentes cheios de consideração das nossas mães e avós, ou souvenir de viagem, daquele tio que acabou de chegar da França.

Desde minha última aventura na tempestade estava com vontade de escrever sobre essa grande questão na minha vida que era encontrar um guarda-chuva prático e eficiente pra chamar de meu, mas antes disso minha mãe foi lá e acabou com os meus problemas me mostrando que o sonho do guarda-chuva próprio (e grande, e prático e bonito) é possível, de modo que encerro essa saga com uma mensagem de esperança pra vocês. O guarda-chuva dos sonhos está lá fora, assim como um grande amor, esperando por vocês.

Hoje, na garoa da manhã, batizando meu guarda-chuva-dos-sonhos 

Agora que tenho o meu, chuva de novo só em Paris.

PS.: fábricas de guarda-chuvas (?), aceito jabás. 

Ode ao One Direction

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Não sei se todo mundo sabe, mas eu não tinha nem 14 anos quando criei esse blog. 

Ele era um pouco diferente, eu era muito diferente, e a maioria das coisas foi se construindo ao longo do tempo - organicamente, como se costuma dizer hoje em dia. Os marcadores, por exemplo, aquelas gavetas onde eu arquivo os posts ignorando completamente as dicas dos especialistas. Use palavras-chave, eles dizem, assim fica tudo mais organizado para o seu leitor e seus acessos vão crescer, yada yada yada. Na época era mais importante ser divertido do ser eficiente (e continua sendo) por isso fui criando marcadores enigmáticos que só fazem sentido na minha cabeça. Um exemplo é a Jonas Brothers.

Sempre que eu marco um post na categoria Jonas Brothers alguém nos comentários acha graça, ou pergunta o motivo, ou começa a me xingar sem muitos motivos. A verdade por trás disso é que eu queria categorias específicas pras coisas que eu gostava e outra pra coisas que eu não gostava. Livros, discos e filmes bons caíam no marcador Totalmente Excelente, um bordão do Rockgol meio auto-explicativo. Já livros, discos e filmes ruins iam direto pra gaveta dos Jonas Brothers, porque na época eles representavam tudo aquilo que eu não gostava.


A adolescência é aquela fase maravilhosa da vida em que todas as nossas ações são milimetricamente calculadas visando a auto-afirmação. A gente precisa se afirmar como uma ex-criança, tão diferente dos nossos pais, esses alienígenas caretas, e também precisa arranjar um jeito de mostrar que é diferente e muito mais legal que as pessoas da nossa idade - já que nunca consegui ser popular, o jeito era assumir a posição de too cool for school e ver filmes que ninguém conhecia, ler livros enormes que ninguém lia, e gostar de bandas diferenciadas-descoladas-diferentes-daquelas-merdas-pasteurizadas-que-os-jovens-ouvem-hoje-em-dia-meu-deus-o-horror-o-fim-da-civilização. 

Pra mim, os Jonas Brothers representavam isso e eram o mal que eu devia combater com meu ótimo e refinado gosto. Eu pensei também em chamar o marcador de Justin Bieber ou Hanna Montana, mas eu tinha uma raiva especial dos Jonas Brothers, que nem lembro mais de onde veio. 

Com o tempo eu fui crescendo, abrindo minha cabecinha, e ficando menos idiota. Era difícil falar mal da Hannah Montana sabendo toda a letra de Party In The USA e sabendo performar tão bem o clipe de 7 Things como eu sabia (e ainda sei). Era difícil me livrar das garras do amor gostoso que eu começava a sentir pela Taylor Swift quando era muito mais maravilhoso cantar Love Story no intervalo das aulas. Eu comecei a ceder lentamente ao apelo do pop (lembrando que nem minha arrogância adolescente me impediu de ser fanzoca assumida da Britney Spears), mas ainda protegida pelo argumento do guilty pleasure. Ai, pareço legal mas desligo o scrobble pra ouvir Miley Cyrus. Ui, durmo com uma camiseta do Strokes mas entro no Youtube todo dia pra ver o clipe de You Belong With Me, hihihi. 


Foi mais ou menos em 2012 que eu conheci o One Direction. Eu comecei a assistir X Factor um ano depois deles terem sido revelados no reality, e meu guilty pleasure favorito da temporada era torcer pelo Emblem3 (SDDS), que uma vez apresentou uma música deles, What Makes You Beautiful. Foi um caminho sem volta. 

Até então, eu nunca tinha tido uma boy band na minha vida. Eu era muito criança na época áurea dos Backstreet Boys e do N'Sync, e ainda que eu consiga cantar as músicas no karaokê (e dançar as coreôs na balada) e tenha uma opinião bem elaborada sobre o Justin Timberlake, eu não vivi o frisson das boy bands - que tá se repetindo aí com o show dos BSB e as amigas emocionadas porque vão ver seus mocinhos depois de anos, e eu acho isso sensacional. Eu acho que todo mundo precisa de uma experiência boy band na vida, porque isso te proporciona uma das melhores coisas na vida, que é o fangirling irracional. 



Gente, ser fã é muito bom. Ser fã retardada é melhor ainda. Com o One Direction eu tive a chance de não apenas ser fã, mas de ser fã retardada e sentir aquela alegria sem sentido por conta de um gif ou dos incontáveis vídeos deles fazendo gracinhas e sendo adoravelmente retardados. A Brodie Lancaster definiu a experiência directioner (e de qualquer fandom) com perfeição quando escreveu que gostar de One Direction era viver um sentimento of having no inhibitions, of being overwhelmed with adoration and excitement, and of feeling it all in the company of thousands of other fans who get it.


I have a tendency to over-analyze everything in my life, but when it comes to One Direction, I can give my mind a rest. That’s not to say I don’t spend a hefty chunk of my time thinking about Harry’s forearms or Louis’ state of mind or how Zayn feels about art; I just mean that, unlike most things I love, I don’t feel the need to intellectualize my love for this band. They’re five adorable humans who make addictive pop music and say dumb, funny things and loving them has taught me that those things are just as valid as serious or obscure bands that give me cool cred points with my peers.

Minha experiência definitiva do 1D foi quando fui com meus amigos assistir o documentário deles, This Is Us, no fim de semana de estreia. Depois da primeira sessão um grupo de meninas desceu a escada rolante do shopping aos berros. Eu lembro que foi na mesma época que aquele cara atirou em umas pessoas na sessão de Batman e eu fiquei assustadíssima antes de perceber que era tudo coisa de fã. Um outro grupo ficou na porta do cinema cantando enlouquecidamente todas as músicas, as meninas abraçadas, com camisetas combinando, vivendo o melhor momento da vida delas. A gente estava meio deslocado ali (definitivamente as pessoas mais velhas, tirando os pais acompanhando as menores de 12 anos), mas essa distância acabou quando o filme começou todo mundo cantou as músicas, riu bastante, chorou um monte também e fez parte dessa grande experiência audiovisual que é o This Is Us. 

Fui no cinema com um amigo muito fã, uma amiga mais ou menos fã, e outra amiga que nem conhecia o grupo, só foi porque não tinha nada melhor pra fazer. Essa última saiu chorando (literalmente) de empolgação da sala porque, sério, é muito difícil não se apaixonar por esses cinco meninos lindos, tatuados, brincalhões e patetas, que são fofos com velhinhas, que tiram as calças uns dos outros no palco, e que fazem uma música tão viciante. Eles são divertidos e lindos, como os Beatles (sim, os Beatles) eram divertidos e lindos no início da carreira - e o One Direction tem a vantagem de viver numa época onde clipes maravilhosos como Best Song Ever e Night Changes podem existir. 

O 1D mostrou pra mim como foi inútil e ridículo gastar tanta energia odiando as coisas na adolescência, porque gostar é muito melhor, sempre. Eu não gosto de tudo e nem abandonei totalmente meu lado hater que insiste em aparecer, mas, hoje, idiota pra mim é você se não se permite gostar de uma coisa só porque todo mundo gosta, só porque não é descolado, só porque o tipo de gente que gosta é o tipo de gente que chora em porta de hotel e acampa duas semanas na porta de um estádio. Negar isso é não poder ouvir Diana andando na rua e ter que se segurar mil vezes pra não cantar junto, é não colocar Kiss You pra tocar num passeio de carro com os amigos e deixar de transformar o trânsito numa dance party. 

Estou escrevendo tudo isso porque hoje o Zayn anunciou sua saída da banda e eu fiquei em pedaços. Os outros quatro vão continuar, mas a gente sabe que esse é só o começo do fim da nossa vida e que boy bands tem um prazo de vida bem curtinho. A gente vai sobreviver, eu e todas as meninas de 13 anos que choram nesse momento, mas sempre é chato lembrar que nosso oásis de felicidade gratuita não é tão perfeito assim, é horrível pensar que as coisas acabam e que nunca mais vai ser a mesma coisa. 

SONHOS


REALIDADE


No fundo eu acho que a saída dele faz todo sentido e torço de coração para que ele coloque a cabeça no lugar e seja feliz - mas se eu tiver que apostar, o Harry vai ser o Justin do futuro. 

O que me consola é que daqui uns dez anos eles devem se reunir de novo e sair fazendo shows pelo mundo, e eu vou pagar mil reais pra estar pertinho do palco, e eu vou cantar, e vou gritar, e vou morrer de amores e ser muito fã, muito retardada, porque a vida não vale a pena se a gente não tiver uma boy band que nos lembre sempre que feelings are the only facts.

Hoje não arquivo mais em Jonas Brothers as coisas ruins que encontro por aí, mas deixo o espaço pra tudo que seja divertido demais pra se dizer não. 


Lagartos, abóboras e um pouco de mágica

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Para ler ouvindo:


Ontem eu chorei vendo Cinderela.

Eu estava pronta pra odiar o filme, fui assistir já pensando em escrever algo inflamado sobre como a Disney e os outros estúdios precisam parar de insistir em releituras de clássicos e começar a investir em bons roteiros originais. Eu estava pronta pra usar o termo crise generalizada de criatividade em Hollywood. Mas aí eu chorei vendo Cinderela, sendo que ela nunca foi minha princesa favorita, nem a segunda favorita, e nem entraria no meu top 5. Plot twist!

Quando eu era criança, sonhava em ver meus contos de fada favoritos em live action (ou "filme com gente de verdade", como eu dizia então). Assistia na TV Cultura, todo sábado, o Teatro dos Contos de Fada com a Shelley Duvall (tem vários completos no Youtube e são super legais) e sentia até um frio na barriga (até porque eles tinham uma coisa meio creepy rolando), embora eles não entregassem a versão que eu tinha na minha cabeça.

Eu queria mágica no mundo real.


Quando finalmente surgiu essa nova onda de adaptação dos contos de fada clássicos, surgiu também um movimento que visava aprofundar as tramas, os personagens e tornar a história mais real e humana pro nosso mundo de carne e osso. Não deixa de ser uma boa ideia, que até deu certo algumas vezes (beijos, Para Sempre Cinderela!), mas o resultado da maioria acaba sendo meio decepcionante. Está na essência dos contos de fada esse desprendimento da realidade - o que faz com que muitas histórias sejam problemáticas, a gente sabe como elas são, mas isso é uma prerrogativa do gênero. No fundo, acho que é isso que faz deles histórias tão irresistíveis. 

(Aliás, quero ver quem teria culhões de adaptar um conto de fadas original, com direito a necrofilia, mutilação, e heroínas que viram espuma no final. Esses filmes eu veria) As adaptações recentes não apostam nem no sonho e nem na tragédia, ficam ali no meio e se transformam em aberrações tipo Malévola - que não, não vou superar tão cedo.


E é aí que Cinderela entra e muda o jogo: o filme é sonho purinho! Da bondade e do altruísmo sem limites da mocinha, sempre sorridente apesar de tudo (quis bater nela um pouquinho? quis sim, mas passou) à obstinação cruel e sem limites da madrasta. O filme é maniqueísta e descolado da realidade, sim, mas tudo bem. De vez em quando pode ser só um conto de fadas sim que ninguém briga. É mágico, sabe? Eu chorei vendo a transformação do vestido porque tinha um monte de breelhos, umas borboletas fora de lugar e coisas que não pertenciam ao nosso mundo, mas tudo bem. Era um sonho.


Aí tem aquela cena em que ela dança com o príncipe e os dois giram pelo salão, e tem aqueles olhares que de novo mostram a mágica acontecendo ao redor deles. Deveria ser assim sempre. Não é assim de vez em quando? Não sei, não consigo pensar direito quando tem dança envolvida. 

A mensagem do filme fala sobre coragem e gentileza. Cinderela repete o ensinamento da sua mãe e busca ser sempre corajosa e gentil, e é isso que a Fada Madrinha diz no final: pra tudo acabar bem, precisamos de coragem, gentileza e um pouco de magia. Eu acho que a gente vive num mundo difícil demais pra não se permitir acreditar em magia de vez em quando. Não estou falando aqui de fadas madrinhas, varinhas de condão, lagartos e abóboras, mas dos pequenos milagres que nos mantém vivos, que nos levam a lugares onde supostamente não deveríamos estar e onde nem chegaríamos sozinhos, aquelas coisas inexplicáveis que nos unem a pessoas inimagináveis em qualquer outra circunstância. Alguma coisa que nos faça dançar. 

São tempos difíceis para os sonhadores e eu tenho topado qualquer coisa que me faça acreditar em milagres. De que serve a vida se não pudermos brilhar os olhos diante de um vestido azul rodopiando?



Cinderela é o filme que eu queria ver desde criança, que mostra a magia acontecendo com gente de verdade e nos revela o mundo não como ele é, mas como poderia ser. Pelo menos um pouquinho.

(Saudade de príncipes apaixonados com sangue Stark)

De repente 15

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Ou: Manifesto a favor da adolescência tardia

No dia do meu aniversário de 21 anos, eu fiz um piercing no nariz. 

Eu sei que vocês são descolados e transgressores e furam piercings com uma naturalidade de quem pinta as unhas de azul calcinha, mas eu nunca fui do tipo que paga pra alguém furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. Essa definição de piercing foi meu pai que deu, e ele repete isso diante de qualquer coisa que acontece comigo desde que fiz o piercing. Qualquer coisa mesmo.

Se o nariz coça, tava na cara né, foi pagar pra alguém furar um buraco no seu nariz e enfiar uma argola dentro, só podia dar nisso. Se estou com dor de cabeça, só posso estar de brincadeira, o que mais eu queria? Fui pagar pra furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro, agora tô com dor de cabeça mesmo, única consequência possível. Se quebro minha costela caindo da escada, era só uma questão de tempo, fui pagar (ainda não sei se o problema maior foi o piercing ou a ideia de que isso é algo que se paga pra fazer) pra furar um buraco (é muito importante a ênfase na palavra buraco e um tom de absoluto horror ao dizê-la: lê-se BURAaAaAcOoOo) no nariz e enfiar uma argola dentro, o próximo passo é perder o equilíbrio motor e da vida. 

Daí vocês já conseguem entender por que eu demorei tanto tempo pra fazer o piercing.

Foram exatamente sete anos, visto que tenho essa vontade desde os 14. Eu queria um piercing no nariz, um piercing monroe, igual ao da Amy Winehouse, e um piercing no lábio, igual o da Marimoon. Tudo que um pai pode desejar na vida é que sua menininha queira ser igual Amy Winehouse ou Marimoon, né? Eu não facilitava a vida de Patriarca Rocha, preciso admitir.

Patriarca em chamas 
Antes de ter coragem de pedir pra furar o nariz, tentei algo mais simples, uma argolinha na cartilagem da orelha, dessas que todo mundo tem. Ele nunca disse que não, mas nunca disse sim, e me enrolou por tanto tempo, com argumentos tão absurdos ("como você vai fazer quando tiver um casamento pra ir? não dá pra ir num casamento com um negócio desses na orelha""mas pai eu nunca vou em casamento""mas se um dia tiver que ir, como cê vai fazer???"), que fui vencida pelo cansaço e me contentei com um segundo furo na orelha. 

