Eu tenho reflexo de recomendar para os outros o último livro que li e me apaixonei o suficiente para ter vontade de passar aquilo adiante, mas sei que isso não é inteligente. Existem pessoas e pessoas, e aquela leitura que para mim foi sensacional pode acabar sendo insossa para a amiga mais próxima.
Antonio Prataé uma das raras exceções: recomendo a leitura de suas crônicas a torto e a direito com a segurança de que o aproveitamento será positivo, pois acredito que sua prosa e seu humor sejam praticamente universais e servem bem até a quem não é um leitor costumaz (sempre quis usar essa palavra). Minha avó, por exemplo, que não costuma ler literatura, já passou uma agradável tarde na companhia dos Pratinhas da minha coleção e, em se tratando dela, acho que o
Meio Intelectual, Meio de Esquerda tem o melhor apanhado de crônicas do moço já lançado.
2) Maldito plágio (o livro que gostaríamos de ter escrito)
Na hora de sonhar o céu é o limite, e não me avisaram que esse meme tinha algum compromisso com a realidade concreta. No entanto, gostei da forma como a Analu enxergou esse tópico: ao invés de mirar na lua, minha querida amiga Banana foi humilde e mirou numa estrela possível. Minha lua, no caso, seria alguma pérola machadiana como Dom Casmurro ou Memórias Póstumas de Brás Cubas. No entanto, se algum dia eu fosse efetivamente escrever um livro, eu gostaria de um feito parecido com o da Vanessa Barbara em
O Livro Amarelo do Terminal (fiz vídeo sobre ele): uma reportagem em profundidade do Terminal do Tietê em São Paulo contém tudo que mais amo no jornalismo e na antropologia: personagens invisíveis, etnografia, reflexão sobre não-lugares, etc, tudo com muito bom humor.
3) Não vale a pena abater árvores por causa disso
Acho especialmente difícil falar sobre livros ruins ou que eu tenha odiado porque acredito que escolha muito bem o que eu leio - não que eu só leia coisa boa, mas acho que faço apostas certas de acordo com aquilo que eu gosto e espero de um livro. Por isso, mesmo que eu não goste da história ou dos personagens, existe algo ali que me interessou a princípio e que eu levaria em consideração antes de dizer que aquilo não deveria existir. Mas
Por Isso A Gente Acabou (vídeo), do Daniel Handler, foi além do simples ato de não gostar, porque esse livro me irritou. Muita gente que não gostou disse que ele vale pelas ilustrações, mas uma arte tão bonita pra uma história tão besta e personagens detestáveis assim não seria também um desperdício de papel bom e talento? Eu acho.
4) Não és tu, sou eu (um livro bom, lido na altura errada)
Diferente de muita gente por aí, sempre que começo um livro, eu espero gostar dele. No caso de
O Sol É Para Todos, da Harper Lee, eu não apenas queria gostar, eu queria amar e tatuar na alma, porque passei anos ouvindo apenas louvores apaixonados a ele por parte da minha amiga
Taryne, cujo gosto eu me identifico e respeito pra caramba. Surpresa triste foi começar e terminar a leitura sem ter conseguido me conectar à trama, tampouco aos personagens. Foi especialmente difícil chegar na
retrospectiva do final do ano e classificá-lo como a leitura irrelevante de 2013, mas eu precisava ser sincera: alguns meses depois, nem do plot eu lembrava mais. Mas eu sei que ele é bom. Sei que é apaixonante e sei que ainda irei tatuá-lo na alma, basta que a gente se reencontre na hora certa.
5) Eu tentei... (um livro que tentamos ler, mas não conseguimos)
Acho que
O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, é o livro da minha estante que mais acumulou tentativas fracassadas de leitura. Pelo que me lembro foram quatro - and counting, porque eu ainda não desisti. É um livro fino mesmo na edição de bolso, e muita gente o descreve como um relato de aventura desses impossíveis de se desgrudar, enquanto eu, aqui na minha insignificância, o defino como um relato impossível de se ler sem dormir. Acho que é pessoal, pois sua adaptação para o cinema, Apocalypse Now, é um filme que eu nunca consegui ver sem dormir, tanto que só vi inteiro quando dormi no começo e acordei pro fim. O problema é que apesar dos cochilos, eu acho o filme bom demais, e ainda acredito que quando eu chegar no fim desse livro, verei que todo o esforço e todos os anos terão valido.
