Quantcast
Channel: SO CONTAGIOUS
Viewing all 270 articles
Browse latest View live

A problemática do David Luiz

$
0
0
Ou: Paixões circunstanciais


Comecei a gostar do David Luiz como uma personagem de filme adolescente que de repente se interessa por aquele cara que não tem nada a ver com ela, que senta do outro lado da sala. Poderia ser um bad boy, fosse eu uma mocinha de fita no cabelo, ou um nerd esquisito, fosse eu a rainha do baile. O que sei é que, de repente não mais que de repente, me vi prestando mais atenção do que o normal no menino David, sempre interrompendo minhas atividades para vê-lo em algum comercial ou notícia na TV e transferindo minha atenção para a zaga do Brasil, tirando o privilégio do ataque. Um dia, concluí resignada, que era amor. Não sabia explicar, só sentir. 

E eu não sabia explicar mesmo, porque até essa Copa nunca tinha gastado mais de três minutos do meu dia com ele. Lembro pouco da Copa das Confederações e estava por demais preocupada com Xabi e Casillas para ver correndo o cara do cabelo engraçado. Hoje, não sei como fui capaz de tamanho despautério, porque acho impossível assistir qualquer jogo do Brasil sem ficar vidrada nele. 

YOU WANNA A PIECE OF ME?

Antes de me render, como manda a cartilha dos romances inusitados, tentei encontrar justificativas racionais que explicassem tão profunda e irremediável queda, mas não havia. O cabelo, a princípio, parece um erro inquestionável, mas surpresa grande é ver que, se ruim com ele, pior sem e o rosto também não é lá grandes coisas. Que ele é uma ótima pessoa todos sabem, jogador idem, maior brasileiro de todos os tempos, etc, mas meu papo hoje é muito menos nobre e bem mais físico. 

Observando o David e outros jogadores do coração, concluí que essa bossa, esse frisson, e essa explosão de ovários que os caras tem nos provocado dia após dia, às vezes três vezes ao dia (saudades, fase de grupos!), vem muito mais da circunstância do que do próprio mérito. Talvez eu seja especialmente vulnerável a essas demonstrações de vigor e testosterona na minha TV, mas tenho a impressão que jogar bola transforma os caras, e pra muito melhor. Veja o Casillas: basta ver a figurinha dele no álbum da Copa ou qualquer outra foto, sério, o cara não nasceu pras câmeras pra perceber que o cara não é bonito, mas nem o sarrafo que ele levou da Holanda me deixou menos disposta a trocar de lugar com a Sara Carbonero. E eu, que nunca fui tiete do Neymar e ainda tenho dificuldades pra entender o apelo, dei o braço a torcer no jogo de Camarões. Até que ele é engraçadinho, né?

partiu jornalismo esportivo
Esse fenômeno das paixões circunstanciais não é novidade na minha vida. Sou maria-palheta e nunca neguei, e acredito cegamente no poder de um palco pra transformar qualquer zé roela desdentado em muso do verão, ardente tentação. Não posso ver um cara segurando um violão ou uma guitarra que minhas impressões se alteram completamente: pode até não virar amor platônico, mas nunca vou enxergar ele como um qualquer. É fácil defender isso quando se pensa em exemplos como Brandon Flowers, Alex Turner ou Dave Grohl, mas numa iluminação adequada eu encarava um Jeff Tweedy feliz da vida, e depois do show do Radiohead, quis beijar o Thom Yorke (O THOM YORKE) dentro de um carrinho de supermercado ao som de Fake Plastic Trees. 

Tô falando de rock, mas o buraco pode ser mais embaixo: penso que essas paixonites por jogadores de futebol são uma digievolução dos nossos romances imaginários com os membros de alguma boyband. Você sabe que aquilo é um erro, os cabelos são sofríveis, o figurino é lamentável, eles fazem coreografias cafonas e a maioria não canta nada, mas eu sei que todo mundo curtia o Justin mesmo na fase do cabelo de miojo, e eu já queria trazer todos os membros do One Direction pra casa antes mesmo deles virarem homenzinhos e passassem a ter barba na cara. 

Aí o tempo passa e a gente se pergunta o que tinha na cabeça para querer casar com o Justin Timberlake dos anos 90, como nunca percebemos que a chapinha que o Danny Jones fazia no cabelo não era nem um pouco legal, e que só comeu mais titica que o Harry quando tatuou aquela borboleta na barriga, quem um dia achou ela meio sexy (oi). Do mesmo modo, quando a Copa acabar, vou bater na madeira três vezes por três meses por, num impulso, ter gritado ME BEIJA, MESSI, depois de uma falta muito bem batida ou então por ter perdido tanto tempo investigando a namorada do David Luiz, morrendo de ciúmes dos dois se pegando na praia, na capa de uma revista de fofoca portuguesa meio antiga. 

Mas até lá, só consigo pensar que a única coisa mais linda do que sua empolgação comemorando os gols, só mesmo o que acontece com seu cabelo enquanto ele corre em campo.


Diários da Copa

$
0
0
Uberlândia, 14 de junho de 2014
Querido diário,

Quando me disseram que teria muita Copa, eu não imaginava que seria tanta assim. Não sei como isso aconteceu, mas hoje assisti quatro jogos de futebol. Quatro. Num dia só. Com uma hora de diferença entre cada um deles. Passei o dia sozinha em casa: acordei e fui direto pro sofá, e vi que o jogo da Colômbia estava prestes a começar. Almocei por ali mesmo, vibrando de um jeito inesperado, e quando o jogo acabou, comecei a dançar Shakira pela casa. Antes que minha seleção de favoritas terminasse, outro jogo começou. Estava por ali mesmo e não tinha nada melhor pra fazer, de modo que assisti Uruguai e Costa Rica.

Depois do jogo, fui tomar um banho e pedi uma pizza, pra então assistir ao único jogo que eu tinha me programado pra ver nesse sábado inicialmente. Pizza, Itália, sabe como é. Não que eu esteja torcendo por eles (sou muito apegada à nossa condição única de pentacampeões para torcer pra seleção mais próxima de alcançá-lo), mas gosto da metáfora que existe entre comer uma pizza e mastigar os italianos, tipo o Marchisio, que é uma delícia. No fim não funcionou muito, porque a Inglaterra perdeu, mas vida que segue - é só a primeira rodada. Minha mãe chegou e me encontrou ainda de pijama, com meia pizza dentro do estômago e a desconcertante informação que eu tinha passado o dia inteiro por conta de futebol. Ela entendeu menos ainda quando eu insisti que ela não mudasse de canal depois da novela, porque eu queria ver o jogo do Japão contra a Costa do Marfim.

"Mas quem assiste Japão e Costa do Marfim na primeira rodada da Copa?", ela perguntou, e não sem razão. Pelo visto, eu. Eu tinha me tornado esse tipo de pessoa.




Uberlândia, 19 de junho de 2014
Querido diário,

Hoje é feriado de Corpus Christi, e meus tios e primos vieram do interior de São Paulo. Eles chegaram por volta das três da tarde, e enquanto rolava aquela confraternização familiar na cozinha da casa da minha avó, à espera das visitas, eu lia o caderno de esportes e acompanhava o jogo pelo celular. Meu pai não ficou muito feliz e me mandou participar, mas como jogar conversa fora quando a Costa do Marfim parecia que empataria o jogo a qualquer minuto?

Os tios chegaram, e o papo inevitável foi a Copa do Mundo. Quando comentávamos os jogos, minha tia se lamentava por não conseguir acompanhar mais partidas por causa do trabalho, e eu disse que até agora só tinha perdido Chile e Costa Rica. "Mas seu curso entrou de férias por causa da Copa?""Na verdade, não". Silêncio constrangedor na sala, meu pai cerra a mandíbula quando pensa no meu futuro acadêmico. Eu me tornei esse tipo de pessoa, e parece um caminho sem volta.






Uberlândia, 20 de junho de 2014
Querido diário,

Hoje é aniversário da Carol, e nós saímos pra almoçar pra comemorar. O almoço foi na hora do jogo da Itália contra a Costa Rica, e eu queria muito dizer que não fiquei esticando a cabeça o tempo inteiro para saber o que estava acontecendo na televisão, mas não faz sentido mentir. Inclusive dei um tapa na mesa quando aquele gol saiu, e talvez eu tenha dito um pouco alto demais que a Costa Rica estava demais.

O papo estava tão bom que cheguei em casa no fim de Equador e Honduras, um jogo bem chatinho. Quis muito que tivessem me dito que eu não tinha perdido nada, mas todo mundo fez questão de dizer que o jogo da França contra a Suíça foi incrível e muito impressionante: 5x2 a favor da França, mas bom mesmo foi ver a garra dos Suíços. O dia com as amigas foi realmente muito bom, mas poderia ter sido melhor se Equador e Honduras tivessem se enfrentado na parte da tarde.




Uberlândia, 02 de julho de 2014
Querido diário,

Hoje não teve Copa. Na última sexta não teve também, mas a sensação era de um dia de folga depois de muito trabalho, hoje pareceu simplesmente uma penitência, até porque amanhã não vai ter Copa também. Pelo menos fui pra aula sem ficar pensando no jogo que eu estava perdendo, e aproveitei pra ir no cinema depois, coisa que vinha querendo fazer há um tempo, mas voltava atrás porque tinha jogo na TV.

Estava com pão-duragem preguiça de voltar pra casa de táxi, então fiquei esperando minha mãe me buscar na volta do trabalho. Arranjei um canto isolado na praça de alimentação e tirei meu Febre de Bola da bolsa, mas fiquei brava quando vi que tinha esquecido minhas flags. Está impossível ler por 10 minutos sem querer marcar alguma coisa, e não sei dizer se isso é bom. 

A Analu tinha me ligado durante o filme, então retornei a ligação quando cheguei em casa. Tagarelamos por 53 minutos, sendo que uns 15 deles foram a respeito do assunto que motivou a ligação de início, e o resto foi gasto com futebol. Quem vai entrar no lugar do Luís Gustavo? O Paulinho volta ou não volta? Nosso meio de campo precisa melhorar. O que o Felipão vai fazer com as laterais? "Amiga, se há dois meses te contassem que a gente ia gastar nossa conversa com o meio de campo do Brasil, você acreditaria?"

Não, claro que não. 




Uberlândia, 03 de julho de 2014
Querido diário,

Sonhei com os jogos de sexta a noite inteira e acordei cansada. Evitei pensar em futebol e notícias esportivas, me concentrei só nas pérolas da seleção alemã. Só não consegui escapar do caderno de esportes, que agora eu leio antes do de cultura, e descobri que Paulinho volta, e Fernandinho vai ser recuado. Fred e Daniel Alves ainda não mistérios. #ai #felipão

Consegui fazer minha tarde render na medida do possível, e como não tive aula (todo meu amor a professoras que resolvem despencar para o Congo no meio da semana), trabalhei um pouco, li algumas coisas da minha iniciação científica e até passei antivírus no computador. 

Saí pra jantar com o Matheus, e decidimos não falar sobre Copa. Não foi uma decisão nem um pouco nobre, é só porque já estamos apavorados o suficiente pra colocar o jogo de amanhã na caixinha da negação, e seja o que Deus quiser. Enquanto comentávamos coisas práticas (que dia é a final mesmo? onde vamos ver o jogo amanhã?), percebi que domingo que vem essa festa acaba, e não serão mais dois dias sem Copa, mas quatro anos e toda a lembrança desse mês maluco, intenso e maravilhoso pra me encher a lata de nostalgia pelo resto da vida. 

Quando tiver meus netos, vou contar pra eles da Copa de 2014 e jurar que não existiu e nem vai existir outro mundial como aquele. Eu vou me tornar esse tipo de pessoa. 

Hoje não vai ter Copa

$
0
0
Tô tão triste que não sei o que escrever aqui. Não sei nem se deveria, para ser bem sincera. 

A situação é tão crítica que me peguei pensando num texto da Tati Bernardi. Tem uma crônica na qual ela fala sobre ter uma voz na sua cabeça narrando tudo que lhe acontece, que surgiu quando ela tinha 12 anos e observava sua avó morta no caixão. Era como se uma versão romanceada daquele evento dramático estivesse sendo escrita na sua cabeça, um fenômeno que lhe acompanha desde então. Dói mais em mim do que em vocês, mas eu vou dizer que não apenas sei do que ela está falando, como tenho essa voz dentro de mim, preenchendo com figuras de linguagem, citações, algumas palavras difíceis e trilha sonora, tudo que acontece comigo. Algumas delas vão pro papel e outras vem parar aqui; algumas nem meu caderninho conhecem, porque ficam perdidas naquele espaço-tempo antes do sono, em que a gente lembra e esquece como foi o dia. 

Passei os quinze minutos finais do jogo em pé, suando frio, com as mãos e os joelhos completamente trêmulos. E quando soou o apito final, eu não consegui gritar de alegria, me jogar no chão de alívio e muito menos me livrar daquela tensão que acumulei nos ombros por 95 minutos. A Analu colocou isso muito bem: ganhamos, mas perdemos. 

Perdemos porque nosso craque, nosso ídolo, e o maior nome do nosso futebol no momento está machucado e fora da competição. Não foi um acidente, quem assiste os jogos vê com clareza que sempre tem dois ou três tentando quebrar o moleque. Era uma questão de tempo até dar certo, e foda-se se ele valorizava, fazia manha de vez em quando. Batiam pra machucar, e machucaram.

É ingenuidade pensar que isso não vai influenciar nosso jogo daqui pra frente, num momento em que as coisas já seriam mais difíceis numa situação normal. O mal estar não é pelo medo que a falta do Neymar nos tire da Copa, embora o receio exista, mas pelos requintes de crueldade de tudo isso. O menino é novo e estava vivendo o grande momento da carreira dele, numa competição mundial no Brasil, com seu povo torcendo por ele ali de perto. Quando vejo o replay da pancada e as imagens dele chorando de dor, numa maca de hospital, coberto por um lençol e parecendo tão atingido, chego a pensar que saiu barato. É tristíssimo que ele esteja fora do mundial, mas podia ser tão pior. Numa idiotice dessas ele podia ter perdido as chances de jogar (ou de andar, cruz credo), pro resto da vida. 

E aí que, jogada meio sem reação no sofá, sorumbática, eu tentava cavar em mim aquelas figuras de linguagem, as citações, minhas metáforas exageradas ou uma música qualquer que me permitisse transformar esse abalo, se não em graça, ao menos em alguma coisa mais substancial que essa chateação que me corrói por dentro. Assim como a Briony, de Reparação, eu sempre vi na escrita um jeito de ordenar um mundo caótico do qual eu pouco entendo, como se eu pudesse sair de mim e observar as coisas de fora de modo a torná-las menos assustadoras e mais coerentes. 

Mas hoje eu não consegui fazer isso, e nem sei se quero, não sei se devo. Alguma coisa se quebrou dentro de mim com esse desfecho inesperado de hoje, e acho muito louco que o sentimento seja tão forte em se tratando de algo aparentemente distante de mim. Não foi comigo ou com uma pessoa que eu goste, e vai ficar tudo bem. Tem gente morrendo por muito menos, de jeitos bem piores, infinitamente mais cruéis. Eu conheço a cartilha, me deixem. Hoje eu não quero colocar isso em perspectiva, ou transformar tudo numa metáfora emprestada do Hornby de que futebol é como a vida, não dá pra ganhar sempre e às vezes dá merda, fazer o quê?. Não tem piada ou trocadilho, e nem uma iluminação motivacional de que esse contorno dramático das coisas só vai dar mais garra aos meninos, de que agora vamos ganhar essa Copa pro Neymar. Espero que dê, mas não estou preocupada com isso agora.