Foi um desastre. Aliás, o desastre do segundo furo foi a melhor coisa que aconteceu na vida do meu pai, porque depois de enfrentar uma inflamação dessas que não podia nem dormir do lado do furo senão acordava com a orelha dilacerada e o travesseiro cheio de sangue, eu nunca mais cogitei a ideia do piercing. Qualquer piercing. O segundo furo se fechou pra sempre e com ele a minha vontade de pagar alguém pra furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro.

O problema foi que eu podia até ter desistido, mas nunca tinha esquecido a coisa do piercing. Consegui superar o monroe e o do lábio, mas o do nariz me fazia sofrer. Sempre que via alguém com uma argolinha no nariz sentia vontade de chorar, abraçar a pessoa, ser amiga dela, pedir pra ela trocar de corpo comigo, etc. Era uma coisa tão bonita e eu queria tanto. Tanto tanto tanto! Mas assim, TANTO! Mesmo com quase 21 anos, eu queria aquele piercing com a obstinação adolescente de quem se dispõe a passar duas semanas na porta de um estádio pra ver um show de perto.

Aí que quando eu faço aniversário eu costumo ficar pensativa. Pensativa é um jeito bacana de dizer que eu fico dias sem dormir, pensando que estou jogando minha vida no lixo, que vou morrer amanhã e nunca fiz naaaaaada, my life is oooooooveeeeeer, nevermooooooooore. Peixes, com ascendente e sol em peixes, amores. Muitas emoções. Essa pilha errada de achar que estou perdendo partes da minha vida e deixando de viver experiências específicas da idade é uma onda que sempre bate muito forte e muito errada no meu inferno astral, e esse ano não foi diferente. O que mudou foi que pela primeira vez eu resolvi fazer alguma coisa com relação a isso.

Todo mundo de olho fechado e bracinho pra cima gritando CH-CH-CH-CH-CHANGES

Eu simplesmente pensei: por que não? Sabe, às vezes pensar por que não?é tudo que a gente precisa pra fazer a vida andar. Depois de uma pesquisa sobre o melhor lugar para fazer isso, catei um amigo que seria um bom apoio moral - mas que chutaria minha bunda se eu ameaçasse desistir - e, no dia do meu aniversário, matei aula e fui lá pagar oitenta realidades pra um moço com uns cinco furos na cara furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. E pronto! Não doeu, não inflamou, não teve nariz dilacerado, nem travesseiro cheio de sangue. Minha mãe adorou, minha avó achou a rebeldia incrível e meu avô não viu nada diferente até agora. E meu pai, bem, ele vai superar. 

Dito assim parece pouco e talvez seja, mas essa experiência me enfiou num vórtice de adolescência tardia do qual está sendo difícil sair. Parei de ficar pensando que ain, não tenho mais idade pra essas coisas (ler com a voz da Princesa Caroço) pra perceber que a grande vantagem de voltar pros 15 anos com 21 é que você pode continuar gostando e querendo as mesmas coisas, com a diferença que agora NÃO TEM NINGUÉM PRA TE IMPEDIR. #thuglife


Semana passada, por exemplo, eu fiz uma mecha rosa no cabelo. Acho cabelo colorido uma coisa incrível desde sempre e passo horas no Pinterest vendo gente descolada de cabelo colorido por aí, mas sempre pensava: ain, não tenho mais idade pra isso, ain, não sou blogueira teen de modas, nem vou pro carnaval no Rio, ain ain ainnnn. Até o dia que cruzei com um tonalizante rosa quando menos estava esperando, e aí me fiz a pergunta mágica POR QUE NÃO? e no dia seguinte lá estava eu sem a menor ideia do que estava fazendo, pintando o banheiro, minhas orelhas, minha testa e eventualmente um fiapo de cabelo de cor-de-rosa. Gritei de felicidade quando sequei o cabelo e amei o resultado. De vez em quando é muito fácil ser feliz. 


Já na semana que vem vou ver um show da Fresno. Vocês acreditam nisso? Fiquei paralisada quando vi o evento no Facebook e em dois minutos decidi que ia de qualquer jeito, mesmo se não tivesse companhia. Fiquei até com vergonha de sair buscando, confesso que esperava ouvir um ain miga vamo superar né, mas assim que confirmei presença uma amiga já veio gritando falar comigo que queria muito ir, e no dia seguinte consegui, sem muito esforço, convencer outra amiga. Eu era muito fã da banda, mais fã ainda do Lucas e do Tavares, nos meus tempos de ema e gótica, lá em 2000-e-pedindo-quebre-as-correntes-no-rádio, e nunca tive a chance de ver um show dos caras. Daí eles vem pra minha cidade com um show cuja proposta é justamente celebrar o começo da banda e tocar os primeiros discos. Logo agora que eu tenho um piercing no nariz e uma mecha rosa no cabelo! Ainda bem que algumas oportunidades só vão embora definitivamente depois que a gente morre.

E eu não sei vocês, mas eu não tô pretendendo morrer se for pra correr o risco de ficar a eternidade vagando nesse mundão, só porque perdi a chance de pagar pra alguém furar um buraco no meu nariz e enfiar uma argola dentro. Meus novos 15 anos têm sido maravilhosos e recomendo a todos, inclusive me disponho a servir de apoio moral se for preciso ou chutar a bunda quando ameaçarem de desistir de qualquer coisa tonta e inofensiva que vocês já quiseram muito com 15 anos. 


A gente tem que se amar

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Você já ouviu falar da regra do lápis? Ela diz que um dos principais sinais de envelhecimento é você conseguir sustentar um lápis embaixo dos peitos. Tipo, o lápis não cai porque seu peito é mole e segura ele ali? E isso é algo ruim? Porque ele não cairia se seu peito fosse empinadinho, tal qual o das mulheres xovens? Sei lá? Também tive dificuldades para processar a informação, talvez porque a relação entre velhice, peitos e lápis não faça lá muito sentido. Não faz o menor sentido, na verdade, mas as pessoas aparentemente repetem isso por aí e a gente acredita. 

Uma amiga contou que um dia fez o teste chorando, rezando pro lápis cair. Mas, nas palavras dela, dava pra segurar um estojo inteiro ali embaixo, de boinha. O que isso significa? Que ela é velha, ainda que não tenha nem 25 anos (e desde quando velha virou ofensa?)? Que ela tem os peitos de velha? Que ela tem os peitos caídos? Que ela tem os peitos errados e tem que tirar tudo e colocar de novo - ou, melhor ainda, um novo? Ou só que, mais uma vez, a Sociedade, esse sujeito oculto na terceira pessoa do plural ou singular, mais uma vez triunfou em perpetuar um ideal que não existe, só pra fazer a gente se sentir mal e inadequada dentro dos nossos corpos?


Esse drama dos peitos fez parte de um longo papo que tivemos ontem sobre corpos, neuras, tristezas, mágoas e expectativas equivocadas desse mundinho de merda em que vivemos. É incrível como todo e qualquer desconforto que a gente sente com relação a nós mesmas sempre tem em sua origem algo que alguém falou pra gente, que foi lá e apontou o dedo e disse que não era bem assim, que a gente tá errada, que assim é feio, que assado é deselegante, que não tá certo, nem bonito, nem bacana ser assim, do jeitinho que a gente é. Quem nunca, né? Ou, no caso das mulheres: quem sempre?

Além de vivermos numa sociedade que nos impõe um padrão de beleza inatingível (já discuti um pouco sobre a origem disso em outro post), as pessoas ao nosso redor acham de bom tom comentar sobre nosso corpo, nosso cabelo, nossa vida. E sabe que eu nem acho que façam isso por maldade, ao menos não a maioria. Fazem isso porque é tão natural falar do corpo dos outros, uma coisa tão corriqueira, que a gente faz sem pensar que isso pode chegar do outro lado com um peso negativo. 

E não adianta, bate errado mesmo e a gente só se dá conta da dimensão do desastre quando se vê tendo um lero consigo mesma pensando que vai ter que fechar a boca e começar a correr pra manter esse peso, ainda que você tenha emagrecido porque a rotina estava maluca demais e você não conseguia fazer refeições em horários de gente normal e estivesse dormindo pouco. Ainda que aquela calça larguinha e o short que escorregou do quadril pros tornozelos não fosse magreza, mas cansaço e abatimento. Tudo porque veio alguém e disse: Nossa, mas essa enxugada que você deu te fez bem, hein? Tá muito linda, parabénse você, que esteve perfeitamente bem até então, começa a pensar que poxa, será que só agora que eu estou bem e bonita de verdade?


Não sou contra operar os peitos, seja pra aumentar ou diminuir. Não sou contra malhar, perder uns quilos e se sentir linda por isso. Não sou contra suar horrores pra acabar com a barriga, muito menos contra usar maquiagem pra esconder olheira, contornar o rosto, esconder as espinhas. Sou contra a gente TER QUE fazer esse monte de coisas porque alguém disse que do jeito que estava não estava bom. Igual falam pra essa minha amiga que ela tem que operar os peitos, porque eles são feios. Igual falaram pra mim que eu tinha que fazer um esforço pra manter esse peso, ou que eu daria uma valorizada (WHAT) se aumentasse em uns dois números o tamanho do meu sutiã ou se não usasse mais saias rodadas, já que tenho o quadril largo. É esse imperativo que me mata, porque ele vem de todos e de ninguém, seguindo uma ordem pra atingir um objetivo impossível de ser alcançado.

E o que eu quero, alguém parou pra perguntar? E minhas contas, alguém se ofereceu pra pagar? Pois é. 

Como desistir do mundo e pedir pra sair não é uma opção, acho que o melhor que a gente pode fazer é dar um jeito de gostar de quem a gente é. Sei que o imperativo da autoestima também é uma forma de opressão (afinal, a gente recebe estímulos de todos os lados dizendo que somos erradas e inadequadas, tudo pra fazer com que a gente se sinta um lixo, e nem esse direito temos mais, já que acima de tudo a gente tem que se amar???), mas eu acho que é um esforço que vale a pena. Não estou falando pra ninguém acordar amanhã querendo casar com o próprio reflexo, mas sempre dá pra começar com um pouquinho de carinho e gentileza, pois vamos ter que viver dentro de nós mesmas pelo resto da vida. Nosso corpo é a nossa casa e merece nosso amor hoje mesmo. Precisa dele e a gente também. A gente tem que se amar pra poder resistir.


Falando assim até parece que é fácil pra mim, que eu adoro cada centímetro do meu corpo ou que nunca quis desistir de sair porque não me sentia bem em nenhuma roupa. Parece que nunca chorei num provador de loja porque, francamente, aquelas luzes não valorizam ninguém ou que não existiu aquela vez que eu quase desisti de viajar com amigos porque estava com vergonha de usar biquíni.

Já passei por tudo isso e não estou totalmente livre - ninguém está, mesmo. No entanto, os dias bons são mais frequentes que os ruins, e ontem, quando minhas amigas estavam se dissolvendo diante de mim ao expor suas inseguranças mais profundas, eu estava num dia ótimo e quis teletransportar todas pra esse estado de graça. Por isso, vou deixar algumas dicas que contribuíram pra minha desconstrução e me ajudaram nessa jornada rumo ao amor-próprio:

1) Parei de me pesar: Foi a primeira coisa que fiz, com uns 13 ou 14 anos: não deixei que um número determinasse como eu deveria me sentir ou o valor que eu tinha que dar pra mim mesma. O importante é estar se sentindo bem dentro de si.


2) Exemplos positivos: Se boa parte da construção desse ideal equivocado de beleza vem de imagens externas, em revistas, filmes e passarelas, o efeito contrário também existe. A partir do momento que a gente se cerca de imagens positivas, reais, que mostrem beleza em pessoas parecidas com a gente, mais a gente começa a processar aquilo como bonito e inspirador. Eu lia Capricho e me sentia frustrada porque não me parecia com aquelas modelos, então abandonar a revista foi super importante na desconstrução de um padrão que me fazia muito mal. Mandei o link da Normal Breast Gallery pr'aquela minha amiga do início do post, com uma coletânea de imagens não-sexualizadas de seios femininos, cada um com uma história super emocionante. O mesmo vale pros ensaios incríveis que o Pedrinho Fonseca faz em seu projeto A Olho Nu. Se você só tem blogueiras fitness e pessoas que vivem do corpo no seu Instagram, é essa imagem que vai ficar grudada na sua cabeça e é ela que vai te dizer que você não é suficiente. Jogue tudo isso fora e se cerque moças bonitas que se pareçam com você, seja você uma garota magrela, ou que tem o quadril largo, ou que tem o peito pequeno, cabelo crespo, musa do bracinho gordo, sardentinha, sei lá! Todos os corpos podem são lindos, basta a gente olhar do ângulo certo. Aprendi isso com a Polly e jamais me esqueci.


3) Pessoas positivas: A vida é muito curta pra gente perder nosso tempo, nosso amor-próprio e nossa sanidade mental por conta de gente negativa. Sei que a maioria delas não o faz por maldade, mas você precisa mesmo estar naquele grupo do Whatsapp das amigas da academia que só discutem suco verde e dieta da lua? Vale a pena continuar ficando com um cara que acha que pode palpitar a respeito do seu corpo? Sério mesmo que você vai assistir Esquadrão da Moda pra sempre se identificar com as participantes e se sentir um lixo com os comentários dos apresentadores?

Sei que a gente não pode simplesmente anular algumas pessoas da nossa vida, então comece a associar os comentários da sua mãe sobre o tamanho da sua bunda a gifs de pug. A cada comentário um novo gif, ou R$0,50 centavos num cofrinho que você pode quebrar pra fazer hidratação no cabelo, comprar um livro novo ou então viajar pra Austrália. Se dessa limpa não sobrar ninguém, sei lá, me manda um e-mail, comece a assistir My Mad Fat Diary, ou Parks and Recreation e lembre-se dessa frase da Amy Poehler:

"Be easy on yourself. Have fun. Only hang around people that are positive and make you feel good. Anybody who doesn't make you feel good, kick them to the curb. And the earlier you start in your life the better. The minute anybody makes you feel weird and non-included or not supported, you know, either beat it or tell them to beat it"

4) Seja uma pessoa positiva: A gente reproduz bobagens do mundo sem nem perceber - afinal, também estamos inseridas nessa cultura e é difícil sair incólume. O título desse post não é A Gente Tem Que Se Amar por acaso. Quis usar o significado reflexivo do se amar porque não é uma via de mão única. A gente tem que amar a si e aos outros também. No sentido dos mandamentos divinos, se você preferir, ou só mesmo no sentido de se educar pra ter o mesmo carinho e gentileza com os outros, principalmente com as outras. Você pode começar pensando duas vezes antes de julgar uma garota pela aparência ou até mesmo antes de comentar em voz alta sobre o corpo dela, seja na frente, pelas costas, ou até mesmo da mocinha famosa no tapete vermelho. A gente não tem nada a ver com isso, ok? É uma desconstrução, difícil como qualquer outra, mas vale muito enquanto exercício.

E elogiar também é importante, viu? Não tenha receio ou vergonha de dizer pra uma pessoa que ela está bonita, que gostou daquela blusa, que o cabelo está lindo, que ela está com um brilho diferente. Sério. Faz bem pros dois lados espalhar amor por aí!


5) Dance sozinha: Amiga, se tudo falhar, coloque sua melhor lingerie, de preferência um conjunto combinandinho (pode ser liso, pretinho básico com pretinho básico, calcinha bege e sutiã bege, sei lá - combinações são poderosas de todos os jeitos), ligue Crazy In Love bem alto no som e dance sozinha se sentindo a Beyoncé de sua própria vida - então se agarre a esse sentimento e leve pra vida. Eu juro que funciona.


E mesmo quando tudo falhar, nunca deixe que um lápis - ou um estojo inteiro - preso embaixo dos seus peitos defina quem você é.

Alguns links para saber mais: 

Filmes que eu amava quando era jovem

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Acho que desde que criei esse blog (!) venho postergando uma lista dos meus filmes teen favoritos. Já falei em outras oportunidades que esse provavelmente é meu sub-gênero favorito do cinema e um dos principais motivos para esse post nunca ter saído é que a lista seria gigantesca e eu sempre me torturaria lembrando daqueles que ficaram de fora. São sete anos de blog, vocês já aprenderam que objetividade não é comigo. No entanto, depois desseúltimo post da Paloma e motivada por essa minha adolescência tardia, fiquei com um impulso irresistível de elencar não os Meus Filmes Adolescentes Favoritos de Todos os Tempos, mas pelo menos os que eu gostava quando era... pré-adolescente. 

