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Leslie e Ben me entenderiam

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Eu gosto de muitas coisas estranhas, muitas coisas que as pessoas não entendem realmente qual é a graça. Algumas delas eu desisti de explicar e acho melhor definir da forma mais genérica possível e que leva ao mínimo de questionamentos posteriores. E entre minha paixão pelo Twitter, os churrascos de RPG e o gosto pouco ortodoxo por pagode dos anos 90, a coisa mais estranha, incrível e difícil de definir que eu gosto é a simulação. 

Você descobre que uma coisa é legal quando ela aparece em Parks e Rec
Lá em 2010 fui apresentada a um universo paralelo particular em que alunos tiram um fim de semana pra brincar de ONU. A gente dá uma folga pros nossos moletons da GAP e pega emprestado as camisas sociais da mãe e vai pra escola fora do horário normal discutir questões que afetam o mundo inteiro, agindo com base em políticas externas de países que às vezes a gente nem conhece e em outras a gente não concorda. Mas tudo bem, sabe. Aliás, tudo ótimo. Porque a partir do momento que entramos na sala de aula travestida de comitê, com suas regras particulares, seu dialeto próprio e os constantes pedidos de decoro, é como se estivéssemos mesmo lá em Nova York falando como e para chefes de Estado a respeito de coisas muito importantes e urgentes, talvez até terminando ou iniciando algumas guerras.

Eu tinha 16 anos quando me meti nessa doidera pela primeira vez, e não fazia ideia do que me esperava. Pra completar, eu representava um país super importante dentro daquela discussão e era uma das vilãs do comitê. Pessoal querendo acabar com o trabalho escravo e eu batendo o pé e defendendo o mesmo. Eu não fazia ideia do que estava fazendo ali e não ajudou muito o fato de eu ter vivido uma intensa paixão platônica por um dos delegados que estava do lado do bem do comitê, como um anjinho charmoso que punha a mão no meu ombro enquanto eu tentava inutilmente encarnar a demônia chinesa, me recusando a assinar tratados importantes. 

Não foi um dos meus melhores momentos, mas foi o suficiente pra eu me apaixonar por aquele mundo. Até cheguei a prestar Relações Internacionais e se eu não estivesse tão certa com relação ao Jornalismo na época, eu bem que poderia, num momento de fraqueza, ter ingressado naquele curso. Se eu seria feliz eu não sei, mas eu participaria de novo e de novo e de novo de tudo quanto é simulação que aparecesse pela frente.

Três anos depois desse primeiro contato com o universo paralelo das simulações, a escola onde eu estudei me chamou pra trabalhar com eles na organização do evento. Esse ano foi o segundo ano que fiz parte desse projeto lindo desde os bastidores, e ver como tudo é feito, ralar muito pra que seja perfeito, só me enche de mais vontade que mais alunos tenham a chance de viver isso e descobrir como é incrível simular. Então, quando eu entrava nas salas de aula pra falar sobre isso, às vezes sentia um desespero ao flagrar a maioria dos alunos com cara de interrogação, sem fazer a menor ideia do que eu estava falando. Vocês devem estar com essa cara agora, porque é um conceito muito abstrato de se explicar. Meus pais, por exemplo, não entenderam até hoje e ficaram deveras consternados no dia que eu cheguei contando que o evento foi um caos porque rolou crise, seis pessoas morreram e uma das meninas da imprensa foi ameaçada de morte. Simulações: never gets boring. 

Por isso que me peguei muitas vezes apelando ao sair do roteiro e dizer GENTE É LEGAL EU JURO, quase me ajoelhando na frente da sala, implorando para que todo mundo se apaixonasse como eu. 


Foi também o segundo ano que eu comandei o comitê de imprensa, uma tarefa que me esgota sempre, mas que é paradoxalmente apaixonante, como acontece com o próprio jornalismo. São muitos jornais, eu tenho que fechar todos, orientar os alunos, pular feito maluca de comitê em comitê pra ter alguma noção do que está acontecendo e ainda impedir meus jornalistas de quebrar janelas e invadir salas em momentos impróprios. É tão cansativo que até brinquei pra minha mãe que eu só amo depois que acaba, mas ela e eu sabemos que eu sou viciada nessa vida e a prova cabal disso é que eu desisti de ver a Lorde, o Pixies, o Muse e o Vampire Weekend pra participar esse ano. E até agora não me arrependi, e olha que eu já vi o vídeo do Ezra sendo uma delícia com sua jaqueta jeans e o português de gringo (mas confesso que não tive guts pra dar play no cover que o Muse fez de Lithium, porque limites). 

Mas, quando digo que a melhor parte é mesmo quando acaba é porque a gente se reúne pra cerimônia de encerramento e os alunos estão todos eufóricos, extasiados, felizes com eles mesmos e transformados por aquela experiência. E aí eu queria poder abraçar todos eles e agradecer pela coragem de comprar aquela ideia maluca e topar cair ali de paraquedas sem saber direito como funciona, mas com vontade de descobrir e dar o seu melhor. E eu não acredito tanto assim no mundo, muito menos na ONU (me abracem Giu e Mimi), mas eu acredito muito nesse tipo de pessoa. 

Então é isso, agora já tenho um link pra mandar pra todo mundo quando me perguntarem o que raios é uma simulação e por que alguém deveria entrar nessa roubada.

socorro virei tia 


Discoteca da vida

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Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: os discos da minha vida
Música é uma parte muito significativa de mim e da minha vida. Esses dias estava conversando com as minhas amigas e concluí que música é a razão que me motiva a fazer um monte de coisas, como lavar louça e pegar ônibus. Quando eu era criança, meus pais tinham um som desses antigos e muito potentes e eu tinha o hábito de me trancar no escritório e ficar deitada na cama ouvindo música por horas e horas, e até hoje me surpreendo comigo mesma quando vi que joguei pela janela um bocado de tempo porque fiquei andando pela casa com meus fones de ouvido ou demorei duas horas pra dormir porque aquela sequência de músicas estava realmente muito boa.

Então, sim, música é uma questão realmente importante.

Outra coisa importante é que eu sempre levei os cds muito a sério, o álbum como um todo, o trabalho completo. Mesmo que me renda ao shuffle em determinados momentos, eu gosto bastante de pensar no disco como um trabalho completo, inteiro, e que faz mais sentido junto do que separado. Leio muitos blogs de música há muito tempo, então sempre me pareceu um método de apreciação mais lógico. Por isso que gostei tanto desse tema de abril lá do Rotaroots, porque eu adoro falar sobre música, adoro fazer listas sobre música e falar de discos é ainda mais legal. 

1) As Quatro Estações - Ao Vivo (Sandy & Junior)


Acredito que Sandy & Junior seja uma unanimidade na vida de quem foi criança ou adolescente entre o fim dos anos 90 e início dos anos 2000. A dupla é minha primeira memória musical, a primeira coisa que eu lembro de gostar de verdade. Fui do fã-clube, daqueles que você se inscrevia pelo correio e recebia umas fotos autografas depois, fui em show e usei aquelas faixas vermelhas escrito JUNIOR EU TE AMO na testa e meu sonho era ser a Sandy. Escolhi esse disco porque é ao vivo (e desde criança eu amo esse tipo de registro), e porque é da turnê do show que eu fui, então eu lembro até das roupas que a Sandy estava usando em cada música. Trivia: no ano que ganhei esse CD (que tinha quatro capas diferentes de acordo com a estação) visitei um aquário lá em Ubatuba e fiquei muito decepcionada ao ver que as estrelas do mar eram diferentes disso que a Sandy está segurando. 
Música favorita:Com Você

2) My Prerrogative - Greatest Hits (Britney Spears)


Sei que listar um greatest hits é uma forma de roubar nesse tipo de lista, mas essa escolha tem um motivo. Meu primeiro contato com Neidinha se deu através do In The Zone, que inclusive foi o primeiro CD que eu comprei com meu dinheiro. No entanto, ainda que seja o trabalho que nos deu Toxic de presente, o tipo de batida dele não fez muito minha cabeça aos 10 anos de idade. Ainda bem que Britney Spears já tinha me conquistado, o que me fez comprar o disco que ela lançou em seguida, com um apanhado de tudo de melhor da sua carreira. Esse sim, fez minha cabeça, meu coração, transformou Neidoca na minha diva pop favorita para todo o sempre e me fez ter vontade de conhecer tudo que ela já tinha lançado. Dancei muito na frente do espelho ao som dessas músicas.
Música favorita:Lucky (pare o que estiver fazendo e vá assistir a esse clipe imediatamente)

3) Let Go (Avril Lavigne)


Nada como ter 11 de anos de idade e se achar o centro mundo. Nada como ser jovem e acreditar que seus problemas são os maiores do mundo. Eu, por exemplo, achava que o meu maior problema era ter que gostar Avril Lavigne escondido, já que minha então melhor amiga psicopata dizia que esse estilo não combinava com a gente. Mas eu gostava, viu? Com vergonha, escondido, mas gostava muito e até hoje não acredito que não fui a um show dela. O legal é que faz pouco tempo que resolvi ouvir esse CD de novo e ele continua tão incrível e maravilhoso de se ouvir como antes. Avril, volte a ser bacana, por favor!
Música favorita:Things I'll Never Say

4) Acústico MTV (Cássia Eller)


Meus pais me ensinaram a ouvir muita coisa, principalmente MPB e rock nacional. Os acústicos da MTV sempre foram presença constante aqui em casa e me apresentaram para vários cantores e bandas do nosso país. Guardo com carinho até hoje muitos CDs dessa coleção que meus pais compraram e eu casualmente surrupiei para minha gaveta, e desses tantos o da Cássia Eller ainda é meu favorito. Essas músicas marcaram muito minha infância e sempre vão me lembrar do apartamento em que eu morei e a minha época de sapateado. Eu tinha só sete anos quando a Cássia Eller morreu, mas me lembro daquele dia como se fosse hoje, e foi uma morte que me chateou como se tivesse perdido um conhecido. 
Música favorita:1º de Julho 

5) Revolver (The Beatles)


Esse disco não é e nem nunca foi o meu CD favorito dos Beatles, mas ele me marcou muito por ter sido meu primeiro contato com a banda e a razão pela qual eu me apaixonei perdidamente por esses quatro bonitões - e é também a capa mais legal de todas, na minha opinião. As músicas eram diferentes de tudo que eu já tinha ouvido até então, diferentes demais também da ideia distante que eu fazia dos Beatles, que não passava muito do iéiéié de "I wanna hold your hand". Existe um abismo enorme entre essa ideia quase infantil, primitiva, e os riffs de "Taxman", que abrem o disco, ou da melancolia gostosa de "Eleanor Rigby" ou "For no one", e foi por esses Beatles que eu me apaixonei. 
Música favorita:For No One



6) Ventura (Los Hermanos)


Teve uma época na minha vida que eu não passava um dia sem ouvir esse disco de cabo a rabo. Era uma espécie de culto. Eu amei Los Hermanos com uma intensidade e um fervor que só mesmo os fãs mais chatos e apaixonados conseguem amar alguma coisa. O único show que eu vi deles aconteceu já alguns anos depois do fim (ou hiato) da banda, e a comoção, a entrega e a sintonia das pessoas com aquelas músicas me fez ver que o Los Hermanos sempre foi muito maior do que a ideia de quatro caras barbados e antipáticos fazendo música pra gente chata. Não escuto mais como antes, e talvez nem ame mais como já amei, mas é definitivamente uma banda e um CD que vão ficar pra sempre. 
Música favorita:O Velho e o Moço (melhor. letra. ever.)

7) Room On Fire (The Strokes)


Gosto de pensar em Strokes como a trilha sonora da minha juventude mais pura, sincera e despreocupada. Eu não tenho nenhuma memória ruim ou triste associada a essa banda, que eu sempre considerei muito minha, assim como todas as suas músicas e principalmente as desse CD. Strokes foi minha religião pagã favorita da adolescência e mesmo que eu não ouça com a mesma frequência de antes, não importa a vibe errada que eles escolham seguir, eu sempre vou ser apaixonada pelos meus meninos de cabelo bagunçado e suas guitarras rápidas e frenéticas. 
Música favorita: 12:51

8) Sam's Town (The Killers)


Eu comprei esse CD totalmente no escuro. O Killers que eu conhecia até então era aquele de "Mr. Brightside" e da pegada eletrônica dançante de "Somebody Told Me". Por isso, o Sam's Town foi uma surpresa desde a capa e o encarte, com essa vibe mais decadente, até o som, que era o mesmo Killers, mas muito mais encorpado, maduro, pesado e soturno. Tão bom que mesmo eu gostando de um jeito especial de toda a discografia da banda, pra mim o auge sempre será aqui, com Brandon de bigode e sua vibe cowboy retrô hipster. 
Música favorita:For Reasons Unknown

9) Rabbit Fur Coat (Jenny Lewis with The Watson Twins)


Jenny Lewis é minha cantora favorita, e uma das coisas que eu mais gosto a respeito dela é que ela soa de um jeito diferente a cada novo trabalho e eu amo todas essas facetas que ela consegue introduzir no seu trabalho. Mas, se o Buzzfeed me perguntasse em algum teste qual Jenny Lewis é minha favorita, sem pensar eu escolheria a do Rabbit Fur Coat, um disco que flerta com o folk alternativo e o country de raiz, com suas letras espirituais e melancólicas e as harmonias absurdas que as gêmeas Watson conseguem construir junto à voz da Jenny. É um disco que me marcou desde a primeira vez que eu escutei, e eu nem estava prestando muita atenção na música de fundo mas não consegui tirar aquela sonoridade da cabeça por muito tempo. 
Música favorita:You Are What You Love

10) Yankee Hotel Foxtrot (Wilco)


Esse último é, talvez, o mais especial de toda essa seleção. Se os nove álbuns acima marcaram um período específico (e passado) da minha vida, esse aqui está marcando o exato momento que eu estou vivendo. Toda aquela vibe de a história se fazendo diante dos nossos olhos e ouvidos, e eu tenho certeza que se daqui, sei lá, três, cinco ou dez anos eu for fazer uma outra lista como essa, o Yankee Hotel Foxtrot vai aparecer como o disco dos meus vinte anos. Porque hoje, pra mim, ele é o CD mais perfeito do mundo, a trilha sonora que mais tem se encaixado nos meus dias e um casamento perfeito com um monte de coisas que venho pensando e sentindo. O engraçado é que eu conheço Wilco há alguns anos e já tinha ouvido esse CD um bocado ao longo do tempo, mas foi agora que a gente se encontrou pra valer.

Aquele com o bartender

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Ou: Anna Vitória, undateable

Não faz sentido nenhum omitir: eu entrei no bar e a primeira coisa que eu fiz foi bater meus olhos nele.

O bartender. Ah, o bartender. Ainda é assim que a gente chama os carinhas que ficam do outro lado do balcão preparando as bebidas, né? Sei lá, passo mais tempo no Netflix do que saindo de casa no sábado a noite, e Leslie Knope não frequenta tantos bares assim. Pode ser barman também, mas eu gosto mais de bartender por causa daquela música da Regina Spektor. Ainda vou sentar num balcão, olhar languidamente pro cara do outro lado e, entre suspiros, dizer: come on bartender, won't you be more tender, give me two shots of whiskey and a beer chaser. E olha que eu nem gosto de uísque, muito menos de cerveja.


Mas eu estava falando do bartender: um cara lindinho, de barba, alargador, tatuagens e uma cara de bobo que só eu mesmo pra cair nessas toda vez. Eu entrei no bar e olhei pra ele, talvez ele tenha olhado de volta, não sei, essas dinâmicas me confundem um pouco. E aí que por uma casualidade do destino a única mesa disponível que comportava eu e meus amigos era uma logo em frente o bar, e eu juro que não foi de propósito, mas quando dei por mim já estava sentada de frente pro balcão. 

Conversa vai, conversa vem, eu dava umas risadas aqui, umas opiniões exageradas acolá, lia o cardápio inteiro umas dezoito vezes sem conseguir me decidir por nada, e ocasionalmente sentia um impulso de olhar pra ele. E olhava. E às vezes ele olhava pra mim também, ao passo que eu, com toda essa desenvoltura, com toda essa maturidade, com todo esse traquejo social, me punha a observar com atenção as minhas cutículas ou a ler mais uma vez os tipos de porção disponíveis.

O papo estava bom, estava indo tudo muito bem, o lugar estava muito bem frequentado e no fim das contas depois de tanto olhar o cardápio eu pedi uma coisa bem boa, mas vira e mexe batia aquele comichão involuntário de olhar o bartender bonitinho mais uma vez. E eu olhava. E às vezes ele olhava pra mim também. Ele deve ter se divertido bastante com a bagunça que eu fiz com meu sanduíche, ao passo que eu, com essa segurança, com essa presença de espírito, fiquei com medo de sorrir com medo de estar com os dentes laranjas de cheddar.

Allison Reynolds absolutamente me representa
Aí que depois de algumas horas dessa lenga-lenga chegou a hora de ir embora, e pra pagar com cartão era preciso ir até o caixa. Um caixa que oportunamente ficava em um dos extremos do balcão onde marotamente trabalhava o bartender, tão lindinho com uma bermuda rasgada e All Star branco. E aí que por outra casualidade do destino, o moço do caixa achou de bom tom passar umas trinta e quatro notinhas que deviam ter se empilhado a noite inteira ali pra dar baixa logo antes de eu pagar, eu ali encostada no balcão olhando o bartender bonitinho de rabo de olho, ele que às vezes olhava de volta pra mim também. E numa dessas trocas de olhares tímidas e desajeitadas, eu que olho mais por falta de controle do que por atitude, eu que devia estar vermelha feito um pimentão, percebi que os olhos dele dessa vez pararam em mim definitivamente. Não tinha mais ninguém em volta. Acho uma delícia quando você esquece seus olhos em cima dos meus. Foi o Chico que escreveu isso, né?

Fingia contar as moedas dentro da carteira quando ele finalmente resolveu se pronunciar:  

- Você tá me olhando de um jeito tão estranho. 

- Estranho? Eu? Como? Desculpa! Oi! 

- É, um jeito esquisito assim (faz uma careta) meio brava, tô ficando assustado.

- Nossa, não, claro que não ajdhakhakhkahf, eu faço careta quando tô distraída, sério, minha mãe diz que eu preciso parar com isso akdhaksfhajfhkajfh, mas juro, nossa, desculpa, não é nada pessoal. 

- Sei lá se eu devo acreditar, era uma cara muito sinistra.

- Acredita, sério jhdadkadhad eu não mordo, foi sem querer akdhakdhajd

- Ok, então. - E saiu pra fazer a tequila sunrise que tinham acabado de pedir.