Hoje, pelo menos hoje, não ter Copa não. Depois a gente volta com a programação normal, mas hoje não estou com vontade de brincar disso. 

Força, Neymar.

Gatos da Copa, sim senhora

$
0
0
Ou: Um time de mozões


O clima ontem pesou por aqui, por isso hoje a gente só vai falar de coisa boa. Se tem uma coisa boa, ótima, sensacional rolando nessa Copa, é o desfile de homens bonitos, atléticos e viris nas nossas televisões. Depois de uma pesquisa muito bem apurada, feita com esmero tendo em mente os critérios jornalísticos mais honestos, cheguei à escalação final do meu time do coração. O esquema tático obedeceu única e exclusivamente os meus critérios pessoais para oferecer o jogo mais bonito possível, se é que vocês me entendem. 

  • David Luiz: O nome já diz tanto por si só, principalmente depois do jogo de ontem, que sinto não ser necessário justificar tanto assim minha escolha. Já teorizei demais sobre as informações contraditórias que seu físico nos envia, mas independentemente de qualquer critério objetivo de beleza, David tem um charme, uma bossa, e um não sei o que de homem com quem eu casaria sem me questionar muito, que aqui chamaremos de borogodó para não estender demais a conversa. David Luiz, que delícia de pessoa. 
  • Thomas Müller: David vem na frente só porque é brasileiro e não estamos em condições de esnobar a pátria amada assim, mas a paixão que bateu com força mesmo foi o Müller. Num time com mozões em potencial para tantos gostos e preferências, escolhi logo ele, tão errado com suas coxinhas finas, as meias arriadas, e o jeito desengonçado de jogar. Gosto dele justamente por causa desses detalhes, e não apesar deles. Quando vi ele tocando chocalho junto com os índios na Bahia, antes mesmo da Copa começar, eu soube que era amor. E foi amor em todas as vezes que ele deu uma piscadinha marota pra câmera durante o hino nacional, da expressão indignada que ele faz quando recebe uma falta - ele levou uma cabeçada no primeiro jogo -, o jeito como joga, e as furadas em que se mete - vide o tropeção que ele levou no meio de uma jogada ensaiada. Quanto mais pesquiso sobre ele na internet, mais ainda me apaixono, e tenho certeza que se ele fizesse parte de uma banda, ele seria o baixista fofo que dança de um jeito desengonçado no fundo do palco e sorri pras pessoas da platéia. 
  • Xabi Alonso: Barba. Ruiva. Acho que isso resume bem a questão. Um cara de barba ruiva não precisa de justificativas pra tomar de assalto qualquer coração ou lista despretensiosa de preferências, mas ele faz questão de fazer por merecer o seu lugar. O Xabi não é só uma barba ruiva por aí (como se elas fossem muitas!), mas é um estranho indie no ninho. Quem acompanha ele nas redes sociais, sabe que o moço coleciona cds, assiste séries como The Wire, Dexter e Homeland, e adorou o filme Drive. Ele tem bom gosto musical e escuta The Shins, Arcade Fire e Tom Petty. Mas talvez a única cartada melhor que ter uma barba ruiva, ao menos no meu universo, é essa: Xabi é fã do Wilco. Gato, you're trying so hard to break my heart.
  • Lukas Podolski: Quando soube que o Podolski estava no time dos reservas esse ano, quis de volta meus ingressos pros jogos da Alemanha. Na Copa de 2010 eu assisti aos jogos da seleção por causa dele, e se não fosse o Müller pra me consolar e posteriormente roubar meu coração, não veria sentido em ver um jogo da Alemanha se o Podolski não estivesse em campo. O Podolski é lindo num tipo de lindeza príncipe encantado. Meio sem graça e previsível, mas quando a genética capricha não tem muito pra onde fugir. Melhor ainda é seguir o moço nas redes sociais e ver que ele está encantado com o Brasil, focadão, postando em português e fazendo piadinhas. #TudoNosso #BrazilTeAmo #EToiss #poldi Podolski, fica aqui pra sempre, vamos ser felizes da Bahia e viver de amor, sol e caipirinha!
  • Iker Casillas: Casillas foi de luva de ouro da Copa de 2010 a goleiro tão desmoralizado que nem entrou em campo no último jogo da Espanha. As coisas não estão fáceis pra ele, mas nem os frangos que ele tomou esse ano diminuíram meu encantamento. Se algum dia eu seguir o jornalismo esportivo, é porque Sara Carbonero fez história e não tô em condições de dispensar a possibilidade, ainda que remota, de descolar um goleiro espanhol charmoso assim pra mim. 
Isso aí, cara, aplaude mesmo, parabéns pra você
  • Mats Hummels: Hummels é o que aconteceria se, num universo paralelo, o Louis Garrel resolvesse ter um filho com o Orlando Bloom. Apenas o melhor cruzamento genético da história. Não gosto de pessoas objetivamente bonitas, dessas perfeitas. Proporção áurea não está com nada. O Orlando Bloom, na minha opinião, é um caras que tem um rosto perfeito. Aí vem o toque Louis Garell, que bagunça um pouco a questão e deixa as coisas bem mais interessantes, europeias, do tipo que você não pode confiar e quem tem cara de treta. Prazer, Mats Hummels. 
  • Dante: Não sei se é porque ele é reserva e não recebe tantos holofotes assim, mas acho Dante uma figura deveras subestimada da nossa seleção. Até aquele ser fugido do jardim de infância que é o Bernard tem sua fanbase na internet, por que não o Dante? É um dos poucos caras que saiu bem na foto da figurinha do álbum, tem um sorriso lindo, e uma das tatuagens misteriosas menos creiças de todo o mundial. Apenas ansiosa para vê-lo jogar na terça-feira, e pra quem se alvoroçar, já aviso que vi primeiro. 
  • Robin Van Persie: Brandon Flowers grisalho e atlético. Fim de papo. 
  • Mario Yepes: Cabelo grande e desgrenhado, barba mal feita. Yepes fica mais bonito suado e sujo num fim de jogo do que arrumadinho nas coletivas, porque o que interessa é a vida real e a força bruta. Pessoa que fica bem esculhambada e consegue transformar uma mão enfaixada numa coisa meio charmosa, olha, está de parabéns. Pode sair do campo e ir direto pro vocal de uma banda grunge, tipo um Eddie Vedder colombiano. 
  • Manuel Neuer: Vocês não sabem o efeito que 1,93 de altura tem na vida de uma garota de 1,74 que mora numa cidade de hobbits. É tipo uma loteria. Goleirão Nóia ganhou meu coração primeiro pela ironia: conheci ele no jogo contra Portugal, e o goleiro que deu trabalho à seleção se chama justamente Manuel. Meu senso de humor é bem sofisticado. Depois, fui prestando atenção e vendo que o moço é bom e usa todos esses 193 centímetros de altura pra fazer defesas sensacionais (ai minha nossa senhora do jogo terça-feira), ser lindo com a torcida, e cozinhar pros amigos na concentração. Fim de papo, we have a winner. Esses meus alemães me matam do coração qualquer hora dessas.
  • Wesley Sneidjer: Mais baixo que eu? Tô sabendo. Tem cara de playboy atrevido da Malhação? Com certeza. Foi um dos algozes do Brasil em 2010? E como fez raiva! Tem o melhor braço tatuado dessa Copa? Bote tatuagem misteriosa da paixão nessa conta.
I KNOW RIGHT????
  • Claudio Marchisio: Me ganhou depois de reclamar o cartão vermelho fazendo coxinha com a mão. Amo quando clichês se mostram verdadeiros, principalmente se é um clichê italiano. Marchisio é gato, bem vestido, tatuado, e parece que saiu de um comercial de perfume diretamente pro campo de futebol ao alcance do seu controle remoto. E italiano! E usa óculos de armação de tartaruga, pelo amor de Deus! Sucesso absoluto. 

Sete

$
0
0
Ou: Catástrofes que são engraçadas por serem muito ridículas

O último livro que eu li foi sobre um cara que colocou o futebol na frente de todas as outras coisas importantes da sua vida, e na maior parte do tempo a única coisa que ele recebeu de volta foi desgosto, decepção, e derrotas humilhantes - e eu achei isso inspirador demais. Meu filme preferido começa com um monólogo sobre a diferença entre fracasso e fiasco, e meio que gira em torno da nossa necessária redenção diante dos fiascos inevitáveis dessa vidinha besta. Eu gosto de uma série em que todos os personagens se ferram, sempre, e a média de mortes é tipo a média de gols da Copa: 3,5 por temporada. Já tive que ouvir que minha banda favorita faz música pra homem em crise de meia-idade. Discordo, claro, mas que Wilco funciona que é uma beleza quando a coisa tá preta, isso é verdade. 

Assim sendo, vocês me desculpem, mas tenho uma tendência insuportável de poetizar tragédias.


Não existe perspectiva que faça aquele placar de ontem doer menos, a não ser que vocês sejam fatalistas como eu e já estejam antevendo uma vitória argentina no nosso Macaranã. Pra quem diz que é só um jogo de futebol, que é só um bando de homens milionários correndo atrás de uma bola e cagando pra gente, pego emprestadas as palavras da Camila e digo que literatura é só um bando de palavras correndo atrás de um sentido, ativismo político é só um bando de ingênuos correndo atrás de um sonho. Cada um com seu bonde, correndo atrás do que acredita, e que bom que eles passam em linhas paralelas, e não divergentes, como alguns insistem em acreditar. 

Não existe justificativa, salvação ou lado bom da coisa. Perder de 7, em casa, daquele jeito (ainda penso que se me distrair um pouco vou olhar pra TV e ver que a Alemanha marcou de novo), é uma grandiosa bosta, bosta essa que nós vamos carregar pra sempre nas costas, e que vamos engolir amargamente no mínimo a cada quatro anos, e que vamos relembrar em seus sórdidos detalhes daqui 60 anos, quando nosso neto, aquela besta teimosa que resolveu fazer jornalismo, resolver fazer um trabalho sobre isso - igual um pessoal na minha turma está fazendo um trabalho sobre o Maracanazzo de 50. Mineiratzen: eu fui. 

Risos. Risos eternos.


Só que ontem, no meio daqueles seis minutos insuportáveis em que vimos nossa Seleção tomar quatro gols na cara da forma mais patética possível, peguei meu celular pra atender uma amigaAna Luísa Bussular Marques aos prantos. Ela mais chorou do que falou, e eu, um belo consolo do outro lado, mais ri de nervoso do que consolei. Depois ela disse que se sentiria melhor se eu estivesse chorando também, e eu mesma queria ter, sim, chorado, sofrido largado. 

Mas era tudo tão bizarro e inacreditável que o clichê nunca foi tão preciso: seria cômico, se não fosse trágico. Não parecia um jogo, parecia uma pegadinha, um jogo duro de assistir do Rockgol, um esquete do Monty Python, sei lá. Não parecia um jogo. Acho que sofri mais com as derrotas do México, da Costa Rica e da Argélia do que com nosso vexame de ontem. Não é cinismo, juro, e nem coisa de quem vai embora do estádio antes do fim do primeiro tempo e queima bandeira no meio da rua. Pensei que eu fosse sublimar de tanta vergonha e humilhação, e queria enfiar todos aqueles jogadores embaixo do braço pra tirá-los dali, mas aguentei até o fim. Só que, da forma como foi, não deu nem pra sofrer. 

Eles jogaram, a gente não. Eles eram melhores, relaxamos. Eles chegaram junto, desesperamos. Quem não faz, leva, e quem não faz nada leva de 7. Parece discurso pragmático do meu pai, mas nem o ser humano mais passional do mundo diria que não merecemos. Dó eu tenho da Argélia. Injusto foi com o México. Pra nós, paciência. 

Isso não diminui minha torcida por aquele time, nem minha admiração por vários daqueles jogadores - sigo grávida de David Luiz e quero ter meu filho na Granja Comary. Isso não altera a realidade de que fizemos e vivemos uma Copa épica, a Copa das Copas de fato. De uma forma irônica, nossa derrota só contribui com o folclore. Perdemos, de 7, em casa, de um jeito ridículo - e corremos o risco de ver a Argentina ganhando. Sério, nem Monty Python escreveria isso tão bem. Goleada dói demais, agora eu sei disso, e vocês perdoem o limite que irei ultrapassar, mas existe uma poesia sádica numa derrota assim. Ou ganha arregaçando, ou perde arregaçado. 

MAGIC absolutamente me representa
(Eu sei que isso só fez sentido na minha cabeça)

O que eu realmente queria dizer, nesse sétimo e último post dessa saga, é que nesse ano eu vivi uma experiência com o futebol como eu nunca tinha vivido antes, e nem esperava viver. Tipo um affair tórrido com aquela pessoa que você menos espera, que aparentemente não tem nada a ver com você, que você ama com toda a alma e depois se estrepa até o último fio de cabelo, mas não se arrepende de ter vivido. Essa Copa me fez sofrer, me deixou tão nervosa que eu tremi e tive taquicardia das brabas, fez com que eu me apaixonasse por gente que nunca vi na vida, e me fez vibrar tanto a ponto de pensar que virar umas pingas seria uma ideia sensacional - eu, que nem sou dessas. 

A Copa me envolveu e eu fui envolvida por ela, com vitórias incríveis (Brasil x Chile, melhor pior dia da minha vida por muito tempo) e derrotas cruéis, o pacote completo. No true fiasco ever began as a quest for mere adequacy, diz o Orlando Bloom ao fim de Elizabethtown, e eu digo que essas decepções e vergonhas só sente quem vai pro campo, em corpo ou em espírito, disposto a levantar uma taça ou levar um sarrafo pra nunca esquecer. E eu, pessoa que passou muito tempo da vida observando o tempo passar na janela igual Carolina, com medo de me sujar lá fora, digo que participar é sempre melhor, mesmo quando é horrível. 


Copa das Copas: eu fui. E foi incrível. 

Louca por filmes

$
0
0
Estou gradativamente me desvinculando do futebol e acostumando meu organismo à realidade de que não vou mais assistir três jogos por dia, todos os dias, por um bom tempo. Assim, tenho tentado preencher esse vácuo existencial com alguns filmes. Que minha veia cinéfila tem andado obstruída (#ai #anna #vitória) não é novidade (saudades filminhos da vez), mas tenho revisto uns filmes queridos e essa tag que vi nos blogs da Natália e da Renata me deixou bem animada. É uma proposta bem simples, citar filmes de acordo com determinados itens, uma boa oportunidade de relembrar títulos favoritos, engordar a lista de coisas que quero reassistir e descobrir filmes bacanas vendo o vídeo dos coleguinhas e com as recomendações que vocês serão lindos o suficiente pra dividir comigo. 

Não indico pra ninguém em especial, mas ficaria feliz se vocês se animassem de gravar também, porque estou adorando ver esses vídeos. Fazia tempo que não gravava um, espero não ter perdido muito a mão - mão essa que, convenhamos, nunca tive. 


DIY do dia: somos todas Kurt Cobain

$
0
0
Longe de mim endossar a patrulha de quem se importa se a mocinha de coroa de flores no cabelo e camiseta do Ramones precisa jogar Blitzkrieg Bop no Google pra ver como escreve ou saber do que se trata, mas algo morre dentro de mim sempre que vejo blogs de modas ensinando o bê-a-bá da moda grunge ou aquelas saias rasgadas nas araras da Renner.

Longe de mim chegar aqui com um discurso de que nossos ídolos que morreram aos 27 de overdose estão em cólicas no túmulo de vergonha da gente, embora eu acho que estejam, porque faço parte dessa engrenagem que transformou um mundo num lugar em que se compra uma calça rasgada e manchada numa loja de departamentos, com exemplares idênticos em várias cores e tamanhos, que podem ser encontrados nos melhores shoppings do país - afinal, reconheço que não existe nada melhor do que entrar na Renner e comprar camisa xadrez por quilo. 