Ou seja, Meus Filmes Adolescentes Favoritos dos Anos 2000, dessa era de ouro aí:

Capa icônica da Vanity Fair com a realeza teen do início dos anos 2000: praticamente todos os PSD's usados nos layouts da época vinham dessa capa e das fotos dentro da edição - inclusive vários meus
A minha adolescência, na verdade, foi a fase que eu mergulhei em filmes europeus obscuros e clássicos em preto-e-branco de 1936. Foi uma boa fase, juro, mas muito melhor foram meus 11, 12 e 13 anos, a fase de todos os sábados ir na locadora pegar os mesmos filmes e passar a tarde rindo com as amigas comendo leite condensado com Toddy, porque a gente tinha preguiça demais pra fazer brigadeiro. A gente sonhava com ensino médio, sapatos de salto, perder o BV e tinha sérias discussões sobre quem era melhor: Lindsay Lohan ou Hilary Duff? (team Lilo, SEMPRE). 

Querido leitor, bem-vindo a 2005.

      12. Garota Veneno 


Esse é um daqueles filmes que eu jamais veria de novo, porque tenho certeza de que ele, na verdade, é horrível. Sei lá, olhem esse gif. O trope de troca de corpos fez muito sucesso no início dos anos 2000, então temos lá a rainha do baile, Rachel McAdams pré-Regina George, que um dia acorda na pele do Rob Schneider, que faz papel de bandido. Barra. É um pastelão que me divertia horrores com seu sofisticado senso de humor, e que era até revolucionário pro seu tempo, já que a melhor amiga da protagonista, interpretada pela Anna Faris fazendo o que ela faz de melhor (papel de burra), se apaixona pela Rachel na pele do bandido e elas (eles?) tem um #momento ao som de You Get Me. Aliás, por onde anda a Michelle Branch? E o Rob Schneider?

      11. Tudo que uma Garota Quer  


Antes de qualquer coisa, vamos acender uma vela pela saúde e pela sanidade mental da Amanda Bynes. Amiga, volte para nós. 

Esse é outro filme que eu tenho um pouco de medo de reassistir e descobrir que ele não é tão bom quanto nas minhas lembranças, ainda que tenha Amanda Bynes e Colin Firth no elenco. No filme, ela descobre que o pai é um lorde, duque, sei lá, e vai atrás dele pra descobrir suas origens, criar laços, descobrir quem é de verdade, etc. Aquela história. Chegando lá, obviamente o pai está noivo de uma mulher nada a ver, que tem uma filha nada a ver, rola um choque cultural, ela causa muito nos eventos da realeza e tem uma cena maravilhosa em que Daphne participa de um desfile de moda da nobreza usando calça jeans e regata branca, e grita THANK YOU LONDON! antes de cair da passarela. Ok, talvez eu veja esse filme de novo hoje mesmo. 

     10. Quatro Amigas e um Jeans Viajante


Todo mundo já ouviu falar da história das quatro amigas que encontraram uma calça jeans que serve perfeitamente nas quatro, ainda que elas tivessem corpos bem diferentes. Elas usam a calça para se manter de certa forma unidas num verão que passam separadas, e falando assim você pensa que é só mais uma história sobre quatro garotas diferentes que são amigas mesmo assim e um jeans realmente sujo. No entanto, além de ser uma história realmente ótima sobre amizade e vários exemplos positivos de sororidade, de repente não mais que de repente, o filme fica muito intenso e mega emocional, e lá está você chorando horrores vendo Sessão da Tarde pela trigésima vez, porque como superar Tibby e Bailey? Obs.: Blake Lively antes do nose job, que momento. Quem diria que Bridget, a garota que jogava futebol, digievoluiria para Serena Van Der Woodsen?

      09. Aquamarine


Sinto que um filme que envolve duas amigas que encontram uma sereia refugiada na piscina de casa não precisa de muitas justificativas que deem conta de como ele é maravilhoso. São amigas, sereias e romances de verão, com Jojo e Emma Roberts tão jovens que deviam colocar papel higiênico dentro do sutiã, a receita perfeita pro sucesso. A sereia que elas encontram é uma maluca obcecada pela ideia de se apaixonar, e elas tem que colocar juízo na cabeça da moça ao mesmo tempo que aproveitam o último verão juntas na cidade antes de uma delas se mudar pra sempre. Não lembro muito do filme, mas esse é outro que sempre me faz chorar no final. 

      08. Lizzie McGuire - Um Sonho Popstar


Eu não tinha Disney Channel em casa nessa época, então não conhecia a série da Lizzie McGuire antes de assistir o filme. Aliás, só fui descobrir que Lizzie McGuire was a thing quando entrei no mundo dos blogs. Antes disso, achava que só era um filme obscuro da Hilary Duff que eu tinha achado na locadora. Não que seja muito mais que isso, a diferença é que em 2006 a blogosfera era composta pelo tipo de gente que encontrava filmes assim na locadora. Na história, a turma da Lizzie McGuire viaja pra Roma (eu fui pra Caldas Novas na minha formatura, bjs) e ela meio que topa fingir que é uma popstar italiana, já que as duas se parecem muito, a original está sumida, e o italiano gatinho da scooter tem shows a fazer. Tipo, normal, né? Essa é a mágica dos filmes adolescentes: zero plausibilidade no mundo real. E agora eu e você vamos ficar até semana que vem cantando HEY NOW! HEY NOW! THIS IS WHAT DREEEEAMS ARE MADE OF!

      08. No Pique de Nova York


Eu amo as gêmeas Olsen. Muito. Amo até hoje, mesmo elas tendo largado o cinema pra serem mendigas góticas fashionistas com casacos de pele de verdade - queria ser contratada pra segurar a cauda do vestido delas, sabe? Se não me engano esse foi o último filme que as duas estrelaram juntas depois de preencher os anos 90 com todos os filmes possíveis com confusões entre gêmeas. Nesse, duas irmãs com personalidades opostas tem que começar a se entender pra sobreviver em Nova York, vivendo incríveis confusões e sendo perseguidas pelo Eugene Levy. Eu choro de rir só de lembrar da Roxy fazendo o discurso na ONU e citando a Avril Lavigne, e outra referência importante é que o Simple Plan começou a fazer sucesso depois de aparecer nesse filme. #respect

Vocês eram a Ashley ou a Mary-Kate? Sempre fui Mary-Kate até os ossos. #talifã

      07. Menina Mimada


Vários filmes dessa lista fazem parte de um nicho que aprecio muito, que é o dos filmes-horríveis-que-são-maravilhosos, o que não é nenhum demérito. No entanto, por incrível que pareça, Menina Mimada é bom de verdade - tanto que é o único dessa lista que eu assisti pela primeira vez com mais de 15 anos. Na história, Emma Roberts é uma patricinha mimada (cê jura) que recebe o castigo de ter que ir estudar em um colégio interno na Inglaterra. Chegando lá, seu plano é aprontar horrores pra ser expulsa o mais rápido possível e voltar pra casa, mas no meio do caminho ela descobre amizades maravilhosas e um gatinho com sotaque que dirige conversível - e apronta horrores com a ajuda deles. Os bonding moments com as migas do internato são os melhores e amo a mensagem que ele passa sobre a importância de se ter migas e estar do lado delas pra todas as ciladas. Além disso: Emma Roberts, amo tanto que nem sei. Quer ser minha miga?

      06. Sexta-Feira Muito Louca


Eu avisei que roteiros sobre troca de corpos estavam em alta nessa época, e esse filme é o melhor exemplar da espécie. Mãe e filha que vivem às turras amanhecem numa fatídica sexta-feira em corpos trocados, e o que a gente ganha com isso é uma Lindsay Lohan em um de seus melhores momentos, uma Jamie-Lee Curtis fantástica, gostosas gargalhadas e um drama familiar que inevitavelmente me faz chorar. Além disso, é um filme da Disney e sua cota de cantoria obrigatória vem por meio da bandinha emo e gótica da personagem da Lindsay, e as duas melhores músicas dela vem desse filme: Take Me Away e Ultimate. Trivia: na época meu blog se chamava Princess Anna, e meu primeiro layout personalizado tinha uma foto da Lindsay Lohan e um midi-player que começava a tocar Take Me Away automaticamente. Me amem. 

     05. O Diário da Princesa


A Anne Hathaway é uma das minhas pessoas favoritas do mundo, e nossa história começou aqui. Com Mia Thermopolis se descobrindo princesa da Genóvia aos 16 anos e tendo que aprender sobre etiqueta, chefes de Estado e peras enquanto sobrevive ao colegial, é sabotada pelas inimigas, administra seus amigos à sua nova vida e ainda por cima se apaixona por Michael Moskovitz (CRUSH ETERNA). Nunca cheguei a terminar a série de livros e confesso que tenho medo de lê-los e descobrir que eles não são tão bacanas como eu me lembro. Prefiro deixar quieto e guardar comigo a lembrança gostosa da época de abraçar esses livros, acreditar que essa é a melhor história do universo. Foi o primeiro DVD que ganhei, exaustivamente assistido, e num "curta" que gravamos pra um trabalho de escola eu reencenei o momento que Mia joga sorvete na Lana. Juro. #momentos

      04. A Nova Cinderela


Eu nunca superei A Nova Cinderela, tampouco pretendo. O filme é uma adaptação moderna de Cinderela, onde ela e o ~príncipe~ são amigos virtuais e se conhecem apenas pelo nickname, num mundo sem redes sociais onde era possível trocar mensagens com uma pessoa da escola sem saber quem ela é. Os dois se encontram num baile à fantasia, lógico, e vivem um super #momento, ele sem saber quem é ela, ela sem poder dizer quem é, vocês conhecem a história. A trilha desse filme toca até hoje aqui em casa e ele passou com folga na prova dos quinze e dos vinte. Os anos vão e ele continua maravilhoso - o Chad Michael Murray (CRUSH ETERNA) também. 

      03. Meninas Malvadas


Eu falo tanto de Meninas Malvadas por aqui, as pessoas falam tanto de Meninas Malvadas em todos os lugares, que sinto que estarei sendo redundante em qualquer coisa que disser sobre ele. Vocês já sabem. Meninas Malvadas provavelmente é o que Curtindo a Vida Adoidado foi pros adolescentes dos anos 80, ao captar aquele espírito de uma geração, principalmente para as meninas. O filme fala sobre conflitos entre garotas, picuinhas e humaniza de forma honesta e bem-humorada nossas amigas & rivais da escola. É um filme necessário e ainda por cima MUITO engraçado, com a melhor dublagem em português da história, o sucesso do Dubsmash é uma prova viva disso. Se os anos 2000 fosse uma garota de 15 anos e resolvesse tatuar alguma coisa escondida dos pais, tatuaria SO FETCH na lombar.

     02. Legalmente Loira


Esse filme é o único da lista que não é necessariamente adolescente, mas está aqui porque Elle Woods foi um dos meus primeiros role models da juventude. Muitas pessoas pensam que Legalmente Loira é um filme fútil sobre uma patricinha que vai pra Harvard atrás do namorado, mas na verdade ele é um filme realmente genial sobre uma mulher que decide mostrar que é mais do que as pessoas pensam dela e que, se ela quiser, ela pode, sim, ir estudar Direito em Harvard e ser sensacional fazendo isso. Eu repetia pra quem quisesse ouvir que quando eu crescesse eu também ia estudar Direito em Harvard e chegar lá com minha caneta de pompom sem me importar com o que os outros dissessem porque, com 11 anos, minha vida era basicamente assim - com a diferença de que não era Harvard, mas o ensino fundamental.

Desde então a Reese Witherspoon é uma das minhas pessoas favoritas de Hollywood, por ser assumidamente feminista, por seus ótimos filmes e por seu trabalho como produtora. Reese fundou a Pacific Standard com o intuito de produzir filmes com personagens femininas que pudessem servir de modelos, heroínas ou que simplesmente tivessem boas histórias. Ela fez isso pensando na filha de 13 anos e foi a empresa dela que viabilizou Garota Exemplar e Wild.

      01. Crossroads


Também conhecido como o filme-da-britney-spears, Crossroads conta a história de um trio de amigas de infância que acabam seguindo rumos diferentes, mas que se unem novamente no dia da formatura do ensino médio pra desenterrar uma caixa de lembranças, tesouro que elas tinham escondido anos antes. No dia seguinte, cada uma com seu motivo, as três embarcam juntas numa road-trip com cara de cilada pra Los Angeles e o resultado não podia ser mais maravilhoso. Elas cantam I Love Rock'n'Roll no karaokê pra arranjar dinheiro pra gasolina, fogem com o carro cantando If It Makes You Happy e tem um dos melhores bonding moments da história do cinema ao compartilhar umas com as outras seus medos e angústias dos últimos anos. E sim, esse também sempre me faz chorar. De soluçar. De verdade, é um dos melhores filmes sobre amizade que eu já assisti.

Outra coisa ótima é que as três cresceram e acharam seu lugar no mundo, Britney encontrou 2007 no meio do caminho mas continua sendo a única Princesa do Pop possível, atual rainha de Las Vegas. Zoe Saldaña virou musa da ficção científica e Taryn Manning renasceu das cinzas pra ser a Pennsatucky, uma das melhores personagens de Orange Is The New Black. 

Então eu fui no show da Fresno

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Eu, meu piercing no nariz, minha mecha rosa no cabelo (que agora são várias), dois amigos, e uma sensação de que já estou velha demais pra isso. 

Às cinco e meia da tarde de quinta, o dia do show, eu estava caída numa grama aleatória da UFU. Sabe quando você simplesmente cansa e resolve se jogar um pouquinho no chão? Pois é. Eu já tinha acordado cedo, trabalhado em casa, feito as unhas, apresentado trabalho e aguentado uma aula que parecia não acabar nunca, com um professor fazendo conjecturas sobre um texto chato que eu nem tinha lido, e ainda tinha uma reunião com minha orientadora antes de ir pra casa. Mas, saindo da sala de aula, dei de cara com um fim de tarde lindo de outono, com um céu azul sem nuvens, com o sol e sua luz incrível e com um vento quase frio, típico desses dias. Parecia uma afronta seguir pra outra sala fechada e deixar o dia ali acontecendo, lindo de morrer, de modo que deitei na grama e esperei a fadiga passar.

Ali, olhando o céu, eu pensava MEU DEEEEEUS EU AINDA TENHO UM SHOW PRA IR  E NÃO SEI NEM SE CONSIGO ANDAR ATÉ A SALA, QUERIA ESTAR MORTA. 

Às seis e meia da tarde, eu cheguei em casa esbaforida e descobri que já tinha fila na porta do lugar. E eu jurando que ia conseguir dormir uns quarenta minutos antes de sair. Ha. Ingênua. O problema não é você fazer todo um trabalho espiritual pra resgatar sua adolescência, não é pagar pra furarem um buraco no seu nariz e nem pintar o cabelo com uma tinta que cheira chiclete. O problema é que você faz isso tudo mas continua tendo 21 anos no mundo real, ao contrário dos jovens de 15 que tem tempo e energia pra ficar fazendo fila em porta de show antes da casa abrir. Não dá pra competir com isso, por mais bonitos que sejam a minissaia e o coturno que você comprou aos  16. 

Eu tinha sonhado um sonho bem lindo de pegar grade, roubar palheta e deixar o Lucas suar na minha cara, mas eu já estava tão cansada que pensei que se não desse tempo de chegar cedo pra ficar pertinho do palco eu ia arranjar um banquinho no fundo, perto do bar, e ia me contentar em simplesmente ouvir o show tomando uma caipirinha, sentada e feliz. 