EXPECTATIVAS:


REALIDADE:


Love will totally be the death of me. Me abraça, Regininha. 

Filminhos da vez #5: requema do Oscar e etc

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Pós-Oscar pra mim sempre foi sinônimo de ressaca cinematográfica das brabas. Não sei se é porque eu sempre estou atrasada nas minhas maratonas e acabo tendo que ver os dez indicados em uma semana só, ou se é mesmo uma reação àquela obrigação auto-imposta de assistir aos filmes que me deixa desanimada, mas desde que o Oscar passou tive pouca ou nenhuma vontade de assistir filmes novos. Por isso, março e a primeira metade de abril passaram sem grandes surpresas. O cinema daqui não ajuda muito, e resolvi usar minhas férias para rever alguns filmes que tenho como dever cívico reassistir pelo menos uma vez no ano, como é o caso de Elizabethtown, Curtindo a Vida Adoidado e O Poderoso Chefão. Coisa de gente doida. Pelo menos consegui terminar Breaking Bad e me atualizar na maioria das séries que negligenciei por conta de Breaking Bad. 

No mais, esses são os outros filmes que andei vendo nos últimos tempos: 

Questão de tempo (Richard Curtis, 2013): Eu não esnobo o cinema americano, de forma alguma, mas me sinto obrigada a reconhecer que os ingleses dão um banho em se tratando de comédias românticas. Não sei, é um humor e uma pegada totalmente diferentes, e eu gosto bem mais desse estilo. O Richard Curtis, além de dirigir, também escreveu esse filme. Se vocês não sabem, foi ele que escreveu Notting Hill, Bridget Jones, Quatro Casamentos e Um Funeral, Love Actually e outros romancinhos que amamos, então já era mais ou menos certo que esse filme seria muito ótimo. E eu amei tanto! É uma história que mistura romance com viagens no tempo sem ser ridículo, onde a ficção científica aparece como um detalhe que ninguém se dá ao trabalho de ficar explicando demais porque ninguém se importa mesmo.  No fim, temos um casal adorável, uma relação pai e filho que obviamente me fez chorar, Domhnall Gleeson sendo o boy next door ruivo que eu sempre acreditei desde a época de Harry Potter, e uma mensagenzinha final dessas que aquecem o coração sem ser piegas. 

Romance (Guel Arraes, 2008): Tenho vontade de assistir a esse filme basicamente desde que ele foi lançado, não sei porque demorei quase sete anos pra concluir algo tão simples. Talvez essa idealização de anos tenha estragado um pouco a experiência, mas acho que um romance protagonizado pelo Wagner Moura e a Letícia Sabatella é o tipo de aposta certa que você pode fazer sem muito medo de dar errado. Mas dá errado e não é pouco. Detestei o filme. Não sei o que aconteceu, mas não consegui levar o casal principal a sério e o excesso de teatralidade do texto, mesmo que seja parte da proposta, não me agradou nem um pouco. O filme é cheio de metalinguagens e a ideia de adaptar Tristão e Isolda pro sertão de Lampião é tão certa e sensacional que até agora não entendi por que odiei. 
Blue Jasmine (Woody Allen, 2013): Não sei se foi porque assisti ao filme ainda abalada pelo embate Woody Allen - Dylan Farrow e o mindfuck provocado por tantas histórias não comprovadas tirou meu foco, ou se eu estava esperando mais do que deveria, mas achei esse filme um grande whatever. O pior é que nem consigo apontar o que poderia ser melhor e o que eu não gostei, foi simplesmente um filme que não me causou reação alguma (tirando a parte da impressionante atuação da Cate Blanchett), e os filmes do Woody Allen sempre me enchem de reações. Assisti, virei pro canto e dormi pra acordar no outro dia sabendo pouquíssimo do que se tratava. Talvez eu o reveja daqui um tempo e consiga formar uma opinião sólida a respeito mas por enquanto: sei lá, tanto faz.

Enough said (Nicole Holofcener, 2013): Eu nunca vi Seinfield e nunca vi The Sopranos, assim como nunca tinha visto um trabalho com o James Gandolfini (RIP) e a Julia Louis-Dreyfus antes, mas sempre, sempre senti um carinho muito enorme e gratuito pelos dois. Assistir a esse filme foi comprovar que tinha razão dessa simpatia aleatória, porque os dois, ao menos na tela, são uma delícia de se assistir. Eu poderia passar o dia inteiro vendo os dois jogando conversa fora numa mesa de jantar. A gente já viu essa história antes várias vezes (mulher e homem divorciados dando uma nova chance ao amor, com complicações de filhos, ex, yada yada yada), e ele vale à pena justamente por conta do elenco, que faz com que você se apegue e torça de verdade pelos dois, você quer genuinamente que eles sejam felizes. O texto excelente ajuda muito, mas a força de Enough Said está mesmo no elenco. É um filme divertido sem fazer força, com situações hilárias que não forçam a barra em momento nenhum, um draminha de família porque ninguém é de ferro, e ainda tem a Tavi Gevinson fazendo uma participação especial.

S.O.S Mulheres ao mar (Cris D'Amato, 2014): Aquela cilada típica: o filme que eu ia ver estava esgotado, esse começava na mesma hora, já estou aqui mesmo, por que não?  Pra começar, a premissa do filme não faz nenhum sentido já que não dá pra entender o que a Giovana Antonelli foi fazer naquele navio. Depois, todas as personagens femininas são, em alguma medida, machistas e preconceituosas. Pra completar, quem escancara isso são os homens do filme, naquele tom paternalista gostoso que diz querida, para, tá feio enquanto a moça continua a tentar arruinar a amante do marido (ele que trai, mas mau caráter é a outra) com slut shaming e outras recursos bem enriquecedores. O filme é sobre três mulheres, mas escrito por três homens. Hm. Ou seja, aquela comédia bem babaquinha com os mesmos lugares comuns e a mesma perpetuação de discursos preconceituosos que a gente tenta combater, mas é foda. Ia até fazer um post só pra esculhambar o filme, mas os 90 minutos que perdi com ele foram suficientes.

Medianeras (Gustavo Taretto, 2011): Timing é tudo nessa vida, e eu vi esse filme exatamente no dia em que precisava dele. Medianeras fala sobre encontros, desencontros e a nossa solidão nas grandes metrópoles numa época onde é possível fazer tudo sem sair de casa e interagir com os outros. Ele é bem introspectivo e intercala monólogos dos personagens Martin e Mariana contando um pouco sobre suas vidas, pensamentos e fazendo um paralelo constante dos sentimentos com a arquitetura esquizofrênica de Buenos Aires. É um filme que me abraçou com força, me fez querer pegar uma mochila e fugir pra Argentina, ao mesmo tempo que desgraçou minha vida com a redefinição das minhas expectativas irrealistas sobre o amor, que nunca foram baixas. Falei sobre ele lá no Move That Jukebox também. 

Groundhog day (Harold Ramis, 1993): Esse filme passa tanto na TV e eu já tinha visto tantos pedaços aleatórios dele que só descobri que nunca tinha visto o final quando meu amigo me contou o que acontecia. Resolvi, então, vê-lo do início ao fim pela primeira vez, e foi aquela delícia de sempre - a única coisa que se espera de um filme protagonizado pelo Bill Murray com a Andie MacDowell (aliás, pode onde anda?). Ano passado a Superinteressante fez uma lista pouco tradicional com os 101 melhores filmes da história (é uma edição bem legal, vale a pena caçar nos sebos), e Feitiço do Tempo levou o primeiro lugar. "Porque é brilhante ao passar a mensagem mais importante de todas: viva intensamente. (...) A mensagem é tão forte que, um pouco depois de seu lançamento, o The Independent noticiou que líderes de religiões diferentes o apontavam como o filme mais espiritualizado da história. (...) O fato é que Feitiço do Tempo tem uma analogia que é um soco na boca do estômago: nossa vida é assim. Se você não se coçar, todo santo dia será 2 de fevereiro". Tá bom pra vocês?

I am trying to break your heart (Sam Jones, 2002): Esse documentário acompanha o processo de gravação e lançamento do disco Yankee Hotel Foxtrot, do Wilco. O que nem o Sam Jones esperava é que depois de pronto o CD seria recusado pela gravadora, o que faria o Wilco pular fora para, alguns meses depois, lançar em outro selo o disco que acabou sendo consagrado como um dos mais importantes álbuns americanos do início do século. Chupa mundo. Além disso, ficaram documentadas as tretas que culminaram na saída do Jay Bennett da banda, e o último show dele está registrado aqui. É um material muito bacana e rico, filmado em PB, uma pérola para os fanzocos de Wilco. Inclusive, Jeff Tweedy em momentos de fofura com os filhos e a esposa, desenhando caretas na barriga e até vomitando entre as gravações, mas esse último eu achei meio dispensável. 

Coisas para fazer antes de morrer

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Então minha mãe descobriu que eu escrevo. Na verdade ela sempre soube, mas como não é uma pessoa internética e não acompanha o blog, ela nunca pensou que pudesse fazer algo com o que eu escrevo além de ler minhas matérias e dizer pra mim se aquilo faz sentido ou não. Mas ela descobriu que eu escrevo e que pode tirar alguma vantagem disso, por isso pediu que eu escrevesse "uma mensagem bonitinha" pra ela ler no chá de bebê da amiga dela, porque minha mãe é totalmente dessas, e é, virou isso. Foi meio de última hora e, como eu não conseguia pensar em nada, usei alguns dos meus textos favoritos do ano Antonio Prata como inspiração, que estão linkados nas referências específicas.

Plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Dizem que é isso que a gente precisa fazer para se cadastrar na eternidade. Parece bem simples, se a gente for parar pra pensar em como é fácil fazer nascer um broto de feijão. Basta um grãozinho, um chumaço de algodão, água e luz, voilà: se você tiver sorte, algumas vagens com vários feijões vão começar a aparecer com o passar do tempo. 

Escrever um livro é um pouco mais difícil, mas se a gente pensar que cada um de nós é um mundo inteiro de histórias, experiências e formas de ver a vida, dá pra acreditar que, se quisermos muito, com sangue, suor e lágrimas pode brotar dos nossos dedos um livro qualquer. Papel aceita tudo e a gente pode moldar a realidade a nosso bel-prazer, transformando em graça os ressentimentos da vida e, se você é realmente frustrado por não interagir com centauros no dia-a-dia, essa é sua chance. 

O que ninguém garante é a marca que esse livro vai deixar no mundo: ele pode até ser um best-seller, e dependendo do alinhamento dos planetas e de quem está do outro lado, você pode acabar escrevendo um clássico. A verdade, no entanto, é que a maioria não sai da gaveta, e sua história - seja ela o relato da sua vida, a concretização daquele amor inacabado ou um universo paralelo com centauros e centopeias falantes - vai morrer junto com você e todas as suas tias que tiveram paciência de ler aquilo que você escreveu, achando tudo uma gracinha. 

Ter um filho é outra história. Exige mais que um grão de feijão e um chumaço de algodão. Exige mais do que você. E antes mesmo dele estar no mundo, não tem muito o que fazer para controlar o que ele virá a ser. 

Uma pessoa. Um ser humano. Com unhas, gengivas, fios de cabelo e um sistema digestivo completo. Uma criatura que vai chorar à noite, beber muito leite, enfiar os próprios pés dentro da boca, pra depois inventar de sair à noite e eventualmente enfiar os pés pelas mãos. 

A gente não tem como saber se vai dar certo. Se todos os dedos estarão no lugar devido, se a cabeça vai juntar lé com cré, se ela vai gostar de Matemática ou então odiar estudar, se você vai voltar ao peso de antes e quem é que garante que o filho não vai chegar com cara de mousse de maracujá? 

A gente não tem como saber se vai dar certo. 

Não é prolixidade, é uma constatação da mesma magnitude do fato de alguém ser capaz de gerar uma pessoa dentro de si, de rir na cara da aritmética e transformar dois em três. À partir do momento que o bebê coloca seus pés no mundo, ele existe. Olha só que doidera. O bebê existe e ninguém sabe onde isso vai dar, e acredito que essa seja a aposta mais alta e cara que fazemos com a vida, o jeito mais extremo possível de se pagar pra ver. 

E é por isso que, embora seja um pouco assustador, não deixa de ser bonito pensar em tudo isso. Quando pagamos pra ver, estamos apostando alto com a vida e ao mesmo tempo fazendo um voto de fé, de confiança: no universo, em nós mesmos, e no infinito de possibilidades que o acaso nos reserva. Colocar um filho no mundo é deixar as mãos marcadas na calçada da fama do eterno, da forma mais definitiva possível. 

Feijão é energia, ferro e proteína, mas dificilmente vai sair do seu quintal. Sequóias são imponentes e centenárias, mas elas não fazem nada além de ficar paradas no mesmo lugar, e nunca vão herdar seus olhos ou imitar a forma como você coloca as mãos na cintura. Um livro vai dizer muito sobre você, mas ele jamais vai ter vida própria o bastante para pensar em ser algo além, ou diferente, de você. A própria genética revela que o segredo do sucesso está no diverso, e não na réplica.

Colocar um filho no mundo é colocar na Terra mais um pequeno universo, um infinito de possibilidades, o potencial de vários brotos de feijão ou de uma frondosa sequoia, a oportunidade de ver surgir um grande poeta, o cara que vai curar a AIDS, um serial-killer, uma agente secreta ou uma taxista que dirige cantando. Um filho faz cocô nas calças, morde o coleguinha de escola, e escolhe ir num baile funk quando você jurou jurandinho que ele ouviria Beatles desde a maternidade. Você pode ser petista e criar uma mocinha que vai votar com a direita tucana, quem garante o contrário? 

Mas de uma coisa você pode ter certeza: se não fosse você, não seria ela. E enquanto ela existir, seja escrevendo poesia, curando a AIDS ou descendo até o chão no baile funk, você vai viver também. Os seus olhos, o modo como você coloca as mãos na cintura, e tudo aquilo que você vai ensinar. Para todo sempre, ou até alguém resolver que muito mais emocionante que ter um filho é plantar um broto de feijão. Amém.

A gente não tem como saber se vai dar certo. Mas só de pensar que, entre milhões de espermatozóides e um bocado de óvulos cheios de frescura aquele punhado de células vingou, já dá para dizer que antes de nascer o seu filho venceu o mundo. Além de tudo, pelo amor de Deus, já paramos pra pensar que literalmente existe um ser humano crescendo nas entranhas de alguém? Quer maior definição de milagre que isso? Um milagre que o mundo certamente não merece, mas que a gente continua operando todos os dias na esperança de que essa nova chegada - que vai ter os seus olhos e o copiar o modo como você coloca as mãos na cintura - mude ele pra melhor. 

É o tipo de coisa que ninguém espera de um broto de feijão, e vai ser uma experiência tão maluca que sempre vai existir a possibilidade de escrever um livro sobre isso depois. Por isso, acho que ter um filho ainda é a melhor opção. 

Não seria eu

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Ou: sete personagens que eu gostaria de ser

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: personagens que eu gostaria de ser.

Talvez eu seja literal ou perfeccionista demais, mas pensar em personagens que eu gostaria de ser se mostrou uma tarefa bem mais difícil do que eu imaginei quando li as blogagens coletivas do mês lá no Rotaroots. Isso porque, como eu disse, acabo me deixando levar pro lado literal da proposta de efetivamente ser outra pessoa, e aí os meus defeitos e infortúnios me parecem bons demais pra eu bancar a ideia de ter que lidar com outros esqueletos de outros armários. Eu não sou uma pessoa perfeita, minha vida não é um conto de fadas, mas pelo menos as pedras no caminho já tem o meu cheiro e o formato do meu pé. 

Acho que muita gente teve essa mesma dificuldade inesperada, porque vi muitos participantes adaptando a proposta para algo menos intenso ou imersivo. Pensei em fazer isso também, mas descobri cá com meus botões uns pares de gente que se eu não estiver disposta a trocar de vida, cabeça e corpo, pelo menos me inspiram para ser uma pessoa melhor ou algo nesse sentido.

1) Hermione Granger (saga Harry Potter)



Acredito que a personagem fala por si só, mas deixa eu desenhar pra vocês: pra início de conversa, a Hermione é bruxa. Isso significa que, aos onze anos, ela recebeu uma coruja na casa dela e se matriculou em Hogwarts - coisa que eu espero até hoje que aconteça comigo, vai que essa coruja saiu da China ou foi retida na receita federal, não é mesmo? Além de estudar em Hogwarts e ter acesso a todo aquele universo maravilhoso que é o mundo da magia, Hermione é a melhor aluna daquela escola, e a determinação com que ela conduz todos os setores da vida vida não seria um traço que eu reclamaria. Ela também faz parte do trio mais legal do mundo e é o futuro amor da vida de Ronald Weasley, com quem vai ter filhos ruivos. Ela passa as férias na Toca, já leu Hogwarts - Uma História, tem um vira-tempo, consciência social e uma coragem para lutar pelo que acredita grande o bastante para deixar o mundo e as pessoas que conhece para trás para defender tudo isso e estar do lado dos amigos. Melhor pessoa do mundo. 

2) Elizabeth Bennet (Orgulho e Preconceito)



Acho que a única coisa mais clichê do que querer ser Hermione Granger é querer ser Lizzie Bennet, mas bear with me: eu sei que ser mulher, ainda mais pobre, nos séculos XVIII e XIX não era a melhor coisa do mundo. Se está difícil para nós, imagine só para a menina Lizzie. E talvez seja isso que me faça gostar dela mais ainda, porque ela tinha consciência da situação feminina no seu tempo e estava disposta a abraçar a realidade de tia solteirona se não fosse para viver com um homem e usufruir desse benefício por motivos de amor verdadeiro. Um amor verdadeiro que, no caso dela, atende por Fitzwilliam Darcy. Por mais maluca que seja a vida doméstica dos Bennet, eu ia gostar de saber o que é ter uma família enorme e muitas irmãs, assim como sonho com bailinhos, vestidos brancos de linho e troca de olhares pelo salão.

3) Leslie Knope (Parks and Recreation)



Ano passado fiz um trabalho de Psicologia onde tinha que falar sobre perfis de liderança (pois é) e um deles era um cujos detalhes me faltam agora, mas descreviam uma pessoa com potencial para fazer coisas grandes, mas que estava confinada num espaço ou posição que não permitiam esse crescimento. Usei a Leslie como exemplo porque ela começa a série trabalhando departamento de parques da prefeitura de uma cidadezinha bizarra de Indiana, onde meio que ninguém se importa com o departamento de parques. Mesmo assim, ela acredita muito nesse trabalho, e trata qualquer inauguração de balanço como uma nova carta de direitos do homem e do cidadão. Ela não acredita só no trabalho como ela acredita nela mesma, nas pessoas ao seu redor e no poder dos indivíduos mudarem o mundo por meio da democracia, e faz de tudo para mudar para melhor qualquer pedacinho de mundo ao seu redor. Quando crescer quero ser essa mulher.