GET THEIR LOOK! 
Acontece que há uns meses o universo me deu a chance de subverter as normas comuns, desafiar a sociedade e provar que existe dentro de mim o que quer que seja de um espírito libertário e irreverente que me autoriza a cantar All Apologies com um pouco que seja de autoridade moral, o que quer que isso seja.

Estava eu caminhando, lépida, faceira e atrasada, rumo ao ponto de ônibus. O vento passava pela minha pele, a brisa do outono desfilava sobre a minha figura, mas algo não parecia certo. Eu estava sentindo o ar frio do fim do dia onde não devia. Em outras palavras, eu tinha saído de casa com a blusa furada. Não era um furo qualquer, era um furo desses que acontecem quando o ferro de passar roupa fica grudado no tecido, a pessoa tenta arrancar de qualquer jeito e depois enfia de volta no armário, na esperança de você não usar mais aquela blusa ou então nunca reparar que tem um buraco maior do que seu punho aberto nas costas.


Como é de costume, eu estava atrasada. O ônibus passaria a qualquer minuto, sem me deixar tempo algum pra correr de volta pra casa e trocar de roupa. Eu não tinha nenhuma blusa de frio que quebrasse meu galho, muito menos a opção de usar esse incidente fashion como desculpa pra matar aula. E como situações desesperadoras pedem medidas desesperadas: num só impulso rasguei a blusa até o fim.

Bastou segurar nos dois lados do furo e desfiar o resto, o que ficou fácil porque o tecido era uma sedinha genérica bem fina. Amarrei as duas pontas num nó e dei uma bagunçada no cabelo, só pra garantir que estava tudo dentro de uma mesma proposta - tudo isso a tempo de fazer sinal pro ônibus parar.

Kurt motivacional
Quando contei a história pras minhas amigas, a Couth achou tão inventivo que sugeriu que eu fizesse um post com DIY e tudo, então fica aí a dica pras amigas:

Você vai precisar de 01 incidente doméstico e 02 mãos firmes pra rasgar o tecido - e 01 sutiã bonitinho pra usar por baixo, porque ele pode aparecer do lado, dependendo do tamanho do rasgo.

Feito o processo, ganhe as ruas da sua cidade ao som de Jesus Doesn't Want Me For Sunbeam, para melhor efeito dramático, ou corra por aí ouvindo Modern Love, incorporando a Frances Ha que existe em você, que corre e dribla as adversidades do dia-a-dia com muito estilo e bom humor. Ou faça como eu, siga empoderada pelo espírito rock'n'roll que existe no seu coração, e continue o caminho ouvindo Miley Cyrus e pensando que aquela calça desfiada que você viu na vitrine da Riachuelo ficaria incrível com seu novo trapo de estimação, a peça mais hypada da estação.

Winter has come: coisas para fazer no inverno

$
0
0
Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: 5 coisas para fazer no inverno
Inverno em Uberlândia é mais ou menos assim: de manhã faz um frio desgraçado, à tarde a gente morre de calor com as roupas de frio que usou pra sair de casa cedo, e à noite a gente volta a tremer de frio e jura que só vai sair de sapato aberto de novo em setembro. Todos os dias a mesma coisa. Aí de um lado ficam as pessoas que acreditam no frio, como eu, que saem encapotadas todos os dias, e aquelas que ficam se perguntando se esse ano não vai ter inverno de novo, enquanto passam do lado do meu moletom e do meu gorro de shorts e Havaianas. 

Apesar disso, sempre tem um período de uns quinze dias mais ou menos em que todo mundo concorda que o inverno chegou e que a constante é o frio. Como essa época aparentemente chegou por aqui, resolvi aproveitar a proposta de meme do Rotaroots e listar logo algumas coisas para curtir melhor esses dias que sempre passam rápido demais. 

#1 Tomar chá


Outono e inverno pra mim são sinônimos de Temporada da Boca Queimada. Isso porque eu dou um jeito de tomar chá de manhã, à tarde, e à noite, e mesmo com toda essa constância não fui capaz de adquirir a destreza necessária pra fazer isso sem queimar minha boca ao menos uma vez por dia. Adoro coisas quentes, muito quentes, e sempre subestimo a capacidade dos chás de arrancar fora um pedaço do meu céu da boca. Claro que dá pra tomar chá em qualquer época do ano, e chá gelado é uma delícia no calor, mas felicidade mesmo é sentir aquele mate te esquentar o corpo inteirinho e dar coragem pra abrir as janelas e encarar o dia, ou então ir pra cama mais cedo com uma caneca de chá de camomila e uma reprise de Downton Abbey na TV. 

#2 Ser gótica sem ser julgada


Só no inverno mesmo pra sair de casa inteira vestida de preto durante o dia sem que ninguém te olhe torto por causa disso. Quer dizer, não posso adivinhar o que se passa na cabeça das pessoas, mas gosto de acreditar que ninguém se importa se saio às nove da manhã embaixo de um céu azul de jaqueta de couro e coturno pra ir pra faculdade - afinal, tá frio pra caramba e cada um se vira da forma como acha melhor. Esses dias fui num show numa noite especialmente fria, e que coisa maravilhosa levar o look pirigótica que vejo no Pinterest para a vida real, ao menos uma noite na vida. Preto, couro e botas também não são privilégio do inverno, mas por experiência própria digo que é muito mais agradável estar vestida de acordo com o contexto do que ser a única de coturno do rolê - o que te coloca automaticamente na condição de criatura das trevas perto da galera alto astral, ou simplesmente te deixa com cara de viciada em heroína, como minha mãe adora dizer. 

#3 Andar por aí


Eu adoro andar a pé. Passear pelo centro da cidade é um dos meus programas favoritos, em qualquer cidade que eu esteja. Gosto de prestar atenção nas pessoas, nas casas, ver vitrines, ouvir música, me enfiar em desvios, tudo isso. O problema é que no calor (e em Uberlândia, fora do inverno, faz calor sempre) é um pouco complicado ser feliz nesses passeios, porque envolve o sol rachando a cabeça, a franja que gruda na testa, o rosto que fica brilhando, o suor que insiste em pingar. Ou seja, um monte de contras que atrapalham a delícia que é sair andando por aí. No inverno dá pra bater perna o dia inteiro, e mesmo quando o corpo esquenta, existe aquele contraste gostoso com o ar geladinho do dia, e o cabelo fica maravilhoso mesmo depois de uma tarde de bobeira no centro da cidade.

Ano passado eu passei alguns meses visitando uma instituição que atende moradores de rua, pra fazer uma reportagem. E a casa ficava nos limites da cidade, praticamente. Eram mais ou menos umas duas horas de ônibus, e aqui em Berlandinha isso é muita coisa. A salvação da minha vida foi que o período de mais visitar coincidiu com o frio, porque não sei se seria possível sobreviver pegando três ônibus e andando um monte com equipamento pra cima e pra baixo no calor. #dramasreais #jornalismodadepressão

#4 Tomar sol


Sol é sol em qualquer estação, mas eu amo muito dias frios de muito sol. Lembro da época da escola, quando no inverno a gente sempre ia pro pátio aberto ficar lagartixando ali pra esquentar de manhã cedo, e nos dias que eu tenho aula de manhã, sempre passo o intervalo tomando café e curtindo um solzinho na cabeça. Em casa, adoro deitar com Chico, o poodle, na sacada do apartamento, de modo que ficamos os dois ali curtindo um banho de luz e sentindo a vitamina D agir nos nossos organismos. 

#5 Livros, séries e filmes temáticos


Lembro que a primeira vez que assisti O Iluminado, eu estava em São Paulo em pleno inverno. E foi um inverno daqueles. Lembro que fazia mais ou menos uns sete graus lá fora enquanto eu assistia Jack Torrance enlouquecer no hotel Overlook fechado pra temporada de neve. A combinação de climas contribuiu totalmente pra construir uma atmosfera mais bacana pra ver o filme, e por mais bacana vocês entendam: muito mais tétrica, o que é ótimo. Outras sugestões: maratona de Game Of Thrones, o primeiro filme da trilogia Millenium, Deixa Ela Entrar, O Diário de Bridget Jones e Feitiço do Tempo. 


What was I thinking when I said hello?

$
0
0
Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: A primeira vez que eu ouvi minha banda favorita
Não lembro exatamente se era janeiro ou julho, mas sei que era São Paulo e que chovia lá fora, exatamente como acontece agora na minha janela enquanto escuto Either Way, mais uma de muitas e muitas outras vezes, que começaram a ser acumuladas naquela manhã cinza de janeiro ou julho, certamente em 2009.


Meu tio foi pegar o jornal lá fora e voltou já rasgando uma caixa da Amazon, como se tivesse seis anos de idade e encontrasse um Nintendo 64 embaixo da árvore de Natal, com seu nome na etiqueta. Dentro da caixa estava um vinil do Sky Blue Sky, sexto álbum de estúdio do Wilco, o primeiro deles que eu ouvi, com a capa mais bonita do mundo inteiro, ainda mais bonita no formato enorme e sofisticado do vinil. Eu nunca tinha ouvido falar daquela banda, e lá estava meu tio, um homem feito, quase chorando de felicidade por conta de um vinil. Ele, que coleciona discos, me contou que raramente compra vinis novos, mas que esse lançamento do Wilco foi um presente de aniversário dele pra ele mesmo, uma auto-indulgência que valeu cada dólar gasto e todos os dias de espera, porque o Wilco é esse tipo de banda.

Eu não fazia ideia do que esperar do Wilco. Meu tio tem um gosto bem diversificado, e sua coleção vai de Racionais a Jenny Lewis, Radiohead a Snoop Dogg, Roberto Carlos a Death Cab For Cutie. Qualquer coisa podia sair daqueles alto-falantes. Mas, mesmo se eu soubesse o que me aguardava, acho que nada poderia me fazer antever o efeito que a primeira música, Either Way, causaria me mim. Nem trinta segundos de música e Jeff Tweedy já tinha derretido minhas tripas, a primeira de muitas e muitas outras vezes, nesses cinco anos de Wilco na minha vida.


(Trivia: uma vez mandei essa música para um mocinho aí, num delírio romântico que me fez acreditar que se ele gostasse daquilo tanto quanto eu, experimentaríamos um outro nível de conexão emocional, seja isso o que for. Ele nem amou tanto assim, e agora que o romance não vingou, acho que fiquei mais chateada por ele não ter gostado de Wilco do que por ele não ter ligado pra mim.)

O resto das férias se passou com o disco girando todos os dias na vitrola da sala, e não demorou para que eu aprendesse a assobiar algumas melodias e cantarolasse baixinho as minhas favoritas. O Wilco não se parecia com nada que eu, aos quinze anos, tivesse ouvido antes. Não conhecia nenhuma banda que fizesse um som tão sofisticado, tão limpo, que misturava arranjos de piano a solos de guitarra de mais de três minutos, com aquelas letras que eram ora cheias de urgência, ora de uma tristezinha resignada, mas sempre com uma esperança de fundo apesar da invariável melancolia. Afinal, what would we be without wishful thinking?


Voltei pra casa com Wilco na cabeça, nos fones e a discografia deles num pendrive, mas demorei anos para desbravar alguma coisa além do Sky Blue Sky, meu velho conhecido. Hoje já gosto bem mais de outros trabalhos, como Yankee Hotel Foxtrot (o favorito do mundo inteiro), Summerteeth, The Whole Love e Kicking Television, mas demorou um pouco até que a gente se encontrasse. Acho que precisei desses anos para maturar as coisas dentro de mim e abrir espaço pro Wilco finalmente ter a chance de deixar de ser só a banda diferente daquele verão (ou será que foi inverno?) de 2009 para ser uma banda toda minha, e contar um pouco da minha história - mais ou menos o que eu gosto de acreditar que o Jeff quis dizer quando escreveu que this world of words and meanings makes you feel outside something you feel already deep inside you've denied na letra de On And On And On.

Foi só nesse ano que Wilco se tornou a minha banda favorita. Esse conceito é algo tão absoluto e definitivo  que a afirmação ainda me assusta, por isso vou me apoiar no conforto do momento e dizer que pelo menos nos últimos seis meses não existiu nenhuma outra banda que eu tivesse necessidade de ouvir todos os dias, invariavelmente, nem qualquer outra coisa que provocasse o mesmo efeito que uma música do Yankee Hotel Foxtrot, que se toca uma vez, aleatoriamente, tem que ser seguida do CD inteiro, de novo e de novo e de novo.

E sempre que o dia está muito ruim, como ontem esteve horrível, eu me permito dez minutos de delírio nos quais eu fujo pra Chicago para vê-los tocando, e grito e pulo ao som de Pot Kettle Black estragando o vídeo que eu tento inutilmente gravar.


Quando eu disse isso pra um amigo, ele falou que eu era nova demais pra gostar tanto assim da banda e que eles fazem músicas pra homens de meia-idade, provavelmente em crise. Todos os rabiscos que já fiz na seção de apreciação ao Wilco que mantenho num caderno (sim) depõem contra isso, e meu pai nunca achou nada demais na banda apesar das minhas tentativas de aproximar os dois, mas se isso for verdade, farei questão de coçar minha careca imaginária com consternação sempre que experimentar a sensação de ter minhas tripas derretidas por Jeff Tweedy e sua turma, nos primeiros trinta segundos de uma música qualquer.


1001 pessoas, o Carlinho e a Simone

$
0
0
O melhor do jornalismo são as pessoas, o pior também - e isso meio que se aplica a quase tudo na vida. A parte boa é que das pessoas ruins, que não respondem e-mails, dão entrevistas monossilábicas e me deixam com menos fé no mundo, eu esqueço rápido - já as boas ficam por muito tempo. Ou pelo menos deveriam ficar. 

Quando a Analu veio comentar comigo sobre o blog 1001 Pessoas Que Eu Conheci Antes do Fim do Mundo, eu lembrei que já tinha topado com ele por aí, gastado uma boa parte do meu dia lendo ele inteiro, e tido o mesmo pensamento que ela: que droga, por que eu não tive essa ideia antes?  A proposta é exatamente o que o nome sugere: a Aline resolveu manter um registro das pessoas que conhece pelo mundo, e ajuda um pouco ela ter uma vida cheia de viagens e aventuras incríveis - minha história favorita é a do surfista com café da manhã -, mas acho que se a gente para e presta atenção, descobre na rua de casa vários seres humanos dignos de nota. E foi pensando nisso que Analu me convidou a fazer o mesmo que a Aline, registrar nos nossos blogs as pessoas interessantes que conhecemos por aí. 

É um projeto descompromissado, amador, provavelmente fadado ao fracasso, e sem periodicidade definida, mas a gente promete que vai cuidar dele com carinho e treinar nosso olhar para as boas histórias e boas pessoas que passam pela nossa vida todo dia. Lá no Minha Vida Como Ela É tem um post explicando direitinho nossa ideia e falando mais sobre o projeto que a inspirou, e dona Analu já fez seu primeiro post. Como eu sou afoita e não consigo terminar um texto só com três parágrafos, vou aproveitar a deixa de ter uma história fresca na cabeça e começar hoje, agora, também. Espero que gostem de nos acompanhar. :) 





Conheci o Carlinho e a Simone na última quarta-feira - um dia ruim, numa semana ruim, num semestre (surpresa surpresa) ruim também. Estou fazendo telejornalismo, e vivendo a loucura que é produzir um telejornal por conta própria. Semana passada estávamos trabalhando numa das reportagens, que calhava de ser aquela em que eu iria atacar de repórter. Eu. De repórter. Na frente de uma câmera com microfone na mão. Aponta pra fé e rema - e chora cinco minutos no cantinho se der tempo. Era esse o espírito. 

