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Sobre meu mês na terra do romance

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Vocês já repararam que hoje em dia tudo vira projeto, principalmente entre nós, que somos ~gente da internet~? Tem projeto de corrida, de ginástica, de comida saudável, de fotografia, de decoração e até de caça à Paçoquita Cremosa. Nossos pequenos desafios diários parecem muito mais relevantes e interessantes quando transformados num projeto dividido com o mundo - ou pelo menos a pequena parte dele que se importa o suficiente pra acompanhar. Nada contra, inclusive sou cheia de amigos cheios de projetos, tanto que resolvi fazer um pra chamar de meu - além de todos aqueles que não deram em nada, por isso vocês nunca ficaram sabendo. 

Um dos cinco posts mais lidos do blog é um que eu falo a respeito de preconceito literário, mais especificamente sobre o preconceito direcionado ao YA. Sou contra todo e qualquer tipo de preconceito literário, que nada mais é do que você inferiorizar, julgar ou desprezar um livro pelo gênero. Isso porque no fundo, analisando esses preconceitos, a gente sempre descobre que eles tem origem em outros preconceitos maiores, que vão além do mundo editorial. 

O fato de eu ser contra essa postura e de me considerar uma pessoa esclarecida com relação a isso não me impede, no entanto, de ainda carregar comigo alguns deles. Em julho desse ano, o blog Eu Li, E Agora? promoveu a semana Não Julgue Um Livro Pelo Preconceito junto com outros blogs literários, e nesses dias saíram posts muito bons sobre o preconceito literário em geral, mas também sobre vários gêneros específicos que acabam sendo rejeitados por aí de forma bem injusta. Um deles é o romance, e lendo os textos ótimos a respeito dele que surgiram, percebi que eu. nunca. tinha. lido. um. romance. 

ANNA VITÓRIA, VOCÊ ENXERGA AMOR ATÉ ONDE NÃO TEM, COMO VOCÊ NUNCA LEU UM ROMANCE????////

Tá, esse nunca aí foi mais para efeito dramático. Eu já li sim uns romances na minha vida, como livros da Jane Austen e outros do Machado de Assis na sua fase pré-realista. Se a gente for considerar os chick-lits como uma espécie de romance, sim, também já tive minha cota deles. O negócio é que eu nunca vi nenhum desses livros como um romance (talvez porque os achasse bons demais para meros romances? #questões) desse tipo em que a relação amorosa é a principal parte da premissa. Sei que essa não é a definição mais apropriada para um romance, mas era assim que minha cabeça funcionava. 

E por que eu (logo eu!!!) nunca tinha dado uma chance pra esses livros? Sim, querido leitor, é isso mesmo que você está pensando: porque eu tinha preconceito. 

I know, right

Por que eu tinha preconceito com romances? Eu tinha a impressão (baseada em nada concreto) que todos eram meio piegas e necessariamente machistas, sem falar que costumava ficar um pouco constrangida com cenas de sexo em livros porque achava a maioria delas (maioria do que, cara pálida, você nunca leu nenhum!) muito bregas. Percebendo a bobagem absurda e sem fundamento que era tudo isso, e motivada pelos ótimos textos que li a respeito do gênero (mais especificamente esse e esse), resolvi que passaria o mês de agosto lendo única e exclusivamente romances. 

(Pra variar, Ariel Bissett fazendo uma discussão excelente, dessa vez sobre sexo na literatura, vejam vejam vejam)

E foi assim que começou essa jornada romântica particular. Foram seis livros no total, e na escolha dos títulos eu tentei explorar um pouco dos vários sub-gêneros que a gente pode encontrar dentro do romance. Coincidentemente, acabei lendo numa ordem, digamos assim, do mais quente para o mais frio: comecei com um livro declaradamente erótico e terminei com um em que o maior contato entre os personagens é um beijinho na mão. Foi totalmente aleatório, mas achei bacana o contraste. 

Vamos às leituras?

1) O romance erótico: Beautiful Bastard (Christina Lauren): Passei o olho, li que tinha um casal gato e rato (meu favorito) e que era engraçado. Baixei. Nem sabia que era um romance ~erótico~, e qual foi minha surpresa quando, aos 4% da leitura, a pegação nervosa começou! Ler em inglês me ajudou a gostar mais, porque me livrou dos costumeiros encontros com termos como membro rijo, entumescido, êxtase, etc. A história? Executivo e assistente que se odeiam e se pegam, numa dinâmica bem divertida em que mesmo quando eles estão no meio do vamos ver, eles conseguem se implicar. Personagem feminina bacana e empoderada, que coloca o chefe no lugar quando ele ameaça se tornar um babaca. Não tem história além do relacionamento entre os dois, o que pode deixar o livro cansativo se você não dá cabo dele logo. É o primeiro da série Beautiful Bastard (!), que já tem três livros publicados, além de contos (?) intermediários. Não sei se continuarei, mas foi uma boa primeira experiência com um gênero que eu não conhecia e tinha preconceito. O único estigma que se manteve foi o de que livros assim tem muito sexo. Mas né.  


