Ou: Paixões circunstanciais
Comecei a gostar do David Luiz como uma personagem de filme adolescente que de repente se interessa por aquele cara que não tem nada a ver com ela, que senta do outro lado da sala. Poderia ser um bad boy, fosse eu uma mocinha de fita no cabelo, ou um nerd esquisito, fosse eu a rainha do baile. O que sei é que, de repente não mais que de repente, me vi prestando mais atenção do que o normal no menino David, sempre interrompendo minhas atividades para vê-lo em algum comercial ou notícia na TV e transferindo minha atenção para a zaga do Brasil, tirando o privilégio do ataque. Um dia, concluí resignada, que era amor. Não sabia explicar, só sentir.
E eu não sabia explicar mesmo, porque até essa Copa nunca tinha gastado mais de três minutos do meu dia com ele. Lembro pouco da Copa das Confederações e estava por demais preocupada com Xabi e Casillas para ver correndo o cara do cabelo engraçado. Hoje, não sei como fui capaz de tamanho despautério, porque acho impossível assistir qualquer jogo do Brasil sem ficar vidrada nele.
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| YOU WANNA A PIECE OF ME? |
Antes de me render, como manda a cartilha dos romances inusitados, tentei encontrar justificativas racionais que explicassem tão profunda e irremediável queda, mas não havia. O cabelo, a princípio, parece um erro inquestionável, mas surpresa grande é ver que, se ruim com ele, pior sem e o rosto também não é lá grandes coisas. Que ele é uma ótima pessoa todos sabem, jogador idem, maior brasileiro de todos os tempos, etc, mas meu papo hoje é muito menos nobre e bem mais físico.
Observando o David e outros jogadores do coração, concluí que essa bossa, esse frisson, e essa explosão de ovários que os caras tem nos provocado dia após dia, às vezes três vezes ao dia (saudades, fase de grupos!), vem muito mais da circunstância do que do próprio mérito. Talvez eu seja especialmente vulnerável a essas demonstrações de vigor e testosterona na minha TV, mas tenho a impressão que jogar bola transforma os caras, e pra muito melhor. Veja o Casillas: basta ver a figurinha dele no álbum da Copa ou qualquer outra foto, sério, o cara não nasceu pras câmeras pra perceber que o cara não é bonito, mas nem o sarrafo que ele levou da Holanda me deixou menos disposta a trocar de lugar com a Sara Carbonero. E eu, que nunca fui tiete do Neymar e ainda tenho dificuldades pra entender o apelo, dei o braço a torcer no jogo de Camarões. Até que ele é engraçadinho, né?
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| partiu jornalismo esportivo |
Esse fenômeno das paixões circunstanciais não é novidade na minha vida. Sou maria-palheta e nunca neguei, e acredito cegamente no poder de um palco pra transformar qualquer zé roela desdentado em muso do verão, ardente tentação. Não posso ver um cara segurando um violão ou uma guitarra que minhas impressões se alteram completamente: pode até não virar amor platônico, mas nunca vou enxergar ele como um qualquer. É fácil defender isso quando se pensa em exemplos como Brandon Flowers, Alex Turner ou Dave Grohl, mas numa iluminação adequada eu encarava um Jeff Tweedy feliz da vida, e depois do show do Radiohead, quis beijar o Thom Yorke (O THOM YORKE) dentro de um carrinho de supermercado ao som de Fake Plastic Trees.
Tô falando de rock, mas o buraco pode ser mais embaixo: penso que essas paixonites por jogadores de futebol são uma digievolução dos nossos romances imaginários com os membros de alguma boyband. Você sabe que aquilo é um erro, os cabelos são sofríveis, o figurino é lamentável, eles fazem coreografias cafonas e a maioria não canta nada, mas eu sei que todo mundo curtia o Justin mesmo na fase do cabelo de miojo, e eu já queria trazer todos os membros do One Direction pra casa antes mesmo deles virarem homenzinhos e passassem a ter barba na cara.
Aí o tempo passa e a gente se pergunta o que tinha na cabeça para querer casar com o Justin Timberlake dos anos 90, como nunca percebemos que a chapinha que o Danny Jones fazia no cabelo não era nem um pouco legal, e que só comeu mais titica que o Harry quando tatuou aquela borboleta na barriga, quem um dia achou ela meio sexy (oi). Do mesmo modo, quando a Copa acabar, vou bater na madeira três vezes por três meses por, num impulso, ter gritado ME BEIJA, MESSI, depois de uma falta muito bem batida ou então por ter perdido tanto tempo investigando a namorada do David Luiz, morrendo de ciúmes dos dois se pegando na praia, na capa de uma revista de fofoca portuguesa meio antiga.
































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