O Bar do Carlinho foi o primeiro destino daquele início de noite, e eu e meus amigos ficamos parados feito idiotas na esquina por alguns minutos até rolar a coragem necessária pra entrar. Nossa reportagem era sobre comida de boteco e aquele bar foi escolhido por ter vencido a última edição de um concurso especializado. Apesar dos prêmios, era um boteco desses pé sujo bem simples, pequeno, com ladrilhos vermelhos no chão, e mesinhas na praça do outro lado da rua - no melhor esquema Bar Ruim É Lindo da coisa. 

O Carlinho, que eu cheguei chamando de José Carlos, me recebeu já de avental e touca ali no balcão, enquanto amassava os temperos. Como estávamos sem cinegrafista, ele ajudou meus amigos a posicionarem a câmera e foi logo dando dicas sobre a luz, o som - tudo experiência adquirida por conta das muitas entrevistas que dá por conta dos três prêmios que seu bar já tem. Logo depois chegou Simone, sua esposa, dona daquela cozinha e cabeça por trás de todos os pratos premiados, que foi me contando de onde surgiu a ideia da porção vencedora do último concurso enquanto amassava mais de vinte quilos de carne. 

Enquanto meus amigos captavam as imagens, eu fiquei ali conversando com os dois, ouvindo a história de como eles se conheceram e de como vem tocando aquele bar, no mesmo lugar há 25 anos. As porções são simples, bem brasileiras - mas não brasileiras de um jeito Alex Atala, e sim de um jeito batata doce com linguiça, frango com pasta de alho, e tudo que faz parte dessa coisa linda que é o Brasil, e principalmente dessa coisa beijada por Deus que é Minas Gerais. 

Comidas simples, mas tudo muito criativo e sensacional, principalmente pelo jeito apaixonado como a Simone me contava da origem de cada um daqueles pratos idealizados por ela, que passou muito tempo pensando em cada detalhe. "Minha filha entrou na dieta da batata doce e eu achei interessante fazer algo pra ajudar ela a comer coisas diferentes", "Já tinha feito prato com carne de vaca, de frango e de porco, aí pensei: e se misturar os três?", coisas desse tipo. Do lado, o Carlinho, que me imprimiu a receita do prato campeão, contava vários segredos pra ajudar no preparo, sem mesquinharia alguma. "Se não congelar antes, o bolinho desmancha inteiro". 

Eu estava hipnotizada por aqueles dois, e até tinha parado de suar dentro do meu blazer novo de jornalista.  E pensar que poucas horas antes eu estava amaldiçoando aquela tarefa, terminando de pintar minhas unhas dentro do carro, tentando parecer iluminada enquanto era puro cansaço, e sem nem saber como segurar um microfone. Com a câmera já desligada, ficamos os quatro do grupo debruçados sobre o balcão observando o trabalho deles e ouvindo o que eles tinham a dizer. Por vezes trocávamos olhares e cochichos e a sensação era a mesma: estávamos apaixonados por eles, e se rolasse um convite seríamos capazes de colocar um avental na cintura e ficar pra sempre. É como escreve a Nina Horta: comida faz a alma cantar.

Simone chamava o marido de um apelido que eu não conseguia entender qual era, mas na hora de falar sério era vez do "Zé Carlos" entrar em cena. "O Zé Carlos não confia nas minhas almôndegas, eu que ensinei ele a fazer e agora ele quer me corrigir". E ele, que essa hora já tinha virado Carlinho pra todos nós, encheu os olhos de lágrimas ao me contar sobre a filha caçula que veio logo depois que ele sofreu um acidente que o deixou meio manco. "Pra lembrar que na vida tem coisa ruim, mas sempre vem outra boa pra compensar". 

Com relação à esposa, o sorriso besta que ele segurou no rosto durante todo o tempo que ela me deu entrevista de frente pra câmera, com luz e microfone, explicou tudo, e eu fiquei pensando que se eu tiver alguém que me olhe daquele jeito um dia, vou ter vencido um pouquinho na vida. 

Aponta pra fé e rema - e come um bolinho de arroz no meio do caminho. Esse é o espírito. 

Pros uberlandenses, fica a dica: o Bar do Carlinho fica no bairro Bom Jesus, tem porções sensacionais, pessoas maravilhosas, e caipirinha que custa quatro realidades. Eu e meus amigos fomos embora prometendo voltar quantas vezes for necessário pra zerar o cardápio. A gente comeu de graça, mas esse post não é um publieditorial. 

Então eu fui na exposição do Castelo Rá-Tim-Bum

$
0
0


Assim como boa parte da geração anos 90, fui uma dessas crianças cuja infância foi marcada pelo Castelo Rá-Tim-Bum. O programa era, de longe, a minha coisa favorita na televisão, e o peguei naquela fase curiosa da vida em que já temos certo discernimento pra separar realidade de ficção, mas não completamente. Sempre ficava aquele mas será se atrás da orelha, e esse meu grande talvez foi muito importante na experiência que era ver Castelo Rá-Tim-Bum. Porque, no fundo, mesmo que eu não admitisse em voz alta, eu acreditava que aquele castelo poderia existir em algum lugar, com seus objetos mágicos e animais falantes, e era meu sonho conhecê-lo, mais do que qualquer castelo de princesa da Disney. 

Quando soube da exposição, evitei toda e qualquer notícia relacionada, porque não sabia se conseguiria visitar e não queria sofrer. Sendo eu uma pessoa que já chorou lendo resenhas de shows que deixou de ir (madura), eu já deveria saber o que me aguardava quando um dia não resisti e abri o jornal com várias fotos do museu: chorei, chorei mesmo, porque é uma coisa um bocado rara na vida quando aquele sonho delirante de infância se materializa diante de você - e foi naquele momento que eu vi que era uma oportunidade que eu não poderia perder. Meu Deus, eu ia abraçar a Celeste! 


Ser eficiente não é uma coisa com a qual eu estou acostumada, mas é tão bom quando acontece que eu deveria me esforçar pra ser mais assim. Porque em mais ou menos três dias eu já tinha combinado uma data com meu primo-irmão-parceiro-de-cilada paulistano pra eu brotar na porta da sua casa e estava com passagens em mãos, pronta pra conhecer o Castelo. 

Querido leitor, senta que lá vem história.



Quando decidi viajar pra ver a exposição, todos os ingressos antecipados à venda na internet já tinham sido vendidos. Eu disse to-dos, até outubro. Então, cheguei lá sabendo que antes de entrar eu teria que enfrentar uma fila considerável. Eu também já sabia que a fila seria grande, mas juro que não imaginei que seria uma coisa tão insana, porque era dia de semana e as pessoas tem mais o que fazer, certo? Errado. Ha, Ingênuos. 

Ah, São Paulo, uma cidade com tanta gente que a parcela pequena de pessoas que perdem uma manhã de dia de semana pra ficar numa fila pra entrar num castelo de brinquedo consegue formar uma multidão. A fila já ocupava uns três quarteirões, e fomos informados que se, e somente se e com muita sorte, nós conseguíssemos um adesivo que nos garantisse um ingresso para aquele dia, só entraríamos em uma sessão à noite. Como o Pedro tinha uma aula no fim do dia, achamos melhor voltar no dia seguinte e ficar por conta.

Sábado, às 7h50 da manhã, mais de uma hora antes da abertura de bilheteria, a fila estava bem maior que a do dia anterior. Mas tudo bem, só se é jovem uma vez e estávamos na função. Assim, se você estiver planejando visitar a exposição, vá com o espírito aberto pra passar muito tempo na fila, em pé e provavelmente embaixo de sol. Não tem nada que você possa fazer pra diminuir a espera, a não ser desencanar, ir pra casa e se contentar com as fotos dos outros no Instagram. 


Levei livro, fones de ouvido e duas mexericas - que se provaram uma escolha bem acertada, senão eu teria sucumbido com facilidade a um cachorro-quente desses de carrinho antes das dez da manhã. Que alegria viver. Quase quatro horas depois, mais tempo do que eu já gastei em qualquer fila de show (porém menos do que eu esperei na fila da pré-estreia do último Harry Potter, veja bem), tínhamos ingressos em mãos. Preferimos comprar pra uma sessão da noite e assim poder aproveitar a tarde em alguma outra atividade, e foi ótimo voltar descansada, porque já tinha esquecido da dor nas pernas e nas costas e pude curtir a exposição por mais de duas horas, como a criança feliz dentro de mim pedia.

Colocando em perspectiva, já investi mais tempo da minha vida com um trabalho do Marcelo Tas do que com o Paul McCartney, o que definitivamente é algo a se pensar. 


Se valeu a pena? Dependendo da referência, até um show do Anthrax vale a pena. Pra quem passou a infância literalmente sonhando em visitar o Castelo, vale demais. Mas o Pedro, por exemplo, que nem era tão apegado ao programa como eu, curtiu bastante e ficou bem feliz por ter ido - o que me deixou aliviada, porque fiz o menino ficar quatro horas numa fila por conta disso, imaginem só se fosse ruim. 

O que a exposição fez foi montar os cenários do Castelo Rá-Tim-Bum nas salas do museu. Sim, tem tudo, da biblioteca ao lustre, e até umas coisas que eu nem lembrava, como a oficina do Tio Victor e o jardim da Caipora. Sim, eu perdi completamente a linha lá dentro e entrei dando pulinhos ao ver a entrada e o Porteiro, e chorei ao ser recebida pelo Nino e o Relógio. De cara avisei meu primo, com sua postura de too cool for this shit, que eu ia me descontrolar, me envergonhar, tirar foto de tudo que visse na minha frente e que tudo bem se ele quisesse fingir que não estava comigo. A parte boa foi que encontramos um amigo dele, cuja namorada estava tão louca como eu por estar ali, então ela pulou pelo museu comigo e a gente se abraçava quando não tinha como abraçar as peças e rolar no chão. Nada como paixões de infância para aproximar as pessoas. 





No começo, estava tão eufórica, querendo ver tudo ao mesmo tempo agora, que mal estava conseguindo prestar atenção nas coisas. Precisei parar cinco minutos pra me recompor, respirar fundo (sério) e recuperar minha sanidade pra poder aproveitar a exposição com calma. Você pode ficar o tempo que quiser lá dentro, o que é um alívio bem grande quando você tem que ouvir os monitores dizendo o tempo inteiro que não dá pra voltar atrás. 

Sou dessas malas que leem todas as fichas de informação e passam cinco minutos em cada atração, e recomendo que vocês façam o mesmo. São muitos detalhes interessantes e curiosidades de fato curiosas nas fichas e nos vídeos. Uma das coisas que sempre achei sensacional a respeito do Castelo Rá-Tim-Bum é que a produção é extremamente simples, quase rudimentar em alguns pontos, mas é tudo feito com tanto capricho e criatividade que se torna uma coisa genial. Adorei ver os estudos de figurino dos personagens, assim como as fotos do desenvolvimento do estilo de cada um. Os da Morgana e os do Tio Victor são os mais legais, foram muitas possibilidades diferentes estudadas até chegar na forma como eles se apresentam. 

Outra coisa legal são os bonecos e a forma como eles foram construídos e pensados, e quem está por trás da articulação deles #nerd. Tem a história de cada um nas fichas, alguns originais, e réplicas feitas para a exposição. É possível interagir com algumas delas, tipo o Gato Pintado e a Celeste, e isso é simplesmente amazing. Quando você chega perto da árvore, um sensor é acionado e ela diz NOOOOOOOSSAAAA e bate um papinho com você. É maravilhoso, eu queria colocar ela embaixo da blusa e levar pra casa comigo. 

pessoas normais > abismo > eu
Minhas salas favoritas foram o quarto do Nino, com o chão e paredes cobertos com páginas de gibi e o sofá giratório - cuidado com ele, fui atropelada umas duas vezes; a biblioteca, que também é coberta em sua maior parte com livros de verdade; a cozinha, onde você pode abrir vários armários como eu sempre sonhei em fazer desde aquele episódio da caça aos ovos de Páscoa; e, finalmente, o lustre do castelo. Ah, o lustre! É uma das últimas salas e pensei que não teria essa parte, mas quando entrei naquele ambiente azul, com os figurinos belíssimos da Lana e da Lara, e seus foutons brilhantes, sofri outro abalo emocional. Eu absolutamente amava aquelas fadas e passei anos da minha vida querendo ser como elas. Outro encontro com o ídolo de igual emoção foi com a Penélope, meu role model com seu figurino completamente cor-de-rosa. Viverei 80 anos e não superarei aquele cabelo pink, suas meias e sapatos. 

A parte chata é que já tem muita coisa suja e deteriorada. Como várias peças são interativas, muita gente não consegue separar uma coisa da outra e acaba mexendo onde não deve, e a delicadeza vai com deus. É muita gente, e muitas famílias com crianças pequenas, e fica difícil pros monitores darem conta de tudo, principalmente quando a maioria dos pais não parece se importar com as crianças forçando alguns armários e gavetas, tentando tirar objetos do lugar e pisando nas camas e sofás. Quis, por vários momentos, virar a mão na cara de muitos deles, mas respirei fundo e aceitei que infelizmente faz parte. Também tem muita gente tirando foto, o que acho perfeitamente razoável, mas sempre tem aquela cota de gente sem noção que acaba atrapalhando. Tive que passar reto pela sala dos passarinhos, por exemplo, porque eram 50 pessoas ao mesmo tempo querendo fazer um book saindo das cascas dos ovos. Não deu. 


Uma verdade: a iluminação do lugar acaba estragando a maioria das fotos, distorcendo as cores e sua cara. Isso não me impediu de tirar várias, com a mesma cara bestializada de felicidade, mas como vocês podem ver pelas ilustrações do post, elas não servem pra muita coisa além do conforto de estarem ali pra você olhar depois e saber que realmente esteve num lugar dos seus sonhos. 

Não sei se vocês veem da mesma forma, mas pra mim compensa a jornada. 

nailed it 

Me serve um café que o mundo acabou

$
0
0
Minha amiga Renata disse que eu sou a única pessoa que ela conhece que dá um pause no dia, na vida, até, pra tomar um café. Ela acha engraçado que eu desvie do meu caminho pra entrar nos lugares com o único e exclusivo objetivo de tomar um café. Eu ignoro bolinhos de arroz, cremes de framboesa, e martínis com cereja, e peço pro garçom bonito me trazer um café e uma água - sem gás, por favor. Simples assim.


Achei engraçado ela dizer tal coisa, porque se sou assim é porque me acostumaram assim. Não sei se é por conta da minha nobre ascendência da roça, ou se é verdade esse papo de que em Minas a Terra gira mais devagar, mas cresci rodeada por pessoas que dão um pause no dia, e na vida também, pra tomar um café. Não inventei nada disso, estranho pra mim é saber que não funciona assim pra todo mundo. 

Na mesma semana que a Renata fez o comentário, apenas alguns dias antes eu coincidentemente teorizava com o Pedro justamente sobre isso. Porque depois do almoço, naqueles dez minutos que meu pai demora pra escovar os dentes e ler um pedaço solto do jornal antes de sair correndo e me levar junto, eu e ele fomos até os fundos da casa pra tomar um café e comer um quadradinho de chocolate na frente da piscina, observando os bem-te-vis criando coragem pra dar um rasante na água e tomar um banho de dez segundos. Éramos eu e ele ali, silenciosamente, com as nossas xícaras de porcelana fina da vovó, dando um pause no dia, e na vida também, antes de começar tudo de novo.