4) Ferris Bueller (Curtindo a Vida Adoidado)



Queria ser o Ferris porque ele é um cara legal e tranquilo, e queria muito saber como é isso sabe, qual a sensação. Eu faço o possível para me divertir e relaxar quando eu posso, mas tenho muito mais de Cameron Frye em mim do que gosto de admitir para as pessoas. Queria ser o Ferris para ver como é ser a alma da festa uma vez na vida e saber me divertir da forma como ele faz. É claro que eu adoro passar o dia inteiro lendo ou vendo televisão, mas seria interessante saber como é invadir um desfile no centro de Chicago e cantar Twist And Shout para milhares de pessoas.

5) Blair Waldorf (Gossip Girl)



Aqui vai a maior licença poética de todas, porque estou ciente de todas as falhas de caráter da Blair, dos seus relacionamentos pouco saudáveis e carregados de problemas, da percepção torta e tão diferente da minha que ela tem do mundo, e toda uma cartilha de problemas e peso na consciência que o fato de querer ser a crazy bitch around here trazem. Mas eu queria mesmo assim. Nem que seja por um dia. Ou um mês de folga, para viver como rainha de Manhattan que faz a própria sorte ("Destiny is for losers. It's just a lame excuse for letting things happen to you instead of making them happen") e não abaixa a cabeça pra ninguém, e que além de tudo é podre de rica, tem a melhor coleção de tiaras e sapatos do universo, além do coração de Chuck Bass.

6) Rose Hathaway (saga Vampire Academy)



Outra grande licença poética, porque a Rose vive em perigo e já viu muitas pessoas importantes morrerem, inclusive carregando nas costas a culpa pela morte de algumas. No entanto, ela é uma mocinha forte e guerreira que não deixa de ser divertida e vulnerável e ainda por cima é muito boa no que faz. O que ela faz é lutar, e deve ser o máximo ser badass e encher alguém de porrada. 

7) William Miller (Quase Famosos)



Quando penso em Quase Famosos, a vontade imediata é ser Penny Lane, por conta do sonho groupie, o cabelo e a barriga da Kate Hudson. Porém, sejamos realistas: eu não veria vantagem alguma em rodar os Estados Unidos com uma banda de rock nos anos 70 se não pudesse ter a chance de escrever sobre isso por aí. Ser um prodígio do jornalismo cultural apadrinhada por Lester Bangs também não me parece uma má ideia, muito menos a promessa de um espaço na Rolling Stone antes dos 18 anos de idade. 

Ode a Meninas Malvadas

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Texto escrito originalmente para aRevista 21

O mundo das garotas é uma selva.

Hoje faz dez anos que Meninas Malvadas estreou nos cinemas, e nesse meio tempo o filme foi de comédia adolescente de muito sucesso a objeto de culto, popular o bastante para já ser considerado um clássico contemporâneo. Eu não vivi a Beatlemania e os filmes do John Hughes jamais serão um retrato da minha experiência concreta de juventude, mas fico muito feliz em saber que cresci com Harry Potter e que Meninas Malvadas faz parte do consciente coletivo da minha época.


Embora seja um dos filmes mais queridos pelas pessoas e que seja raro encontrar quem nunca o tenha assistido ao menos uma vez, tem muita gente que acredita que as pessoas idolatram o filme ironicamente ou sentem vergonha em admitir que gostam dele de verdade, por mais bobinho que ele seja.

Pra começo de conversa, esse papo de gostar ironicamente é uma das coisas mais bestas que eu já ouvi, e que culpa a gente deve ter por achar que, em pleno 2014, precisa se desculpar ou se justificar por gostar do que gosta. Dito isso, nesse dia tão significativo para a cultura pop, queria defender a ideia de que não, Meninas Malvadas não é esse filme bobinho que alguns pensam que ele é, só porque é engraçado, só porque é sobre adolescentes, só porque é (olha só que coisa) sobre garotas.

Espero que vocês estejam de rosa, afinal, hoje é quarta-feira.

Como eu ia dizendo lá no começo, o mundo das garotas é uma selva. Essa ideia nos é vendida o tempo inteiro e não é de hoje: pense em quantos filmes você já assistiu que tinham no centro uma disputa entre meninas; quantas pessoas já te falaram que não se pode confiar em mulher; quantas meninas já te disseram que acham muito mais legal ter amigos homens, já que entre as garotas sempre rola inveja e competição;  quantos filmes já mostraram uma mulher tentando sabotar a amiga bem sucedida ou querendo acabar com a vida da namorada atual do ex. Meninas Malvadas é sobre isso também, mas de um jeito diferente.

Cady Heron (Lindsay Lohan) usa esse paralelo da selvageria duas vezes ao longo do filme: na primeira delas, a garota recém-chegada da África pensa consigo mesma que aquelas tensões ocultas que ela sentia entre as garotas do seu colégio – uma hostilidade constante e densa que pairando no ar, que todas fingiam não ver sorrindo falsamente umas para as outras – seriam facilmente resolvidas no mundo animal, onde ela poderia avançar livremente na direção dos cabelos de Regina George (Rachel McAdams) e lidar com as diferenças entre elas usando a força bruta. Depois, mais para o final do filme, quando o Livro do Arraso vem à tona, a cena é que vemos é de garotas grudando nos cabelos umas das outras, finalmente sucumbindo àquela tensão velada e descarregando fisicamente todas as frustrações, inseguranças, hostilidade e decepções que sentiam consigo mesmas e com as outras.

Muita gente não sabe, mas o filme foi baseado num livro que é uma espécie de manual para ajudar os pais de garotas adolescentes a ajudar suas filhas a sobreviver no microcosmo escolar, um ambiente que parece afetar as meninas de um jeito diferente. Isso porque a gente vive numa sociedade que não é apenas machista, mas que odeia as mulheres. Não é de hoje, não é da época das nossas avós; é uma construção social talvez tão velha quanto a roda essa ideia de que o feminino precisa estar sobre constante suspeição, como se por trás de toda essa delicadeza que a publicidade adora louvar existisse um fruto podre escondido. E como toda boa construção, essa ideia está de tal forma cimentada nos nossos inconscientes que a gente a confunde com a realidade, e é assim que a gente acredita mesmo que as mulheres são umas pérfidas neuróticas desalmadas, que nossas amigas no fundo querem puxar nosso tapete, que estamos cercadas de inimigas.


Depois do rompante selvagem que citei acima, as garotas do colégio são levadas para o ginásio da escola e Tina Fey, que escreveu o filme e interpreta a professora de Matemática mais ferrada do mundo, as força a encontrar e exorcizar os próprios demônios. Num exercício simples, as meninas veem que não só todas já foram vítimas de alguma fofoca ou maldade vindas de uma garota (além de Regina George), como todas também já fizeram fofoca ou alguma maldada contra outra garota (Regina George inclusa). O que isso significa? Que todas as meninas são mesmo seres desprezíveis e sem caráter, ou que esse ódio todo vem de seres humanos – falhos, como somos todos – que ainda não sabem lidar direito com as próprias frustrações e inseguranças e direcionam esse ressentimento para quem está mais próximo e parece ter algo melhor do que ele, seja um cabelo brilhante, uma nota em Matemática ou uma postura confiante?

É desse modo que Meninas Malvadas humaniza a selva que alguns juram ser o mundo das garotas, mostra que na maioria esmagadora das vezes não faz o menor sentido odiar tanto uma garota qualquer e que a existência de uma menina legal nos arredores não é uma afronta ou ameaça direta a tudo aquilo que existe de legal em você. Meninas Malvadas é um filme que estimula a sororidade, ou seja, a irmandade feminina. Essa ideia, dentro do movimento feminista, se desdobra em diversas problemáticas que valem a pena ser entendidas se você quiser se aprofundar no assunto, mas que no momento, de início, interessa extrair que para nós, mulheres, não está fácil e nem nunca foi, mas o fardo é menos pesado quando paramos de brigar entre nós, especialmente se é uma briga que não é nossa.


Por fim, Meninas Malvadas é um filme absolutamente divertido e pouco moralista, com diversas citações brilhantes que elevam a nossa expressão pessoal a uma dimensão diferente e muito mais interessante (além de ser um dos poucos que o roteiro é rico em pérolas tanto no idioma original como na tradução para o português, tanto que não consigo me decidir entre o que é mais legal: fetch ou barro). No dia de hoje, em que ele completa dez anos, você vai provavelmente ler diversas compilações das melhores frases do filme, mas a mais importante, definitivamente, é essa:

“Vocês tem que parar de chamar umas às outras de vadias e putas. Isso só faz com que seja aceitável que os homens as chamem de vadias e putas”.

Meninas Malvadas não é um filme perfeito e nem uma epítome feminista, mas definitivamente não é um filme bobinho. O mundo das garotas não é e nem precisa ser uma selva.

Anywhere but here

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(2012, 2013)

Uma das críticas negativas que mais li a respeito de Um Dia, um livro que gosto muito, é a de que a execução da proposta é inverossímil e até um pouco mal feita. Isso porque o livro se propõe a acompanhar os personagens por vinte anos, sempre no mesmo dia. Cada capítulo do livro fala do mesmo dia 15 de julho, ano após ano, e ok, é verdade que sempre nesse mesmo dia acontece algo significativo que faz a Emma pensar no Dexter ou vice-versa (que saudades desse livro), mas não foi pra discutir isso que vim aqui hoje. 

O negócio é que desde que me apaixonei por Um Dia, resolvi começar a registrar, ano após ano, um dia da minha vida, para ver qual é. O engraçado é que comecei há dois anos, e esses dois dias não foram dias como outro qualquer. Para o terceiro ano eu não sabia o que esperar da brincadeira, e se à meia-noite do dia 3 de maio me perguntassem onde eu estaria dali 24 horas, eu jamais imaginaria o que seria de mim naquelas próximas horas. 

Era uma vez eu, à meia-noite do dia 4 de maio de 2014, sentada no tapete do quarto de Paloma, junto com ela, a Analu, a Giu e o Marcelinho, irmão da Pa. Nós cinco em volta de uma garrafa de vodka, um balde de gelo, e papéis grudados na testa. Fico imaginando se alguém que pegasse a cena fora de contexto seria capaz de inferir que estávamos apenas brincando de Bastardos Inglórios e que tinha mais risada, gelo e gente se engasgando ali do que empenho para esvaziar a garrafa. Mais tarde transferimos a brincadeira para o tapete da sala de TV, onde brincamos de todos esses jogos de roda, juventude e viagens que éramos capazes de lembrar, terminando com o bom e velho stop, seguido da pizza que havia sobrado do dia anterior.


Há 24 horas, aquela sala abrigava um Encontrão Mafioso com pizza, pijamas, gargalhadas e troca de figurinhas, e por mais que estivéssemos rindo, por mais que estivesse tudo muito bom, não podíamos deixar de sentir o peso da falta da nossa folia que havia tomado praticamente de assalto a casa da família Engelke  Muniz nos últimos três dias. 

Não sei bem quando fomos finalmente dormir, mas foi estranho estarmos em número reduzido o suficiente para cabermos todas no quarto da Paloma. Aquela casa estava vazia demais, calada demais e existia espaço demais para quem até ontem estava dormindo em camadas e muito feliz por isso. Apagamos sem conversar muito para acordar novamente às 9h40 da manhã. "Giu, não era pra gente já estar na praia?", perguntei. "Era", a Giu respondeu, porque o plano era esse mesmo. Acordar às 8h para pegar praia logo cedo e aproveitar ao máximo antes de levar a Analu para o aeroporto, mas no quarto Encontrão a gente já deveria saber que cumprir planos à risca jamais foi o nosso forte.

Aliás, se os planos fossem seguidos, nem no Rio de Janeiro eu estaria. Perdi meu voo de volta pra casa no dia 03, de um jeito tão besta e absurdo que só consigo creditar ao destino ou a Deus, que cansou de me ouvir buzinar no ouvido Dele que eu não queria ir embora. Agora toma, fia. Ou então foi só incompetência da Gol mesmo, mas essa história eu conto depois. O importante é que eu perdi meu voo e ganhei mais um dia inteiro no Rio, cidade que roubou meu coração da tal forma que depois de uma injúria dessas, ao invés de chorar no cantinho, eu fiz o que todo bom carioca faria: fui pra praia.


Eis que estávamos na praia da Barra (insira sua referência funkeira de preferência aqui) prontas para entrar no mar gelado, criando coragem para ir além dos tornozelos. Nos demos as mãos, eu, Paloma, Giu e Analu, e resolvemos pular ondas. Não sei se foram sete ou se perdemos as contas e acabamos pulando mais do que deveríamos, mas aquela água gelada, aquelas ondas e até o caixote que eu tomei tinham gosto de recomeço. Eu estava com a garganta doendo e com o corpo todo querendo ficar gripado, mas nada que uma onda forte seguida de uns goles de água salgada e outros litros que entram pelo nariz e salinizam a alma não resolvam. Eu juro pra vocês que minha dor de garganta sarou ali. 

Foi depois desse banho de mar gelado e redentor que resolvemos reiniciar o ano ali mesmo. Se judeus e chineses tem direito a um ano novo próprio, por que não nós, as mafiosas, também? 2014 chegou chegando com seu janeirinho da zica que veio se desdobrando até abril, mas o Rio de Janeiro, maio e aqueles dias lindos coincidindo com o nosso meme cabalístico nos trariam a glória. Ou pelo menos um espírito aberto e cheio de gratidão para recebê-la.


Na volta da praia meu celular caiu no chão e rachou a tela, mas vamos considerar isso como um arroto revoltado da zica e seguir em frente.

Na dúvida entre devorar logo a lasanha que a tia Lara tinha nos deixado ou tomar banho para tirar aquela crosta de praia, acabamos no chuveirão gelado da área externa mesmo, lavando os cabelos com o shampoo de macho gentilmente cedido pelo Marcelinho. E não é que o shampoo da Xuxinha funcionou num cabelo ruivo de farmácia pós sol & sal? Fica a dica para as bloguetes.

Mais tarde foi hora de conversas preguiçosas e cochilos para espantar a melancolia que começava a se instaurar com a proximidade de mais uma despedida. Tentávamos rir enquanto ajudávamos a Analu a colocar as últimas coisas dentro da mala e dar aquela conferida final se nada tinha ficado pra trás, tentando não pensar que faltava pouco tempo para irmos para o aeroporto. Abraços, lágrimas, Clarice Falcão e uma conversa sobre quadrinhos. Galeão, o inevitável tchau, um abraço em grupo, depois outro, e mais outro, choro de Passarinha e Analu me pergunta se eu perderia aquele voo de novo se pudesse voltar no tempo. Na condição de quem ainda não tinha levado a bronca que inevitavelmente me aguardava em casa, disse que ela não devia me fazer perguntas difíceis.


E algum tempo depois, eu de volta à sala de de TV de Palo, alternando cochilos com A Nova Cinderela e brigadeiro de colher, pensava na viagem do dia seguinte, no certeiro sermão que me aguardava em casa, e em tudo de incrível e lindo e maluco que vivi naquele feriado perfeito, e em como a vida é absolutamente imprevisível. Alguns meses antes eu tinha pensando sobre esse meme e em onde eu estaria, e nem passava pela minha cabeça que aquela viagem aconteceria, assim como há pouco menos de 24 horas eu poderia jurar que o dia 04 de maio seria passado com muita preguiça e saudade em casa, numa ressaca densa que só vem depois de coisas muito boas. E ali estava eu, repetindo as falas junto ao filme da Hilary Duff, observando em voz alta como o Chad Michael Murray já foi lindo e desejável, cantando a trilha sonora junto com Giuliana e Paloma, as três soldadas restantes de corpo presente, mas sentindo todas ali o tempo inteiro. Porque estar perto não é físico, principalmente em se tratando da gente. Não era pra eu estar ali, e mesmo assim não tinha outro lugar no mundo em que eu deveria estar.

E foi assim que mais um dia 04 de maio passou por mim. Feliz ano novo pra vocês também.

And I'll always remember it


Cidades maravilhosas

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Eu aprendi a gostar de Uberlândia quando comecei a andar em Uberlândia. Filha única, cria de apartamento com todas as credenciais de ex-criança boba e esquisita que meus pais puderam me dar, passei a ganhar a cidade com minhas próprias pernas e sem supervisão depois dos 15. Uma coisa é andar na rua com alguém segurando sua mão e te dizendo pra onde ir, outra bem diferente - principalmente para pessoas distraídas e perdidas como eu - é fazer isso por sua conta. E foi só assim que eu conheci a cidade onde eu nasci e morei a vida inteira, e foi dessa forma que comecei a gostar dela.

Era como se passar periodicamente por aquelas praças, conhecer os seus contornos e hábitos - aqueles cinco minutos de diferença entre ter que esperar uns três turnos do semáforo pra conseguir atravessar a rua ou passar direto - as falhas no calçamento, as placas, as pessoas, a forma como o sol bate em determinados prédios depois das cinco; tudo isso fez com que eu lenta e gradativamente amasse a minha cidade natal. Passei mais de quinze anos alheia a tudo isso, me restringindo a, mecanicamente, entrar e sair de um carro, ou então a ser conduzida por aí pelas mãos de alguém meio apressado. Sozinha, mesmo que com hora pra chegar nos lugares, o tempo é meu e o espaço também, para que eu o explore como bem entenda, um dia entrando numa rua, e no seguinte vendo onde aquela outra iria dar. 

Ai de mim que, ainda por cima, sou romântica e adoro me sentir flâneur, porque isso faz com que eu decore as casas bonitas pra observar pela janela do ônibus, atravesse as praças pelo meio (e tem uma com um busto gigante do Juscelino Kubitschek que eu sempre paro pra ver, nem que seja por um minutinho, porque quando eu era pequena minha avó me levava para dar oi pro Juscelino e eu achava isso o máximo), dê trela pra todo cachorro que cruza o meu caminho e seja colega dos donos de banca de revista que eu visito pelo menos uma vez por mês. Estou sempre atrasada, quase sou atropelada ao menos uma vez na semana, sou aquela pessoa insuportável que às vezes atrapalha o fluxo da calçada, mas amo minha cidade à moda de Chico Buarque: amo tanto e de tanto amar, acho que ela é bonita. 