6) Hã? (um livro que lemos e não percebemos nada OU um livro com final surpreendente)
Acho que sou meio idiota, porque sempre me surpreendo com o final dos livros que tem algo no final que surpreenda minimamente os leitores. Mesmo aquelas viradas de roteiro que
tooodo mundo viu que aconteceria, eu confesso que só vejo depois que alguém abre meus olhos. Aí eu fico toda
nooooossa, é verdade. Mas se deixar por minha conta, sempre vou levar um pequeno susto. No caso de
A Esperança, parte final da trilogia
Jogos Vorazes, da Suzanne Collins, um dos finais mais controversos das franquias famosas, o fim realmente me surpreendeu. Definitivamente
didn't see that coming e ouso dizer que gostei. Não consigo sustentar meu argumento muito além disso porque a memória me falha, e também não quero dar spoilers, então apenas digo que acho finais agridoces muito bem-vindos.
7) Foi tão bom, não foi? (um livro que devoramos)
Acho
Serena um exemplo emblemático quando o assunto é devorar livros porque ainda que ele não tenha ido embora em uma sentada (não tenho esse costume), foi um livro que li nuns três dias em plena viagem de férias para Fortaleza. Ou seja, eu tinha uma praia e um parque aquático à minha disposição, mas o livro me envolveu de tal forma que eu preferi ficar quietinha lendo. E eu sou uma pessoa que gosta de praia e parque aquático. Tinha medo de ler qualquer coisa outra coisa do Ian McEwan, porque Reparação é um dos meus livros mais favoritos da vida e eu o respeito por demais para deixar que seu autor se tornasse uma
one hit wonder no meu coração. Mas o velho matou a cobra e mostrou o pau com Serena, que também poderia entrar na categoria de finais de cair o queixo.
8) Entre livros e tachos (uma personagem que gostaríamos que cozinhasse para nós)
Tá, quem cozinhou e me deixou com fome nesse livro não foi um personagem, mas eu preciso comentar o óbvio: a passagem de Liz Gilbert pela Itália, país que corresponde ao primeiro verbo do título de
Comer, Rezar, Amar (um livro excelente que não tem nada a ver com auto-ajuda, parem de preconceito) me fez salivar nas páginas. Essa mulher passou uns bons meses vivendo de pizza, macarronada, gelatto, vinho e italianos gatos e certamente tirou um prazer sádico em descrever minuciosamente todas as delícias que experimentou por lá. Pizza é meu prato favorito, seguido muito de perto por lasanha e macarronada. Sorvete e vinho sempre vão bem, de modo que saindo da Itália Liz foi para sua jornada espiritual na Índia, e eu fui pra cozinha tentar dar cabo na larica.
9) Fast forward (um livro que poderia ter menos páginas que não se perdia nada)
Estou me aventurando no primeiro volume de Guerra dos Tronos há mais ou menos umas três eras geológicas, e às vezes tenho vontade de mandar uma carta pro George R. R. Martin lhe contando que ninguém precisa de tantas descrições de florestas ou de mantos. Mas não quero polemizar, até porque sei que não vi nada (imagina no terceiro volume!) por isso digo, dessa vez sem medo de errar, que
Bling Ring, da Nancy Jo Sales, que nasceu como uma grande reportagem na Vanity Fair para depois virar livro, poderia muito bem ter continuado nas páginas da revista - que não foram poucas. Li ambos e acho que o livro só serviu para a história ficar prolixa e para que a autora enchesse suas análises de comentários bestas e julgamentos desnecessários sobre os personagens.
10) Às cegas (um livro que escolheríamos só por causa do título)
Eu não devia ter nem dez anos quando quis ler
Lolita pela primeira vez. Não sabia nada sobre ele, mas esse título me atraiu logo na primeira vez que o li por aí. Gosto muito quando nomes viram títulos, seja de livros ou de músicas, e Lolita ainda intriga por ser um nome, ou apelido, pouco comum. Surpresa vou descobrir anos depois que logo na primeira página o autor fazia uma referência importante (e genial e inesquecível) a esse nome:
Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. E se for pra citar alguma coisa que eu não li, mas que está na minha lista de leituras futuras unicamente por causa do título, posso citar Casei Com um Comunista, do Phillip Roth. Nem sei do que se trata, mas pelo título deve ser ótimo!