Como se lesse a minha mente, ele soltou: "Eu gosto de café porque ele obriga a gente a parar, sentar um pouco, tomar um ar e não pensar em nada". E sim, é exatamente isso e só uma pessoa com quem eu me dou tão bem poderia entender dessa forma. Você até pode tomar um café enquanto faz alguma outra coisa, todo mundo faz isso e eu também, mas não é a mesma coisa, não é o jeito certo. A gente nunca queima a língua ou suja a blusa e os papéis quando simplesmente para pra tomar um café, já pensaram nisso? 

Parar pra tomar um café é um ato de resistência. É você contra a realidade tacanha, a obsessão moderna por produtividade, as artimanhas do capitalismo, a parte do mundo que é um moinho. Ousaria dizer até, sem medo nenhum de ultrapassar os limites do ridículo da metáfora, que o cafezinho no meio do dia é a desobediência civil inserida no cotidiano do ser humano comum, do trabalhador brasileiro. Eles contam minhas horas e me pagam mal, mas foda-se essa merda toda que eu vou ali perder uma meia-hora com uma xícara de café, um quadradinho de chocolate, e um papo sobre a novela de ontem.


Se os caras de Pulp Fiction pararam pra tomar um café gourmet antes de limpar as vísceras de um homem de dentro de um carro, a gente também pode fazer uma pausa.

E por que logo café? Ora bolas, porque além de ser minha bebida favorita no mundo inteiro, ele fornece uma dose especial da melhor droga lícita que existe, a cafeína, aquela que dissolve o cenho franzido e alivia a dor de cabeça acima dos olhos, a que quando bate em formato de expresso sobe com uma energia gostosa que é quase como o espinafre do Popeye, e ainda exala um cheiro que toma conta da casa inteira e que consegue me tirar da cama antes das sete. Além disso, o café tem a medida exata para durar aqueles providenciais cinco ou dez minutos e é o casamento perfeito para um tabletinho de chocolate, que termina de adoçar o momento. 

Tem essa música do Eduardo Dussek, meu novo ícone excêntrico dos anos 80, na qual ele descreve um cenário do fim do mundo. "Abri a janela e pasmei", canta ele em Nostradamus, ao observar do outro lado alguns prédios explodindo e pessoas correndo. Ao perceber que se tratava de obra de Deus, Nostradamus, alguma força do bem ou da maldade, ele simplesmente encara Carlota, a cozinheira, morta no chão e apela: "levanta, me serve um café que o mundo acabou". 


Ouvi essa música e alcei o cara automaticamente à condição de ídolo, porque gosto de acreditar que se um dia eu acordar e der de cara com o fim do mundo, eu vou é sentar numa poltrona, tomar um café e observar o sol explodir na janela da minha casa.

Agent Cooper curtiu muito esse post 

Vamos todos morrer mesmo

$
0
0
Ano passado eu meio que vi um show do Flaming Lips. Digo meio que porque boa parte dele eu passei andando na lama de braços pra cima em busca dos meus amigos, e outra considerável eu gastei me certificando que um desses amigos não ia desmaiar. Ah, os festivais de róque! Sobrou pouco tempo para admirar Wayne Coyne que aquele bebê bizarro que eu não entendi até agora, mas consegui bater palminhas e cantar "Yoshimi Battles The Pink Robots" e ouvir a minha música favorita da banda ao vivo. A música, no caso, é "Do You Realize??", e logo na primeira estrofe ela já manda: do you realize that everyone you know someday will die? 

Nisso, um avião passou voando sobre nossas cabeças, o que fez com que o vocalista nos mandasse acenar pras pessoas lá de cima, pra depois refletir que olha que legal, em algum lugar do mundo, em algum momento, um acidente de avião iria acontecer e matar um monte de gente. Do you realize?


Olha Coyne, eu até entendo onde você quis chegar. Afinal, sua música mais bonita fala justamente que a gente precisa se ligar que vamos todos morrer em algum momento e que é melhor aproveitar o agora pra fazer e dizer tudo, antes que seja tarde. Eu entendo, eu juro. Mas mesmo assim, achei bem desnecessário na hora, e num momento como esse, voltei a pensar nessa parte do show e achei mais dispensável ainda. 

Eu não tenho medo da morte. Medo de morrer, como o Gilberto Gil, talvez. Assim como a maior parte das pessoas, eu não quero que doa, nem que seja embaixo d'água, e peço a Deus que seja breve. Mas esse medo do fim, juro, não tenho nenhum e inclusive acho que deve ser ótimo - se os mortos falassem, aposto que recomendariam. Isso não me impede, no entanto, de sentar na janelinha da locomotiva dirigida pelo Bergman e copilotada pelo Woody Allen que faz com que eu passe mais tempo do que deve ser considerado saudável pensando sobre a morte.


Talvez por isso eu tenha me enfiado nessa piscina de cilada que foi esse último período num projeto que durou o semestre inteiro justamente sobre morte. Foi muito tempo pesquisando sobre ritos de morte diversos, falando no telefone com agentes funerários, visitando cemitérios e indo parar em  mostruário de caixões. Uma bad vibe como nunca antes vista, até mesmo pra quem, como eu, consegue inserir alguma piada ou trocadilho envolvendo morte em duas de cada três frases diz (imaginem só a enxurrada de constrangimento entrevistar a gerente de uma funerária estando nervosa e sem conseguir parar de ser inapropriada por um segundinho só?).

E aí que numa dessas madrugadas gastas com o trabalho mórbido, achei que era justo fazer um mix temático pra embalar a reta final do projeto. No começo era uma brincadeira com meus amigos, mas quem pensa muito sobre morte acaba tendo um acervo bem impressionante de músicas sobre morte & mortos na biblioteca, ainda que não seja de propósito. Foi assim que surgiu essa mixtape, e achei interessante perceber o modo como várias dessas letras me ajudaram a construir um bocado da minha concepção pessoal sobre o tema e até a lidar melhor com ele. 

No entanto, preciso dizer que essa não é uma mixtape triste. Reflexiva talvez, melancólica também, mas triste eu juro que não é - ao menos não muito. São músicas que fazem pensar, como a letra do Lestics que conta a história de uma moça que consegue ver como todo mundo vai morrer, mas ninguém se interessa por suas visões,mesmo que seja uma premonição bonita. Ou então quando a Jenny Lewis coloca a vida moderna em perspectiva e diz que nossas ambições pequeno-burguesas não fazem muito sentido quando a gente pensa que vai morrer um dia, lá em "Pictures of success". Algumas falam sobre quem já morreu, como na despedida de Elton John em "My father's gun" (que é trilha de Elizabethtown, um filme supimpa que aborda o tema), ou na música mais deliciosamente triste do mundo, que o Paul McCartney escreveu para o John Lennon depois que este morreu. Beatles está ali porque essa música, pra mim, é a trilha sonora perfeita pra um funeral desses de filme, e Shout Out Louds é bem mais banal e sonha com a morte só pra dar um sossega nas ideias erradas da cabeça.

Sei que o tema é espinhoso, mas eu juro que as músicas estão boas. E sempre que estiverem se enfiando em piras improdutivas sobre o assunto, lembrem do que diz o Wilco: please don't cry, we're designed to die - e siga em frente.



01 Do you realize?? (The Flaming Lips)
02 I will follow you into the dark (Death Cab For Cutie)
03 Dom desnecessário (Lestics)
04 Don't lie (Vampire Weekend)
05 Pictures of success (Rilo Kiley)
06 I do believe (Drive-By Truckers)
07 Wish I was dead pt. 2 (Shout Out Louds)
08 Here today (Paul McCartney)
09 Learning how to die (Jon Foreman)
10 My father's gun (Elton John)
11 Rockstars and cigarettes (Beeshop)
12 Canção pra você viver mais (Pato Fu)
13 Last kiss (Pearl Jam)
14 There is a light that never goes out (The Smiths)
15 On and on and on (Wilco)
16 The long and winding road (The Beatles)
17 It just is (Rilo Kiley)

Aqueles em que eu fiquei acordada a noite inteira

$
0
0
Ou: Pequeno inventário de noites mal dormidas

Quando éramos crianças, o Pedro e eu tínhamos essa obsessão que era passar a noite em claro. Todas as férias, dia após dia, a gente jurava que aquilo ia dar certo, mas ou dormíamos sem nem perceber o que tinha acontecido, ou nossa avó dava um jeito de acabar com a festa chegando muito brava no quarto e fazendo ameaças: só vai comer no McDonalds quem dormir; se eu ouvir mais um pio ninguém joga vídeo-game amanhã. Vencidos pelo sono ou pela barganha, a gente sempre chegava atrasado no nascer do sol.

EXPECTATIVAS


Aí teve a minha viagem de formatura da oitava série, a melhor viagem com a escola que já fiz na vida. Pela primeira vez na história das excursões nós estávamos sem supervisão: duas turmas de oitava série e um só professor pra monitorar tudo - professor este que levou a mulher, os filhos, e estava muito mais interessado em curtir o feriado com eles do que se certificar que estávamos indo dormir na hora certa. Contanto que ninguém morresse, perdesse um braço, ou desistisse de voltar pra casa, por ele tudo bem. 

Duas turmas de oitava série, sem supervisão, soltas num hotel. Façam as contas.

Nós viramos a noite na piscina falando besteira, e acho que só deu certo porque não foi nada combinado. Minha infância me passou a lição de que essa coisa de ficar anunciando em voz alta que não vai dormir só serve pro sono (ou pra bronca) vir com força, então é melhor deixar as coisas acontecerem naturalmente. E aconteceu, porque estávamos nadando e dando gostosas risadas quando alguém percebeu que já eram quase seis da manhã e o sol ia nascer. Vimos o dia raiar e fomos tomar café da manhã numa padaria da cidade, pra só então irmos finalmente pros nossos quartos dormir o sono dos justos. 

Tão justo foi o sono que minha amiga e colega de quarto, que lá pelas duas da manhã cansou da brincadeira e foi dormir, acordou passando muito mal, vomitou a alma, e eu não consegui acordar pra ajudar. Ela joga na minha cara até hoje que teve que ir se arrastando toda verde atrás de água e remédio, correndo o risco de vomitar no corredor, porque me sacolejou, me gritou, arrancou minhas cobertas e eu não esbocei reação - e isso não é coisa que se faça. Não é mesmo e eu sinto muitíssimo até hoje, mas foi mais forte do que eu.

REALIDADE #1


Hoje esses eventos me parecem muito triviais, mas esse episódio me deu uma sensação muito boa de que eu era dona de mim mesma. Ir dormir quando eu bem entendesse ou não dormir de jeito nenhum, sair na rua ao léu atrás de um lugar pra tomar café da manhã numa cidade diferente, são coisas pequenas, mas até então esse tipo de liberdade era uma coisa que não fazia parte da minha vida, e eu gostei da novidade. Eu não estava nem com os meus amigos de sempre, e acho que o fato de eu ser a única testemunha da turma nessa noite só deixa as coisas um pouco mais, well, mágicas. 

Eu sei, é brega, mas é assim que eu me sinto. 

Poucos meses depois, foi a vez de eu virar a noite com aquela amiga que na viagem acabou desistindo no meio do caminho. Foi igualmente espontâneo: ela veio dormir aqui em casa e, conversa vai, conversa vem, de repente o sol estava nascendo lá fora. Lá pelas sete nós inventamos de assistir Elizabethtown e dormimos em cinco minutos. Mais tarde foi a minha vez de acordar passando mal, por conta de todas as coisas que fomos comendo durante a noite. Misturar Toddynho com maçã, gelatina e bolo de chocolate, tudo em doses cavalares, não foi uma ideia muito boa, e quem vomitou a alma dessa vez fui eu, e acho que no fundo minha amiga se sentiu vingada.

REALIDADE #2


E aí teve uma vez que eu perdi o sono numa véspera de prova, e lá pelas três da minhã, quando vi que eu realmente não iria dormir, eu simplesmente levantei e fui pra sala dar mais uma estudada. Matemática, sabe como é. Não sei se esse estudo extra rendeu alguma coisa, nem se eu tive cabeça pra fazer a prova direito. Só lembro que era um sábado, estava tendo churrasco em casa, e eu dormi por umas três horas deitada no chão na beirada da piscina. Meu pai jura que tentou me arrastar de lá, mas, novamente, o sono foi mais forte que eu. 

REALIDADE #3


Nessa terça, depois de anos, virei mais uma noite. O oba-oba da adolescência passou e eu percebi que dormir no mínimo oito horas é vital pra mim, principalmente se forem oito horas durante a noite. No entanto, situações desesperadoras pedem medidas desesperadas, e aquele trabalho mega chato e mega trabalhoso deveria ser entregue na quarta, e terça, às nove da noite, pouquíssima coisa estava pronta. Era um trabalho em grupo que realmente precisava ser feito em grupo, e o *único* horário que todo mundo tinha disponível era depois das nove, então lá pelas dez (depois da novela) a gente começou.

A noite foi longa. Varar a madrugada trabalhando é bem diferente de fazê-lo rindo com amigos, e eu alternava ciclos em que a sensação era de que meu cérebro ia desligar a qualquer momento com outros meio eufóricos de ficar andando pelo apartamento e falando sem parar. Tomamos café, cantamos, xingamos o professor e xingamos a nós mesmos por ter deixado a situação chegar àquele ponto, mas eventualmente acabamos. Às dez e meia da manhã, quando eu finalmente pude sossegar e dar uma encostada antes da aula, meu cérebro parecia uma caricatura dele mesmo pelo cansaço e excesso de cafeína, e até agora não sei onde arranjei forças pra ir pra faculdade, consertar erros que passaram batidos no trabalho, comer, e só depois voltar pra casa e dormir de vez.

REALIDADE #4


Apesar do perrengue e do fato de que, se eu pudesse voltar no tempo, eu obviamente faria o trabalho antes pra não ter que passar por aquilo de novo, a sensação de liberdade da primeira noite em claro se manteve ali. 

Ficar doze horas na frente de um computador é infinitamente pior do que passar esse mesmo tempo plantando bananeira numa piscina aquecida, mas as duas coisas acontecem por causa do mesmo princípio, aquele que faz com que, aos nove anos de idade, uma noite inteirinha sem dormir pareça uma coisa tão atraente: a gente faz porque não tem ninguém pra nos impedir, e isso é uma delícia.


(Na real, tomar sorvete antes do almoço (ou fazer do sorvete o próprio almoço) dá na mesma e confunde bem menos nosso organismo, mas definitivamente não rende uma história. Qual é a de vocês?)

Eduarda levada da breca

$
0
0
Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui.

Não sei o que acontece comigo, mas eu dou voltas e voltas pra sempre me encontrar envolvida em algum projeto relacionado a escola. A aventura da vez é o meu novo estágio como supervisora do jornal interno de uma escola. Eu queria mudar de ares e achei a proposta totalmente Gilmore Girls, e enxerguei a oportunidade como uma forma de superar a mágoa de nunca ter tido isso nas escolas que estudei. 

Além disso - e eu estou plenamente consciente de que isso vai soar ridiculamente exagerado e dramático pra vocês, mas juro que quero dizer exatamente isso - eu gosto de trabalhar com crianças e adolescentes. Eles me animam, me revitalizam e, é, é bem isso mesmo. 


Antes de começar a fazer o jornal, eu precisava apresentar o projeto pros alunos, e foi assim que eu me vi entrando em turmas de quarta (!) a oitava série para dar uma aula sobre a importância do jornalismo e essas coisas que ninguém se importa ou presta atenção, mas que enchem meu coração (ando tão mexicana). 

Foi assim então que numa segunda-feira de manhã, primeiro horário, eu me vi diante de uma turma de quarta-série, com suas crianças de dez anos de idade (e estatura surpreendentemente baixa) que, apesar dos olhares inocentes, pareciam que comeriam meu fígado com limão e sal antes que eu conseguisse articular um bom dia. 