Já São Paulo eu conheci desde bem nova gastando com força a sola do sapato. Acho que ainda sei andar melhor em São Paulo do que na minha própria terra. Tenho família por lá e me candidatava para acompanhar quem quer que fosse em todas as visitas, além das férias obrigatórias em janeiro. É quando boa parte dos paulistas foge da cidade cinza e cheia de pedras que eu encontrava o momento perfeito para me jogar nela de cabeça.  Meu primo e fiel escudeiro é quem sempre me levou pra lá e pra cá, e ele nunca teve muitos pudores com caminhadas em longa distância. Sempre desconfio quando ele diz que é perto, dá pra ir andando. Eu sei que não é, pra quem vem de uma cidade com menos de um milhão de habitantes o perto paulista nunca vai ser o nosso perto, que significa ali na esquina. Mas mesmo sendo tudo tão longe, tudo tão enorme e assustadoramente longe ao ponto de eu querer subir de quatro aquela ladeira e já ter esfolado um sapato novo de tanto andar, valia o esforço. 

São Paulo é horrível e incrível ao mesmo tempo, é uma cidade que te assusta e te acolhe, te abraça com força e te espanta com crueldade. As pessoas sempre louvam São Paulo como uma cidade que não é pra principiantes, e sim para sobreviventes, mas pra mim sempre foi muito fácil gostar de lá. Existe algo na sua postura difícil que sempre me atraiu, porque eu nasci escolhendo as coisas mais difíceis pela graça do difícil, mesmo que seja complicado demais pro meu próprio bem. Porque mesmo com o metrô lotado, meu coração sempre acelera quando subo a escada rolante e me vejo no meio da Paulista. Mesmo tendo que segurar a bolsa mais firme junto ao meu corpo, eu amo todas as pessoas diferentes que existem ali. 

Ninguém precisou me ensinar o modus operandi do tough love de São Paulo, porque desde sempre nós falamos a mesma língua. São Paulo é como amar uma pessoa difícil que te implora todo dia pra ir embora, é como todo boy lixo que tem lá seu charme, é como uma cena clichê de filme em que uma pessoa ataca a outra, que a segura firme até que os socos se transformem em abraço e a raiva vire choro redentor. É como a tatuagem cantada por Chico: pesa feito cruz nas nossas costas, nos retalha em postas, mas no fundo a gente gosta e nem é só quando a noite vem. 

Então eu conheci o Rio de Janeiro, e vocês já devem ter ouvido por aí que ele é lindo. Passei anos esnobando a cidade, achando que meu coração gelado e cinza de quem adotou São Paulo mesmo nunca tendo morado lá me faria imune a todos os encantos que ela guardava. O sol carioca demorou 18 anos para me derreter, e de cenário inofensivo das novelas, o Rio se tornou uma obsessão pessoal. Eu precisava colocar meus pés naquela cidade. Não precisei nem efetivamente pisar no Rio para estar apaixonada: bastou um pouso no Santos Dummont pela Baía de Guanabara na hora do por do sol pra eu pensar seriamente que se eu morresse, minhas cinzas deveriam ficar ali. 

Na manhã seguinte peguei um freixcão que atravessou toda a zona sul e o centro, e fiquei como criança vidrada na janela, amando tanto e achando tudo tão bonito que chegava a doer. Brinquei com as minhas amigas que me sentia na Disney na Globo, porque estava andando nos cenários que por vinte anos só existiam na tela da televisão, e me parecia surreal que tudo aquilo existisse mesmo e fosse ainda mais bonito do que tudo que o Maneco já mostrou. Eu só pensava que jamais seria capaz de ser feliz em qualquer outro lugar. São Paulo parecia Cubatão, e Uberlândia uma Cumari piorada. Deixei um pedaço de mim em cada uma das janelas antigas dos prédios velhos de Copacabana, com seus velhinhos nas calçadas e as padarias pitorescas. Ainda é possível encontrar lascas de Anna Vitória na orla das praias e na pedra do Arpoador. 

Eu já sabia que amaria o Rio, mas não pensei que fosse tanto, nem tão fácil. Quem cresce entre Uberlândia e São Paulo passa a acreditar que é regra essa maluquice que o amor vem associado às pauladas, mas existe o Rio de Janeiro pra mostrar que pra ser charmoso não precisa ser caolho e que pra ser interessante não precisa pedir pelo amor de Deus pra gente ir embora. O amor pode ser fácil e simples, como um menino de sorriso bonito. 

Uma amiga uberlandense refugiada no Rio me escreveu que lá é o único lugar onde é possível lavar e deixar a alma ao mesmo tempo, e foi isso que ele fez comigo. Em Futuros Amantes, Chico canta a história de um amor que de tão enorme ficou guardado para ser amado num futuro distante, que transformaria o Rio numa cidade submersa a ser explorada por escafandristas. Sempre entendi que a letra falava de um amor romântico, e na verdade é isso mesmo, mas é impossível pisar no Rio de Janeiro, e depois deixá-lo, sem ficar com uma sensação de que um pouco de si ficou por ali também. 

Talvez seja esse o segredo da cidade: ela é tão linda que todo mundo que sai deixa um pouco de amor no fundo de uma gaveta, atrás de uma pedra, flutuando por milênios no ar a fim de ser amado de novo e de novo por todo e qualquer visitante, uma espécie de futuro amante. Afinal, amores serão sempre amáveis e é isso que me consola: saber que um dia irei voltar e ele vai me esperar inteiro - e lindo. 

Uberlândia sempre vai ser minha casa e é tipo amor de mãe, São Paulo sempre vai acelerar meu coração como uma paixão proibida, mas desconfio seriamente que o Rio seja o novo amor da minha vida.

Apenas mais um sobre livros

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Não me animei muito com os temas de blogagem coletiva para esse mês no Rotaroots, por isso fiquei com muita vontade de fazer esse meme literário que eu vi no blog da Del, e que a senhora Analu correu na minha frente, postou e já me indicou. As perguntas foram propostas em uma TAG chamada Palavras Cruzadas, que foi criada pela Inês do InesBooks lá no Youtube. São 15 perguntas bem divertidas a respeito de livros que já lemos (ou evitamos ler) que eu gostei muito de responder, embora tenha quebrado minha cabeça desmemoria com algumas. 

1) Vox Populi (um livro para recomendar a toda gente)

Eu tenho reflexo de recomendar para os outros o último livro que li e me apaixonei o suficiente para ter vontade de passar aquilo adiante, mas sei que isso não é inteligente. Existem pessoas e pessoas, e aquela leitura que para mim foi sensacional pode acabar sendo insossa para a amiga mais próxima. Antonio Prataé uma das raras exceções: recomendo a leitura de suas crônicas a torto e a direito com a segurança de que o aproveitamento será positivo, pois acredito que sua prosa e seu humor sejam praticamente universais e servem bem até a quem não é um leitor costumaz (sempre quis usar essa palavra). Minha avó, por exemplo, que não costuma ler literatura, já passou uma agradável tarde na companhia dos Pratinhas da minha coleção e, em se tratando dela, acho que o Meio Intelectual, Meio de Esquerda tem o melhor apanhado de crônicas do moço já lançado.

2) Maldito plágio (o livro que gostaríamos de ter escrito)


Na hora de sonhar o céu é o limite, e não me avisaram que esse meme tinha algum compromisso com a realidade concreta. No entanto, gostei da forma como a Analu enxergou esse tópico: ao invés de mirar na lua, minha querida amiga Banana foi humilde e mirou numa estrela possível. Minha lua, no caso, seria alguma pérola machadiana como Dom Casmurro ou Memórias Póstumas de Brás Cubas. No entanto, se algum dia eu fosse efetivamente escrever um livro, eu gostaria de um feito parecido com o da Vanessa Barbara em O Livro Amarelo do Terminal (fiz vídeo sobre ele): uma reportagem em profundidade do Terminal do Tietê em São Paulo contém tudo que mais amo no jornalismo e na antropologia: personagens invisíveis, etnografia, reflexão sobre não-lugares, etc, tudo com muito bom humor.

3) Não vale a pena abater árvores por causa disso 


Acho especialmente difícil falar sobre livros ruins ou que eu tenha odiado porque acredito que escolha muito bem o que eu leio - não que eu só leia coisa boa, mas acho que faço apostas certas de acordo com aquilo que eu gosto e espero de um livro. Por isso, mesmo que eu não goste da história ou dos personagens, existe algo ali que me interessou a princípio e que eu levaria em consideração antes de dizer que aquilo não deveria existir. Mas Por Isso A Gente Acabou (vídeo), do Daniel Handler, foi além do simples ato de não gostar, porque esse livro me irritou. Muita gente que não gostou disse que ele vale pelas ilustrações, mas uma arte tão bonita pra uma história tão besta e personagens detestáveis assim não seria também um desperdício de papel bom e talento? Eu acho.

4) Não és tu, sou eu (um livro bom, lido na altura errada)


Diferente de muita gente por aí, sempre que começo um livro, eu espero gostar dele. No caso de O Sol É Para Todos, da Harper Lee, eu não apenas queria gostar, eu queria amar e tatuar na alma, porque passei anos ouvindo apenas louvores apaixonados a ele por parte da minha amiga Taryne, cujo gosto eu me identifico e respeito pra caramba. Surpresa triste foi começar e terminar a leitura sem ter conseguido me conectar à trama, tampouco aos personagens. Foi especialmente difícil chegar na retrospectiva do final do ano e classificá-lo como a leitura irrelevante de 2013, mas eu precisava ser sincera: alguns meses depois, nem do plot eu lembrava mais. Mas eu sei que ele é bom. Sei que é apaixonante e sei que ainda irei tatuá-lo na alma, basta que a gente se reencontre na hora certa.

5) Eu tentei... (um livro que tentamos ler, mas não conseguimos)


Acho que O Coração das Trevas, de Joseph Conrad, é o livro da minha estante que mais acumulou tentativas fracassadas de leitura. Pelo que me lembro foram quatro - and counting, porque eu ainda não desisti. É um livro fino mesmo na edição de bolso, e muita gente o descreve como um relato de aventura desses impossíveis de se desgrudar, enquanto eu, aqui na minha insignificância, o defino como um relato impossível de se ler sem dormir. Acho que é pessoal, pois sua adaptação para o cinema, Apocalypse Now, é um filme que eu nunca consegui ver sem dormir, tanto que só vi inteiro quando dormi no começo e acordei pro fim. O problema é que apesar dos cochilos, eu acho o filme bom demais, e ainda acredito que quando eu chegar no fim desse livro, verei que todo o esforço e todos os anos terão valido.

6) Hã? (um livro que lemos e não percebemos nada OU um livro com final surpreendente)


Acho que sou meio idiota, porque sempre me surpreendo com o final dos livros que tem algo no final que surpreenda minimamente os leitores. Mesmo aquelas viradas de roteiro que tooodo mundo viu que aconteceria, eu confesso que só vejo depois que alguém abre meus olhos. Aí eu fico toda nooooossa, é verdade. Mas se deixar por minha conta, sempre vou levar um pequeno susto. No caso de A Esperança, parte final da trilogia Jogos Vorazes, da Suzanne Collins, um dos finais mais controversos das franquias famosas, o fim realmente me surpreendeu. Definitivamente didn't see that coming e ouso dizer que gostei. Não consigo sustentar meu argumento muito além disso porque a memória me falha, e também não quero dar spoilers, então apenas digo que acho finais agridoces muito bem-vindos.

7) Foi tão bom, não foi? (um livro que devoramos)


Acho Serena um exemplo emblemático quando o assunto é devorar livros porque ainda que ele não tenha ido embora em uma sentada (não tenho esse costume), foi um livro que li nuns três dias em plena viagem de férias para Fortaleza. Ou seja, eu tinha uma praia e um parque aquático à minha disposição, mas o livro me envolveu de tal forma que eu preferi ficar quietinha lendo. E eu sou uma pessoa que gosta de praia e parque aquático. Tinha medo de ler qualquer coisa outra coisa do Ian McEwan, porque Reparação é um dos meus livros mais favoritos da vida e eu o respeito por demais para deixar que seu autor se tornasse uma one hit wonder no meu coração. Mas o velho matou a cobra e mostrou o pau com Serena, que também poderia entrar na categoria de finais de cair o queixo.

8) Entre livros e tachos (uma personagem que gostaríamos que cozinhasse para nós)


Tá, quem cozinhou e me deixou com fome nesse livro não foi um personagem, mas eu preciso comentar o óbvio: a passagem de Liz Gilbert pela Itália, país que corresponde ao primeiro verbo do título de Comer, Rezar, Amar (um livro excelente que não tem nada a ver com auto-ajuda, parem de preconceito) me fez salivar nas páginas. Essa mulher passou uns bons meses vivendo de pizza, macarronada, gelatto, vinho e italianos gatos e certamente tirou um prazer sádico em descrever minuciosamente todas as delícias que experimentou por lá. Pizza é meu prato favorito, seguido muito de perto por lasanha e macarronada. Sorvete e vinho sempre vão bem, de modo que saindo da Itália Liz foi para sua jornada espiritual na Índia, e eu fui pra cozinha tentar dar cabo na larica.

9) Fast forward (um livro que poderia ter menos páginas que não se perdia nada)


Estou me aventurando no primeiro volume de Guerra dos Tronos há mais ou menos umas três eras geológicas, e às vezes tenho vontade de mandar uma carta pro George R. R. Martin lhe contando que ninguém precisa de tantas descrições de florestas ou de mantos. Mas não quero polemizar, até porque sei que não vi nada (imagina no terceiro volume!) por isso digo, dessa vez sem medo de errar, que Bling Ring, da Nancy Jo Sales, que nasceu como uma grande reportagem na Vanity Fair para depois virar livro, poderia muito bem ter continuado nas páginas da revista - que não foram poucas. Li ambos e acho que o livro só serviu para a história ficar prolixa e para que a autora enchesse suas análises de comentários bestas e julgamentos desnecessários sobre os personagens.

10) Às cegas (um livro que escolheríamos só por causa do título)


Eu não devia ter nem dez anos quando quis ler Lolita pela primeira vez. Não sabia nada sobre ele, mas esse título me atraiu logo na primeira vez que o li por aí. Gosto muito quando nomes viram títulos, seja de livros ou de músicas, e Lolita ainda intriga por ser um nome, ou apelido, pouco comum. Surpresa vou descobrir anos depois que logo na primeira página o autor fazia uma referência importante (e genial e inesquecível) a esse nome: Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. E se for pra citar alguma coisa que eu não li, mas que está na minha lista de leituras futuras unicamente por causa do título, posso citar Casei Com um Comunista, do Phillip Roth. Nem sei do que se trata, mas pelo título deve ser ótimo!

11) O que vale é o interior (um livro bom com a capa feia)

Vale um livro que eu ainda não li? Tem que valer, porque a capa de Lola e o Garoto da Casa ao Lado é horrorosa o suficiente pra ser um dos motivos pelos quais eu ainda não li o livro. Nunca ouvi ninguém falando mal dele e absolutamente amei o outro título da Stephanie Perkins, Anna e o Beijo Francês (outro com a capa feia, porém com limites), mas não tenho coragem de pagar por um livro tão feio e ainda não achei boa alma que me emprestasse. Sei que é besteira, mas sempre sinto que estou jogando dinheiro fora quando penso em comprar uma coisa tão horrorosa. Agora que tenho um Kindle não tenho mais desculpas e devo lê-lo em breve - até porque o terceiro livro dessa "trilogia" sai esse ano. Querida editora Novo Conceito, a menina Perkins merece mais cuidado!

12) Rir é o melhor remédio (um livro que nos tenha feito rir)

Falar que os livros da Sophie Kinsella são engraçados é chover no molhado, mas num tópico desses só consigo pensar em Fiquei Com Seu Número. Eu gargalhei várias vezes durante a leitura, inclusive dentro da sala de aula, e costumo ser bem chatinha com humor. O legal desse livro é que ele nos faz rir naquele sentido puro de achar uma graça absurda em todas as situações, quando o humor não se concentra apenas no texto ou então em algum personagem que existe para disparar tiradas espirituosas.

13) Tragam-me os Kleenex, faz favor (um livro que nos tenha feito chorar)

Acho complicado falar sobre isso, porque ao mesmo tempo que é muito difícil me fazer rir durante uma leitura, me fazer chorar é a coisa mais fácil do mundo. Eu choro com absolutamente tudo. Mas já que preciso citar algum, fico com o que acredito que tenha sido meu choro mais marcante: Para Francisco, da Cristiana Guerra. Foi marcante porque eu estava marotamente dando uma folheada ainda na livraria e quando vi eu estava chorando. Não com os olhos cheios d'água, mas chorando, precisando de um lenço pra assoar o nariz, e sentindo uma dor muito sincera e genuína. Já faz muito tempo, mas esse livro ainda é um dos mais tristes e bonitos que li.

14) Esse livro tem um V de volta (um livro que não emprestaríamos a ninguém)


Não tenho muita questão com emprestar meus livros, até porque pentelho tanto as pessoas para ler as coisas que eu andei lendo e gostando que seria meio estranho recomendar e depois recusar o livro. Não gosto muito de ceder meus paperbacks, porque eles já são frágeis e até o manuseio mais cuidadoso detona os bichinhos. Mesmo assim, se pedir com jeitinho eu libero. No entanto, minha edição importada, em capa dura e autografada (!) de The Fault In Our Stars é um objeto de excessiva estima e ciúmes. Já emprestei uma vez,  e confesso que cheguei a recomendar ao meu amigo que não o cheirasse demais, porque até o cheiro dele é diferente dos outros (sim). Esse amigo cuidou muito bem dele, mas preciso dizer que fiquei muito feliz e aliviada quando guardei ele de volta na estante.

15) Espera aí que eu já te atendo (um livro ou autor que estamos constantemente a adiar)


Fiquei muito feliz quando ganhei esse livro de presente da Milena, no primeiro amigo secreto da história da Máfia, mas a felicidade veio acompanhada de uma certa apreensão. Como bem definiu a Tary, se está na estante é uma promessa, o que significa que um dos trabalhos mais emblemáticos da Virginia Woolf me aguarda em algum ponto do futuro. Tenho muita curiosidade com o trabalho da autora e tenho aqui um livrinho de artigos dela que vivo lendo, mas seus romances ainda me assustam. É bem provável que eu comece com algo mais tranquilo, como Mrs. Dalloway, mas é fato que um dia lerei As Ondas. Entra ano, sai ano e eu digo que aquele será o ano da Virginia Woolf na minha vida, mas os meses passam e suas ondas ficam ali me observando ressabiadas da estante.