Às oito e meia da noite, quando chegamos no lugar, a fila tinha acabado de começar a andar. Devagar, porque essas coisas nunca são rápidas quando a gente precisa, mas não o suficiente pra eu sentir necessidade de me sentar na calçada mesmo estando de saia. Claro que antes disso eu consegui esquecer meu ingresso em casa (!) e tive que ir literalmente correndo buscar antes do táxi chegar, e depois minha amiga esqueceu o ingresso em casa (!!) e teve que entrar num táxi pra ir lá buscar (Sério, quais são as chances de duas pessoas esquecerem o ingresso na mesma noite? Descubra saindo comigo), mas vou poupar vocês do drama (!!!) e pular pra parte em que eu tomei energético de guti-guti, pois só se é jovem uma vez e a minha claramente já passou. 

No entanto, felizmente, Penny Lane, minha santa pagã padroeira das groupies, ouviu minhas preces e o ambiente onde o show aconteceria só foi liberado depois de todo mundo entrar, de modos que quando aquela porta abriu ninguém era de ninguém e os jovens que passaram a tarde tumultuando a porta do recinto puderam fazer um tsuru com seu papel de trouxa enquanto disputavam espaço comigo perto do palco. 

PARECE QUE O JOGO VIROU Ñ É MSM??
A viagem no tempo de volta pra 2005 começou bem antes do show, com Fall Out Boy e The Used saindo das caixas de som. Me senti numa festa do Hangar 110 que nunca frequentei, mas curtia pacas. Não sei se era ansiedade, adrenalina ou aquele energético batendo, mas aos poucos o cansaço nas pernas e na cabeça foi sumindo e eu já queria mais espaço pra bater cabelo e estava até cogitando pular de mãos dadas com o cara escroto que não parava de me empurrar caso tocasse All The Small Things - coisa que feliz ou infelizmente não aconteceu. O que na verdade aconteceu e me fez ignorar todo o resto da festa foi que, ao olhar pra cima, eu vi o Lucas no andar de cima. 

Oh sugar, we're going down. 

Antes de ser fã da Fresno, eu já era fã do Lucas. Aliás, mais correto seria afirmar que eu só comecei a ser fã da Fresno por causa do Lucas. Sendo bem honesta, o som deles nunca foi minha vibe, mesmo na época em que eu passava lápis preto no olho pra ir pra escola, e sempre me incomodei muito com a necessidade que eles tinham de soar como o Copeland ou o Anberlin quando sempre tiveram potencial pra ser muito mais que isso. Mas aquela era a banda do Lucas, aquele cara que escrevia coisas tão legais, cujos rascunhos de Fotolog eu vi virar música, a banda que o Lucas montou com o Tavares na época da escola, o sonho adolescente deles de ser rockstar. 

Antes de qualquer coisa, eu estava lá por ele. Por ele e por mim, a garota que anos atrás achava que ele era o cara mais legal do mundo - e que até hoje, de vez em quando, tem umas recaídas. Eu devia aquele show pra mim mesma há muitos anos, e finalmente era chegada a hora de acertar as contas. Então, quando o Lucas apareceu com sua mochilinha nas costas e deu um tchau tímido pra gente, eu fiz o que eu teria feito se ainda estivéssemos em 2007: gritei horrores. Que delícia ter 13 anos. 

eu fui a menina de casaco vermelho à esquerda em 100% do tempo
O show que a Fresno fez em Uberlândia naquele dia 16 faz parte da turnê "O começo de tudo", cuja proposta é tocar só músicas dos três primeiros discos da banda. Não sei o que poderia ser mais simbólico pra esse meu revival adolescente do que isso, porque não era só pra mim que aquele era um momento de nostalgia e celebração de tudo que fomos um dia e que foi tão bom enquanto durou. Em determinado momento do show um cara foi pedido em casamento, e embora tenha ficado evidente que a namorada só fez aquilo pra que ele tivesse a chance de subir no palco e abraçar a banda, com casório ou não aquilo foi solene pra todo mundo, e a sensação que eu tinha era que todas as pessoas estavam ali tendo o show da vida delas, ou pelo menos de uma parte muito importante da vida delas. 

Essa comoção coletiva é uma coisa que só a música traz pra gente, e não importa o gosto do freguês, se é a Fresno, o Paul McCartney ou o Black Eyed Peas em cima do palco - o que faz diferença é a emoção do momento, tanto de quem toca como de quem assiste. Naquela quinta, todo mundo estava muito feliz por estar ali, e isso se fez sentir do começo ao fim do show.

Aliás, muito engraçado estar tão feliz num show com músicas tão deprimentes. Eu balancei os braços feliz da vida gritando que EU PUDE VER O SOL DESAPARECER DO SEU ROSTO, DOS SEUS OLHOS, DA SUA VIDA, dei pulinhos cantando NÃO-CHO-RA-NÃO-CHO-RA, e foi ao som de Se Algum Dia Eu Não Acordar que o Lucas pediu que a gente abraçasse os amigos que conhecemos graças ao róque e que estão aí até hoje. Imagina se um dia eu não acordar, quem vai puxar assunto com você? Quem vai mentir que você é legal? Imagina se um dia eu morrer, bem o tipo de papo saudável que todo amigo bate de vez em quando. Que fase. 

Como tinha que ser, Duas Lágrimas, a minha música, foi absolutamente tudo que eu esperava depois de tantas vezes ter dado replay nessa apresentação aqui, e eu, que tinha me lamentado tanto ao longo da semana por não estar conseguindo fazer uma imersão na banda, como sempre faço às vésperas de algum show, percebi que ainda lembrava de todas aquelas outras letras e bastava ser levada pelo calor das pessoas cantando pra lembrar de tudo. Eles mandaram um "OOOHHH MINAS GERAAAIS" em determinado momento, mas eu já sabia que vinha Stonehenge depois. 


Nunca esperei que um show acústico pudesse ser tão enérgico. No começo achei esse detalhe bem chato, pois a moeção™ sempre foi uma das coisas que mais curti no som da banda. Embora tenha sentido falta de ver o Lucas com sua guitarra branca maravilhosa, as pessoas pulavam e cantavam tanto que mal parecia que os plugs estavam desligados. A gente foi maré viva pra caramba, e quando o Lucas finalmente ficou de pé e abriu os braços, pra fechar o show com Sono Profundo (a última música do primeiro CD pra fechar o show que começou com a primeira música do primeiro CD), tudo que se sentia era a energia de uma banda que, independente do som que faça, o faz com muito respeito à música, muito amor e sempre se divertindo muito. Em troca, do nosso lado tinha a energia das pessoas que levaram muitos anos pra estar ali e, independente do sentido que aquelas músicas façam hoje, se é que ainda fazem algum, elas fizeram um dia, muito, e a gente estava ali pra celebrar e viver aquilo de novo. 

Às duas e meia da manhã, eu estava em casa, sem conseguir dormir. Sem maquiagem, sem sapato, e finalmente sem hora pra acordar, eu já não queria mais a cama com a qual passei o dia todo sonhando. Do contrário, com os fones de ouvido eu pulava pela sala ouvindo Logo Você (VOCÊ SENTE AO ME VER O QUE EU SINTO POR VOCÊ OU NÃO SENTE MAIS NAAADAAA??) e querendo que aquela euforia durasse pra sempre. Não sei se foi a adrenalina, o energético ou o que quer que seja que exista de tão especial no ato de se realizar um sonho - ainda que com uns anos de atraso. No fundo, a gente nunca fica velho demais pra isso. Que delícia ter 13 anos.

P.S.: Tavares, eu nunca te esqueci.
P.S.S.: Sem fotos do baile porque não encontrei as profissionais na internet (aô berlândia).

33 coisas que vocês nunca se perguntaram (mesmo)

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Diga trinta e três: trinta e três. Essa frase vem de uma crônica que o Antonio Prata escreveu ao fazer trinta e três anos (cê jura) e eu nunca esqueci. No texto ele diz que, aos trinta e três, de Jesus pra baixo, todo mundo é ressentido. Trinta e três: a idade de Cristo e do ressentimento. Eu repito isso pra mim mesma sempre que escuto esse número, e é inevitável me perguntar se aos trinta e três eu também vou ser ressentida. Aos vinte e um rola uma certa obrigação moral de jurar que não, imagina, ou pelo menos implorar pra que não seja assim. Mas o negócio é que o feriado passou e me deixou gripada, e o passeio de terça me deixou cheia de picadas de insetos, e agora estou aqui, muito ressentida, querendo escrever, mas sem conseguir, porque espirrar cansa e eu realmente não pensei na gripe quando inventei de fazer um piercing.

Quando fico doente sinto uma necessidade absurda de atenção, de modo que a melhor coisa que encontrei pra curar o ressentimento foi esse apanhado de perguntas pessoais e absolutamente desnecessárias que vão me dar a chance de discorrer sobre a minha existência em torno de situações que vocês realmente nunca se questionaram antes e podiam passar sem. Desculpa.

(Vi as perguntas no blog da Analu e da Del, e você pode ficar completamente à vontade para ser o próximo da lista)

1) Por que você costumava levar bronca quando era criança?
Fui uma criança tão certinha e responsável que era quase idiota, tanto que minha mãe costumava brigar comigo pra que eu fosse menos mole e, óbvio, chorasse menos. Acho que "engole o choro" foi a frase que mais ouvi durante a minha infância - sempre em vão. Eu e minha mãe costumávamos brigar um bocado por causa de roupa e sempre que a gente saía pra algum almoço, festa de aniversário, etc, era um drama aqui em casa. Até que um dia ela disse que não ia mais brigar comigo por causa disso e assim foi. Passei por épocas de usar só cor-de-rosa, e outras de usar minhas fantasias de bruxa e de cigana pra ir na papelaria da esquina, mas ninguém morreu por causa disso.

2) Quando foi a última vez que você saiu sem rumo?
Sempre ando sem rumo quando passeio com Chico, o poodle. Essa falta de rumo, claro, vai até os limites do quão sem rumo é possível ficar dentro do próprio bairro, mas quando saio nunca penso direito no caminho que vamos fazer e o objetivo nunca é ir em algum lugar específico, mas só andar, andar, andar, ouvir música, e ir pra casa quando o cachorro pedir arrego. 

3) Três objetivos para o seu futuro:
Pensar no futuro tem me tirado o sono nos últimos tempos. Literalmente. É um misto de angústia e expectativa, muitas dúvidas e muito medo. Então, como qualquer pessoa responsável, eu evito pensar no assunto. Aprendi lendo um livro sobre organização que o segredo para fazer as coisas é fazer uma coisa de cada vez, repartindo grandes objetivos em pequenos objetivos, abraçando uma ideia de que o futuro começa no próximo minuto. O único tipo de futuro com o qual consigo lidar no momento é o que se estende até dezembro, e até lá quero três coisas: terminar meu livro-reportagem, transformar essa ideia num projeto que não acabe junto com a faculdade e começar a planejar uma viagem bacana.


4) O que você encontraria se abrisse sua geladeira nesse exato momento?
Olha, engraçado você perguntar, porque hoje eu abri minha geladeira e encontrei um Choco Milk (?) de um litro e seis latas de água tônica. Aqui em casa ninguém toma leite, muito menos água tônica, mas quando perguntei pra minha mãe o que diabos era aquilo, ela disse: "ah, trouxe pra você". Eu sei, o cúmulo da delicadeza e da atenção, e eu sou mimada e mal agradecida por reclamar, mas eu já disse que não bebo leite, tampouco achocolatado pronto? Já disse que tomei água tônica aproximadamente umas três vezes na vida? Mas coisas assim estão no espectro de decisões que minha mãe toma quando vai ao supermercado, porque ela não tem paciência, não presta atenção, e vive trazendo coisas aleatórias pra casa. Tipo o dia que ela perguntou qual iogurte eu queria, eu disse que era o natural, e ela me trouxe seis sabores diferentes e nenhum deles era o natural. Aí eu tomei todos, mesmo não gostando de iogurte com sabor, porque ela estava só querendo agradar. Mães.

Além do Choco Milk e das seis latas de água tônica, eu provavelmente vou encontrar margarina, requeijão, presunto, mussarela, iogurte (de morango), suco de goiaba, chá gelado, ketchup, mostarda, ovos, palmito e tupperwares com restos de comida que devem virar um mexidão amanhã ou depois. Maçãs e limões na gaveta de frutas, e provavelmente tomate, cebola e pacotes de verdurinhas picadas, porque hoje tem sopa. Tem também cerveja pra minha mãe e vinho branco pra mim - pra vocês verem como são as coisas. No congelador provavelmente tem feijão, alguma carne, compressas de gelo e infelizmente nenhum sorvete. 

5) Qual tecnologia ocupa mais seu tempo?
O celular. Queria ser menos apegada e morro de vergonha da minha dependência, mas como é bonito o rosto do loop eterno entre Twitter-Instagram-Whatsapp, né?

6) Uma coisa usada que você comprou:
Adoro frequentar sebos e não tenho frescura nenhuma com livro velho, então vários exemplares da minha estante vieram desses garimpos. Ultimamente tenho gostado bastante de usar o serviço de trocas do Skoob Plus, meus últimos usados vieram de lá: "Três Viúvas", da Liliane Prata e "A Zona do Desconforto", do Jonathan Franzen.

7) Qual a primeira coisa que você faz ao acordar?
Queria dizer que me alongo, medito e faço orações na direção da Meca, mas a verdade é que depois de apertar o botão da soneca três vezes, eu checo e-mail e redes sociais e só depois levanto e vou escovar os dentes.


8) Do que você precisa nesse exato momento?
Parar de tossir, parar de espirrar e um anti-gripal que caia como uma bomba e me faça dormir 12 horas, pra eu acordar amanhã como nova. Ser hippie e se tratar com chazinho e sopa não está com nada, amados.

9) Qual foi a última coisa que você leu, ouviu ou assistiu que te inspirou?
Estou relendo Fama & Anonimato, do Gay Talese, meu livro-reportagem favorito. Resolvi pegá-lo justamente porque preciso de inspiração e está dando certo e errado ao mesmo tempo. Ler a primeira parte do livro, A Jornada de um Serendipitoso em Nova York, me deixa com vontade de ir pra rua e escrever sobre todas as pessoas que cruzarem o meu caminho, mas o cara é tão bom e especial no que faz que não dá pra fugir da sensação de que nunca vou conseguir fazer isso bem o suficiente.

Ah, o disco de estreia da Courtney Barnett saiu recentemente e as letras dela são muito bacanas.


10) Um souvenir que você comprou ou ganhou:
Não é um souvenir típico, mas meu pai esteve na Bahia um pouco depois do carnaval e me trouxe de lá um par de brincos e um colar, ambos maravilhosos. Gostei tanto dos dois que até deixei de lado o ressentimento de ter ficado por aqui enquanto ele curtia as marolas de Arraial, principalmente porque meu pai nunca se arrisca a comprar um presente pra mim, ele sempre pergunta o que eu quero antes. Achei bonitinho ele ter tentado, e melhor ainda por ter acertado, e olha que eu sou a pessoa mais insuportável do mundo quando o assunto é presentes que envolvam roupas e acessórios.

11) O que te deixa estressada?
Cobranças, pessoas incompetentes e/ou mal educadas, trânsito, gente que anda devagar na minha frente, ter que ir ao banco, falar ao telefone e, lógico, ficar gripada.

12) Já morou em outro país além do Brasil?
Não, mas tenho MUITA vontade. É um dos meus maiores sonhos, embora não tenha muita vontade de ir em definitivo.

13) Você tem tatuagem?
Não.

14) Qual foi a última coisa que você pesquisou no Google?
Fui checar como se escreve o sobrenome da Courtney Barnett e acabei lendo alguns textos sobre o disco novo dela. Descobri nessas que ela é australiana, por isso todos os vídeos dela ao vivo no Youtube foram gravados em cidades australianas - e eu estava super "nossa, a moça surgiu ontem e já tá aí, fazendo turnê na Austrália please come to Brasil etc".

15) Qual sua maneira de ser egoísta?
Acho que meu blog é a coisa mais egoísta da minha vida e esse questionário é um exemplo perfeito disso. Gosto de um texto que está no livro da Juliana Cunha onde ela diz que seu blog é do tipo que você pode ler o histórico inteiro que não vai encontrar nada de útil pra sua vida, porque me identifico horrores. Hoje em dia ninguém mais bloga, só produz conteúdo pra internet. Minha resistência pacífica é continuar ocupando espaço aqui sem pagar aluguel, só enchendo os transeuntes desavisados com minhas histórias de resfriado, guarda-chuvas e adolescência tardia.