Foi então que eu conheci a Eduarda.

Eduarda é uma dessas meninas que toda sala tem: não importa se ela tenha meio metro, como a criatura em questão, ou um metro e meio, como eu provavelmente já tinha nessa idade - ela é quase uma instituição das salas de aula. Eduarda fala alto, firme, e sabe de tudo que está acontecendo ao seu redor. Eduarda é confiante, se dirige a todas as pessoas com a mesma desenvoltura e pede poucas desculpas por ser quem é. E quando a professora perguntou por que a Eduarda não tinha ido até agora lhe dar um beijo de bom dia, ela colocou as mãos na cintura e lá do fundo soltou:

- Tia, eu e a Aimé estamos conversando. Quando a gente acabar eu vou aí te dar bom dia. 

O papo eventualmente acabou, e lá veio a Eduarda, toda pimpona. "Viu, tia, já cheguei. Não precisava ficar com ciúmes". Foi só depois do abraço que ela me notou ali no canto, e antes de qualquer apresentação formal ela já se eduardiou pro meu lado:

- Moça, seu cabelo é de verdade? 

Uma linha tênue é traçada quando uma pessoa pergunta se seu cabelo é de verdade. Era um elogio? Era uma piada? Questões. Mas, como eu disse acima, a juventude me renova e me faz acreditar no melhor das pessoas, por isso escolhi entender que, mesmo que ela não quisesse dizer que meu cabelo estava tão bonito que nem parecia real (gente, ninguém começa uma segunda com o cabelo bom), ela provavelmente tinha conhecido poucas moças com cabelo meio laranja na vida. 

Quando a aula começou, vi que o que fazia com que a turma parecesse mais assustadora era, na verdade, sua melhor qualidade. Eles falavam muito, e quando você chega numa turma de quarta série pra falar sobre jornalismo, é meio que essencial que os alunos falem com você. Mas, é claro, a Eduarda falava mais que todo mundo. O que vem na cabeça de vocês quando eu falo em jornalismo? Informação. Comunicação. Jornal Nacional. Repórter. Globo. SENSACIONALISMO, gritou a Eduarda lá do fundo. VOCÊ NEM SABE O QUE É ISSO, respondeu um garoto ali na frente, e a professora abafou a confusão antes que ela tivesse direito à sua tréplica. 

Assim se seguiu aquela aula, com os alunos participando e Eduarda adicionando comentários a praticamente tudo que eu e os outros colegas diziam. E aí que por algum motivo que agora não lembro, a professora que estava comigo perguntou por que duas garotas estavam sentadas em lugares diferentes do mapa de classe, então lá foi a Eduarda explicar toda a confusão que acabou com as duas separadas e sentadas em extremos opostos da sala. Tia, no jornal a gente vai poder contar que Ciclana e Fulana levaram bronca e mudaram de lugar?, perguntou aquele garoto mala lá da frente, ao que a Eduarda prontamente gritou: ISSO NÃO É NOTÍCIA, ISSO É FOFOCA E SENSACIONALISMO. VIU? 


Eduarda, minha nova ídola.

Ídola agora, mas que provavelmente seria odiada por mim se fosse da minha sala de quarta-série, da mesma forma que umas garotas da frente viravam os olhos sempre que ela dizia qualquer coisa. Eu seria uma delas. Se hoje eu me considero uma pessoa introvertida, aos dez anos de idade eu era introvertida, tímida e bastante retraída, e me sentia muito incomodada com as Eduardas ao meu redor. Essas pessoas que falam alto, chamam a atenção, não tem medo de falar com os outros e adoram um holofote - enquanto eu, ali no meu canto, dizia as respostas bem baixinho e ninguém ouvia, e tinha vontade de me enfiar embaixo da mesa sempre que me dirigiam a palavra. A existência de Eduardas era uma ofensa pessoal pra mim; eu, tão pouco à vontade em ser da forma como eu era, e por isso virava os olhos acreditando que elas eram o problema. 

No final da aula, perguntei se eles tinham alguma dúvida.

- Tia, você não vai ficar com a gente até o fim da aula?
- Não, Eduarda, eu tenho que passar nas outras salas também.
- Ah, eu acho que você devia ficar. A gente nunca tem novidades por aqui, e eu gostei de você. Seu cabelo é tão bonito.

Hoje não sou mais tão tímida como antes e tenho menos medo de me impor, mas continuo introvertida e acho que nunca vou gostar de ser o centro das atenções. O total oposto da Eduarda, mas isso não é um problema. Tudo bem que a gente seja assim, tão diferente. Aliás, é isso que faz dela alguém tão legal, como muitas meninas da minha sala deveriam ser também e eu estava ocupada demais querendo mudar quem eu era na marra pra perceber. E eu juro que não estou dizendo isso só porque ela disse que me cabelo era bonito - embora o elogio tenha feito a segunda-feira bem mais feliz. 

Acho que a Eduarda me poupou uns anos de terapia. 

#BlogDay 2014

$
0
0
Leitores mais antigos devem ter percebido que meu ritmo de postagens mudou muito nos últimos dois anos. Se isso nunca te chamou a atenção, basta dar uma passada de olho nos arquivos para ver que, há menos de dois anos, minha média de posts por mês era de uns 9 ou 10, enquanto hoje me sinto vitoriosa se passo dos cinco. 

Números de lado, o que mais mudou, e espero que só eu sinta isso, é que não blogo mais com a mesma facilidade do princípio. Antes qualquer assunto virava post, e rápido, e hoje eu passo mais de mês ruminando uma história e levo bem umas quatro horas pra escrevê-la. Acho que a faculdade me fez mais crítica comigo mesma, e como escrever é a única coisa que faço na vida, fazê-lo por prazer, porque sim, tem perdido um pouco de espaço na minha rotina. Aquela ressaca de escrita que antes vinha uma ou duas vezes num ano agora bate ponto aqui todo mês, e se eu não mandei tudo pros ares até hoje é porque eu realmente não sei o que é viver sem ter um blog.

Em dezembro a gente completa sete anos, e foi a Dani Arrais que me chamou atenção pra esse detalhe no seu post recente, "A crise dos sete anos". O Don't Touch My Moleskineé uma referência pra mim há anos, e mesmo tendo notado a diminuição expressiva no ritmo de atualização, não conseguia imaginar que logo a Dani, que espalha inspiração por aí e vive cheia dos projetos e das ideias geniais, poderia estar vivendo algo parecido. Aliás, esse papo de crise de blogueiro tem sido uma constante, e uma coisa que tenho percebido é que quanto mais dividimos essas angústias, mais leve fica o fardo. Ufa, não estamos sozinhos nessa, e talvez, juntos, seja mais fácil escapar dessa maré ruim.

É por isso que eu gosto tanto do Rotaroots, iniciativa criada por alguns cânones da blogosfera old-school, pra unir e estimular os blogueiros para voltar à ativa. Estou no grupo há alguns meses e sei que não participo como deveria, mas sempre que entro lá, bisbilhoto (e às vezes dou palpite) as discussões e leio as postagens coletivas do pessoal, sinto meu ânimo renovado para tacar pau nesse meu carrinho. E aí que hoje de manhã, quando comecei a ler os posts do Blog Day - que, pra variar, eu tinha esquecido que era hoje - fui conhecendo tanta gente nova, vendo tantos espaços legais, e me sentindo tão ~acolhida~ nesse universo paralelo que tem sido meu refúgio há quase sete anos (gente é muito ano), que não resisti à brincadeira.

Esse é o quarto #BlogDay que eu participo (2009, 2010, 2011, 2013), mas é especial porque, por trás de cada indicação, além do carinho e da admiração, deixo um agradecimento e um beijo na ponta do nariz de todo mundo que não me deixa sair dessa vida, e que me lembra todos os dias por que eu me meti nessa roubada. Feliz dia do blog, sobreviventes! ♥



Blogs que não saem dos meus feeds


  • O Minha Vida Como Elaé já foi indicado aqui em 2011, mas precisava aparecer de novo porque a Analu está sempre nadando na piscina de cilada junto comigo. Minha companheira de inventar memes, gravar vídeos, que comenta em absolutamente todos os meus posts e ainda monitora se estou sendo bem mimada, com o extra de ser hoje uma das melhores amigas, que eu não teria conhecido não fosse pelo blog. O dela é cheio de casinhos deliciosos do cotidiano, muito papo sobre livros, nenéns fofos e filosofias que martelam na cabeça.
  • O Agora Moro Na Lua, surpreendentemente, nunca tinha aparecido por aqui. Uma lástima das grandes e vou dizer por que: a Milena é uma das pessoas mais legais do mundo inteiro, e acho um privilégio podermos saber o que se passa nessa cabecinha lunática. Os textos dela são tipo uma vanguarda da minha cabeça, porque temos muitas ideias em comuns, mas o raciocínio dela sobre as coisas sempre chega antes do meu, com epifanias geniais sobre a vida, o universo e tudo mais. Botinem a cara dessa menina pra ela postar mais, porque seu BEDA foi uma alegria diária no meu feed!
  • Estrela do primeiro #BlogDay da história do So Contagious, o Sem Formol Não Alisa continua sendo, mesmo depois de cinco anos, uma das minhas leituras favoritas na internet. A Dani consegue fazer um blog pessoal, sobre assuntos que tem a sua cara, que é ao mesmo tempo super utilitário, com muitas dicas bacanas de organização e otimização de tempo que não parecem complicadas ou assustadoras. Vale muito a leitura!
  • A Sarah e a Deb são irmãs e mantém blogs separados, o Freedom e o Ensaio Sobre Mim, respectivamente. Na minha cabeça elas são as Braguinhas, e seus blogs tem vibes bem complementares. Adoro ler as reflexões que a Sarah faz sobre a vida e conhecer um pouco mais sobre a vida de uma estudante de museologia, do mesmo jeito que sempre corro atrás das dicas da Deb e adoro suas fotografias. Aliás, as duas moram no Rio de Janeiro e sempre fazem fotos maravilhosas da cidade, bem como das viagens que elas fazem pela região. Fico babando e morrendo de saudades!
  • Leio a Jana Rosa desde a época do seu blog de modas, o finado (e sempre lembrado com muita saudade) Agora Que Sou Rica. Sou fanzoca mesmo e sempre vou atrás de qualquer coisa que ela esteja escrevendo por aí (inclusive do livro bem bacana que ela lançou junto com a Camila Fremder, o Como Ter Uma Vida Normal Sendo Louca). Agora a Jana está vivendo uma fase muito diferente e feliz na sua vida, viajando loucona pelo mundo e acumulando histórias. No seu blog pessoal temos um apanhado dessas experiências, dicas de viagem (com escala de riqueza da Kim Kardashian) e umas reflexões muito bacanas de quem viveu no mundo glamoroso das modas e it girls, cansou e foi viver la vida loca como normal girl. 

Blogs que eu conheci recentemente 
(não necessariamente por causa do Rotaroots)


  • O Filosofinhas entrou na atualização mais recente do meu blogroll, e já é favorito nível ser aquele blog que eu estou me empanhando pra ler até o final. A Júlia é professora de educação infantil e usa o blog pra contar casos dos seus alunos, que inevitavelmente levam a maravilhosas epifanias sobre a vida. 
  • A Camila Pavanelli, que está por trás do Recordar, Repetir, Elaborar, é uma moça inteligente pra caramba. Acho que é o blog mais ~sério~ da lista, com posts sobre política e comentários sobre atualidades, e o que mais gosto é que ela consegue cavar bem além do senso comum nas suas análises, possui opiniões firmes que sustenta com ótimos argumentos, e sempre, sempre, SEMPRE me faz pensar. Camila, me sinto mais inteligente sempre que leio seu blog. Obrigada!
  • O dia que eu conheci o Milarga, da Vanessa, foi o dia em que eu fiquei chorando de rir, bem alto, na redação lá na faculdade. Eu tinha que enrolar até a hora de ir pra rádio, já tinha terminado o trabalho, de modo que não me restou muita coisa a não ser ficar lendo blogs. A Analu tinha me mandado um link prum post dela, que eu devorei e morri de rir, e assim continuei até a hora de sair. Meu Deus do céu, eu dei muita risada, e continuei dando à medida que ia lendo o blog todo. Ironicamente, fui ler o post mais recente dela, que é justamente a respeito de que essa sua característica incrível - ser muito engraçada, rir de si mesma e contar as melhores histórias - acaba afastando as pessoas quando a graça acaba. Quis pegar o endereço dela, mandar uma carta, um abraço virtual, sei lá. Vanessa, você é foda e e o mundo é horrível assim mesmo. Stay strong! 
  • Não tenho costume de acompanhar muitos blogs literários porque tenho a impressão que são todos meio que mais do mesmo, sempre falando dos mesmos livros. O Eu Li, E Agora? da Mareska foi uma alternativa bem legal, que eu conheci através de uma semana especial contra o preconceito literário que ela participou junto com alguns outros blogs. Gosto muito de suas resenhas, seu texto é ótimo e divertido, e curto mais ainda as divagações a respeito da literatura de modo geral. 

Blogs para sair da rotina

  • Sabe musa inspiradora? A Aline Valek é tipo isso pra mim. Conheci seu trabalho através do site da Carta Capital, onde ela mantém um blog sobre feminismo, e fui atrás de tudo que ela escreve. No seu blog, além de ótimos posts sobre feminismo que sempre me ensinam, me inspiram, e me fazem pensar, a gente encontra também conversas mais gerais sobre cotidiano, vida virtual, ficção científica e outras nerdices. Além disso, a Aline mantém uma newsletter sensacional, a Bobagens Imperdíveis, que eu tento ler sempre, porque é cheia de coisas maravilhosas (e eu sempre levo um sustinho quando, durante o texto, ela me chama pelo nome hehe). 
  • Ainda nessa pauta de feminismo, uma das novidades mais bacanas da internet: o Lugar de Mulher. Ok, não é um blog, mas esse site criado pela Clara Averbuck, junto com a Mari Messias e a Polly, é o tipo de coisa que eu visito todos os dias, re-li-gi-o-sa-men-te, e fico atualizando, aflita, quando não tem mais nada de novo pra ler. Abordando o feminismo nas mais diversas frentes, essas três maravilhosas (e outras colaboradoras esporádicas super especiais) falam de cotidiano, moda, entretenimento, sexo e política, com textos curtos, divertidos e muito informativos. Lugar de mulher é onde ela quiser, e eu fico muito feliz que exista um site brasileiro que nos lembre isso todos os dias.
  • O Pedrinho Fonseca é o tipo de pai que o Phil Dunphy chamaria de pai odiável, simplesmente por ser tão incrível que deixa os outros invejando suas iniciativas. Através do Do Seu Pai, ele escreve cartas para seus três filhos (LINDOS!), João, Irene e Teresa. As cartas vem acompanhadas de fotos lindas que ele tira, e não é raro eu me pegar chorando por conta delas. É muito amor e sensibilidade num lugar só, e só fico imaginando que presentão que essas memórias não vão ser quando João, Irene e Teresa tiverem idade suficiente para lê-las e absorver todo esse carinho e sabedoria. 
  • Nem lembro como conheci o Fê e a Debbie, mas me apeguei tanto ao Pequenos Monstros que já chamo os dois por apelidos e conto caso deles pras pessoas como se fôssemos amigos - e eu nunca nem comentei no blog! O blog do casal é cheio de histórias bacanas de viagem, muitas fotos lindas, e pra praticantes do cachorrismo, o Luca e a Lisa são um caso especial de fofura. Agora os dois estão morando em Berlim, e está sendo incrível acompanhá-los nessa nova aventura. Dá vontade de enfiar tudo numa mochila, colocar Francisco, o poodle, embaixo do braço, e sumir por aí. 
  • Vocês lembram daquela época maravilhosa que as pessoas faziam blogs de moda pra ser uma alternativa àquele mundo das revistas, que não tinham nada a ver com a nossa realidade de normal girl do mundo real? Então, o Tá Tudo Caro conseguiu manter isso mesmo com tantas distorções no meio. Mesmo não senso assídua compradora da China e adjacências, gosto do blog porque o estilo da Bárbara é super parecido com o meu, e seus looks sempre rendem inspiração. 