Indico o meme para quem quiser responder (me avisa pra eu ver!), mas especialmente para Flá, Kamilla, Amandoca, Fernanda, Ana e Tadsh! Espero que gostem =)

Aquele com as bicicletas

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Ou: se não desse errado, não seria a gente

Algumas ideias nascem erradas, com a cara torta e verruga no nariz. Outras, mais astutas, se disfarçam muito bem de epifanias geniais e demoram um pouco mais para tirar as máscaras, tal qual Anjelica Houston em Convenção das Bruxas. As bicicletas que o Itaú instalou na orla das praias da zona sul carioca seguiram direitinho essa segunda cartilha, e se mostraram tão falhas como a ideia de ir de Copacabana até Ipanema pela ciclovia pareceu brilhante depois de um almoço em frente ao mar.


Antes, uma observação: cariocas são bonitos, bacanas e dourados, igualzinho a Adriana Calcanhoto nos ensinou. Há exceções, não duvido, mas é difícil não ficar com essa ideia entronizada depois de ver um número assustador de pessoas caminhando, correndo e sendo saudáveis na rua, às seis e meia da manhã de um feriado. 

Então, depois de passar três dias vendo aquela gente bronzeada mostrando seu valor mexendo o esqueleto sempre que parecia apropriado, achei absolutamente natural quando uma das meninas sugeriu que ao invés de ônibus, usássemos as bicicletas para chegar na praia de Ipanema. Era uma etapa óbvia no processo de carioquização express, mais significativa até que todas aquelas (muitas) vezes que eu forcei a barra com meu sotaque forçado. Sdds frexicão.  

No entanto, as bruxas começaram a revelar suas verdadeiras faces quando ficou sabido que algumas mafiosas não andavam de bicicleta. Porque a gente é bicha movida pela filosofia de que ou vamos todas ou ninguém vai, e foi esse pequeno obstáculo que me mostrou que aquilo ali não estava certo. Fomos checar o que era necessário para alugar uma bicicleta e só tivemos mais problemas. 

Teste básico: se o cerumano responsável por bolar um sistema para o empréstimo de bicicletas numa cidade que recebe turistas o ano inteiro (e que vai sediar uma Copa & uma Olimpíada) você fosse, que tipo de esquema você proporia?

a) (  ) Dá um sorrisão e tá tudo beleza;
b) (  ) Coloca um tio pra cobrar dois reais a hora e fechou balada;
c) (  ) Terminalzinho bacana e funcional onde as pessoas se cadastram e conseguem liberar a bike pra andar numa boa até o próximo ponto e demorô é noix;
d) (  ) Exija um cadastro prévio ou obrigue o colega a ter um smartphone pra baixar um aplicativo, numa zona sem wi-fi, que vai liberar a bicicleta. Pra manter as aparências, pague um funcionário pra ajudar, mas garanta que ele só vai mandar todo mundo resolver qualquer coisa pelo telefone, inclusive se o seu problema for regular a altura do banco.   

Foi numa esperteza ímpar que a galera do Itaú deu um sorrisão e escolheu a alternativa D, coisa que me deixou tão nervosa que a vontade de andar de bicicleta na praia sumiu em dois tempos. Não prestei muita atenção no mal estar que estava rolando devido ao fato de nem todo mundo saber andar de bike porque eu jurava que não sairíamos dali sob duas rodas de jeito maneira. Quando eu lembrava da Clara, da novela, felizona andando com a tal laranjinha (vocês me respeitem) pela cidade, ficava mais nervosa ainda. O negócio é que enquanto eu amaldiçoava o responsável por aquilo mentalmente, nosso grupo se dividiu e eu perdi a chance de evitar a fadiga com aquelas bicicletas.

Depois de uns 40 minutos entre aplicativos que não carregavam, zonas que se recusavam a aparecer e bicicletas que não constavam no sistema, liberamos nossas magrelas. Talvez seja a hora de confessar que meu desconforto com aquela situação tinha uma raiz mais profunda, que não era o sistema imbecil e nem o fato de algumas amigas terem ido chateadas no ônibus, mas sim um receio que eu tinha de não saber mais como andar de bicicleta. Eu sei daquela máxima que todo mundo repete, que esse é o tipo de coisa que a gente aprende uma vez e nunca esquece, mas meu histórico de azar e absurdos é tão extenso que pra eu tombar pro lado na primeira pedalada não custava nada.


E lá fomos nós, eu, a última da fila, vendo minhas amigas com uma enorme desenvoltura atravessarem a rua montadas nas bicicletas, eu, ali sentindo os olhos do Rio de Janeiro com seus cariocas bronzeados e bacanas sobre mim, eu, já com uma vergonha antecipada de um mico que parecia inevitável, pedalei. Pedalei para provar que os deuses, nossas avós e os tios do churrasco nunca estiveram tão certos: a gente não desaprende a andar de bicicleta.

Isso, no entanto, não significa que foi tudo muito fácil. Eu nunca tinha andando numa bicicleta com marchas na vida e demorei até entender como aquilo funcionava. Aliás, mais complicado mesmo foi sentir segurança para fazer qualquer coisa que não pedalar, eu ali muito concentrada em não atropelar ninguém ou me esborrachar no calçadão, enquanto minhas belas amigas brincavam com a campainha, conversavam, tiravam fotos e se sentiam infinitas. Me senti a pessoa mais inepta do mundo ao ver Giuliana Rebeca de braços abertos para o Crixto Redentor ao pedalar, enquanto eu andei por quase 10 minutos com o óculos de sol no meio da testa, feito uma idiota, porque não conseguia tirar uma mão do guidão para dar uma mãozinha pra minha dignidade, tão necessária no ambiente com a maior densidade demográfica de caras bonitos e atléticos que eu estive em muito tempo. 

Preciso ser justa e dizer que nem tudo foram espinhos: ali no meio do caminho eu já estava mais relaxada e consegui curtir a aventura e o ambiente. Afinal, depois de tanto estresse, pra algum propósito aquilo tinha que servir. Serviu pra eu morrer de inveja dos cariocas que tem aquilo todo dia, serviu pra eu relembrar a sensação maravilhosa que é andar de bicicleta, serviu pra eu odiar um pouquinho a minha cidade que não é nada acessível pra esse meio de transporte, e serviu, no fim das contas, para termos essa história pra contar. Porque a gente se mete em roubadas pensando que aquilo no fim vira um texto.

Mas o mais importante mesmo foi chegar ao final da jornada e ter a gente.


Ódio em família

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Existe essa história que é contada há anos na minha família, que é o caso da Tia Galiana. Tia Galiana era a tia-avó da minha avó, o que faz dela minha tia-bisavó, se é que isso existe. E aí que minha avó conta que já velha e meio senil, Tia Galiana passava o dia inteiro vendo novela e, bastião da moral e dos bons costumes como só tias-bisavós bem velhas e meio caducas conseguem ser, Tia Galiana assistia suas novelas só para falar mal de tudo que era inapropriado nas tramas. Até aí normal, quem nunca, né? O problema é que um dia a Tia Galiana ficou tão transtornada de ódio por um personagens que foi lá e quebrou a TV com um pedaço de pau. 

Pois é.

Tenho pensado muito em Tia Galiana nos últimos meses, e Em Família é a razão disso. Odiei a novela desde a primeira semana, com sua trama que não faz o menor sentido e seus personagens que, um por um, mereciam ser mortos por pauladas da Tia Galiana. Apesar disso, me apeguei muito à novela, assisto todos os dias e fico tristíssima quando perco algum capítulo, do tipo estar com amigos num sábado à noite e mesmo assim ficar pensando no Cadu e na Verônica, etc. 

Depois de meses reunindo muito ódio no meu coração, vim hoje destilar tudo aqui com vocês, ao melhor estilo Morri de Sunga Branca. Então pega aí o seu colar de fênix, um pedaço de pau, a bossa nova de sua escolha, e vem comigo!


Luiza
Por que odiar:
Bruna Marquezine. Que criatura detestável, não lembro de uma personagem dela que não me tenha feito revirar os olhos. Meu sonho era mandar a Salete engolir o choro. Sendo assim, já odiava antes da novela começar, mas Luiza fez questão de fazer por merecer. Veja bem, o problema não é ela ter se apaixonado pelo grande amor & grande trauma da vida da mãe. Às vezes algumas pessoas erradas são mais erradas que as outras. O problema é que o Laerte foi a grande desgraça da família dela, por ser tão controlador e possessivo que tentou matar o Virgílio, vulgo pai da Luiza, por conta de ciúmes. E não foi qualquer tentativazinha de homício não, o Laerte enterrou o homem vivo, sabe? A Luiza sabe disso, mas mesmo assim insiste em se fazer de Julieta moderna e jura que o fato de ninguém apoiar seu relacionamento não passa de uma querela insignificante. Então o problema é que a Luiza é BURRA, e minha tolerância com gente burra é bem pequena. O problema é que a Luiza é arrogante, e acha que todo mundo que está contra ela, está errado. O problema é que ela está sendo desleal com a mãe e com o pai, e fica choramingando porque eles não vão abençoar seu casamento. O problema é que ela chora em todos os capítulos, o que significa que estou há mais de dez anos sonhando em mandar ela engolir o choro.

Laerte
Por que odiar:
Típico Homenzinho de Merda™, o Laerte jura ser o centro da vida de todas as mulheres. Ele não apenas acredita nisso, como trata todas como se elas existissem em função dele, para agradar ele. Assim, no relacionamento com a Helena ele era ciumento e controlador ao extremo. E por isso que, mesmo não amando a Verônica, ele ficou anos com ela, porque era conveniente, porque ela fazia tudo por ele - do mesmo modo que ele sempre abusa do amor e da loucura da Shirley quando lhe é conveniente, sem nunca dar nada em troca. Seguindo essa cartilha, a Luiza será descartada assim que não for mais tão interessante, assim que ele provar pro Laerte (e pra Helena e pro Virgílio) do passado que ele pode ter a mulher que ele quiser. Ou pelo menos até outra mulher aparecer - e já apareceu, né? Corra para as montanhas, Lívia!





Helena
Por que odiar:
Louca de pedra, que pessoa transtornada. Claramente não superou o Laerte apesar de tudo, e mesmo antes de tudo explodir, ela não passou um capítulo sem falar dele. É claro que a Luiza decidiu ficar com ele por conta própria, mas é bem plausível que ela tenha sido instigada pela mãe, que tanto falou, tanto alertou, que pra uma menina mimada como aquela foi a mesma coisa que pedir pelo amor de Deus pra ter Laerte como genro. E mesmo falando o dia inteiro sobre o monstro psicopata que ele é, Helena guarda uma caixa de recordações com lembranças do relacionamento dos dois. Inclusive o vestido de noiva que ela usou quando viu o noivo ser preso, evento seguido pela morte do próprio pai. Isso que é abraçar o passado sem pudores.

Virgílio
Por que odiar: 
Não é porque agora ele resolveu bater no Laerte e se recusou a abençoar o casamento da filha que Virgílio não seja um banana. A situação só chegou a esse ponto porque ele ficou o tempo todo falando: filhinha, papai vai ficar meio chateado se você namorar o homem que tentou me matar, mas o importante é você ser feliz. Agora é tarde, queridão. Virgílio viu que o caldo ia entornar, mas só passou a mão na cabeça da filha e resolveu bancar um apartamento pra ela morar sozinha. Tá serto.


Clara
Por que odiar:
Primeiro por causa do figurino. Qual é a daqueles bodys medonhos? Imagina se essa moda pega, como pegou o tal do esmalte azul e como ainda vai pegar o atual esmalte verde? E aquela capinha de celular? Qual a real necessidade disso tudo? Se a agressão estética não for suficiente pra você, tem o adicional da Clara ser aquele tipo odiável de pessoa praticante do famigerado não-te-quero-mas-não-te-largo. Em outras palavras, Clarinha acha de bom tom enrolar duas pessoas enquanto decide o que quer da vida, sem ser sincera com nenhuma delas. De um lado tem Cadu, o marido, pra quem ela todo dia promete que vai se esforçar ao máximo para salvar o relacionamento dos dois. Do outro lado tem a Marina, que só não larga mão da obsessão porque a Clara não se deixa ser esquecida. Até ela criar coragem para bancar seus sentimentos, temos que assistir a bonita fazer malabarismo com os dois do jeito mais covarde possível e ainda por cima mal vestida. Detesto gente brega.

Alice
Por que odiar:
A menina descobre que é fruto de um estupro. Ok, um trauma, ninguém nega isso. O que ela faz? Corre pra gritar na cara da mãe, que supostamente é uma mentirosa que não tinha o direito de esconder isso. Depois, a menina resolve ir atrás do cara que estuprou a mãe. Ok, cada um lida com os traumas do seu jeito. O que ela faz? Força a mãe a reviver toda a história, ainda que a Neidinha tenha dito várias vezes que não se sentia confortável identificando suspeitos e contando a história pra todo mundo. Entendo que a Alice quer ajudar a mãe a superar tudo isso, mas ela precisa entender que um trauma dessa dimensão precisa ser respeitado, e que ela não tem o menor direito de forçar a mãe a nada. Menina impertinente, e ainda por cima com a voz insuportável. Só podia ser melhor amiga da Luiza.

Dona Chica
Por que odiar:
A família inteira estava de pernas pro ar, mas mesmo assim o único problema que ela parece se importar é com a ex-mulher psicopata do marido. Deixa a Helena cuidar do filho alcoólatra, deixa a Helena dormir abraçada com o vestido de noiva, deixa a Clara brincar de uni-duni-tê com os sentimentos dos outros, deixa a Selma com seus sintomas neurológicos que não fazem o menor sentido, deixa a Juliana cismar que é mãe de uma menina que já tem família. Afinal, o maior problema da vida dela é a Branca. O pior é que quando dona Chica tenta ajudar, só piora: cês lembram de quando ela chegou pra Luiza e disse que ela não podia ficar com o Laerte porque a Helena ainda gostava dele?

Branca
Por que odiar:
A única função dessa mulher é falar mal do ex-marido e da atual esposa do ex-marido. E implicar com a filha. Nas horas vagas, Branca arma planos para tentar ferrar a vida do Ricardo e ameaça transformar todo mundo em pedra com seus olhos injetados de Medusa.



André
Por que odiar:
Tenho vontade de esfregar a cara desse menino no asfalto. Não respeito gente ingrata que tem vergonha da própria mãe. Sem falar que, quando estava com a Luiza, era o namorado mais mala do mundo. Sei que a Luiza não era fácil, mas é difícil ter disposição pra namorar um cara que só reclama e te cobra atenção.

Mãe do André
Por que odiar:
Ouve cobras e lagartos do filho e ao invés de virar-lhe a mão na cara e dizer EU QUE TE CRIEI, SEU CREIÇO, ela vai e pede desculpas.

Marina
Por que odiar:
Tenho mais pena do que raiva, porque sei que a Clara não é fácil. Mas como disse, tenho tolerância reduzida com gente burra. E pra mim, pessoa que coloca a vida no pause por conta de um quase-romance e ainda por cima acha que desaforado é o mundo que não parou de girar por causa disso, é burra. Com quinze anos, ok, mulher feita não dá pra aceitar. Além disso, quero enfiar uma meia suja na boca da Marina sempre que ela se refere à Clara como Clarinha, principalmente quando ela fazia isso e as duas nem se conheciam direito.

Vanessa
Por que odiar:
Seu cabelo é bonito demais. Me sinto horrível sempre que vejo seus cachos ruivos exuberantes. Além disso, a única função dela na novela é falar mal da Clara pra Marina. Pessoa chata, ninguém é obrigado.

Sílvia
Por que odiar:
Aquela boca. Vamos conversar sobre a boca da Bianca Rinaldi, porque quando ela aparece em cena é a única coisa que eu consigo prestar atenção. Pensei que poderia ser implicância minha, mas nem precisei dar enter na pesquisa do Google pra perceber que eu não era a única incomodada. Quando consigo desviar o foco da boca para a personagem, só vejo duas coisas: 1) ela investindo descaradamente no paciente casado e 2) ela sendo incapaz de disfarçar que não suporta o noivo. A impressão que a gente tem é que ela preferia ser pisoteada por uma manada de búfalos a casar com ele, e ela nem esconde.



Juliana
Por que odiar:
Todos os personagens dessa novela são meio doidos, mas a Juliana era uma daquelas que eu pensava que a loucura estava no roteiro. E no começo parecia estar mesmo, com a obsessão doentia pela filha alheia e aquele papo de ser a nova mãe da Bia. O que me surpreende é que o resto do elenco achava isso muito normal, só pedia pra que ela adotasse a menina dentro dos conformes legais. Como se adotar uma criança que tem pai, avó e família fosse uma coisa super normal. Agora que ela conseguiu a menina, acabou finalmente grávida e não pode mais sair de casa, levantar da cama ou ser encostada por ninguém porque meu Deus, ela tá grávida, e gravidez é a nova doença do milênio.

Pronto, me sinto mais leve. Vocês ainda estão vivos? Pra que ninguém desista dessa blog ou quebre o próprio computador com um pedaço de pau - uma versão millenial do episódio da Tia Galiana - vou falar dos únicos personagens que amo nessa novela:

Cadu, Ivan & cadela Ariana
Por que amar:
Porque, putz, como o Gianecchini é lindo, né? Ele sempre teve uma beleza bem inquestionável, mas acho que nunca me concentrei no fato de que ele é muito lindo mesmo até essa novela. Talvez seja o cabelo grisalho, talvez seja o figurino bacana, talvez seja o sorriso, o charme ou a cara de cachorro abandonado, mas sei que sempre que ele aparece todo o resto some e eu fico suspirando. O Ivan é outro lindo, uma criança que não seguiu a cartilha Bruna Marquezine de ator mirim insuportável. Se tem um troço que me irria é a tal da criança prodígio nas novelas. O Ivan é fofo sem fazer força, e isso é um alento. Já a cadela Ariana eu amo primeiramente porque ela não tem falas, e do jeito que o texto do Maneco anda péssimo, isso já é um alívio. E depois porque é um pastor alemão criado dentro de um apartamento, e se a gente for pensar em escala, é a mesma coisa que um lobo gigante de Game Of Thrones em pleno Leblon. What's there not to love?


Manifesto pelo direito de ler o que eu quiser

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 Eu poderia estar vendo a temporada nova de Orange Is The New Black, eu poderia estar dormindo, eu poderia estar descendo até o chão ao som de Countdown ou então terminando de ler Eleanor & Park. Mas resolvi vir aqui defender o YA. 


Pra quem não sabe, YA é a sigla pra young adult, gênero literário supostamente voltado para jovens adultos  na faixa dos 12 aos 17 anos. Não é de hoje que esse nicho é não apenas subestimado, como também visto com um certo desdém, e essa semana saiu um artigo muito do idiota que dizia, logo no título, que adultos deveriam se sentir envergonhados de ler esse tipo de coisa. Não vou colocar o link aqui, porque agora sou dessas, mas a pérola é da revista Slate e sei que vocês são espertos, vai ser fácil encontrar - mas eu realmente sugiro que você use seu tempo vendo um clipe da Beyoncé.