16) O que demora demais?
Os ônibus, as pessoas que andam devagar na minha frente e a nova temporada de Orange Is The New Black.

17) A última vez que você ficou acordada a noite toda:
Em dezembro do ano passado, na formatura da Paloma. Acho que por volta das cinco da manhã começou um set de arrocha profundamente equivocado e eu fui pra mesa tirar um cochilo, sofisticada como sou. O que me levantou foi a bateria de escola de samba (!) que chegou na pista algum tempo depois e me colocou pra sambar como se eu já não tivesse dançado de salto alto (quase) a noite inteira. Que país maravilhoso é o Rio de Janeiro. Eu e minhas amigas tínhamos combinado de terminar a noite na praia, viradíssimas, mas é claro que entre chegar em casa, trocar de roupa e sair, paramos no meio do caminho e acordamos horas depois.

18) Qual a comida que todo mundo ama, mas você odeia?
Feijoada. Desculpa. Eu sei que é um dos pratos mais tradicionais da nossa culinária e que vocês passam a semana inteira esperando o dia da feijoada no self-service, e não melhora muito quando eu digo que muita gente já disse que minha avó faz a melhor feijoada do universo, mas não dá. Eu não gosto de feijão preto, não como carne de porco e aquilo não me desce. Não vou dizer que odeio, porque eu até como se não tiver outra opção, mas me sinto muito segregada socialmente e julgada por todos quando digo que não gosto - tanto que normalmente costumo me justificar dizendo que o prato não me faz muito bem.

19) O que você está vestindo agora? O que essa roupa diz sobre você?
Estou vestindo um macacão todo preto e nada nos pés, mas estava com sapatilhas prateadas. Essa roupa diz que eu sou uma fraude, porque as pessoas sempre me elogiam quando estou com esse macacão: falam que eu estou bonita, perguntam onde eu vou, etc. Mal sabem elas que esse macacão é meu maior trunfo quando estou morrendo de preguiça, primeiro porque é uma única peça, segundo porque é de malha e por isso mega confortável, e terceiro porque provoca esse maravilhoso efeito de parecer que estou vestindo algo especial quando, na verdade, ele é um onesie mais arrumadinho.


20) Você já fez amigos ou se apaixonou por alguém que conheceu pela internet?
Sim! Graças à internet e aos blogs eu comecei a fazer parte da Máfia, que começou como um grupo de blogueiras que hoje são minhas amigas do coração, a história mais maluca que eu tenho pra contar.

21) O que te faz perder o sono durante a noite?
Ansiedade, essa maravilhosa. Porque nada como passar a noite andando em círculos em volta da mesa de jantar da sua casa obcecando com o próprio futuro e pensando em importantes decisões de vida, não é mesmo?

22) Qual foi a primeira coisa que você comprou com seu dinheiro?
Um vestido laranja, lindo de morrer, todo de laise. Lembro como se fosse hoje: estava passeando no shopping quando vi o vestido na vitrine e não consegui mais parar de pensar nele. Segui com a vida, até que lembrei que opa, o jogo virou e eu tenho dinheiro aqui que é meu e eu posso gastar comprando esse vestido pra mim. Foi baratinho, acho que comprei na Riachuelo, mas foi super especial. Agora a primeira coisa de gente grande que comprei foi meu notebook.

23) O que tem na sua prateleira?
Não tenho exatamente uma prateleira, mas os objetos que fazem as vezes dela estão soterrados de livros e ocasionais bobagens fofas, como canecas, caderninhos, bonecos e até uma garrafa fechada de Guaraná Jesus. Meu último bookshelf tour foi em 2013, mas essas fotos do meu "home office"mostram o espaço um pouco mais atualizado. A única coisa que mudou foi a quantidade de livros.

24) Como você se acalma depois de um dia estressante?
Tomando um banho bom e lavando o cabelo. Chegar em casa e lavar a cabeça é uma coisa que faz milagres, principalmente se há tempo suficiente pra se fazer isso ouvindo um CD gostoso (pra esses momentos, gosto de Norah Jones, Cat Power, Lorde, Belle and Sebastian e a trilha sonora de Elizabethtown). De resto, comfort food quando é possível e alguma série que exija pouco de mim. Friends e The Middle são maravilhosas nessas horas.


25) Escreva sobre alguma coisa que você quebrou:
Olha, eu sou desastrada pra caramba. Mas, ironicamente, eu tenho reflexos muito bons. Sério. Por isso, sempre consigo salvar copos, vasos, pratos e enfeites antes deles caírem no chão - depois que eu, claro, dei um jeito de derrubá-los por aí. Não consigo lembrar de nenhuma tragédia envolvendo coisas quebradas, essa é a dimensão do meu instinto aranha.

26) O que você mais gosta de comer no café da manhã?
O café da manhã é minha refeição favorita. Juro. Mesmo aquele de todo dia, com o pão na chapa que eu mesma faço em casa e café fresco, ou então o pão de queijo bom da faculdade. O que me motiva a levantar da cama e ir pra aula de manhã é a perspectiva do pão de queijo quente. Eu ganho o dia quando tem algum bolo pra complementar, e dream come true é quando tem croissant e/ou tapioca. Quando vou pro Nordeste, meu café da manhã é composto de três tapiocas: uma salgada e duas doces, e faço a festa no café da manhã de qualquer hotel, onde como tudo que tenho direito, das frutas aos ovos mexidos. 


27) Como quer que sua vida de aposentada seja?
Esses dias meu primo Gustavinho, de 8 anos, perguntou pro meu avô com o que ele trabalhava. Meu avô disse que era aposentado, ao que Gustavinho questionou: "mas o senhor ganha dinheiro sem fazer nada?", "sim", disse meu avô, sem se alongar muito nos pormenores da previdência social. No mesmo dia, um tempo depois, Gustavinho disse que seu novo sonho na vida era ser aposentado e é mais ou menos assim que me sinto com relação à vida, de modo geral. Claro que do jeito que as coisas andam, a primeira coisa que eu quero da minha vida de aposentada é que seja real algum dia, antes de eu ficar inválida. Depois, quero netos, palavras cruzadas, Downton Abbey e poder ser inconveniente sem me preocupar muito com as pessoas ao redor. Tipo o Jack Nicholson

28) O que você leva em consideração ao votar em um partido político?
Voto mais nos candidatos do que no partido em si, e procuro saber se suas propostas estão alinhadas, minimamente, com os ideais de esquerda em que acredito. Sou do tipo a favor de cotas, do Bolsa Família, de ciclovias, políticas sociais, abortista-gayzista e essa cartilha dos horrores aí, então não está fácil mesmo votar (e viver), mas vamo que vamo.

29) A religião é um fator importante na sua vida? Por quê?
O dogma religioso em si, não. Não fui criada dentro de uma tradição religiosa específica, embora tenha tido uma educação cristã desde pequena. Eu acredito no Deus dos cristãos, tenho muita fé e isso é essencial na minha vida. Frequentei igreja por bastante tempo, mas me afastei porque não me sentia mais acolhida naquele ambiente. Deixou de ser minha casa, sabe? Mas continuo acreditando e buscando, porque eu acredito no amor, que pra mim é uma coisa sagrada demais pra que o mundo seja um vazio aleatório, determinado por acasos. A gente é e precisa de mais que isso.

30) Como está sua casa agora? Limpa ou suja?
Vou ser bem sincera e dizer que não está limpíssima, cheirando Veja multiuso e com aquele ar de faxina recente, mas não está suja e nem bagunçada o bastante pra eu ter vergonha de receber uma visita.

31) Você não economiza quando o assunto é...
Comida! Já perdi a conta das vezes que saí jurando que ia me conter pra economizar dinheiro, e pouco tempo depois lá estava eu comendo aperitivo, prato principal, e sobremesa. Já fiz a tática de comer antes de sair pra não gastar (pobrezas né), mas sempre acabo pedindo alguma coisinha. Não consigo entrar numa padaria, armazém ou mercadinho e sair de mãos vazias, e mesmo tendo vários escorpiões no bolso, nunca lamento dinheiro gasto se a comida for boa. Hoje mesmo eu saí da faculdade sem lanchar porque tinha pão em casa, mas no caminho entrei na padaria e saí de lá com dois croissants, chá gelado, e uma barra de chocolate.

32) Você separa o lixo pra reciclagem?
No meu prédio tem coleta seletiva, o que já ajuda bastante mesmo não sendo uma seleção totalmente confiável. Em casa eu separo latinhas, garrafas PET e embalagens longa-vida, que é o que a gente consome mais, mas sei que poderia fazer melhor.

33) Sua sobremesa favorita:
Pudim de leite condensado. Ou algum tipo de torta, de preferência de morango ou de limão. Brownie e um golinho de café também servem. Quando tudo falhar e nada mais fizer sentido, brigadeiro. 

Americanah e o milagre da ficção

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Recentemente li no blog do Jim Anotsu um texto muito bacana sobre os pequenos milagres da ficção, coisa que, segundo ele, acontecem só uma vez a cada muitos livros. Você sabe do que eu estou falando. É aquele momento em você lê e sabe que aquilo é verdade, mesmo que não seja. É aquele momento em você lê e diz: é isso, ainda que você não saiba o que o isso de fato seja. Desconfio que os milagres da ficção operam em duas frequências igualmente virtuosas: ou eles te dizem alguma coisa que você precisa saber - ou sempre soube, mas só queria confirmar ou então queria uma metáfora bem bonita que a justificasse - ou fazem você questionar tudo que você sabe. Os de santo mais forte te deixam com a sensação de que você não sabe nada, mas tudo bem. 

Milagre da ficção foi o termo que conseguiu definir de forma mais adequada a impressão que tive ao ler Americanah, meu primeiro contato com a literatura de uma mulher de quem eu já era tão fã que me sentia no direito de tratar por Chimmy - Chimamanda Ngozi Adichie, para os nem tão íntimos (ou abusados) assim. Logo na primeira página, o narrador apresenta não Ifemelu, a protagonista, mas a forma como ela percebia os cheiros de cada cidade onde morou. Descobrimos ali que Princeton era boa porque não tinha cheiro de nada, e Chimamanda escreve que sua heroína, "acima de tudo, gostava do fato de que, nesse lugar de conforto afluente, podia fingir ser outra pessoa, alguém que tivera acesso a esse sagrado clube americano, alguém com os adornos da certeza". 


É impressionante como tão poucas palavras conseguem dar a dimensão de toda uma sociedade, e como uma única observação, uma expressão que poderia passar despercebida, consegue dar o tom do espírito de uma nação, uma impressão sucinta e absolutamente precisa da noção de privilégio. Adornos da certeza: é isso. Na primeira página, acendi uma vela para Chimamanda e agradeci pelo milagre alcançado. 

A escritora ficou mais conhecida por seu discurso, o incrível "Sejamos Todos Feministas", ter sido sampleado na música da Beyoncé, mas não sei se todo mundo conhece sua outra palestra no TED, na qual ela discorre sobre os perigos de se contar uma única história. Nele, Chimmy, nossa prima mais velha e descolada, fala que a consequência dessa narrativa única é a desumanização dos sujeitos, uma vez que ninguém é único. Nigeriana, ela obviamente fala de sua experiência como uma garota de classe média que foi estudar nos Estados Unidos e se viu presa naquela única história que a maioria dos americanos parecia ter sobre a África inteira e todos que vivem nela: a da miséria, da fome, da tragédia.


Assim como Chimamanda, Ifemelu, a protagonista do livro, vem de uma família de classe média nigeriana e cresceu num contexto que eu, nas profundezas abissais da minha ignorância, nunca tinha associado ao país. Ifemelu e seus amigos eram jovens inteligentes, ambiciosos, cheios de leitura e sonhos, e sonhavam com a América ou com a Inglaterra, os destinos mais comuns, não porque estavam fugindo da fome ou da peste, mas porque, assim como todos, queriam escolhas, oportunidades, queriam crescer à altura do próprio potencial. Ou seja, nem um pouco diferentes da gente aqui mendigando vaga de intercâmbio em qualquer universidade estrangeira, porque estudar fora é vencer na vida. 

No entanto, ao chegar nos Estados Unidos, Ifemelu descobre um mundo novo. Ela descobre, pela primeira vez, que é negra, coisa que até então nunca tinha parado para problematizar e que se torna imediatamente o rótulo que é obrigada a carregar naquele país que jura que superou o racismo, mas que é incapaz de apontar para alguém e dizer que essa pessoa é negra sem constrangimento. O livro, aliás, começa pelo final, quando Ifemelu resolve deixar os Estados Unidos justamente porque está cansada de ter que ser negra em tempo integral. A boa filha à Nigéria torna para que possa ser ela mesma, ao menos um pouquinho. 

Se dentro da história Ifemelu sente que está assumindo um papel pré-estabelecido na maior parte do tempo - a blogueira, a namorada negra, etc - como personagem de um livro ela é perfeita em ser quem é. Chega a ser bizarro como a personagem existe com clareza na minha imaginação, como ela é completa e complexa. Gosto da ternura e da forma como, ao mesmo tempo, ela julga as pessoas ao seu redor, mesmo não sabendo que isso é legal. Gosto de como ela quer passar uma boa impressão apesar de tudo, e de como, mesmo não querendo, ela se acha superior às suas amigas que ficaram na Nigéria. Gosto de como ela existe e sou absolutamente fã do fato de ela ser a única dona da sua história - que é, também, uma história de amor. 

Na contracapa da edição da Companhia das Letras (que está toda muito maravilhosa, invistam), junto com as aspas cheias de louvores das pessoas de sempre, a primeira chamada que se lê é de que o livro promete "uma história de amor implacável". Não é um livro sobre uma negra na América, não é um livro que denuncia o racismo, não é o livro sobre uma geração: é uma história de amor. Junto da narração, Americanah traz alguns textos do blog em que Ifemelu escreve suas impressões justamente sobre as questões raciais nos Estados Unidos, e num desses posts ela fala que as mulheres amam o Obama porque ele se casou com uma mulher negra e esse tipo de representatividade deu às mulheres negras a chance de se verem, pela primeira vez, não como a melhor amiga espirituosa da mocinha, mas como a dona da história que encontra um grande amor no final do filme. 

Mais uma vez: é isso.

2015 tem sido um ano generoso comigo literariamente falando, mas nenhum livro me tocou tão profundamente como Americanah o fez. Como o Jim Anotsu disse, milagres da ficção são raros, e por isso preciosos. Esse livro esfregou minha cara nos meus próprios privilégios, me trouxe insights não só sobre a questão racial, mas sobre imigração, sobre ser e perceber o outro e, com suas lições de empatia, definitivamente me fez uma pessoa melhor. Eu me senti burra o tempo inteiro, mas é pra isso que servem os bons livros.

Americanah me fez chorar quando Ifemelu alisa os cabelos, porque entendi o que o cabelo representava na identidade dela, e me fez chorar quando fala sobre a eleição do Obama, porque entendi o que, de fato, isso representou, e me fez chorar com seu grande gesto romântico do final, digno de uma comédia romântica estúpida qualquer, tão inconsequente quanto, porque entendi que aquela era uma história de verdade, ainda que não seja e esse é o grande milagre da literatura.

É isso. Leiam Americanah, acendam uma vela para Chimamanda antes de dormir and bow dow, bitches.

Amor platônico nº 67

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Você sabe que encontrou seu lugar no mundo quando sua paixão de cinco minutos é correspondida. Eu e o cara do metrô do Rio de Janeiro nos amamos por dez. 


Foi assim: estávamos eu e minhas amigas, onze garotas alopradas que, desde que andaram de ônibus juntas pela primeira vez, há três anos, perceberam que não dá para fazer isso sem perturbar a ordem do lugar. A gente é insuportável mesmo e eu nos odiaria se estivesse vendo de longe. Quem, afinal, pensam que são essas garotas barulhentas que precisam estar sempre coladas umas nas outras, cantando o tempo inteiro, sendo espaçosas, sentando no chão do trem, rindo até cair, e conversando com quem está duas ou três fileiras atrás? Somos nós, sim senhor, amigas que se encontraram do nada, e que se veem, com muita sorte, duas vezes ao ano, e que precisam, sim, causar todo o estardalhaço que causamos por onde passamos. Aceita que dói menos. 