A pira da beleza: uma longa história

$
0
0
Esse post faz parte da Blogagem Coletiva do Rotaroots, grupo criado para reunir blogueiros de raiz que sentem falta da blogosfera moleque e pé no chão. Para participar, junte-se a nós no grupo do Facebook mais cheio de nostalgia que já se teve notícia e coloque seu link no rotation. O tema desse mês é: stop the beauty madness. 
Ou: Manifesto pelo fim da loucura com a beleza

No terceiro período da faculdade, fiz uma disciplina optativa sobre imprensa feminina. Me matriculei porque me interesso pelo tema desde sempre, como leitora de anos que fui, como filhote de jornalista que sou, e como alguém que sempre teve vontade de trabalhar com isso. Mas, no fundo, esperava mesmo era uma aula divertida, que servisse como desculpa pra eu comprar um monte de revistas e ficar gongando os textos da Nova. Sou muito profissional.

Só que o que aconteceu foi que essa matéria acabou se tornando um curso que, literalmente, mudou minha vida. A maioria das coisas que eu até então achava saber sobre questões de gênero, moda, beleza e imprensa especializada caiu por terra, e eu nunca vou deixar de ser grata à professora maravilhosa que abriu meus olhos pra tantas coisas novas, nem pros autores sensacionais que li e estudei naqueles quatro meses. 

Era uma cadeira sobre imprensa, mas a maior parte do curso ficou reservada pra estudarmos a história da beleza e a história das mulheres. Foi, de longe, a matéria que mais me ensinou, um aprendizado realmente intenso (na medida em que a gente possa classificar essas coisas como intensas), e é por isso que toda vez que alguém vem falar sobre beleza, corpo e padrões de beleza, meu impulso inicial é despejar de uma vez tudo que eu aprendi naquele semestre. Não pra ser pedantona, mas porque entender como esses conceitos se constroem historicamente nos dá uma diferente perspectiva sobre o assunto, e mostra que a culpa, ao contrário do que o senso comum realmente comum pensa, não é uma questão de nooooossa ditadura da beleza imposta pela mídia que distorce as moças com photoshop nooossaaaaa. 

Esse é apenas um dos sintomas de uma doença muito mais complexa, e se for pra resumir a questão, eu diria que: migas, o buraco é bem mais embaixo. Por isso, bear with me: 


A beleza, principalmente a das mulheres, começou a ser valorizada na época da Renascença. No entanto, até mais ou menos o fim do século XIX, buscar a beleza não era uma coisa tão bem vista assim. Beleza era sinal de caráter, reflexo da alma da pessoa, ou uma questão de sorte na vida. Se você fosse feia de acordo com os padrões da época, paciência. Comprasse um chapéu pra disfarçar a cara na rua, descolasse umas rendas, torcesse pra nascer mais bonita na próxima vida.  Não que as mulheres sofressem menos por terem que aceitar a """"sina""" da """""feiúra"""" - feiúra essa que, tal qual a beleza, também mudou muito de acordo com o tempo - era só uma questão de não ter escapatória.

Essa coisa de buscar a beleza é uma afetação moderna, irmã da revolução industrial, da ascensão da burguesia e do triunfo da razão sobre o pensamento teocêntrico da Idade Média. Se Deus sai do centro das atenções, o homem passa a ser o senhor do mundo e a depender unicamente dele mesmo pra se fazer na vida. A beleza é um reflexo disso também, assim como a modificação do próprio corpo. Porque até então, se você fosse gordo era porque tinha vencido na vida e podia ficar em casa engordando, privilégio de poucos. Depois dessas mudanças, passou a ser massa mostrar que você podia se dominar de tal forma a domesticar até você mesmo. E às mulheres, sempre sujeitas às expectativas dos homens (e tendo que recompensar o mundo pela ousadia de existir, servindo de eye candy geral duzômi), restou a opção de fazer o possível e impossível para estar mais bonita, mais magra - olá maquiagem, olá academia, olá cirurgia plástica, e olá frustração eterna por não sermos perfeitas, máquinas infalíveis e belas sem defeitos.

É assim que nasce um padrão de beleza. A mídia não inventa nada. Ela difunde, satura, e oprime também - mas só dá voz e faz circular um ideal que é parte inexorável da nossa história, da construção da sociedade tal qual a gente conhece. E por isso que é tão foda desconstruir, combater, desmitificar tudo isso. Dizer que tudo bem ser assim, do jeitinho que você é, e que as moças da revista não mudam isso, parece muito fraco diante de uma coisa que vem sendo arquitetada há séculos e que tá tão ligada com a forma como nosso mundo se constrói, que é tão cruel com quem ousa pensar, agir e ser diferente.

- Tá, mas o que isso tem a ver com tirar uma foto sem maquiagem?

Como eu disse, a maquiagem é um dos meios utilizados pra gente se aperfeiçoar. Não é uma invenção moderna, mas a forma como ela é utilizada, sim. A sociedade diz que a  gente que precisa, deve se maquiar para ficar mais bonita, melhor do que aquilo que a gente já é. Mas, mais bonita, e melhor, de acordo com quem? Isso mesmo, com esse padrão aí vigente - que já foi outro, e que vai mudar quando nosso mundo não for mais o mesmo. A beleza é um conceito muito relativo, e a gente pode aceitar aquilo que nosso inconsciente coletivo acredita ser bonito, ou buscar aquilo que é bonito pra gente, do nosso jeito. Que nos liberta e que nos faz feliz.

Tirar uma foto sem maquiagem, sem filtro, e mostrar pra todo mundo, não é motivo de piada, é mais do que ganhar uma aposta com as amigas e esperar uma coxinha de brinde, vai além de querer ser melhor do que as outras por baixo do corretivo. Se você pensa assim, volte três casas, comece de novo. 



Tirar uma foto sem maquiagem, sem filtro, e mostrar pra todo mundo é, primeiro, dar um voto de confiança pra nós mesmas, nos aceitando como somos - mulheres normais, que acordam com uma espinha no queixo porque abusam do chocolate, que têm olheiras porque ficam vendo seriado até mais tarde na TV, que são humanas e não bonecas sem marca de expressão e bochecha rosada 24/7. É também se amar o suficiente pra mostrar pra todo mundo qual é a real. Por fim, é se empoderar e perceber que não precisamos de BB cream, base, corretivo, blush, pó compacto, rímel, cílio postiço, delineador e batom vermelho pra gostar da pessoa que encontramos todo dia no espelho depois de lavar o rosto.

Campanhas como a #stopthebeautymadness e a #TerçaSemMake estão nos convidando a pensar sobre isso, experimentar essa libertação (eu, que nunca tive grandes questões com minha auto-estima, confesso que tirei umas 7584 fotos até achar aquela que me deixasse mais à vontade para compartilhar) e celebrar junto com nossas amigas, irmãs, e mulheres ao redor que: a gente é linda pra cacete.

via Autoajuda do Dia
Sobre isso, uma história (essa é pequena, e eu juro que é a última): Como disse, nunca tive muito problema de auto-estima. No entanto, entre os 13 e 14 anos vivi minha fase mais crítica, aquela do lápis preto pra ir na escola e da vergonha absurda do corpo. E aí que minha viagem de formatura foi pra um resort, onde a principal (e talvez única) diversão era ficar na piscina. Seria a primeira vez desde que aquela coisa chamada adolescência tomou conta do meu corpo que eu iria aparecer de biquíni na frente dos meus colegas, e isso estava me deixando super insegura. Eu achava meu quadril enorme, minha bunda flácida, meus braços gordos e meus peitos pequenos. Só não entrei na piscina de camiseta e shorts porque isso me deixaria com mais vergonha ainda, e escreveria na minha testa o quão mortificada eu estava com aquela situação.

Fui uma das últimas a entrar na piscina, tirei a roupa correndo e logo pulei pra ninguém me notar. O que eu percebi observando as pessoas ao meu redor foi que, assim como eu, ninguém ali era perfeito. Reparava no corpo da menina que eu achava mais bonita e via que ela também tinha estrias e a bunda meio mole, que minha amiga magrinha também estava com vergonha das celulites e da pele branca, que a outra colega tinha ainda menos peito que eu. E eu não achava nenhuma delas menos bonita ou incrível por causa disso, elas continuavam maravilhosas. Só eram meninas normais de 14 anos, coisa que as modelos que eu via na Capricho não eram. Depois que eu percebi isso, nunca mais tive vergonha do meu corpo.

Não quero dizer, de forma alguma, que a gente deve olhar foto das coleguinhas sem maquiagem e se sentir melhor porque fulaninha não é tão bonita assim ou porque você """deu de dez""" na cara lavada dela. É ver que todas, inclusive você, somos maravilhosas. Com ou sem maquiagem.

Aliás, tá permitido gostar de make sim, eu inclusive amo muito, desde sempre, e o batom vermelho é meu melhor companheiro. O importante é virar a chavinha e entender que BB cream, base, corretivo, blush, pó compacto, rímel, cílio postiço, delineador e batom vermelho não têm que nos aprisionar e nos moldar de acordo com aquilo que os outros esperam ou acreditam ser bonito ou melhor, mas sim ser um algo a mais  pra gente se divertir, realçar aquilo que já temos de lindo, ou experimentar a delícia que é se sentir uma pessoa diferente só por causa de uma sombra preta ou de um batom laranja - ou então pra ignorar lindamente e ser bem feliz de cara limpa.


Parem com a loucura da beleza. O que as pessoas dizem que é bonito é só uma invenção de um conceito de beleza, assim e assado porque o mundo hoje gira assim e assado. A beleza de verdade, aquela que ninguém distorce, desconstrói ou rouba, é aquela que está dentro de você, de mim e de todas nós - e é ela que devemos celebrar. 

Pá de cal

$
0
0
Você percebe que as coisas estão ruins pro seu lado quando começa a contar pros outros que as coisas estão ruins pro seu lado. Não sei vocês, mas eu tenho esse reflexo de, independentemente da realidade, sempre dizer pros outros que está tudo bem. Bem, tranquilo, indo, na correria, sabe como é. Me acostumei a responder isso quando me perguntam como vai a vida, o humor, a faculdade --primeiro porque, na maioria das vezes, quem pergunta não quer realmente saber, é uma pergunta automática, que se faz por educação; depois, sou eu que na maioria das vezes não estou com muita vontade de estender o assunto, pro bem ou pro mal.  

Nos últimos meses, até quem me via lendo jornal na fila do pão sabia que meu semestre estava sendo horrível, e a partir desse fato vocês calculem o quão bacana estava a vida. Cheguei pra visitar meus tios em São Paulo e no primeiro jantar, quando colocávamos as notícias em dia e veio a inevitável pergunta e o curso, como tá?, eu apenas suspirei fundo e respondi: 

- Sinceramente? Uma bosta. 


Aparentemente essa crise de quinto período is a thing, o que até faz sentido quando penso que minha turma estava odiando aquele semestre tanto quanto eu, mas meu problema não era com o curso. Eu gosto do meu curso, eu gosto de jornalismo e essa intempérie não foi aquele cold feet que bate quando a gente chega na segunda metade de algo importante e se pergunta se aquilo é, de fato, o que a gente quer fazer da vida. Eu sei o que eu quero fazer da minha vida. Estava tudo horrível porque a grade daquele período não tinha uma única matéria que me interessasse, e aquelas mais ou menos os professores conseguiram estragar inventando trabalhos que não. faziam. o. menor. sentido. 

Como contei antes, trabalhei o semestre inteiro num projeto sobre morte. O tema foi escolhido primeiro porque é um assunto que realmente me interessa, desde sempre, mas principalmente porque nunca antes as frases QUE MORTE HORRÍVEL ou QUERO MORRER foram ditas com tanta frequência. Nos dias bons era até legal pesquisar a respeito, mas quando você está tendo uma semana horrível, num semestre horrível, visitar mostruários de caixão e ouvir a fonte contar em detalhes como se prepara um corpo pro velório definitivamente são coisas que não contribuem para melhorar o astral. 

























Por causa dessa falta de motivação, fiz uma coisa que nunca tinha feito - e que até então eu julgava quem fazia: larguei. Tirei um mês sabático durante a Copa no qual eu só ia na faculdade quando era realmente indispensável, e pros trabalhos e atividades que valiam menos de dez pontos, minha atitude era: não sou obrigada. Um pequeno dar de ombros pro mundo, um grande passo no meu histórico de caxias. Foi meio libertador jogar tudo pro alto, e a experiência também fez com que eu passasse a admirar todas as pessoas, que não são poucas, que passam a vida ou boa parte dela trabalhando ou estudando aquilo que não gostam. Isso requer uma perseverança que eu obviamente não tenho, e uma força de vontade que eu nunca vi nem comi, só ouço falar. 

Eu preciso acreditar naquilo que eu faço, me apaixonar pelos meus projetos e pelas coisas que eu estudo - e sei lá até que ponto isso pode ser bom. 


Meu nível de desespero era tanto que escrevi um e-mail enorme e dramático pra um jornalista experiente que eu conheço, pedindo um sopro de inspiração ou um puxão de orelha, qualquer coisa que me tirasse daquele marasmo. Pra minha surpresa (e terror), ele basicamente me disse: querida, joga tudo pro alto mesmo, fica aí lendo seus YAs, estude a New Yorker uma vez por mês e vá ser feliz na Califórnia, vai ser muito melhor pra você do que ficar presa numa cadeira de faculdade. Foi um bom conselho pra eu ver que nem tudo estava perdido, foi um péssimo conselho porque só aumentou a vontade que eu estava, que não era pequena, de simplesmente fugir. 

Agosto chegou como um tufão, me obrigando a lidar com tudo aquilo que eu vinha negligenciando nos últimos meses. Foi até melhor assim, se vocês querem saber. Era tanto trabalho e coisa pra correr atrás que eu não tinha tempo pra pensar, ia no ritmo que os compromissos me levavam até que, de repente, depois de um mês que valeu por seis, acabou. 

























E agora que acabou, é como se uma nuvem negra tivesse saído de baixo da minha cabeça. Eu tinha um último artigo pra entregar, que o professor deu prazo até uma semana depois do fim das aulas, e enquanto escrevia já sentia as coisas mais leves. Já estava inventando moda, lendo além do que era necessário, e com uma vontade de estudar e aprender que eu não tinha encontrado nos últimos meses. Foi como ser eu de novo, respirar depois de muito tempo embaixo d'água, voltar a sentir o gosto de comida depois de quinze dias com gripe forte. Pronto, passou.

No fim do primeiro período, eu e meus amigos iniciamos essa tradição de tirar uma foto meditando no meio da rua a cada fim de semestre, um rito de passagem pra abençoar aquilo que estava por vir, um pedido de serenidade, e uma brincadeira que vai ficar incrível quando a gente se formar. Esse período horrível foi tão emblemático que resolvemos mudar um pouco as fotos, por isso nos vestimos de preto e brincamos de morrer na rua - um abraço no pesadelo, que é pra que não fique nada por ser dito e ele possa passar reto. Esse post é a última pá de cal nessa fase ruim que, se Deus quiser, jaz aqui. 

