Ruth Graham, a autora, argumenta basicamente que ela, uma adulta com A maiúsculo, merece mais do que a literatura jovem oferece. Porque, afinal, ela cresceu, foi promovida a gente grande, e isso fez com que a adolescente que ela foi um dia fosse rebaixada a uma esfera de existência necessariamente inferior. Isso fez também com que ela se tornasse boa, completa e complexa demais para se identificar com a experiência de um adolescente. Por isso que ela, do alto do seu pódio de Adulta, leu A Culpa É Das Estrelas com a mão no queixo, pensando que era uma história bem gracinha para jovens de 13 anos, mas que pra ela não oferecia nada mais que motivos para suspirar, revirar os olhos e exclamar "Oh brother!" a cada virada de página.

Ou seja, é uma condescendência muito da cretina, e essa visão é mais comum do que a gente imagina. À medida que crescemos, temos uma tendência a subestimar a experiência das pessoas mais novas, como se ela fosse menos importante ou não tão significativa quanto aquilo que vivemos agora. É o que nossos pais fazem quando defendemos apaixonadamente um ideal e ouvimos de volta que aquilo é coisa da idade, olha só que gracinha. É aquilo que a gente faz com nossos primos mais novos, quando eles reclamam da sétima série e a gente diz espera só até você chegar na faculdade, cê ainda não viu nada.

Acho crescer e amadurecer coisas muito importantes, só temos a ganhar com isso. A passagem do tempo é uma benção nas nossas vidas, se bem aproveitada. Acho que o importante é sempre tentarmos ser pessoas melhores do que fomos ontem. Só que eu acho também que crescer não nos autoriza a cuspir na cara daquilo que fomos, como se crianças e adolescentes vivessem experiências menos importantes ou significativas, a ponto de só merecerem uma revirada de olhos e uma risada de desdém, como se elas só fossem dignas da empatia dos seus próprios pares. Se você é uma pessoa que se acha boa demais para aprender com a experiência de alguém mais novo que você, ainda que seja para acertar as contas com aquela pessoa que você foi um dia, só me resta concordar com Allison Reynolds:

Disclaimer: contrariar essa declaração é um dos meus objetivos de vida
Trazendo a discussão pro lado literário da coisa, deixa eu contar uma história. Eu lia muito quando era mais nova, era basicamente uma das únicas coisas que eu fazia da minha vida, junto com assistir The OC e Dr. 90210. Já ganhei mais de uma vez um prêmio na escola por ter sido a aluna que mais pegou livros da biblioteca em um determinado ano. Já cheguei a ler toda a seção infanto-juvenil da biblioteca da escola. Foi logo quando zerei esse departamento, ali pelos meus 13 anos, que comecei a ler Livros de Gente Grande. Na minha época (a voz da experiência falando) a literatura juvenil não era tão forte como hoje, e eu nem conhecia muita coisa além de Harry Potter e Meg Cabot. Além disso, minha avó tem uma coleção enorme de livros que sempre foi meu sonho de consumo, e assim como a Ruth, olha só que coisa, eu não via a hora de encarar aqueles livros. 

Pulei da coleção Vagalume e do Cachorrinho Samba direto pra Machado de Assis, Eça de Queirós, Clarice Lispector, Ian McEwan e até Dostoiévski. Gostei de algumas coisas, me apaixonei por outras, e é bem provável que eu não tenha entendido nada na maioria delas, mas eu lia. Lia, sobretudo, porque eu gostava de ler e não fazia muita distinção do que aparecia na minha frente. E nesse ritmo eu fui até uns 18, 19 anos, quando comecei a ter mais contato com YAs e percebi que tinha uma deficiência séria no meu histórico de leitura, que era justamente não ter lido literatura jovem o suficiente. Foi todo um novo mundo que eu descobri e foi uma coisa que aconteceu quando eu deixei de ser o público alvo desse tipo de publicação. 


E nessa minha missão de recuperar o tempo perdido no maravilhoso mundo YA, eu li muita coisa boa. Li coisas ruins também, mas eventualmente tropeço em livros ruins desde que aprendi a ler, então suspeito que não seja um privilégio do gênero. Ler coisas como Fangirl e Nada Dramática permitiu que eu entendesse melhor a adolescente que eu fui, que é parte inexorável dessa criatura que sou hoje. Ler A Culpa É Das Estrelas me ensinou muito sobre duas das coisas que mais me assustam nesse mundo: o inevitável fim de qualquer coisa que seja, e o fato de não termos o menor controle sobre o que acontece com a gente, principalmente quando é algo ruim. E agora eu estou lendo Eleanor & Park, e tem sido uma experiência de leitura tão maravilhosa que, mesmo deitada no sofá da minha casa, eu me sinto dentro de um filme do John Hughes em que toca Joy Division sem parar.

Essas impressões podem ter a ver com escapismo, nostalgia ou simplesmente com satisfação pessoal. A nossa colega Ruth observa isso e aponta o dedo na nossa cara, nos acusando do crime hediondo que aparentemente é sentir prazer lendo alguma coisa, um tipo de prazer que não está associado à suposta honra que é consumir Grande Literatura. E eu digo: e daí? Não acho que tais características sejam sinônimos de fraqueza intelectual, e muito menos considero uma falha de caráter gostar de ler alguma coisa porque aquilo faz com que eu me sinta sinta bem. Mas para ela, literatura de verdade não pode ter personagens gostáveis e nem finais felizes, e Deus nos livre de uma literatura que seja ao mesmo tempo entretenimento. 


Shakespeare escrevia para massas de analfabetos e foi incrivelmente popular, e romances nasceram de histórias publicadas nas páginas dos jornais para entreter as pessoas. Jane Austen é consagradíssima e a maioria das seus livros tem um final feliz. E se esse tipo de desfecho é realmente um problema, talvez Ruth precise reler alguns títulos que citou no seu texto, porque eu não sei muito bem em que parte de ACEDE existe um felizes pra sempre. Holden Caulfield e Esther Greenwood, personagens de J.D.Salinger e Sylvia Plath, respectivamente, se enquadram no perfil de jovens adultos, e quando penso numa adaptação moderna de O Morro dos Ventos Uivantes, imagino um romance complicado entre o bad boy e a garota mais popular da escola. 

Estou aqui escrevendo nomes importantes na tentativa de falar a mesma língua da Ruth, de modo que fique explícito o quão reducionista e preconceituosa é sua argumentação. Mas, de verdade, acredito muito que a gente pode e deve ler o que quiser, a diferença é o que tiramos de cada experiência de leitura - seja uma iluminação sobre a condição humana ou então o prazer inenarrável que é shippar um casal como se sua vida dependesse desse enlace. Sem medo, vergonha ou culpa, a não ser que isso faça mal a alguém. A vida é muito curta para desencanarmos de Harry Potter aos 17, e eu nunca teria conhecido o John Green ou a Rainbow Rowell se tivesse me limitado à biblioteca consagrada da minha avó.

Se é que isso importa, queria esclarecer que ler YAs não me colocou numa zona de conforto literária, muito menos me fez uma pessoa acomodada. Continuo lendo Livros de Gente Grande, e ainda tem muita coisa nesse mundo que eu quero ler. E quando alguém vem me dizer que tem medo de alguma obra importante e consagrada, meu conselho é sempre o mesmo: encare-a como aquilo que ela essencialmente é, ou seja, um livro que conta uma história que você pode ou não gostar e se divirta. Memórias Póstumas de Brás Cubas sempre vai ser uma das coisas mais engraçadas que já li, e Anna Karenina é uma novela das seis deliciosa, ninguém pode negar.

A máxima de viver e deixar que leiam, ou ler sem dar satisfações, contém uma ideia muito simples que, se fosse amplamente aceita, nos pouparia um bocado de aborrecimentos. Eu poderia, inclusive, ter deixado por isso mesmo (caberia num tuíte), mas acho a discussão importante e queria muito saber a opinião de vocês sobre o assunto.

E se você quiser se aprofundar nessa discussão, vou deixar três links bacanas: Não queria ter essa conversa de novo, em que minha incrível amiga Milena discorre sobre literatura jovem; Book Girls e seu mundo que é mais complicado que elas, que são mais complicadas que seus livros; esse artigo que defende, baseando-se em exemplos, que YAs podem sim ter todas as características que qualquer Livro de Gente Grande supostamente tem. 

Notas do buraco negro #2: vai ter Copa sim!

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Alguém aí lembra da minha tentativa falida de criar nesse blog uma tradição de posts periódicos nos quais eu compartilho coisas bacanas que andei lendo nesse mundão velho sem porteira que é a internet? Pois é, eu também não lembrava. O negócio é que há uns dias (na verdade, já tem mais de um mês) eu comecei a compartilhar vários links no Twitter (na verdade, foram dois) com coisas interessantes que eu li naquele dia, e isso me fez pensar que poderia ser uma boa dividi-los no blog só que opa, eu já tinha tentado isso antes. Mesmo sendo tão relapsa, algumas pessoas (na verdade, foi uma só) apoiaram a ideia e por isso o Notas do Buraco Negro volta com uma edição extraordinária especial sobre a Copa do Mundo.

Sim, vai ter Copa mesmo, já tá tendo Copa pra valer. E se brincar, vai ser tanta Copa que não vai sobrar pra Rússia em 2018. 

Talvez já tenha dado pra perceber que eu amo Copa do Mundo. Amo mesmo. O fato de a Copa ser realizada no Brasil, com todas as discussões, protestos, atrasos e problemas que vem sendo pauta há mais de um ano, me deixou com mixed feelings sobre a coisa toda. Tenho minhas ressalvas, e não são poucas, mas não consegui fugir da euforia coletiva e agora só penso, falo e sonho com isso. Vou deixar aqui com vocês algumas leituras que fiz sobre esse assunto nos últimos meses e vocês me contam nos comentários o que pensam sobre tudo isso.

"Elite brasileira usa a Copa do Mundo para mostrar seu descontentamento em ser brasileira": O Maurício Savarese é um jornalista brasileiro que mora nos Estados Unidos e mantém esse blog sobre o Brasil, em inglês, para informar a galera lá de cima sobre o que acontece aqui. Gostei muito da forma como ele analisou o discurso contra tudo isso que tá aí adotado pelas classes mais altas, que vem desde as manifestações do ano passado, e que abraçou com força o movimento anti-Copa. Achei lúcido, bem didático e toca em vários pontos interessantes. 

"Meninas em jogo", reportagem em quadrinhos da Agência Pública:  Sou muito muito muito fã do trabalho da Pública. Sabe aquele tipo de coisa que a gente quer fazer quando crescer? Então. Dessa vez, a empreitada foi fazer uma reportagem toda em formato de quadrinhos, e a investigação era sobre o turismo sexual focado na exploração de menores, ampliado nessa época de Copa. É um tema bem dolorido, mas que precisa ser abordado e o resultado é bom demais. 

"Há um clima pessimista no ar e um desejo, tanto à direita quanto à esquerda, de limar todos os discursos a favor do Brasil. Compreende-se: os serviços públicos são precários, há corrupção nos governos, basta abrir o jornal ou a janela para darmos de cara com horrores de todo o tipo. Mas será que a saída é desistir e admitir que foi tudo uma ilusão? Machado de Assis, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Villa-Lobos, o concretismo, Niemeyer, João Gilberto; nada presta, promessas falsas, roncos de um motor de arranque que não fez nem jamais fará o carro dar a partida.

Talvez seja bom colocar nossos mitos à prova, negar a pátria, como se nega o pai, para nos tornarmos adultos. Talvez, porém, fosse prudente ficar atento para não jogar a criança com a água do banho: o Brasil é foda, mas a bossa nova, como cantou Caetano Veloso em seu último disco, também é."

Em"O Álbum da Copa", pra variar temos o Antonio Prata falando por mim. Não entendeu meus mixed feelings ali no primeiro parágrafo? Leia essa crônica que o moço desenha.

"Bend it like a brasileiro", jornal indiano falando de um Brasil além dos estereótipos: Sou meio viciada em acompanhar o que a imprensa internacional escreve sobre o nosso país. Amo esses textos com curiosidades, que falam sobre costumes - ainda que a maioria deles peque pela generalização. Achei essa lista curiosa primeiramente porque é de um veículo indiano, coisa que não costumo ler, e outra porque comenta alguns de nossos costumes além dos clichês. Já pararam pra pensar que café da manhã só se chama café da manhã porque a gente bebe MUITO café? O texto tem falhas, como considerar que vivemos uma democracia racial (risos eternos), mas mesmo assim é divertidinho.  

"Pardon anything", por Gregório Duvivier: Gente, eu adoro muito o Gregório. Fico bem chateada quando vejo vocês fazendo troça dele na internet. Falando em costumes, essa crônica  é bem sensacional. Me senti muito contemplada e penso seriamente em tatuar"Put some farofa. It's delicious" em alguma parte do meu corpo, porque se tem uma coisa que eu amo, acredito, defendo e recomendo nessa vida, essa coisa é a farofa.  

O jornalista dinamarquês: Mesmo se eu não gostasse de acompanhar gente de fora falando do Brésil, seria difícil passar incólume ao caso do jornalista dinamarquês que desistiu de cobrir a Copa e virou meme na internet. O assunto é batido, mas as coisas explodem (e desaparecem) tão rápido na agenda de polêmicas diárias que queria resgatar a stalkeada marota que o jornalista brasileiro Igor Natusch deu no nosso colega escandinavo, e as conclusões que ele tirou disso. O trabalho que ele fez pela graça da coisa fica de lição pros jornaleiros como euzinha, de sempre investigar exaustivamente qualquer história antes de sair replicando e de apurar direito e largar de ser besta.

Essa história do jornalista dinamarquês, o gringo que viu o que os gringos não devem ver, foi aproveitada até pelo ótimo Is Wilco Coming To Brazil. Porque se tem uma coisa que gringo não vê nunca, é o eterno não do Wilco pras nossas terras. Aliás, os memes do site estão sempre de parabéns. É muito bom saber que eu não sofro sozinha.

via Is Wilco Coming To Brazil
História animada relembra a Copa de 50 e o Maracanaço:  Último link gringo, eu juro. O NY Times mandou um de seus ilustradores pra cá, pra investigar um pouco sobre a alma brasileira do futebol. Nessa empreitada, o Christoph Niemann acabou descobrindo a história da Copa de 50, aquela que estava ganha, até que o Brasil perdeu pro Uruguai no Maracanã, no último mundial realizado no país. É um guia ilustrado e animado bem divertido e muito bem feito, vale muito a leitura.

Tinder na Copa: O nome é meio que auto-explicativo. Na ausência do saudoso Gatos da Copa (pelo menos ele continua no ar, pra gente relembrar dos bons momentos de 2010 e ver quem melhorou, quem embarangou, etc), nos contentamos com esse Tumblr que compila os achados maravilhosos que esse mês de loucura, caos e euforia nos reserva. Uma pena que Uberlândia só seja cidade sede da minha preguiça.

 "10 causos que a Copa de 2014 já eternizou":  Vi isso no Twitter ontem e fui feito besta caçar link de todas as notícias. Felizmente, uma boa alma compilou tudo com os links e agora está tudo reunido, pronto pra vocês. Meu caso favorito é o do cachorro adotado pela seleção da Bósnia, mas também morri de rir com a galera da Alemanha na maior integração com a comunidade indígena na Bahia. Só faltou nessa lista a notícia maravilhosa do jogador inglês que ficou esquecido no hotel


"Inspirações pra você passar a Copa da forma mais brega possível":  Sigo a Bic Muller no Twitter e há meses ela tem compartilhado tudo quanto é tipo de cafonice verde e amarela que vocês podem imaginar.  Fui no perfil dela caçar algumas fotos pra colocar aqui e quando vi ela fez um post reunindo o creme de la creme do espírito de porco alheio. Amo Copa, adoro torcer, mas odeio essa combinação de cores e quero vomitar sempre que vejo looks de torcida na vitrine das lojas ou quando tentam me vender um jogo de maquiagem verde e amarelo.

10 músicas sobre futebol melhores do que as músicas tema da Copa:  Por conta do sucesso de "Waka Waka", que me fez dançar loucamente ao longo do ano todo de 2010 (e 2011, 2012, e a música tá no meu iPod até hoje), estava ansiosa para conhecer as músicas tema desse ano. Aí veio aquela lástima de Claudinha Milk com Pitbull (gente) e J.Lo, e nem a música que a Shakira lançou depois conseguiu salvar. Esse link reúne 10 músicas nacionais sobre futebol e se for pra escolher uma, fecho totalmente com o MC Guimê - a Nina Lemos também escreveu sobre isso. A música gruda, o clipe é ótimo e a temática tem total a cara do Brasil.


"Não estou dizendo que devemos liberar a Joana Havelange que  em cada um de nós: "o que tinha que ser roubado, já foi". Nada tinha que ser roubado. Que se ponha atrás das grades queroubou. Que se aproveitem todos os holofotes mundiais para se esticar faixas e cartazes contra o estado das nossas escolas e dos nossos hospitais, a falta de moradias e de transporte. Mas, a partir da semana que vem, Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Klose, Eto'o, Drogba e tantos outros estarão jogando em nossos gramados. Os maiores jogadores do mundo, no maior espetáculo do futebol. Se privar de viver essa experiência, seja nos estádios, nas praças, nos bares, em casa ou mesmo durante uma justíssima manifestação, pela internet do celular, não fará o Brasil melhor, só deixará sua vida mais chata."

Antonio Prata, de novo, e sempre, dizendo que vai ter Copa e vai ter toldo também!


Porque não dá pra viver só de novela: as séries do momento

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A Tadsh inventou esse meme utilidade pública no qual devemos contar um pouquinho sobre as séries que estamos acompanhando no momento. Digo utilidade pública porque estou passando por uma fase que eu jamais imaginei que viveria: estou sem séries para assistir. Quer dizer, estou vendo algumas coisas, mas bem menos do que estou acostumada - não tenho muito foco na vida, então assisto 35 séries ao mesmo tempo e levo três anos para terminar séries que as pessoas levam no máximo três semanas. Mas no último ano eu fiquei órfã de Dexter, Breaking Bad e How I Met Your Mother, de modo que minha agenda televisiva reduziu bastante. Então, adorei ser convidada para contar um pouco sobre as sobreviventes, mas vou adorar mais ainda ler as respostas que pipocarem por aí. Sugestões nos comentários são sempre bem-vindas! 