Quando você encontra suas pessoas no mundo, de repente não se importa mais com o que os outros pensam. 

E aí que nós estávamos vindo da mureta da Urca, depois de um fim de tarde de overdose de Rio de Janeiro e tudo que ele oferece, depois de ocasionais cervejas, jogos, pôr-do-sol e muitos, muitos gritos e nós estávamos indo para a livraria. Se o Rio é nossa cidade, a livraria Cultura é nosso quartel general. Mas no meio do caminho tinha um garoto, tinha um garoto no meio do caminho, e ele estava sentado sozinho num banco enorme e vazio do metrô e a gente sentou do lado dele, e a gente que sobrou sentou de frente pra ele, e nem toda a folia do mundo me tirou aqueles três segundos em que cai a ficha que você está cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Ele era como todos os caras bonitos de metrô e paixões de cinco minutos perdidas em cidades maravilhosas parecem ser: moreno barbudo, cara de bobo, All Star branco no pé e aquela doçura carioca que, vocês me desculpem, os paulistas nunca terão. Três segundos e minha vida se revelava novamente um maldito de um clichê, com a única diferença de que, pela primeira vez na vida, depois de 21 anos de muitos amores platônicos de cinco minutos ou cinco anos, eu aparentemente estava sendo correspondida. I was enchanted to meet you, too. 




















Com ou sem os caras bonitos, a gente agiu naturalmente e seguiu fazendo a-gentices como sempre. Muda de banco, troca de lugar, dá risada, finge que briga, faz charminho, tem crise histérica de riso, inicia conversas paralelas em grupos menores, fala de livros, da festa de ontem, vamos comer bolo e tomar champanhe na volta, tô com fome, ai minha panturrilha, vou tomar banho primeiro, etc. E ele ali no meio daquele pudim de estrogênio, às vezes disfarçando, meio cruzando os braços e olhando pro teto, e de repente descaradamente prestando atenção, com uma expressão divertida no rosto. 

Até que, com um pouco de atraso, todas nós tivemos nossos três segundos coletivos de consciência de que estávamos cara a cara com um cara bonito do metrô. 

Pensei que fosse a única a ter reparado nele, mas minhas amigas não me decepcionam e logo estávamos todas naquela telepatia de garotas que, com olhares e risadas, sabem exatamente o que a outra está pensando. Todas nós estávamos pensando que ele era lindo e que estávamos sendo retardadas diante de um cara lindo, porque gritamos o tempo inteiro pra de repente calar a boca, cochichar e rir. Através do reflexo na janela, Giuliana Rebeca me observa ali, 100% sem saber lidar, e diz: eu já te saquei, viu? 

Porque eu estava olhando pra ele, e ele estava olhando pra mim, e eu comecei a fingir que não estava olhando pra ele, mas ele olhava tanto pra mim que não tinha como não olhar de volta, e quando eu finalmente pensava em outra coisa eu sentia ele olhando de novo pra mim, então eu olhava pra ele, e aí eu queria começar a rir, e ele segurava a risada do lado de lá, então ele olhava pra cima, e eu olhava de novo, só pra testar (meu Deus! que cara fofo!), e a gente ficou se olhando por três segundos quase insustentáveis e uma música da Taylor Swift tocava no meu coração. Please don't be in love with someone else?

Então acabou, como todas as paixões de cinco minutos estão fadadas a acabar, e eu gosto de acreditar que teria dado meu telefone pra ele se morasse ali, e eu quase dei meu telefone pra ele mesmo não morando ali, mas decidi que já tenho motivos suficientes pra morrer de saudades do Rio e não preciso de mais um. O que fiz foi olhar pra ele, olhar de verdade, deixar ele ter certeza de que eu estive olhando o tempo todo enquanto imaginava que poderíamos ser nós dois na praia algum dia e que poderia ser ele me rodopiando na gafieira, cantando Cartola ao romper da manhã, e ele me olhava assim meio de lado, já saindo, indo embora, louca por ele.

Só de escrever esse texto fiquei com um frio na barriga e tenho certeza que o Happn perdeu um maravilhoso publieditorial. Se eu morasse no Rio, tenho certeza que já estaria casada - mas, por enquanto, é isso que se oferece.



Um dia depois dos outros

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(20122013, 2014)

À meia-noite do dia quatro de maio de 2015, eu estava entrando em casa. Com uma mala de rodinha e uma bolsa pesada, tentando fazer pouco barulho, quatro dias depois de ter saído para visitar o grande amor da minha vida, a cidade do Rio de Janeiro. 

Era lá que eu estava há um ano, nesse mesmo dia, e quando me dei conta da coincidência só conseguia pensar em uma coisa: não posso perder esse voo de novo. Em 2014, na minha primeira viagem ao Rio, perdi o voo de volta pra casa no dia 3 de maio, e ganhei o dia 4 de presente - um dos dias mais mágicos da minha vida. Em 2015, infelizmente, perder o voo do dia 3 não era uma opção, e ainda que isso fosse resultar numa história maravilhosa, uma prova incontestável de que destino existe e esse projetoé mágico, às vezes a gente precisa fazer o que é certo em detrimento de um bom caso. Eu não podia perder aquele voo. 

Eu não perdi aquele voo. 




































Tão logo entrei em casa, fui logo me atirando no chão para ser recebida por Francisco, o poodle. Ele pulou em mim, me cheirou toda, e ficamos ali rolando juntos no chão por um bom tempo. Era só nesse momento que eu pensava algumas horas antes, no aeroporto gelado de Belo Horizonte, enquanto esperava o horário da minha conexão. Aprendi com o tempo que na viagem de ida todo santo ajuda e qualquer espera é uma festa, mas na volta todo minuto é insuportável e a solidão de um aeroporto é bizarramente opressora. Só pensava em chegar, abraçar meu cachorro e deitar na minha cama.

Minha mãe não aguentou me esperar acordada, então só passei no seu quarto, dei um beijo e deixei ela dormir em paz, não sem antes ouvir as palavras mágicas: "tem janta pra você em cima do fogão". Mães. Tomei banho, vesti meu pijama, e, antes de comer, precisei encarar minha mala. Ai, a mala. Eu costumo evitar a mala de viagem por pelo menos uma semana, pois esse é meu jeitinho de negar a realidade, mas ela estava cheia de coisas muito molhadas e sujas e eu precisava lidar pelo menos com isso antes de esquecer o resto no canto do quarto, até minha mãe ameaçar colocar fogo em tudo. 

Primeiro saiu a roupa da praia, toalha, biquíni e minha canga de bolinhas, que há pouco mais de doze horas estavam estiradas nas areias de Copacabana, curtindo um banho de mar de um incrível domingo carioca. Eu tinha acordado às oito da manhã mesmo tendo ido dormir às quatro, primeiro pra me despedir de Iralinha, e depois porque eu tinha prometido para Tary e Lilica. Queria estar bem morta até a hora que coloquei os pés na areia, mas bastou a primeira onda batendo na barriga - primeiro gelada, depois sensacional - pra todo o esforço ter valido a pena. 


Depois, tirei de lá meus tênis vermelhos, sujos de areia e balada, meus Vans guerreiros que dançaram comigo a noite inteira, e que pularam Sandy & Junior, Britney Spears, e Claudinho e Buchecha, que pisaram muito nos pés de um carioca lindo, que correram na Avenida Atlântica no fim da noite e que viram o sol nascer da areia, de frente pro mar. Eu ia ter que lavar meus tênis em algum momento, mas não naquele dia. 

Jantei arroz com frango assado e assisti meio episódio de Modern Family antes de dormir na minha cama muito vazia, na minha casa muito silenciosa.

Acordei pouco depois das onze da manhã sentindo todos os músculos do meu corpo doerem. Pra completar, o dia estava cinza, chuvoso e frio. Na maior parte dos dias, essa é minha configuração climática ideal. Sou do tipo de gente que abre a janela cantando para receber uma manhã nublada. No entanto, not today, Satan, not today. Até ontem eu estava no Rio, caramba, e aquele dia feio era uma evidência jogada na minha cara de que o sonho tinha acabado. Meu plano era sair de vestidinho e Havaianas, reforçando meu processo de carioquização, mas o máximo que consegui foram sapatilhas, jaqueta jeans e um vestido longo - porque calça jeans já era pedir demais. 

Almoço com meus avós algumas vezes na semana, já que nem meu pai nem minha mãe tem tempo de ir em casa almoçar. Na segunda foi assim, e depois do almoço mostrei pra eles todas as fotos da viagem e ouvi de novo todas as histórias do tempo que minha bisavó morava num apartamento em Copacabana. 

Uma coisa engraçada que noto depois de toda aventura especial que vivo é que as pessoas ao meu redor estão sempre perguntando como foi, e eu queria muito poder sentar e contar todos os detalhes, mas nunca consigo. Algumas vezes eu nem sei se quero - primeiro porque eu acho que relato nenhum vai fazer justiça a tudo que foi, e segundo porque certas coisas são tão especiais que gosto de guardar só comigo. 

A história da gente, da Máfia, sempre foi algo muito difícil pras outras pessoas entenderem, entre família e até meus melhores amigos, porque não é algo que se vê todo dia, não é algo normal. Eu também não acreditaria muito se só ouvisse falar das amigas da internet da minha filha, e minha avó ainda acha que essas viagens que fazemos são "congressos de blog". Então, por mais que eu mostre as fotos e diga: olha nossa casa, como era linda, e aqui a decoração que fizemos pra festa, as coroas que usamos, o dia amanhecendo, a Urca, os livros e essa noite foi foda... Eles não vão saber. E, algumas coisas, se for pra entender pela metade, entender torto, achar besteira ou exagero, eu prefiro que nem saibam. As fotos da festa ficaram ótimas. Foi incrível, sim. O Rio é lindo. Me passa o arroz?















































Fui pra faculdade, mas minha aula acabou bem mais cedo do que o esperado, o que me deu algumas horas livres que eu poderia ter usado para lavar os tênis e a roupa suja de praia, pra adiantar o trabalho daquela semana, que seria puxada, pra arrumar meu quarto e transcrever uma entrevista, mas decidi que não era obrigada a ser útil naquela segunda-feira e fui logo pro sofá, assistir aos capítulos que perdi da novela das seis. Antes da metade do primeiro eu já estava dormindo, pra acordar de novo às oito da noite. Conversei um pouco com a minha mãe, depois fui pro Skype com o Matheus, pra depois voltar pra novela e dormir em poucos minutos, encerrando o dia. 

Lembro que, no primeiro Encontrão, a Analu disse uma coisa que nunca saiu da minha cabeça: "fodeu, agora a gente vai saber o que é saudade". Estar com minhas amigas é incrível demais, e dói na mesma medida quando nos separamos, como uma ressaca emocional. Numa conversa que tivemos logo quando cheguei, disse pra ela que usamos esses nossos momentos juntas e todas as modas que inventamos pra fazer tudo aquilo que temos vontade, mas sempre achamos impossível. É como passar alguns dias num mundo paralelo em que a vida sorri pra você e tudo é permitido. Na teoria, a gente também era impossível. Por isso é tão difícil voltar e a realidade parece tão mais sem graça no começo.

O que a gente esquece quando volta pra casa é que a gente continua sendo a gente, mesmo separadas. Juntas, nós vimos que as coisas, elas acontecem, mas só porque em grande parte das vezes nós que fizemos elas acontecerem. Não precisa acabar quando termina, e às vezes tudo que a gente precisa fazer pra conseguir o que quer é ir lá e... fazer. Cantar na rua num dia qualquer. Aguentar mais meia hora pra ver o sol nascer. Sair de coroa por aí. Não entrar naquele avião. Largar tudo e entrar de todo jeito. Ser tão feliz quanto a gente acha que tem direito, não só um dia, mas todos os dias. As coisas sempre acontecem.



























Até ano que vem.

Como pegar mulher na balada

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Querido leitor, não precisa olhar para os lados desconfiado, você entrou no blog certo.

Eu sei, eu sei. O título não tem nada a ver com a minha linha-editorial, até porque recentemente eu disse aqui mesmo que me orgulhava por manter há sete anos um blog onde você vai até o final dos arquivos e não encontra nada de útil pra sua vida, mas hoje eu resolvi abrir uma exceção. Estou ciente dos riscos que corro com esse título e que provavelmente vou abrir as porteiras do inferno de um jeito pior do que quando resolvi escrever sobre o Chico Buarque dando umas beijocas em pleno oceano atlântico, mas essa é uma causa nobre.

Resolvi escrever esse pequeno manual prático porque minhas experiências na noite têm me feito perceber que os homens não fazem a menor ideia do que estão fazendo com suas vidas. Sempre que vejo alguém pagando micão em praça pública me pergunto se a pessoa não tem um amigo bacana pra segurar na sua mão e dizer: amiga, pare. Caras, hoje eu vou ser essa amiga pra vocês. Uma amiga que vocês não merecem, mas eu vou fazer essa força em nome de um bem maior.

olar
Digo não merecem porque na última festa que fui minha amiga foi obrigada a chamar a segurança pra se livrar de três caras sem noção que não deixavam a gente em paz. Sabe o que é ter que sair no meio de Hips Don't Lie (Shakira Shakira) pra ir atrás de ajuda porque um grupo de moços achou que a gente tinha obrigação de beijar todos eles só porque estávamos numa despedida de solteira, bem lindas de coroa na cabeça? Pois é, bem desagradável. Só não foi pior do que o tempo que tivemos que aguentar eles nos cercando e olhando daquele jeito, numa pilha muito errada, mesmo depois de já terem ouvido uns 33 nãos. Aliás, ruim mesmo foi ser obrigada a ver um desses caras colocar o dedo na cara da minha amiga e falar com ela de um jeito ameaçador e escroto, só porque ela decidiu que não era obrigada a aguentar aquilo e foi pedir ajuda. 

Pedir ajuda. No meio de uma festa. Porque os caras não. conseguem. ficar. de. boa. 

Pensam que acabou aí? Não acabou aí. A santa segurança da balada fez os moços saírem de perto da gente e nós também nos mudamos de lugar, só por precaução. Estava tudo indo muito bem, dançávamos ao som do sofisticado funk carioca, quando uma dupla de caras muito bêbados veio atormentar. Levaram um não, porque não. Não conseguiram ficar de boa. Quebraram a coroa que estava na cabeça de uma das minhas amigas, tentaram arrancar o véu de noiva (sim) da cabeça da outra. 

Era uma ocasião especial demais para que aquilo matasse o meu ânimo, mas esse é o tipo de coisa que mata totalmente o meu ânimo, e um dos motivos pelos quais eu morro de preguiça de sair de casa. Se for pra aguentar homem me puxando pelo braço e sendo um neanderthal comigo, prefiro dançar sozinha no meu quarto, obrigada - mas eu ainda acho que pessoa nenhuma tem o direito de estragar minha noite ou me forçar a ficar em casa.

Então, se você, moço, que por ventura esteja lendo esse post e pensando qual a melhor forma de pegar uma mulher na balada (estou falando aqui de uma relação heterossexual porque é o que a minha experiência abrange), qual é o pulo do gato, eu vou contar o segredo pra você. Pega o bloquinho aí:

1) SEJA UM SER HUMANO RAZOÁVEL


Não precisa ser um Aaron Paul, tampouco a Beyoncé. Basta ser uma pessoa tranquila e dotada de um mínimo de bom senso. Coloque a mão na consciência antes de agir e pense aí consigo mesmo se a atitude que você está prestes a tomar se enquadra no espectro de ações que um ser humano razoável tomaria. Puxar a menina pelo braço, pelo cabelo, ou começar a dançar se esfregando nela sem ter recebido nenhum encorajamento não se enquadram nesse grupo, ok?