As fotos incríveis são do Felipe Flores.

Filminhos da vez #4 (ou pelo menos aqueles que eu ainda lembro)

$
0
0
Isso não é um projeto e eu vou parar de pedir desculpas por ele.

Teve uma época que eu gostava de ver filmes, me empenhava, lia sobre eles, fazia listas, metas e objetivos. Foi uma época boa, mas ela acabou. Eu ainda gosto de ver filmes, mas eu prefiro fazer outras coisas - ainda que uma dessas coisas seja ver de novo filmes que eu já vi mil vezes. E tudo bem. Essa seção é só pra eu registrar o que eu assisti, porque do contrário eu vou esquecer. Assim sendo, vamos ao que eu andei vendo nesses cinco meses (!). Juro que serei breve (até porque já esqueci da maioria). 

Short Term 12 (Destin Daniel Cretton, 2013): Quando esse filme entrou no catálogo da Netflix, a Rainbow Rowell praticamente obrigou todos os seus seguidores a assisti-lo, porque simplesmente não. parava. de. falar. a. respeito. Confesso que não lembro de muita coisa, mas gostei muito e fiquei com o emocional em frangalhos. O filme conta a história de uma espécie de casa de acolhimento onde adolescentes abandonados ou órfãos ficam até completar 18 anos. O lugar é administrado por jovens que também estiveram nessa situação, e a personagem principal acaba se vendo muito na história de uma menina nova no lugar, e isso acaba trazendo de volta tudo que ela sofreu quando era mais jovem. É um filme realmente forte, e deve afetar especialmente quem tiver vindo de lares abusivos. 

X-Men: O Confronto Final (Brett Ratner, 2006): Na Páscoa (!) fiz uma maratona de todos os filmes dos X-Men já lançados, para me aquecer até o lançamento do novo filme. O terceiro filme saiu numa época que eu já estava desencanando de X-Men (absurdo!) e nunca cheguei a ver ele inteiro. Como a crítica caiu de pau em cima, e na época eu era uma pessoa que ligava pra isso, nunca fiz muita questão de assistir. De fato, é um filme deveras peculiar e algo me diz que ele vai ser simplesmente ignorado na cronologia da história. Apesar de ter seus momentos de breguice extrema (o que vocês me dizem daquela cena final) e furos de roteiro, eu achei ele bem divertidinho. Gosto mais dele, por exemplo, que do segundo, com quase três horas de duração e um roteiro lentíssimo que demora a chegar em algum lugar. I regret nothing.




X-Men: Primeira Classe (Matthew Vaughn, 2011): Gente, outro nível de filme de super-herói. Seria meu favorito da franquia se não fosse pelo meu apego absurdo pelo primeiro, mas em termos de qualidade é definitivamente o melhor. Esse turma dos anos 60/70 é sensacional, e os personagens dos outros filmes que aparecem mais novos simplesmente matam a pau. Pensei que meu útero explodiria com o James McAvoy de Professor Xavier, mas achei ele Tiago Potter demais pro meu gosto. Agora, Fassbender como Magneto elevou um personagem já sensacional pra um outro nível de awesomeness. Adoro a forma como eles inserem o episódio histórico da Crise dos Mísseis com a trama dos mutantes, amei a forma como a origem do Beast foi explorada (sempre foi um dos meus personagens favoritos, antes até do Nicholas Hoult dar aquela ajuda pra ele) e amei o aprofundamento dado para a história da Mística. É a primeira vez que Jennifer Lawrence me ganha sem ressalvas (viu que eu dou o braço a torcer?) e adoraria um Origens sobre ela.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (Bryan Singer, 2014): O lançamento desse ano segue a mesma linha do First Class, mas a turma do passado se junta com o futuro num filme que fica indo e voltando no tempo. Fiquei um pouco confusa, principalmente por causa do final, esses filmes de viagem no tempo sempre me confundem um pouco. #humanas Ele também traz aquilo que funcionou super bem no anterior, que é misturar fatos históricos com a vida dos mutantes. É um filme muito bom, mas não chegou no nível do Primeira Classe de THIS IS FUCKING AWESOME. Nunca li os quadrinhos, mas tenho um amigo obcecado que me doutrinou bastante a respeito da história, por isso me sinto no direito de ficar nervosa pela perda de espaço de vários personagens (you go Kitty Pride) para dar mais destaque ao Wolverine. De resto, amei o Mercury e as piadinhas internas dele.

Vampire Academy (Mark Waters, 2014): Da série: filmes horríveis que são maravilhosos. É zoado nível hard? É. A produção é pobríssima? Sim. A gente fica com vergonha da maquiagem dos vampiros? Demais. É muito muito muito brega? SIIMMMMM!!! É sensacional? HELL YES!!111 Então, é tipo isso mesmo. O filme é zoadão, a produção é bem capenga, nível altíssimo de breguice e vergonha alheia, porém: maravilhoso. Eu realmente adorei a série de livros (preciso muito escrever sobre) e acho que eles mereciam um filme melhorzinho (até porque eu preciso de um segundo filme porque eu preciso de um Adrian personificado), mas esse me divertiu bastante (é o mesmo diretor de Meninas Malvadas!) e acho que a Zoey Deutch foi uma Rosinha absolutamente perfeita. Vem, Frostbite!

A Culpa é das Estrelas (Josh Boone, 2014): Bom, eu já falei sobre todas as emoções que experimentei vendo esse filme no cinema, então acho desnecessário repetir que amei demais. Enquanto adaptação, acho o filme perfeito: respeitou a essência do livro e dos personagens, e acaba corrigindo alguns "defeitos" da obra, que impediram algumas pessoas de curtirem o livro. Shai e Ansel são Hazel e Gus perfeitos, e os coadjuvantes não ficam pra trás (TE AMO, NAT WOLFF). É um filme triste, mas tem momentos onde é possível dar genuínas gargalhadas - e quando é pra chorar a gente chora mesmo. Se pudesse mudar algo, colocaria uma trilha sonora mais expressiva. O mimimi acústico predominante do Ed Sheeram e da Birdy não me emocionou em momento algum (DSCLP), e senti falta da vibe Hectic Glow.

Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2014): Esse filme me enche de orgulho! Acompanho a história desde o curta lançado em 2010 e fiquei muito feliz que a história conseguiu chegar no cinema, com tanta qualidade. Fiquei emocionada por ter a chance de ver o filme no cinema da minha cidade, uma iniciativa de fãs do filme pra levar o filme pra mais salas do cinema (inclusive no interior), e me apaixonei pelo resultado. Dá gosto de ver um trabalho brasileiro autoral como esse conquistar tanto público e ainda ganhar prêmios dentro e fora do país. Curti demais a transição do curta pro longa, aprovei o desenvolvimento dos personagens e as histórias paralelas. Os atores são ótimos e a trilha sonoraé fantástica: Belle & Sebastian como tema principal, além de Cícero e David Bowie. Amor!

Jogo de Cena (Eduardo Coutinho, 2007): Minha professora de TV passou um trecho desse documentário em sala, e eu achei tão incrível que fui atrás dele assim que cheguei em casa. O Coutinho colocou um anúncio no jornal chamando mulheres comuns para contar sua história de vida diante da câmera. O depoimento das mulheres é intercalado com atrizes dando o mesmo texto que elas, e é incrível a forma como ele flerta com a realidade do documentário e a interpretação visceral das atrizes. Em alguns casos, a gente fica meio em dúvida se a atriz está contando a própria história ou simplesmente interpretando o monólogo da vida alheia. As personagens da vida real dele tem histórias de vida muito impressionantes, e a maioria delas também muito forte. Chorei horrores assistindo e passei semanas pensando nelas.

O Espelho (Mike Flanagan, 2013): Eu e minha via crucis em busca de bons filmes de terror contemporâneos. Achei O Espelho bem honesto, e curti bastante a proposta. O roteiro tem uma estrutura bem legal, fazendo com que a história do filme se passe simultaneamente no passado e no presente. Do meio pro final, quando as coisas realmente esquentam, essas duas dimensões meio que se encontram, e ele brinca com a sua percepção. Não dá pra saber o que está acontecendo de verdade, o que é memória dos personagens e o que não passa de ilusão. Como a maioria dos seus companheiros, ele peca pelo excesso no final do filme, ao pesar a mão nas criaturas que aparecem, recurso que eu não curto muito e que acaba tirando um pouco do suspensa da história.


Malévola (Robert Stromberg, 2014): Queridos leitores, achei esse filme uma morte horrível. Fãs que me desculpem, mas ele é uma absoluta enganação. Encheram tanto o peito pra falar que criaram uma Malévola humanizada, diferente do maniqueísmo da animação, que simplesmente se esqueceram de desenvolver os outros personagens. Aurora, o rei, as fadas e todo o resto são simplesmente acessórios para que a história da Malévola se desenrole, o que contribui para que eles não façam o menor sentido. O roteiro é cheio de furos, o filme acaba tão logo entra no ritmo, a Aurora é uma boba alegre e as fadas são retardadas. O que salva o filme é o personagem do Corvo (pouco explorado) e a produção, que recria muito bem cenas do filme clássico e faz cenas de ação interessantes.

Os Homens São de Marte... E é pra lá que eu vou (Marcus Baldini, Homero Olivetto, 2014): Eu sou bem chata com filmes de comédia, então o fato de eu ter gargalhado vendo esse filme, até o ponto de babar e a barriga doer, conta muito. É um filme bestinha, desses que a gente sabe como vai terminar desde o começo, mas a jornada vale a pena porque a Monica Martelli (que protagoniza e assina o roteiro) é uma criatura fantasticamente engraçada, e as situações narradas por ela são hilárias. Os coadjuvantes também funcionam muito bem, principalmente o Paulo Gustavo (mesmo personagem sempre? sim. incrível mesmo assim? oh yes) e a Dani Valente. Filme gostoso de ver domingo à noite, pra morrer de dar risada, se identificar com umas histórias e terminar com o coração quentinho.


Vou encerrar por aqui, senão o post fica muito grande. Semana que vem eu termino de contar o que eu vi nesse longo tempo e o que tenho visto nos últimos dias. Até lá, vocês podem me acompanhar no Filmow, onde tento avaliar e tecer comentários (poucos, juro) sobre o que vejo. Vocês gostam desse formato de post? Me sugiram uns filmes legais, vai que eu me animo!

Complicada e perfeitinha

$
0
0
Ou: Big sister to my own sorrows

Não é raro quando, conversando com meus amigos, eu tenha a impressão narcisista que alguém deveria estar escrevendo aquilo que se passa com a gente. Não que sejam vidas tão extraordinárias assim (na verdade são sim, meus amigos são os melhores), mas é só que sinto que estamos vivendo um período da vida peculiar demais para ser ignorado ou então se limitar a lamúrias em 140 caracteres do Twitter. Entre romances inexistentes ou que dão muito errado, vôos e ônibus perdidos, azares a dar com o pau, atropelamento por parapente, chefes escrotos, colegas de trabalho delusionais e um sentimento coletivo de eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida, eu vira e mexe olho para nós, ali tão patéticos tomando sol nesse deck de cilada que é a vida, e penso: alguém deveria estar gravando isso.

E aí, sempre que eu penso isso, como que por reflexo começo a ver a mim e meus pares com as lentes dos Adultos que insistem em nos colocar naquele balaio ridículo que eles chamam de ~millennial~, com um discurso que somos obcecados por nós mesmos, só queremos saber de tirar fotos da nossa própria cara e do nosso prato de comida, e reclamar que é um saco ter que ir ao banco pros nossos colegas do Twitter. É meio que isso às vezes, mas não só, muito menos o tempo inteiro.


De um jeito menos radical, comparo minha vontade de registrar essas experiências, reflexões e crises de identidade com a ambição pretensiosa e meio patética da Hannah, de Girls, de ser a voz de sua geração. E fico pensando se o resultado disso não seria um documentário histérico e ridículo como a TV transformou o trabalho da Lelaina em Reality Bites. Ao mesmo tempo, escuto o pop chiclete da Taylor Swift, sem nenhum pudor falando que aos 22 anos ela é happy-free-confused-and-lonely-in-the-best-way, e penso como é reconfortante ouvir isso, nossa confusão romantizada assim, da mesma forma que é maravilhoso correr por Nova York junto com a Frances Ha, que reconhece não ser uma pessoa de verdade.

Cinismo e auto-depreciação à parte, a verdade é que eu acho que estamos vivendo uma fase de mudanças muito loucas. Tudo é incerto, as pessoas insistem em dizer o tempo inteiro que temos o futuro e o mundo a nossos pés, e essa afirmação, que deveria ser um conforto, acaba deixando as coisas um tanto quanto desesperadoras. Como eu acredito piamente na arte como forma de unir as pessoas e nos ajudar a entender melhor uns aos outros, tal qual Briony Tallis meu impulso inicial é querer escrever escrever escrever sobre tudo isso, numa tentativa solitária de ordenar um pouco do caos que tem sido viver.

E aí que no dia 29 de julho desse ano, saiu o novo CD da Jenny Lewis. Lembro que cheguei tarde em casa de um dia difícil, com a única ambição de lavar meu cabelo, comer alguma coisa, e deitar no meu quarto escuro ouvindo o que o The Voyager tinha a me oferecer. E foi assim que eu fiz, e assim continuo fazendo até hoje, porque dificilmente passo um dia sem ele na minha cabeça.


"Pictures of Success" talvez seja minha música favorita do Rilo Kiley, do primeiro disco deles. Aos 25 anos, Jenny escreveu essa música sobre nossas ambições pequeno-burguesas serem pequenas demais diante do fato que vamos todos morrer um dia (and Mexico can fucking wait!). Na mesma música, no entanto, ela diz "I'm a modern girl, but I fold in half so easily when I put myself in a picture of success". 13 anos depois, tendo encarado o fim da banda, a morte do pai, e severas crises de insônia, ela lança um disco novo.

Jenny Diane Lewis, aos 38 anos, escreve músicas sobre ser complicada demais para os homens, sobre como é ser mulher num meio predominantemente masculino, sobre como é ser cobrada para ter filhos, sobre drogas, sobre férias muito loucas em Paris, sobre o pai, sobre a vida, e conclui que é a única irmã de suas próprias mágoas. Eu, aos 20 anos, danço com os braços pra cima no meu quarto ao som de "She's not me", música que resume toda a minha vida, e me sinto melhor ao saber que a Jenny também olha pro passado e pensa "I bet you tell her I'm crazy". É um conforto saber que depois de todo esse tempo a Jenny Lewis também não tem a vida toda no lugar.


Mesmo assim, é essa mesma Jenny que, em "The New You", puxa nossa orelha e pergunta: "The farther that we run from it, how will we overcome it?", e afirma com assertividade, "Just One Of The Guys": "I'm not gonna break for you"(amen to that sister!) - o que mostra que as coisas estão  confusas e pouco resolvidas, a vida continua uma piada, mas ela tem crescido muito nesse caminho. Sem perder a doçura, porque "Love U Forever" está no disco pra nos lembrar justamente disso. A gente que admirar essa honestidade.

Ao vivo sim porque a ginga de Jennyinha me representa demais

Saber que mesmo adulta, vivida e maravilhosa a minha grande, amada, querida e inspiradora Jenny Lewis (já falei sobre ela antes) não tem tudo resolvido é mais um alívio do que um motivo desespero. Sustenta minha tese de que, no fundo, ninguém nunca tem the shit totally together. A vida é inteira uma coisa muito louca, cheia de mudanças e incertezas, que nunca vai parar de ser difícil e bizarra. Quando eu escuto CDs como o The Voyager, fico muito feliz ao saber que as pessoas estão mesmo escrevendo sobre isso.


Viewing all 270 articles
Browse latest View live