Repasso para: Tary, Mimi e Larie.

Parks & Recreation


Parks & Recé a série atual que eu mais gosto, e é minha comédia favorita - obviamente atrás de Friends, mas Friends é hors concours. Lembro que via as propagandas na Sony e ficava pensando que não fazia o menor sentido que uma série sobre funcionários públicos de um departamento que ninguém se importa, em uma cidade bizarra que ninguém conhece, fosse interessante. Ainda bem que me enganei, e sou eternamente grata à Tary, que tanto insistiu até que me convenceu a dar uma volta por Pawnee e me apaixonar por tudo que existe lá. Os personagens de Parks são entusiasmados e apaixonados, e isso faz com que todos sejam absurdamente apaixonantes. E engraçados. E inspiradores. É um elenco que funciona muito bem, e o que eu acho mais lindo é que os relacionamentos mais incríveis da série são os de amizade - e olha que ela vem com o brinde de um dos ships mais fantásticos da história. Sinto que cresci e abandonei Seth Cohen pra me apaixonar perdidamente por Ben Wyatt e sonhar em ser alguém como Leslie Knope. Aliás, Amy Poehler, rainha do universo, lidera um rol de personagens femininas bem sensacional, e ainda temos Rob Lowe no elenco, pra encantar entusiastas dos anos 80.

Orange Is The New Black


Se Parks é a comédia do momento, Orange Is The New Black fica com o posto de melhor drama atualmente no ar. Ok que a série tem um senso de humor incrível, mas a segunda temporada chegou semana passada pra mostrar que vai ter muito tiro, porrada e bomba por aí. O que mais gosto nela é que ela parte de uma proposta que deixa abertura pra um desenvolvimento clichê e estereotipado e, episódio por episódio, desconstrói tudo isso. Porque veja bem, com uma protagonista branca, bem educada e de classe média que vai parar na prisão por conta de seus dias de porra louquice pós-faculdade, a ideia imediata que vem à mente é de que as outras detentas vão ser personagens-acessório, ali só para que ela cresça e se redima a partir dessa nova experiência. Só que, como eu disse, esse desenvolvimento fácil é desconstruído com muita competência e coragem, e o que temos são personagens complexas e incríveis, com todo o rolê marginalizado representado com direito a uma construção que vai além daquilo que inicialmente as diferencia. Fico muito feliz que exista uma série assim, que seja ainda por cima sobre mulheres e que traga tanta diversidade pras nossas telas. No momento, minha personagem favorita é a Taystee. 

Modern Family



O título diz tudo: a proposta de Modern Familyé trazer pra TV americana as novas configurações familiares que já existem há muito tempo, mas que não tem a visibilidade apropriada. O núcleo Dunphy-Prichett integra o pai coroa que casou de novo com uma mulher mais nova e imigrante latina; o casal gay que adota uma criança asiática; e a família """tradicional""" com papai, mamães e três filhos. O que mais amo na série é que ela consegue ser MUITO engraçada e muito tocante. Gosto de comédias que também fazem chorar, e eu choro horrores vendo Modern Family. Acho os dramas muito reais e adoro muito que eles são abordados com profundidade e muito realismo, apesar da leveza que o tom cômico dá pra tudo. É filmada no estilo mockumentary, com os personagens dando depoimentos pra câmera, e adoro muito quando eles começam a falar uns dos outros pelas costas.

Game of Thrones



Taí uma série que eu jamais imaginei que iria gostar. Não sou muito fã de fantasia, épicos, etc, e resisti enquanto pude aos apelos dos amigos que, um a um, se rendiam à disputa pelo trono de ferro. Li o primeiro livro mês passado e me apeguei demais, provando que estava certa a menina Gabriela Couth que definiu a série como um "Harry Potter adulto". São dois pesos e duas medidas, claro, mas devorei o primeiro livro com tanto gosto que acho a comparação possível. Agora estou vendo a primeira temporada e achando tudo absurdamente fiel e bem da forma como eu imaginava na minha cabeça. Sei que não vai ser sempre assim, mas por enquanto o saldo é positivo. Quero ler o segundo livro antes de ver a segunda temporada e assim por diante, mas não sei se vou aguentar por muito tempo, principalmente porque meus amigos estão em dia com a série e simplesmente não falam de outra coisa.

My Mad Fat Diary


Única série adolescente que estou vendo, para o meu pesar (aliás, vocês tem alguma indicação bacana?). Em compensação, é uma das melhores que eu já vi. A história gira em torno da Rae, uma garota gorda que, depois de sair de uma clínica psiquiátrica, precisa reaprender a viver como uma adolescente normal ao mesmo tempo que faz as pazes consigo mesma. A discussão que a série faz de body image e auto-estima é boa demais, e os papos da Rae com seu psiquiatra servem como drops de terapia pra quem assiste. A série é britânica e rola toda uma vibe Skins, e é sensacional porque se passa nos anos 90, então tem referências estéticas e de cultura pop maravilhosas. O texto é esperto e bem engraçado, e a trilha sonora é demais. Um detalhe que pode ser bom ou ruim é que My Mad Fat Diaryé muito curta: duas temporadas de seis episódios cada, e ninguém sabe se vai ser renovada. Sim, a TV britânica sapateia nos nossos corações sem dó e por isso até hoje não tive coragem de ver a segunda.

O limbo




Duas séries que antes eu curtia pacas se perderam muito em suas últimas temporadas: Downton Abbey e Grey's Anatomy. A primeira foi muitíssimo bem e se sustentou por três temporadas sendo minha novela das seis aristocrática favorita - o problema foi o fim do seu terceiro ano. Estou com a mão no queixo e coração partido sem entender até agora, e não vejo muito sentido em continuar vendo. Até tentei acompanhar a quarta temporada, mas é tudo tão sem propósito que não sei se quero continuar. A outra amargando o purgatório é Grey's Anatomy. Só Deus sabe como eu já amei Grey's nessa vida, todo o tempo, lágrimas e estabilidade emocional que eu já investi nessa série. O problema é que Shonda Rhimes é uma transtornada que não tem o menor respeito pelos seus personagens - o que é bem irônico, se a gente for pensar que o ponto mais forte da série está justamente neles - e depois de dez temporadas vendo ela matar gente a torto e a direito, eu cansei. A série já acabou, já esgotou suas possibilidades e perdeu uma das atrizes mais importantes do elenco. Não vejo por que continuar. Abandonei porque preciso, deixei de lado porque amo muito e não quero perder o respeito.

O gargarejo




Duas séries que só vi o piloto, mas que pretendo continuar a ver: Devious Maids e Les Revenants. A primeira é uma espécie de Desperate Housewives, só que o foco é na vida das empregadas latinas das famílias americanas nos subúrbios chiques. É uma novela mexicana americana (?) com tudo de bom e ruim que a premissa reserva. Fui fisgadíssima pela latinidade da série, e não resisto a nada do nicho tão ruim que é maravilhoso. Já de Les Revenants eu confesso que não lembro de muita coisa, porque vi o piloto há muito tempo. É algo com mortos que voltam e ficam perambulando pelo meio dos vivos, e é francesa e tem uma vibe gótica maravilhosa. Tem só uma temporada, então estou esperando um dia que eu acorde mais mórbida que o normal para assistir tudo de uma vez. 

O choro é livre

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Ou: A Culpa É Das Estrelas não é uma história de amor

Sexta feira eu tive um momento. 

Estava tudo indo bem, até que não estava. Fui assistir A Culpa É Das Estrelas mais de uma semana depois da estreia - e a impressão que eu tinha era que todo mundo já tinha visto o filme, menos eu - porque não queria dividir minha emoção com muitas pessoas, e nem queria que o excesso de emoção alheia atrapalhasse minha catarse particular. 

Se você chegou agora, um fato importante: esse livro mexeu muito comigo. Tenho uma relação especial com a história desde que a li pela primeira vez, em 2012. Amei e senti absurdamente da primeira até a última linha, e até hoje não consigo explicar objetivamente o por quê. Claro que sei citar as características literárias que fazem desse livro do John Green um grande livro, mas não é por isso que gosto dele. Nesses dois anos, já ouvi muitas críticas negativas sobre ele, algumas que eu reconheci, outras que eu desprezei, e outras que só posso atribuir à realidade (que pode ser cruel ou muito bem vinda) de que uma coisa pode me emocionar muito, mas não significar nada pra outra pessoa. Todos esses pontos de vista conflitantes não me fizeram amar o livro menos, mas esse amor tampouco me ajudou a defendê-lo com a mesma paixão que me fazia chorar só de falar a respeito. Eu gostava do livro porque sim. Eu amava aquela história porque não conseguia me distanciar para pensar racionalmente sobre ela. 

Na época escrevi um post sobre o livro que entitulei de "Por que a gente é assim?", no qual eu falava de pessoas que tem relações anormais com a ficção. Foi assim que comecei a me aproximar da Hazel, protagonista de A Culpa É Das Estrelas, que atravessa um oceano pra encontrar o autor do seu livro favorito porque ela precisa saber o que acontece com os personagens depois do fim. Só que eu entendo os motivos específicos da Hazel para permitir que um livro de ficção mexa tanto com sua vida, entendo a urgência que a fez escrever várias cartas para Peter Van Houten, sei por que a única coisa que ela queria na vida era ir para Amsterdam se encontrar com ele. Mas e eu, o que eu tinha a ver com isso? Por que eu não poderia ser uma pessoa normal que segue com a vida, dá meia volta, e vai comer uma torta inteira de amora no jantar?

Sério, qual a necessidade disso? (r: toda)
Enfim, fui ver o filme e, como eu disse, estava indo tudo muito bem, na medida do possível. Eu ria e chorava quando era para rir ou chorar, eu estava encantada com a forma como a Hazel e o Gus saltaram das páginas do livro pra ganhar vida através da Shai e do Ansel, eu estava achando o Nat Wolff bem gato, estava sofrendo no museu da Anne Frank, e repetindo junto com os personagens as linhas do livro que foram inseridas de forma perfeita no roteiro - e isso só comprova o que eu senti desde o começo das filmagens, que acompanhei desde o início pela internet: que aquele era um filme feito por uma equipe que tinha muito amor e respeito pela história que estava sendo contada ali. 

Estava indo tudo muito bem, e eu era só uma garota vendo uma adaptação perfeita de um dos livros favoritos, que calhou de ser um livro bem triste. Só que as coisas ficaram muito intensas, e muito rápido, e foi então que meu momento começou. 


De uma choradinha que estava no protocolo eu passei pra um choro com soluços, bem inconsolável. E eu não era a única: como foi aparentemente regra em sessões no mundo (!) todo, a ponto de virar motivo de chacota (vocês me envergonham), a sessão inteira chorou bastante. Entre os meus soluços eu sentia o Matheus chorando do meu lado, ele que nem gostou do livro tanto assim, e o homem do meu lado chorava copiosamente também, ele que ganhou minha antipatia gratuita porque tentou roubar meu lugar e ainda me derrubou Coca-Cola. 

Fiquei pensando em todas as pessoas que estavam comigo naquela fila enorme que transformou meu jantar num sanduíche do McDonalds enfiado goela abaixo numa velocidade recorde, todas elas no escuro chorando junto comigo. O filme quer que a gente chore sim, tem todos os recursos no lugar certo pra que ninguém saia dali sem borrar a maquiagem, mas eu gosto de acreditar que existe algo de mais universal numa história que tem o poder de comover tantas pessoas, que vai além de closes na cara de personagens que sofrem e uma música da Birdy tocando no fundo. Se até nas cabines de imprensa era possível ouvir os soluços - e, como o Ricardo Calil escreveu, crítico é um bicho sem coração - o que sobraria para os reles mortais?

Fiquei nessa vibe bacana até o filme terminar, e depois que ele acabou eu demorei até sair da sala. Andei pelo shopping fechado de braços cruzados olhando o nada, e quando o Matheus tentou puxar papo eu mandei ele ficar quieto, porque eu estava tendo meu momento. Não sabia ainda qual era a daquele momento, mas agora eu vejo que eu tinha acabado de sentir que aquilo tudo tinha, sim, muito a ver comigo.

Não tenho câncer e nem estou apaixonada por um cara que vai morrer em breve, muito menos fui convidada pelo meu escritor favorito para tomar um chá com ele e ouvir sobre os personagens do meu livro do coração depois que ele acaba. Mas a minha vida também vai acabar no meio de uma frase, daqui 5 minutos ou 50 anos. E o mundo vai continuar girando quando eu não estiver mais aqui, para o bem e para o mal. Como a Tatiana escreveu numa resenha sobre o livro que mexeu muito comigo, "não é desnecessariamente triste nem nada. É a porra da vida. É assim mesmo, você acha que está tudo lindo e dá merda. Talvez seja por isso que dói". Assim é a nossa vida inteira, tá tudo bem até que não está mais e não tem nada que a gente possa fazer com relação a isso. A gente não escolhe se vai sair machucado desse mundo, não é Gus? The world is not a wish-granting factory. 


Essa ideia me paralisa de medo de vez em quando, mas é ao mesmo tempo muito libertadora. Não existe muito o que se fazer com relação ao inevitável senão seguir em frente, um infinito de cada vez, um pequeno, outro um pouquinho maior. Vamos ajeitando como dá, fazendo o melhor com os nossos dias numerados, e tentando ser grato no final. Se dermos sorte, não vamos querer trocá-lo por nada. E fim.

Me senti idiota, porque estava na minha cara o tempo todo. A Milena já escreveu e eu amo repetir, mas esqueço às vezes: todas as histórias são sobre nós. There is no shortage of fault to be found amid our stars. E pra todo o resto, o choro é livre. 


Okay. 

Soy loca por pipoca e... café?

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Arroz de festa de Copa como sou, acho bem irônico não ter no armário nenhuma camiseta do Brasil. Acho a camisa da nossa seleção uma das mais bonitas, de verdade, mas já me conformei que amarelo não me favorece e deixo passar (mas se alguma marca estiver a fim de me enviar uma de presente, eu aceito com a maior alegria e não verei problemas em andar por aí com cara de anêmica). Assisto aos jogos ora de verde, ora de azul, e levo a sério essa coisa de não combinar com o time adversário: não deixei ninguém aqui em casa usar verde no dia do jogo contra o México e já estou tristíssima com a perspectiva de jogo contra o Chile, porque vermelho é minha cor favorita.

Acho que não, hein
(via Buzzfeed)
Não sou de comprar acessórios também, tipo perucas, cartolas, cornetas ou laços gigantes. A Analu me chamou pra tirar uma foto creiça de Copa com ela e acho que uma parte do seu coração farofeiro morreu por dentro quando eu contei que não tinha nada de ridículo e mega divertido pra torcer. Também não tenho o costume de decorar a casa para a Copa: nada de bandeira na janela, no carro e muito menos almofadas temáticas. A camisa canarinho pode até cair bem em alguns felizardos, mas verde e amarelo na decoração da casa é um desastre bem universal. Se minha mãe não decora a casa nem pro Natal (quando eu era criança, ela me deixava pendurar umas luzes e bolinhas nos vasos de planta e olhe lá), o que sobra pra um evento de futebol?

Hoje, nem julgo mais. Acho que pior que verde e amarelo, só mesmo o verde e vermelho do Natal. 

E mesmo vindo de um berço pouco ortodoxo e nada chegado nessas tradições da família brasileira, aqui em casa temos um rito especial que se repete a cada quatro anos que me faz sentir que sim, tá tendo Copa pra caralho e demorô é noix: pipoca com café.


Eu sei, eu sei. Eu tenho vinte anos e deveria estar vendo jogo num bar, enchendo o focinho de cerveja ou qualquer outra coisa que os jovens fazem hoje em dia. Mas, desde a primeira Copa que eu tenho lembrança, aquela de 2002 em que me acordavam às três da manhã pra ferver e ver jogo, eu aprendi que jogo do Brasil é sinônimo de pipoca. E café. Acho que a pipoca nem pede muita explicação, mas concordo que o café não é a escolha mais óbvia do mundo. Demorei pra entender o apelo, confesso, mas depois que me juntei aos bons, vi que não existe combinação mais certa - e dá uma azia depois que é uma maravilha, sinto como se tivesse mesmo enchido o focinho de cerveja.

Outro motivo para tão apaixonada defesa de tão excêntrica combinação, é que pipoca e café são duas das (se não as únicas duas) minhas especialidades culinárias. Eu faço uma pipoca maravilhosa e um café sensacional. Gosto de valorizar essas pequenas coisas, sem qualquer traço de modéstia ou culpa cristã, porque a maioria das pessoas subestima uma boa pipoca e um bom café. Quando digo que sei fazer os dois, e muito bem, as pessoas riem da minha cara como se eu estivesse me gabando de fazer um ótimo miojo com tempero artificial de galinha caipira, como se nunca tivessem comido uma pipoca ruim ou tomado um café aguado. 

O que pouca gente sabe é que existe toda uma ciência envolvida, toda uma bossa nova, todo um rock'n'roll, toda uma arte moleque pouco reconhecida, expressa naqueles momentos em que eu acho que a pipoca precisa de um outro dedo de óleo, ou que o café pede uma colher a mais ou menos de pó, sem nenhum motivo aparente. Pipoca e café são como os zagueiros da culinária pra quem não entende muito de futebol. Na nossa ignorância, acompanhamos sempre o meio de campo, pois já nos cantou o pensador contemporâneo Samuel Rosa que é lá que ficam os craques que vão levando o time todo pro ataque. A gente mal sabe o nome dos zagueiros e só nota a presença deles quando alguma coisa dá errado, da mesma forma que o café, e principalmente a pipoca, só tem destaque na lembrança do público médio (excluindo-se os entusiastas gourmets) quando são ruins.

Por isso que o David Luiz é meu jogador favorito nesse time do Felipão, e o Lúcio é o cara que eu mais sinto falta nesse time. Eles ficam lá no fundo fazendo o serviço deles sem pedir muito confete, do mesmo modo que uma boa pipoca de panela se destaca silenciosamente nos estômagos e corações daqueles que tiram um tempo pra pensar que pipoca de microondas é uma excrescência da modernidade, pior ainda se for daquelas com sabor. Pipoca boa é aquela que suja os dedos, fica entre os dentes, é salgada na medida certa e é o apoio que você usa para analisar linhas de impedimento ou observar o time adversário bater escanteio. Enfie vinte pipocas de uma vez na boca e seja feliz. 

Quanto ao café, confio no critério de vocês para reconhecer sua superioridade dentre as outras bebidas. Cafeína é a droga lícita mais maravilhosa que existe, dissolvendo lentamente aquela pontada de dor de cabeça que se esconde embaixo de todo cenho franzido e dando o gás necessário para que a gente não entregue os pontos e dê um cochilinho naquele segundo tempo meio preguiçoso. Vai que a gente perde o gol?