2) NÃO SEJA UM BABACA


Existem babacas e babacas, mas num contexto social de uma balada, principalmente no que diz respeito à interação com outros seres humanos tendo em vista o engajamento num lancinho qualquer, eu acho que o mínimo que você deve fazer pra não ser um babaca é tratar as pessoas (incluindo as mulheres) como seres humanos, porque é o que elas são. Não, cara, as meninas não estão ali pra te entreter (e ainda que estejam, elas merecem respeito também), e são mais do que uma boca, um par de peitos e uma bunda. Eu sei que você só quer agradar, e nada agrada mais do que um cara que te enxerga como gente. 

3) PRESTE ATENÇÃO NOS SINAIS 


Sinais que NÃO indicam necessariamente que uma garota está a fim de você:
  1. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você) de um jeito sexy usando roupas curtas;
  2. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você) de um jeito sexy;
  3. Dançar (sozinha, com os amigos ou até com você);
  4. Estar bêbada;
  5. Estar sozinha;
  6. Não ter namorado;
  7. Gostar de homens;
Sinais que indicam necessariamente que uma garota não está a fim de você:

"A linha entre insistir e desrespeitar não é tão tênue assim. Existem códigos e sinais que demonstram se a pessoa está interessada e, por mais que eles não sejam tão claros e muitas vezes sejam bem confusos, um não é sempre claro. O não está ali, a menina pode te dizer, pode largar o braço dela da sua mão, virar a cara etc. Pegue esse não e prossiga sua vida. Continuar depois daqui é desrespeito, falta de noção, falta de conhecimento sobre as leis, falta de humanidade. É dizer que a opinião daquela mulher não importa tanto quanto a sua, é dizer que ela é inferior e por isso você pode o que vocês quiser, mesmo sem ela deixar e querer."
Brena O'Dwyer, na Capitolina
  1. Dizer que não está a fim de você (tigrões, eu sei que vocês cresceram ouvindo que não de mulher é talvez, mas entenda isso de uma vez por todas: não é não);
  2. Dizer que não está mais a fim de você: olha, tá permitido mudar de ideia, viu? Não é porque ela te deu bola no início que é obrigada a ir até o fim, não é porque ela te beijou que vai querer beijar de novo, não é porque ela topou ir pro cantinho contigo que ela vai ter que ficar lá o tempo inteiro. Antes, durante e depois:se falou não, tira a mão e dá licença que é não mesmo. 
  3. Não estabelecer contato visual contigo mesmo que você esteja encarando ela há duas horas, ou então parado no seu espaço pessoal tentando desesperadamente segurar um olhar;
  4. Desviar a cabeça sempre que você dá uma investida ou dizer que vai ali retocar o batom e não voltar nunca mais;
  5. Dizer que não fala português;
  6. Chamar a segurança pra te tirar de perto dela;
Sinais que indicam que uma garota pode estar a fim de você:
  1. Dizer: "Oi, tô a fim de você". 
  2. Retribuir seus olhares lânguidos, sorrir e dar espaço pra você chegar;
  3. Te beijar de volta;
  4. Te beijar primeiro;
Coisas que NÃO vão fazer uma garota mudar de ideia e ficar a fim de você:
  1. Passar o resto da festa parado perto dela, encarando como se ela fosse um frango de vitrine;
  2. Puxar ela pelo braço;
  3. Puxar ela pelo cabelo;
  4. Encostar em qualquer parte do corpo dela;
  5. Beijar ela a força;
  6. Invadir seu espaço pessoal;
  7. Ameaçá-la de qualquer forma;
  8. Chamar ela de linda;
  9. Chamar ela de gostosa;
  10. Chamar ela de vagabunda;
  11. Chamar ela de sapatão;
A única coisa que realmente vai fazer uma garota ficar com você:
  • A vontade dela.

Eu sei que parece muito, principalmente porque muitos homens cresceram com uma ideia equivocada de que a vida das mulheres gira ao redor deles, que não dá pra se divertir sem se atracar com um cara no meio da pista, e que nossas roupas, nosso decote e o jeito que a gente dança são um código secreto que grita ME BEIJA, mas não é.  Sei que tem quem ache que basta a vontade ou a insistência pra que a gente mude de ideia e fique com eles de todo jeito, mas não é bem assim não, tá? 

Sei que é difícil desconstruir essas certezas e aceitar que a dinâmica é muito mais complexa porque envolve a autonomia e a vontade de duas pessoas, não de uma só. Sei que os sinais parecem complicados de início, mas se até eu que sou 87% idiota consigo me fazer entender mesmo no escuro e com música alta, vocês também conseguem. Sorriso, cheiro bom e senso de humor ajudam bastante, mas na dúvida, lembrem-se sempre: sejam seres humanos razoáveis e não sejam babacas. Se organizar direitinho todo mundo se beija, e se não rolar tem outros troféu. 


E pra não dizer que não falei das flores, recado pras meninas: a única coisa que deve fazer você ficar com um cara é a sua vontade. Não deixe um babaca estragar sua noite ou sua vida, na dúvida GRITE. 

>> Não me interessa se nem todo homem, etc. O que me importa é que todas as mulheres estão sujeitas a serem intimidadas por algum homem idiota, em algum momento. Sejem menas. 
>>> Não é a primeira vez que eu escrevo sobre isso: Manifesto contra quem pensa que assédio é motivo pra dar risada.
Alguns links para saber mais:

Gosto de fazer essa link party em posts mais sérios ou cujo tema é maior que eu primeiro porque a internet está cheia de gente maravilhosa e gabaritada que pode discorrer sobre eles muito melhor que eu, depois porque outras visões são sempre importantes. Se você conhecer ou tiver escrito algum texto bacana sobre o assunto, indica nos comentários pra eu colocar aqui também! :)

Filminhos da vez #10: sobre 50 Tons, princesas, imperatrizes furiosas e Kurt Cobain

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Março foi um mês que durou aproximadamente 84 anos. Para compensar, abril e maio me engoliram. O ritmo por aqui diminuiu bastante - desculpa azedar pra vocês, mas a tendência é piorar - e eu esqueci completamente de postar aqui os filmes dos últimos dois meses. Sei que maio ainda não acabou, mas acho que se não fizer isso agora vou acabar esquecendo as coisas que vi no fim de março. Parece que foi há 84 anos também. 

Cinquenta Tons de Cinza (Sam Taylor-Johnson, 2015): Eu queria escrever só sobre esse filme, eu ainda vou escrever só sobre ele em algum momento, mas vamos lá: fui assistir no fim de semana de estreia por pura curiosidade e falta do que fazer. Me diverti horrores e foi um excelente programa pra minha tarde de sábado. É problemático? Sim. Devemos falar sobre ele? Lógico. Mas, se comparado ao livro, é bem menos doentio. Na verdade, o filme consegue limpar bem os aspectos mais gritantes do relacionamento abusivo dos dois e entrega uma história que não é tão mais problemática do que a média dos romances pipocão. Eu fiquei bem incomodada com a última cena, mas de resto é só um ruim normal.  Aquela coisa de péssimos (PÉSSIMOS) diálogos, produção zoada, etc. Mas Jamie Dornan, uau. 

Love, Rosie (Christian Ditter, 2014): Esse filme não me chamou atenção ano passado, e se não fosse pelo fato de minhas amigas falarem tanto sobre ele, eu provavelmente nem teria dado uma chance. Ainda bem que cedi, porque gostei TANTO desse filme, tanto! Ali pela metade eu cansei de resistir e aceitei que iria chorar o filme todo e vida que segue. Histórias que falam sobre desencontros e timing errado me desgraçam as ideias porque é inevitável você parar pra pensar nos desencontros que já viveu, e aí sua cabeça se enche de E SE, e piora um pouco quando você pensa que sua vida não é um filme e não existe garantia nenhuma de que os ponteiros vão se acertar no final. Eu pensava nisso enquanto chorava e sentia profundamente a história, e que lindos Lily Collins e Sam Caflin, né?

Kingsman (Matthew Vaughn, 2014): Fui assistir esse filme praticamente arrastada, pensando que seria um filme comum de ação e espiões. Aos poucos fui percebendo que tinha algo de estranho, meio caricato até demais ali, e comecei a me perguntar se aquilo era sério. Gente, eu gosto tanto quando os filmes não são sérios. Quando vi o nome do Matthew Vaughn, diretor de Kick-Ass, por trás do projeto, tudo fez sentido. Kingsman é adaptado dos quadrinhos, é divertido pacas, e possui umas cenas de luta sem noção muito maravilhosas. Tem Colin Firth no elenco e, de modo geral, um senso de humor muito bacana e uma ótima cena de destruição ao som de Freebird. Aquele final machistinha azedou um pouco a coisa, mas de modo geral me diverti muito. 

Cinderela (Kenneth Branagh, 2015): Cinderela mexeu comigo de um jeito que escrevi um post só sobre ele assim que cheguei em casa do cinema. Gostei especialmente da forma como a história se constrói de um jeito que é inocente, mas nunca idiota. Me apaixonei pela perspectiva de que o amor verdadeiro aqui não é um defeito ou uma fraqueza da personagem, mas sua própria forma de resistência diante do abuso. Me senti criança novamente não porque a Cinderela foi um ícone da minha infância, coisa que ela nunca foi, mas porque ele me fez acreditar em mágica de novo, me fez chorar por conta de um vestido e me aqueceu meu coração com sua mensagem de gentileza. Senti falta das músicas, mas isso é bem pouco perto do trauma que outras adaptações de contos de fada me trouxeram. Malévola, eu ainda estou falando com você. 

Vingadores: Era de Ultron (Joss Whedon, 2015): Desde o primeiro filme, Vingadores é uma franquia que eu gosto, mas que nunca chega a realmente me empolgar. Conversando com um amigo, concluímos que isso acontece porque não nos importamos de verdade com seus protagonistas, e assim fica difícil se apegar pra algo que vá além do momento. Não suporto o Capitão América, não tenho nada contra (mas nada muito a favor) do Homem de Ferro, nunca vi o filme do Thor (sinceramente caguei), a Viúva Negra é aquela coisa. Amar mesmo, só o Hulk. O que não é o suficiente. Esse filme ganha a Feiticeira Escarlate, obsessão do momento e de longe minha parte favorita do filme, mas que bomba foi esse Mercúrio do Aaron Taylor-Johnson, hein? Saudades, Evan Peters. Enfim: gostei, mas já esqueci. 

Segundas Intenções (Roger Kumble, 1999): Segundas Intenções é um ícone do fim dos anos 90, e causa muita comoção na geração imediatamente antes da minha. Ele foi realmente um fenômeno. Só que... sei lá? Acho que é aquele tipo do filme que pra você entender o apelo precisaria de todo um contexto que simplesmente não existe mais, e talvez por isso eu não tenha visto qual é realmente a graça dele. São dois adolescentes (?) meio psicopatas, Reese Whiterspoon, Selma Blair, mind games, sex games, e jovens brincando com fogo até que a coisa fica séria e as consequências são desastrosas. É bem verdade que o momento que eu vi não foi nada propício e talvez assistindo de novo, com menos coisa na cabeça, me faça olhar ele com outros olhos. Mas, por enquanto, sei lá.

Song One (Kate Barker-Froyland, 2014): Anne Hathaway é uma das minhas pessoas favoritas em Hollywood, e além de ser protagonista desse filme, ela também (junto com seu marido) é produtora e trabalhou muito em conjunto com a diretora e roteirista pra construir a história. No filme, a personagem dela tenta conhecer e se reaproximar do irmão que está em coma, através da música que é a maior paixão da vida dele. Isso significa rolês por Williamsburg, shows em inferninhos, e um eventual encontro com o grande ídolo dele, James Forester. Apesar da maior parte das músicas ser cantada por ele, quem pensou e compôs toda a trilha foi a Jenny Lewis (junto com seu marido), uma das minhas pessoas favoritas ever e também grande amiga da Anne. Então tipo: dream come true?

Mad Max: Fury Road (George Miller, 2015): Eu não gosto de filmes de ação. Eu não gosto de filmes barulhentos. Eu não gosto de filme em 3D. Eu não gosto de filmes com gente suja. Eu não gosto de distopias. Mad Max é um filme de ação, barulhento, em 3D, com gente suja num universo distópico, e foi provavelmente o lançamento desse ano que eu mais amei. É um filme incrível, realmente impressionante, que não fica chato em nenhum momento e faz um trabalho sensacional em construir personagens e fazer com a gente acredite neles e se importe com suas histórias com três minutos de diálogo. São quase duas horas de uma perseguição insana, em que todo mundo tenta se destruir, e tem velhas motoqueiras e um maluco tocando guitarra que lança chamas e é MUITO LEGAL. Vejam. Agora. No cinema. VÃO.

Montage of Heck (Brett Morgen, 2015): Apesar de gostar muito de Nirvana, sempre senti um carinho irracional pelo Kurt Cobain que nunca teve exatamente a ver com a figura dele como músico. Sabe quando você simplesmente gosta da figura? Então. Eu sempre gostei muito do Kurt Cobain. Por isso, esse documentário sobre sua vida me deixou com o coração partido e estragou meu fim de semana. O Brett Morgen teve acesso a todo o arquivo do Kurt Cobain, diários, fotos, fitas e principalmente vídeos caseiros, e é com esse material que ele constrói a história. É um arquivo muito rico, cheio de coisas curiosas e os vídeos são realmente sensacionais, e isso só torna a história mais triste ainda. Independente de qualquer coisa, o Kurt sabia que a vida era um fardo e percebeu cedo demais que não conseguia carregá-lo.

Um Morto Muito Louco (Ted Kotcheff, 1989): Feriado de Páscoa, você passa horas zapeando no Netflix pra achar um filme bacana pra assistir com seu primo de madrugada, e no meio de tantas opções você acaba vendo Um Morto Muito Louco dublado no Youtube. Momentos. Que coisa foram os anos 80, né? Esse filme é errado e absurdo em tantos níveis que só me resta a agradecer aos deuses do equívoco que permitiram que ele acontecesse - com o Andrew McCarthy ainda por cima, muito importante. Dois caras vão passar o fim de semana na casa de praia do chefe. Chegam lá, o homem morreu. O que fazer? Agir naturalmente e carregar ele pros lugares como se estivesse tudo bem. Normal, né? Ai que retardo maravilhoso. Recomendo a todos.


E aí, o que vocês andaram vendo nos últimos meses? Me recomendam alguma coisa muito incrível, outro filme de ação que vai mudar minha vida ou uma pérola equivocada dos anos 80? Tem algum argumento que me convença a ver Segundas Intenções de novo com outros olhos? Me odeia porque achei Vingadores bem esquecível? Também chorou em Cinderela? Comenta aí! :)

As 10 coisas mais legais do meu mundo

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Eu queria chamar esse post de AS MELHORES COISAS DO MUNDO porque todo o tempo que passei pensando sobre ele, era esse o nome que vinha na minha cabeça. Então eu pensei que teria uma desculpa perfeitamente aceitável para falar do filme As Melhores Coisas do Mundo, do qual eu sinceramente não lembro quase nada, mas quando assisti eu gostei bastante, achei o protagonista gatinho (depois meio que conheci ele e descobri que o moço tem um metro e meio #fail), e ainda por cima tem o Fiuk. Putz, se o post se chamasse AS MELHORES COISAS DO MUNDO eu teria uma desculpa pra colocar um gif do Fiuk aqui no blog. 

Aí eu lembrei que eu que mando aqui.

LINDA TÃO LINDAAAAA PRA MIM
Passado esse pequeno interlúdio - qual é minha dificuldade de ir direto ao assunto? - o post, na verdade, se chama AS COISAS MAIS LEGAIS DO MUNDO porque consiste num meme (sigo minha militância pelo resgate do meme em oposição às tags) criado pela Karol Pinheiro, que a Isabela me indicou recentemente. A proposta é bem básica: listar suas coisas favoritas dentro dos tópicos estabelecidos. Vamos lá? Vamos sim.

1) Decoração: shit everywhere




Eu não sou uma pessoa muito de decoração, mas uma coisa que sempre me chama atenção e que gosto muito é quando os lugares parecem ser habitados, quando eles são vivos. A maioria dessas casas que aparecem em revistas de decoração e no Pinterest são muito bonitas e tal, mas parece que não tem ninguém morando ali. Pior: não dá vontade de morar ali. Não quero uma casa onde eu tenha medo de sentar no sofá e de amassar as almofadas, sabe? Pelo contrário, gosto desses lugares que imediatamente deixam a gente com vontade de tirar o sapato e se atirar no tapete.