11) O que vale é o interior (um livro bom com a capa feia)Vale um livro que eu ainda não li? Tem que valer, porque a capa de
Lola e o Garoto da Casa ao Lado é horrorosa o suficiente pra ser um dos motivos pelos quais eu ainda não li o livro. Nunca ouvi ninguém falando mal dele e absolutamente amei o outro título da Stephanie Perkins,
Anna e o Beijo Francês (outro com a capa feia, porém com limites), mas não tenho coragem de pagar por um livro tão feio e ainda não achei boa alma que me emprestasse. Sei que é besteira, mas sempre sinto que estou jogando dinheiro fora quando penso em comprar uma coisa tão horrorosa. Agora que tenho um Kindle não tenho mais desculpas e devo lê-lo em breve - até porque o terceiro livro dessa "trilogia" sai esse ano. Querida editora Novo Conceito, a menina Perkins merece mais cuidado!
12) Rir é o melhor remédio (um livro que nos tenha feito rir)Falar que os livros da Sophie Kinsella são engraçados é chover no molhado, mas num tópico desses só consigo pensar em
Fiquei Com Seu Número. Eu gargalhei várias vezes durante a leitura, inclusive dentro da sala de aula, e costumo ser bem chatinha com humor. O legal desse livro é que ele nos faz rir naquele sentido puro de achar uma graça absurda em todas as situações, quando o humor não se concentra apenas no texto ou então em algum personagem que existe para disparar tiradas espirituosas.
13) Tragam-me os Kleenex, faz favor (um livro que nos tenha feito chorar)
Acho complicado falar sobre isso, porque ao mesmo tempo que é muito difícil me fazer rir durante uma leitura, me fazer chorar é a coisa mais fácil do mundo. Eu choro com absolutamente tudo. Mas já que preciso citar algum, fico com o que acredito que tenha sido meu choro mais marcante:
Para Francisco, da Cristiana Guerra. Foi marcante porque eu estava marotamente dando uma folheada ainda na livraria e quando vi eu estava chorando. Não com os olhos cheios d'água, mas chorando, precisando de um lenço pra assoar o nariz, e sentindo uma dor muito sincera e genuína. Já faz muito tempo, mas esse livro ainda é um dos mais tristes e bonitos que li.
14) Esse livro tem um V de volta (um livro que não emprestaríamos a ninguém)
Não tenho muita questão com emprestar meus livros, até porque pentelho tanto as pessoas para ler as coisas que eu andei lendo e gostando que seria meio estranho recomendar e depois recusar o livro. Não gosto muito de ceder meus paperbacks, porque eles já são frágeis e até o manuseio mais cuidadoso detona os bichinhos. Mesmo assim, se pedir com jeitinho eu libero. No entanto, minha edição importada, em capa dura e autografada (!) de
The Fault In Our Stars é um objeto de excessiva estima e ciúmes. Já emprestei uma vez, e confesso que cheguei a recomendar ao meu amigo que não o cheirasse demais, porque até o cheiro dele é diferente dos outros (sim). Esse amigo cuidou muito bem dele, mas preciso dizer que fiquei muito feliz e aliviada quando guardei ele de volta na estante.
15) Espera aí que eu já te atendo (um livro ou autor que estamos constantemente a adiar)
Fiquei muito feliz quando ganhei esse livro de presente da
Milena, no primeiro amigo secreto da história da Máfia, mas a felicidade veio acompanhada de uma certa apreensão.
Como bem definiu a Tary, se está na estante é uma promessa, o que significa que um dos trabalhos mais emblemáticos da Virginia Woolf me aguarda em algum ponto do futuro. Tenho muita curiosidade com o trabalho da autora e tenho aqui um livrinho de artigos dela que vivo lendo, mas seus romances ainda me assustam. É bem provável que eu comece com algo mais tranquilo, como Mrs. Dalloway, mas é fato que um dia lerei
As Ondas. Entra ano, sai ano e eu digo que aquele será
o ano da Virginia Woolf na minha vida, mas os meses passam e suas ondas ficam ali me observando ressabiadas da estante.
Indico o meme para quem quiser responder (me avisa pra eu ver!), mas especialmente para
Flá,
Kamilla,
Amandoca,
Fernanda,
Ana e
Tadsh! Espero que gostem =)