No próximo jogo do Brasil (sábado taí!!!), querido leitor, faça como a família Rocha, coma pipoca acompanhada de café e depois venha me contar se gostou. Ou não. Só não me vá vestir vermelho!

David Luiz curtiu esse post

Books & songs

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Há um tempinho a Tary me chamou para postarmos possíveis músicas-tema para alguns dos nossos livros favoritos. Trilha sonora é um dos meus assuntos favoritos no mundo inteiro (aliás, escrevo uma coluna quinzenalmente no Move That Jukebox apenas sobre isso, hehe #publi) e acho que ser supervisora de trilha sonora na produção de algum filme ou seriado é uma das minhas profissões dos sonhos. Acho que muitos livros mereciam muito vir com uma mixtape em anexo, mas, ao mesmo tempo, é legal ter a liberdade de criar um pano de fundo musical baseado na sua própria experiência com a história e os personagens. Escolhi então alguns títulos e suas respectivas trilhas, espero que gostem do resultado. A brincadeira foi inspirada numa série de vídeos feitos pela Raeleen, do canal padfootandprongs07 lá no Youtube.

Não vou repassar a brincadeira para ninguém em específico, mas quem quiser postar também, sinta-se à vontade - e deixe o link pra eu ler também!


As everything I need is denied me, and everything I want is taken away from me, but who I got to blame? Nobody but me

Vacaciones & The Good Life: Esse livro é uma compilação dos posts que a Polly escreveu em seu blog entre 2004 e 2007 (depois pulando para 2013), contando as histórias de suas andanças inconsequentes pelo mundo. Tem uma parte em que ela diz que se fossem fazer um filme sobre sua vida, a primeira cena seria aquele momento em que ela dança no banheiro da rodoviária de Curitiba, lugar pra onde foi porque não tinha nenhum outro pra ir. Eu quase conseguia ouvir "The Good Life", do Weezer, tocar nesse momento, e não é coincidência que essa seja a banda favorita da autora. O livro inteiro tem muito a cara de Weezer, e acho que essa música é a que mais o representa.



And I tried last night to pack away your laugh like a key under the mat, but it never seems to be there when you want it

Eleanor & Park & Black Treacle: Eu escrevi um texto inteiro sobre a trilha sonora desse livro, que é absurdamente musical. A própria Rainbow Rowell fez não uma, mas quatro playlists pra ele. Adoro tudo que é citado na história, assim como adorei tudo que a autora escolheu na hora de construir os personagens e seus momentos, mas quero dar meu pitaco: passei o livro inteiro com a sensação que se a história fosse contemporânea, tanto a Eleanor como o Park seriam fãs do Arctic Monkeys. Acho o "Suck it and see" totalmente a cara deles e a veia romântica do Alex Turner nesse disco combina demais com o Park. Imagino ele escrevendo trechinhos de "Black Treacle" nos cadernos da Eleanor.



It doesn't mean that I don't care, it means I'm partially there

Como Falar com um Viúvo & Please Be Patient With Me: Ouvi essa semana que o Wilco faz músicas para homens em crise de meia idade. Discordo absolutamente (até porque é minha atual banda preferida, e eu não me recordo de um distúrbio de personalidade que tenha me transformado num careca de 46 anos chamado Carlos Alberto), mas não posso negar que algumas músicas e letras combinam sim com esse tipo de crise. Doug Park (falei sobre o livro lá na Lado M) tem só 29 anos, mas o fato de ter perdido a esposa num acidente de avião fez com que ele avançasse umas casas no jogo da vida, se entregando ao Jack Daniels e à auto-comiseração. Essa música do Wilco é a trilha perfeita para os momentos em que ele se conecta com outros personagens do livro (seus pais, a irmã, o enteado) e sente vontade de ser uma pessoa melhor.



Hoje eu sei que quem me deu a ideia de uma nova consciência e juventude tá em casa, guardado por Deus, contanto vil metal

Aos Meus Amigos & Como Nossos Pais: Os personagens desse livro foram jovens subversivos na época da ditadura, e uns 20 anos depois se reencontram e são obrigados a se confrontar com o que o tempo fez deles. A verdade é que a maioria abandonou as antigas lutas e ideais e se acomodou numa vidinha pequeno-burguesa, mais ou menos como a geração dos seus pais, que eles tanto criticavam. E é basicamente isso que essa música discute, numa toada que tem tudo a ver com a época do livro. Acho que ela conversa especialmente bem com a história da Lena e do Ivan.



We might be hollow, but we're brave

Paper Towns & 400 Lux: Ainda não conhecia a Lorde quando li Paper Towns, mas bastou ler a letra dessa música pela primeira vez para pensar automaticamente em Quentin e Margo andando de carro por Orlando durante a madrugada e aprontando altas confusões. A letra fala sobre andar de carro por aí ao léu, fala sobre tédio e a monotonia das casas iguais do subúrbio e acho que esse espírito tem tudo a ver com esse momento dos dois, principalmente com aquilo que a Margo poderia estar sentindo antes de fugir, combinado com os sentimentos de Quentin por ela.


But now we must pick up every piece of the life we used to love just to keep ourselves at least enough to carry on

A Culpa é das Estrelas & Holland, 1945: O livro só cita a banda fictícia The Hectic Glow, que é a favorita do Gus. Tem gente que a associa a The Mountain Goats, a banda favorita do próprio John Green. A trilha sonora do filme, por sua vez, seguiu uma onda mais acústica que não me impressionou muito, senti que sobrou melodrama e faltou energia. Essa música do Neutral Milk Hotel me lembra muito a história da Hazel e do Gus: além de se referir diretamente à Anne Frank e todas as pessoas que morreram jovens demais por conta do Holocausto, ela fala sobre morte e perdas de modo geral, e é difícil não associar ela ao livro.



You hurt her but you don't know why, you love her but you don't know why.

Alta Fidelidade & Misunderstood: Outro livro que tem uma trilha sonora pronta (e eu já escrevi sobre ela e o filme), poderia citar a óbvia "Let's Get It On", do Marvin Gaye, e convidar vocês para dançar igual o John Cusack com os bracinhos pra cima, ou então qualquer música do Al Green. Mas se fosse pra eu escolher alguma coisa pra ele ouvir, seria essa do Wilco, que tem muito da melancolia e do sentimento do Rob de não pertencer ao lugar que nasceu, e evoca algo de suas relações com as ex-namoradas que ele procura ao longo da história. Aliás, esse plot é bem um sintoma de crise de meia idade e a música dialoga muito com isso, não dá pra negar. Talvez meu amigo tenha razão e no fundo eu tenha um pouco de algum careca de cenho franzido chamado Carlos Alberto. 

É uma metáfora

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Hoje começa mais uma semana de crônicas aqui no blog, dessa vez especial Copa do Mundo. A Copa está quase acabando, e eu senti uma necessidade absurda de registrar aqui o que foi viver o mundial mais legal de todos os tempos, mesmo do sofá e do Twitter. Espero que gostem da brincadeira!

Sou uma pessoa que gosta de metáforas, que as procura em tudo quanto é canto e quase sempre encontra, e por isso me sinto autorizada a dizer que acredito que elas sejam muito mais uma questão de retórica do que de analogia. Não sei o que Peirce teria a dizer sobre isso, mas eu acho mesmo que dá pra metaforizar qualquer coisa se você for bom de lábia o suficiente para sustentar a proposta.

Já o Nick Hornby, mais do que acreditar nas metáforas, acredita no futebol, muito, obsessivamente, e isso faz com que ele transforme essa fixação não só na espinha dorsal de sua história pessoal, que é o mote do seu livro Febre de Bola, como também numa grande analogia com a própria vida. E eu, sendo entusiasta de metáforas, da literatura do Nick Hornby, e do futebol, só consigo concordar com ele em absolutamente todos os paralelos traçados ao longo do livro (que eu estou adorando!) e vou além, me sentindo encorajada por ele para tirar minhas próprias conclusões exageradas e passionais.

Foram muitas desde que essa Copa maluca começou, mas a principal delas é a de que, tal qual a vida, o futebol é uma coisa terrivel e cruelmente injusta, e muito mais cheio de nuances do que um placar que conta quantas vezes cada time fez a rede balançar consegue exprimir. 

Estou falando, claro, do jogo de ontem da Holanda contra o México. Gosto muito das duas seleções e assisti a todos os seus jogos. Não sabia para quem torcer no início, mas os rumos da partida foram me deixando cada vez mais apegada com a seleção mexicana. Eles estavam visivelmente melhores na partida e a Holanda passou bons sufocos. Me pareceu muito lógico eles terem marcado no início do segundo tempo, mais lógico ainda quando, depois de almoçar correndo, eu voltei pra sala e vi que faltava menos de 10 minutos pro jogo acabar e o placar se mantinha. Eles iriam se classificar e mandar a Holanda pra casa. Eu não veria mais o Van Persie na minha TV, mas eu respeitava muito aqueles merricanos em campo. Foi então que, faltando seis minutos pro apito final, o jogo sofreu uma reviravolta digna de novela mexicana.


A Holanda marcou dois gols nesses seis minutos, um golaço do Sneijder e outro de pênalti, que tem gente duvidando se foi legítimo. Pessoas mais entendidas que eu comentaram que o México recuou e por isso levou, e mesmo que tenha sido exatamente isso, não consigo não achar o resultado injusto. Enquanto eu fazia um esforço muito grande para não chorar, meu pai deu um suspiro de uma tranquilidade quase profana e disse: futebol é assim, filha, quem não faz, toma, e o jogo só acaba quando termina; eles não fizeram, eles tomaram, e agora eles estão de fora. 

O mundo é mau, e a Holanda é pior ainda
Só que não é tão simples assim, ao menos não na minha cabeça. Racionalmente, claro, faz todo o sentido, mas eu nunca tive pretensão de ser uma pessoa pragmática. Aliás, pragmático mesmo é meu pai, e um dos motivos, talvez o único por trás de todas as nossas divergências de opinião, vem exatamente disso: ele enxerga o mundo de um jeito preto no branco, e eu insisto em focar no cinza. Meu pai é um cara liberal, que acredita no mercado, na individualidade, e adora esse papo de mérito. Eu arrepio os cabelos da nuca só de ouvir falar nisso. Enxergo os fatos concretos como a ponta do iceberg que flutua acima de um contexto mais denso e complicado, que determina a envergadura e todas as outras características daquela pontinha visível. 

O que me deixa desgraçada das ideias é que, tanto no futebol, como na vida real, a única coisa que aparentemente importa é essa pontinha do iceberg, que diz muito pouco sobre as coisas como elas são. E às vezes isso faz do futebol uma coisa horrível, como a própria vida consegue ser horrível vez ou outra. Vemos times dominando um jogo inteiro para perder tudo em poucos minutos, e seleções indo para casa por conta do erro dos outros, como foi o caso do Irã naquele jogo contra a Argentina. Sempre tem um asno sem limites pra estragar tudo pra todos, como fez o Suárez, e tem gente que nada, nada, nada e morre na praia, como aconteceu com a Argélia hoje. 

É impossível dissociar o futebol das nossas vidas, e acho que talvez seja justamente sua narrativa dramática e imprevisível que faz dele um esporte tão popular, de apelo mundial. O resultado não necessariamente reflete a partida, ele está inteiramente sujeito aos erros humanos, as coisas mudam de um segundo pro outro, e você precisa dos outros para que dê certo. É horrível, violento e nos faz sofrer, mas nos conecta aos outros de formas inimagináveis, servindo como uma espécie de argamassa nessa nossa realidade hipermoderna fria e distante, e é cada lance inacreditável que, quando dá certo, nos deixa com uma euforia gostosa, e a certeza de que é uma das melhores coisas do mundo. 

Num dos capítulos do livro, o Nick Hornby descreve seu dia perfeito e seu ideal de perfeição vai muito além do seu time vencer com uma vantagem de dois gols, mas envolve o clima da torcida, o que ele almoçaria e até a forma como seu pai estaria vestido. Ao longo de sua vida até então, esse dia perfeito tinha acontecido uma única vez, e isso só mostra, mais uma vez, como o autor está certo quando compara o futebol com a nossa experiência humana, pois é uma das melhores medidas encontradas para traduzir essa grande piada que vivemos. 

O Arsenal era um time bom demais, o gol do Charlie foi espetacular, a torcida, naquele dia, estava lá em peso e curtindo de montão o desempenho da equipe... Aquele doze de fevereiro aconteceu  de verdade, exatamente do jeito que eu descrevi, mas somente o fato de ter sido um dia atípico é que importa agora. A vida não é, nem nunca foi, uma vitória de 2 a 0 em casa contra os líderes do campeonato depois de comer na lanchonete. 

{Febre de bola - Nick Hornby, pg. 76}

Esse hábito de sofrer

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Do pré até a oitava série, estudei com um garoto que aqui chamaremos de Jonas Alexandrino. Uma das coisas mais relevantes que se pode dizer sobre o Jonas Alexandrino é que ele era corintiano, realmente corintiano, literalmente desde criancinha. Não lembro muito das outras inclinações futebolísticas da minha turma na época, só sei que tinham muitos flamenguistas, alguns cruzeirenses, e que Jonas Alexandrino, se não fosse o único corintiano, era o mais zoado deles. E, por mais que eu tivesse meus motivos para querer zoar o Jonas Alexandrino e achar que ele merecia um pouco do deboche, eu admirava a lealdade quase estoica com que ele suportava a encheção de saco e ainda se orgulhava do seu time. Pedro negou Jesus três vezes, e mesmo quando o Corinthians foi rebaixado, o Jonas Alexandrino foi pra escola com a camiseta do time embaixo do uniforme. 

Eu e ele nunca nos demos bem e brigamos em todos os oito anos que estudamos juntos, mas eu sempre achei o máximo a sua relação com o time, que acabou se estendendo pra uma admiração pelos corintianos em geral. 

Nunca tive muita paciência pra acompanhar o futebol brasileiro, e minha família nunca foi disso. Por isso, nunca tive um time do coração. É isso que eu dizia pras pessoas quando o papo era futebol, mas a verdade é que eu não me achava capaz de suportar a prova sofrida de lealdade que é torcer pra alguém. Por muito tempo fui dessas que torcia pra quem estava ganhando, e comemorava como se tivesse sido criada enrolada numa bandeira, mas bastava um revés no jogo para que esse romance subisse no telhado e eu terminasse tudo por SMS.

Não me orgulho disso, mas também não me condeno. Eu demorei a perceber que, no futebol, sofrimento é a regra, e nunca a exceção, e ninguém nasce gostando de levar na cara, muito menos por vontade própria. Um dia comentei com amigos que eu gostava muito do Corinthians porque as tragédias dos seus torcedores beiravam a poesia, e eu sou totalmente a favor dessas poesias involuntárias que a gente encontra na esquina de casa ou esquecida na arquibancada, por mais forçadas que pareçam. 

O que eu só percebi com essa Copa é que sofrer e suportar não é privilégio ou sina dos corintianos, mas sim um verso tão universal quanto Vinícius falando de amor.

Ajuda Luciano Felipão

Essa é a primeira Copa que eu acompanho todos os jogos, na medida da minhas possibilidades. Isso significa que eu assisti quase todos até agora, mesmo, acho que perdi uns 5. E o que eu percebi foi que o jogo de qualquer seleção, mesmo um Irã contra Nigéria, me dava mais prazer do que ver um jogo do Brasil. Aliás, até agora, não fiquei bem em nenhum dos jogos do Brasil, são sempre os piores dias da semana. A culpa disso não é do Felipão, nem do Thiago Silva ou do Paulinho, mas foi minha postura que mudou. Pela primeira vez, acho que estou me entregando de verdade aos jogos e passo 90 minutos (ou mais) no limite entre a glória e a desgraça. 

Perto do final da partida, eu me preparei pro sofrimento que me engolfaria por inteiro, como havia acontecido no jogo contra o Swindon. Estava com quinze anos, e cair no choro não era uma possibilidade como fora em 1969; eu me lembro de ter ficado com as pernas levemente bambas quando soou o apito final. Não lamentava pelos outros torcedores ou pelo time, mas por mim mesmo, embora perceba, hoje, que todo o sofrimento com futebol é assim. (...) parece inconcebível, ali, que algum dia a gente vá se permitir ficar tão vulnerável outra vez. Sentia que não tinha mais coragem de ser um torcedor. Como encarar uma coisa dessas de novo? Será que eu ia ser obrigado a voltar a Wembley a cada três ou quatro anos, o resto da vida, pra me sentir daquele jeito?

{Febre de Bola - Nick Hornby, pg. 96}

No jogo do último sábado, eu sofri como nunca. Assisti o jogo com amigos e tinham mais ou menos umas 15 pessoas na festa. Dessas 15, só umas quatro estavam realmente se importando com aquilo - o resto tava ali pela farra, torcendo pros feriados no meio da semana não acabarem, no máximo. Eu não abri a boca nem pra gritar da segunda metade do segundo tempo até o fim da prorrogação, e quando aquele chute do Chile bateu na trave faltando dois minutos pra prorrogação acabar, eu senti uma tristeza tão genuína que meus olhos encheram de lágrima. Minha amiga, uma das quatro que se importavam, pegou no meu braço e disse assim: se tivesse entrado a gente tava fora. Engoli essa ideia como se fosse um tijolo de gelo, que só foi derreter sábado a noite, e que voltou a se solidificar hoje. Sexta-feira tem mais e ninguém sabe onde isso vai dar, e eu não sei se tenho coragem de passar por isso de novo, se eu quero mesmo fazer isso comigo.

Somos Todos Thiago Silva
É claro que eu quero, é claro que eu vou, porque a essa altura, já estou por demais envolvida com a competição para simplesmente deixar pra lá, e tenho sentido um estranho orgulho de mim por isso. Tenho lembrado muito do Jonas Alexandrino e o admirado ainda mais, a ele e a todos os outros meninos e meninas com quem eu estudei, que tão cedo tiveram essa elevação espiritual para se jogar de cabeça num hobbie tão sofrido, sem medo de ser infeliz. Precisei de vinte anos pra chegar até aqui e descobrir que se envolver é sempre melhor do que observar de longe, apesar de não ser exatamente confortável e emocionalmente saudável.

E esse hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança corintiana. 

Tinha descoberto, depois do jogo com o Swindon, que lealdade, ao menos em termos futebolísticos, não era uma escolha moral, como a coragem ou a bondade; parecia mais com uma verruga ou um caroço na pele, algo com que a pessoa acaba tendo que conviver.

{Febre de bola - Nick Hornby, pg. 51}
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