Eu queria ser uma pessoa minimalista. Eu tento, de verdade, ser mais minimalista. Mas com decoração isso é impossível, porque a personalidade de qualquer cômodo pra mim está nas tralhas objetos que ficam ali e mostram a cara da pessoa. Peguei como referência meus dois quartos preferidos da ficção: a explosão cor-de-rosa da Andie, em Pretty In Pink, e o relicário gigante das Lisbon, de As Virgens Suicidas. São dois ambientes muito carregados, mas eu simplesmente adoro esse caos. Sempre que tento deixar meu quarto mais clean, sinto que está faltando alguma coisa, sinto que está me faltando ali dentro. 

Quando fui ~redecorar~ meu quarto, usei como guia esse post da Rookie, sobre como deixar seu quarto com cara de filme, e também a decoração do quarto da própria Tavi

2) Livro: Raven Boys (Maggie Stiefvater)


Ilustrações: Maggie Stiefvater
The Raven Cycleé a série de livros que fisgou meu coração nos últimos meses. É um YA sobrenatural, mas antes que vocês virem os olhos, saibam que eu sou a pessoa que mais revira os olhos quando lê as palavras sobrenatural ou fantasia, e mesmo assim estou obcecada. Tudo nessa história é maravilhosamente estranho e cheio de mistérios, a mitologia da trama é muito legal, e tem fantasmas (AMO FANTASMAS) e adolescentes em busca de um rei adormecido, ao mesmo tempo que fala sobre maldições trágicas, descreve tudo quanto é tipo de família, tem videntes incríveis, os diálogos mais bem escritos que você vai ler na vida, um papo muito ótimo sobre privilégios e muito romance e sentimentos (MUITOS SENTIMENTOS). 

Sinto que sou meio apaixonada por todos os personagens, queria beijar todos eles, e ser amiga deles, e ser daquela turma, e dar um pescotapa no Adam e andar na Pig junto com o Gansey em estradas escuras. Estou lendo muita coisa séria & importante por conta do TCC, mas já marquei um compromisso comigo mesma que nesse feriado lerei o terceiro livro da saga, Blue Lily, Lily Blue e não. me. aguento. de. ansiedade. É muito bom. Leiam Raven Boys e esse texto da Fernanda sobre Raven Boys, porque eu sou péssima com sinopses. 

3) Viagem: Rio de Janeiro e Chicago

Pôr-do-sol na Urca - maio/15
Lá vem ela falar do Rio de Janeiro de novo, vocês devem estar pensando. Pois é, aqui estou eu pra falar do Rio de novo. Não sei se vocês já experimentaram o que é sentir sua alma transbordar por causa de um lugar, mas é isso que sinto em relação ao Rio. Quando estou lá minha alma transborda, e eu não queria estar em nenhum outro lugar do mundo. Fui pra lá pela primeira vez em maio do ano passado, e desde de então já estive na Cidade Maravilhosa quatro vezes (!). As pessoas já me perguntam quando estarei no Rio de novo, porque é fato que sempre vou dar um jeito de voltar pra lá, até o dia que eu resolver ficar pra sempre. 

Resolvi falar também sobre o meu atual sonho de viagem, que é Chicago, nos Estados Unidos. Não sei explicar como minha história com Chicago começou, sei que de repente eu precisava ir pra lá. O Wilco contribuiu bastante, é verdade, mas eu já gostava de Wilco antes de gostar de Chicago - de todo jeito, vejam esse vídeo aí embaixo. Com o Rio foi a mesma coisa: nunca liguei pra cidade, até que ela se tornou uma necessidade na minha vida. Algo me diz que Chicago vai fazer minha alma cantar também, e que vou me encontrar por lá. A pergunta é: quando, meu Deus?


4) Música: "Mouthwash", da Kate Nash



Acompanho a Kate Nash desde seu primeiro disco, mas nunca tinha parado pra realmente ouvir Kate Nash até o ano passado, quando fui ouvir com atenção seu terceiro CD, "Girl Talk". E aí tudo mudou, porque desde então a Kate Nash tem sido uma das minhas companhias mais importantes nessa jornada louca dos vinte anos em que a vida nunca foi tão ruim, mas nunca foi tão boa também. Seus três discos conversam comigo de um jeito muito profundo e acho que constroem um arco de juventude e experiência feminina muito bacanas. Um dia escrevo mais sobre isso.

Apesar da evolução incrível do primeiro pro terceiro trabalho, "Mouthwash" continua sendo a minha favorita. Sabe aquele música que a gente tem vontade de usar inteira no Quem Sou Eu do Orkut? Então. Além disso, me sinto abraçada pelo refrão em que ela canta que espera que tudo vai ficar bem. Crescer é mais ou menos isso, né? Cantar numa sexta à noite torcendo pra que as coisas se ajeitem.


5) Sapatos: Adidas Superstar



Tenho certeza que se eu tivesse um filho hoje, ele ia nascer com três listrinhas pretas em cada bochecha, tamanha é minha obsessão pelo Adidas Superstar. Sou muito adepta dos tênis, inclusive para festas e afins, e sempre fui apaixonada por esse modelo. Agora que ele foi relançado virou questão de necessidade básica a presença dele no meu armário. É sério. Eu não passo um dia da minha vida sem pensar que a roupa que estou usando poderia ficar muito melhor se eu estivesse usando um Adidas preto e branco. Como minha vida é uma piada cósmica, não consigo achar esse modelo pra comprar de jeito nenhum. É sempre aquela coisa de: tem, mas acabou. Ou não tem do meu tamanho, ou não tem da cor que eu quero. Mas olha, tem branco, tem vermelho, tem rosa... Eu sei, mas eu quero o preto e branco, ok? 

Se você for representante da Adidas e estiver lendo esse blog, me manda esse tênis que eu juro que passo um mês fazendo look do dia usando ele todos os dias. #barganhas #interesses #jabás

6) Maquiagem: Açaí, MAC


Além de listras pretas na bochecha, meu filho, se nascer hoje, já vai vir com a boca pintada de roxo. Não costumo ficar acompanhando ansiosamente lançamentos de maquiagem e nem tenho fetiche com marcas específicas, mas quando a Julia Petit lançou sua linha pra MAC eu fui dessas que assistiu todos os vídeos e leu todas as resenhas e pensou em penhorar todos os órgãos pra comprar todos os produtos. Apesar da coleção ser bem legal, foi só o batom Açaí que não saiu da minha cabeça até hoje. Ele tem esse tom de roxo lindo e único, que eu penso que ficaria bonito em qualquer look, pra qualquer ocasião. 

Como alegria de pobre às vezes dura tão pouco que nem existe, quando finalmente resolvi que valia, sim, a pena gastar 80 dilmas reeleitas num único batom, é óbvio que ele esgotou completamente em todas as lojas. Vida de it pobrinha: não recomendo a ninguém. MAC, a proposta da Adidas vale pra você também, viu?

7) Ídolo: Beyoncé e Taylor Swift 



Acho ídolo uma palavra muito forte, posso trocar por inspiração? Posso sim. Então, sei que vocês vão me achar brega e superficial por colocar duas cantoras pop como minhas maiores inspirações do momento, mas é verdade e vocês não sabem de nada. Ultimamente ninguém tem me tocado de um jeito mais sincero e profundo (sim senhores) do que Beyoncé e Taylor Swift, cada uma à sua maneira. Elas são as pessoas que eu quero ser quando crescer - não necessariamente pelo trabalho que elas fazem, mas pela força e pela graça que elas concentram em si, a confiança que elas emanam, e a forma como sempre me sinto mais empoderada depois de assistir a um show da Beyoncé ou passar parte da minha madrugada refletindo sobre as letras da Taylor Swift. 

Nesse artigo da New Yorker sobre críticas de rock, a autora escreve que o rock não fala tanto às mulheres como fala aos homens a respeito de rebelião social e libertação, e eu sinto que pra nós esse papel quem faz é a música pop, com suas divas infalíveis. Isso é algo que eu ainda preciso refletir mais pra discorrer de um jeito mais apropriado, mas a verdade é que quando sinto que estou perdendo a coragem ou o mundo parece um lugar intimidador demais, escuto Flawless, leio o texto do encarte de 1989 e de repente sinto que eu também posso. 

8) Doce: bolo!



Minha ilustre amiga Gabriela Couth disse uma frase esses dias que eu sinceramente espero que seja eternizada na minha lápide pois descreve exatamente meus sentimentos (sobre doces, bolos, e a vida no geral): "Não tenho aspiração a ser rica e poderosa, quero ganhar suficiente pra dormir sem culpa e poder comer bolo quando acordar". 

9) Foto


Quando olho pra essa foto, sempre penso naquela quote de Boyhood sobre a diferença entre aproveitar o momento e deixar que o momento nos aproveite. Essa foto é espontânea e capta com perfeição um instante em que estamos todas sendo aproveitadas por um momento maravilhoso. A gente no nosso apartamento carioca fazendo nossa agentice preferida: ficar amontoadas, rindo e falando besteiras. Momentos. 

10) Blog: Minha Vida Como Ela É 


O blog da Analu surgiu quase um ano depois do meu, e eu comecei a acompanhá-la por volta de 2009, mas hoje não consigo imaginar o meu blog sem o dela. Explico: em sete anos de blog a gente conhece muita coisa, muita moda, muita gente, muitos blogs maravilhosos, mas a única constante da minha vida blogueira é o blog da Analu. Assim como eu, apesar dos pesares, ela nunca abandonou o barco e eu realmente fico pensando se eu teria abandonado se não fosse ela sempre ali do lado. Quando ela posta e eu não, sinto que deveria estar postando - e quando eu posto e ela não, fico ansiosa pra que ela poste também. A gente é muito diferente e muito igual, e seus textos ora me forçam a pensar de um jeito diferente, o que é sempre importante, e ora funcionam como a voz da minha cabeça, colocando em palavras aquilo que eu também pensei, mas não escrevi. 

Nessa brincadeira, além de uma companhia pra toda piração possível e ideias incríveis que não dão em nada, ganhei uma irmã de coração e perdi, pra ela, um pedaço de mim. Amiga, tamo juntas. 

Me deixem, estou sentimental. Passo a bola, obviamente, pra Analu, pra Sharon, pra Lilica, pra Iralinha e pra Passarinha - outros pedaços de amor que a internet me deu. Que coisa linda é ter blogs e ter migas.
>>> Aderi à bobagenzinha mais recente que tem feito a cabeça do pessoal da internet, agora eu também tenho Snapchat! Para me ver falando bobagens, tomando café e enchendo saco de Chiquinho, me segue lá: annachicoria

Por onde ando enquanto vocês não me procuram

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Uma coisa que me irrita é quando eu encontro alguém que não vejo há muito tempo e a pessoa diz que eu estou sumida. Me irrita o tom de cobrança e acusação que a brincadeira camufla, como se fosse minha obrigação estar ali o tempo inteiro ou como se realmente eu tivesse me enfiado numa caverna. Queridão, você sabe onde eu moro e tem meu Whatsapp, então me economiza, né? 

O negócio é que eu não dou as caras por aqui há surpreendentes 16 dias, uma ausência até então inédita nesses sete anos e meio de ofício. Nem quando eu estava prestando vestibular, louca, caindo os cabelos e fazendo prova todo fim de semana, isso aconteceu. Tirando meus amigos, que compõem a maioria dos leitores daqui, a meia dúzia de gatos pingados não sabe onde eu moro (eu espero) e nem tem meu Whatsapp, de modo que achei conveniente declarar, oficialmente, que não me enfiei numa caverna. Ainda. 

Eu poderia dizer que a vida aconteceu, porque de fato a vida tá acontecendo pra cacete, mas morro de preguiça daquelas pessoas que dizem que sumiram da internet porque estão vivendo. Sei lá, eu vivo coisas tão maravilhosas por aqui que acho arrogante fazer essa hierarquização de existências (?), até porque às vezes é muito mais legal comentar Masterchef no Twitter do que ficar VIVENDO por aí tal qual um australopithecus que desconhece as maravilhas da segunda tela. 

Mas vamos direito ao ponto: o principal motivo do meu sumiço é que estou em época de TCCs, assim no plural mesmo. No meu curso temos que desenvolver um projeto prático e uma monografia, e teoricamente temos um ano pra nos dedicarmos a cada um deles. Acontece que nesses dois anos tem um semestre que os dois se encontram do jeito mais sádico que qualquer um poderia imaginar, e é nesse semestre que me encontro agora. Como se não bastasse, meu projeto prático é um livro reportagem. Não sei se já falei sobre ele aqui, mas escrevi um texto na Pólen contando sobre a proposta e um pouco do processo, e agora estamos na etapa final, faltando duas semanas (DUAS SEMANAS) pro dia de entrega. 


Escrever esse livro tem sido incrível e horrível: incrível de imaginar e contar pros outros, horrível pra todo resto. Escrever é aterrorizante, principalmente quando a gente se importa com o que está escrevendo e sente uma obrigação moral de fazer daquilo algo bom, bonito e que faça jus a tudo que ele significa, que é muito. Ao mesmo tempo que estou me rasgando pra escrever, duvidando de mim mesma a cada instante e querendo largar tudo pra prestar Química Industrial, tenho na minha cabeceira uma Simone de Beauvoir esperando para ser desvendada, assim como todos os livros da revisão bibliográfica da minha monografia. 

O mundo infelizmente não parou de girar quando eu resolvi jogar o jogo da academia no modo hard, então junto a isso tem estágio (adivinha quem conseguiu um emprego novo e está super feliz?), francês, congresso, família e, como se estivesse com a vida ganha, no começo do mês passei quase uma semana em Fortaleza por conta do casamento da Couth, que foi uma experiência surreal demais pra ser resumida nesse resumo, mas eu volto pra contar direitinho como foi. Foram dias de sol, mar, amigas, sorvete, cílios postiços, pista de dança, amor, Taylor Swift e absoluta plenitude. Queria morar pra sempre naqueles dias. Como todas as coisas muito boas costumam vir sempre acompanhadas de coisas meio ruins, estou com meus dois avôs (avós?) doentes e semana passada perdi um tio distante, porém muito especial, de um jeito bem ruim. Tenho corrido tanto com tudo que só no domingo tive um tempo (!) pra chorar por duas horas inteiras e contemplar a FRAGILIDADE DA EXISTÊNCIA HUMANA e outras questões super alto astral que me consomem. 

Ou seja: life was never worse, but never better. 



Como eu mesma já estou dando defeito (louca, cabelos caindo, cada dia passando mal de alguma coisa diferente, chorando com comercial de televisão), resolvi agir de forma inteligente e dedicar minhas energias pra coisas mais urgentes pra ver se consigo parar de me preocupar com tudo o tempo inteiro. Parece bobo, mas o blog é algo que me preocupa, mesmo que não tenha nenhum compromisso sério com ele. Me afastei temporariamente de projetos que poderiam esperar e o blog foi junto, quase que involuntariamente. Quando percebi que não ia conseguir voltar pra cá antes de atravessar esse furacão, pensei em fazer um post de hiatus, aí desisti, mas não consigo dormir em paz vendo um texto aleatório criar moscas na página principal. 

Vai que alguém repara na data e vem me acusar de ter sumido, não é mesmo? Agora vocês já sabem onde estou. E vocês, de onde estiverem, só dessa vez, torçam por mim e por tudo isso? 


P.S.: Se tudo der certo, é provável que à noite eu esteja no Twitter comentando Masterchef. Nóis enverga mas não quebra;
P.P.S.: Saiu hoje uma entrevista que eu dei para a querida Monique, lá no Conversas Imaginárias. Ela está com uma série bem bacana sobre blogueiras, e eu estou lá falando sobre escrita, sororidade, pizza e mulheres maravilhosas;
P.P.P.S. (?): O movimento no Snapchat diminuiu pois chatíssima vida a minha, mas sempre tem espaço pra uns cachorros de emergência, sou annachicoria por lá!
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