Sim, o livro tem MUITO sexo, e isso às vezes incomoda um pouco porque no início os personagens são literalmente incapazes de ficar cinco minutos sozinhos num cômodo sem começar a se agarrar. Sim, rola todo aquele negócio de amor instantâneo, quando durante o rala e rola os dedos se entrelaçam, eles param de se chamar pelo sobrenome pra gemer o primeiro nome do outro com paixão (por que as histórias fazem um big deal tão grande com esse negócio de nome?), e aí vem a iluminação: é amor. De brega eu achei mesmo só o fim, quando a intersecção entre amor verdadeiro & erotismo atinge seu ápice e a gente pensa que certos limites metafóricos deveriam ser respeitados.

Escala pop de sensualidade: "Drunk In Love", da Beyoncé. We woke up in the kitching saying how in hell did this shit happen, oh baby?





2) O romance fofo: Álbum de Casamento (Nora Roberts): Quando a Analu me recomendou esse livro, ela me disse que ele era pra momentos em que tudo que a gente precisa é de um romance clichê e a certeza de um casamento no final. É isso que Álbum de Casamento te promete, e é isso que ele entrega. Mocinha cujos pais se divorciaram cedo, o pai se mandou e a mãe é uma manipuladora emocional que vive pulando de um casamento pro outro. Mocinha é cheia de defesas e armaduras, não acredita nesse papo de amor verdadeiro e não se imagina casada. Mocinha conhece Mocinho, rola uma química, Mocinho quer algo sério, Mocinha começa a afastar Mocinho. A gente já viu essa história antes, né? Mas tudo bem, porque o negócio desse livro é que ele é escrito de um jeito tão gostosinho que você não consegue dizer não, principalmente se o Mocinho em questão for um cara como o Carter, ex-professor de literatura de Yale que dá aula no ensino médio porque acredita nos jovens, usa óculos, é romântico, bom moço, desses pra casar e apresentar pra avó. 

Ele é idealizado? Super. Mas a gente se apaixonada por ele mesmo sabendo que é um personagem tipo oldest trick in the book. A Mac já é bem mais real, e me lembrou muito a Meredith, de Grey's Anatomy. Adorei as amigas da Mac, cada uma protagonista dos outros três livros dessa série, Quarteto de Noivas, que eu pretendo ler.  

Sobre questões da alcova, o contraste com  Beautiful Bastard foi gritante, e comparando os dois, dá pra dizer que o sexo em Álbum de Casamento é uma coisa meio novela das oito ousadinha (tipo no primeiro capítulo, quando eles fazem de tudo pra chamar atenção). Um sexo fofo.

Escala pop de sensualidade:"Adore you", da Miley Cyrus. Apenas Mileyzinha apaixonada se querendo demais. 




O romance histórico: O Duque e Eu (Julia Quinn): Apesar da vibe Jane Austen dessa edição da Arqueiro, esse é o que mais se aproxima dos romances de banca de todos que eu li. É o primeiro livro da saga da família Bridgerton: são oito (!) volumes, cada um focado em um dos irmãos. Eu não sabia nada sobre o plot, e li confiando na recomendação veemente da minha amiga Paloma, e de outras mafiosas que seguiram a dica e curtiram muito (temos até um grupo no Whatsapp para falar sobre os Bridgertons!), e mal sabia eu que o mote da história também é um desses clichês que eu adoro: plano ou aposta que sai do controle e termina em amor. No caso, Daphne e o duque Simon fizeram um plano de fingir uma corte para que assim as pessoas parassem de tentar lhes empurrar pares indesejados. Óbvio que eles vão se apaixonar nesse meio tempo, mas o caminho até que isso aconteça é bem divertido. O forte desse livro são os diálogos entre os personagens, porque a Daphne é muito espirituosa e o Simon não fica para trás nessas provocações. O livro tem várias situações divertidas, me fez gargalhar várias vezes, e é bem difícil de largar. 

Com relação ao séquisso, a vibe se aproxima de minissérie ousada da Globo. É meio o que se espera de um romance histórico, e outra autora que segue o gênero, que me foi muito bem recomendada, foi a Tessa Dare.  

Uma coisa que me decepcionou um bocado foi o desenvolvimento da Daphne e do Simon a partir do meio do livro. Os dois tem atitudes que eu absolutamente condenei, e achei que não foram coerentes com a forma como eles vinham sendo escritos até então. Essas falhas de caráter fizeram com que meus FEELS pelo casal diminuíssem muito. Ainda quero ler os outros livros dos Bridgertons, mas já fui alertada pelas minhas amigas que não é bom emendar as leituras, porque a fórmula da Julia Quinn cansa com o tempo. 

Escala pop de sensualidade:"Best Thing I Never Had", da Beyoncé. Muita sensualização envolvida em rendas e lacinhos matrimoniais.





4) O anti-romance: Quinze Tons de Constrangimento (Ana Paula Barbi): Ana Paula Barbi, pra quem não sabe, é a Polly do Te Dou Um Dado? e do Lugar de Mulher. Gosto muito dos textos dela, e esse foi seu segundo livro que eu li - o outro foi Vacaciones, que eu gostei demais. Quinze Tons de Constrangimento é um livro curtinho que eu li enquanto tomava um café na faculdade e esperava o horário da aula, coisa de meia hora no máximo. O livro tem quinze capítulos, e em cada um deles a Polly conta um caso de algum peguete que passou em sua vida. Como tudo na vida da Polly, seus romances também são malucos, improváveis e o livro não mente quando fala de constrangimento logo no título. Algumas histórias, como a da vez que ela vomitou na boca de um cara, vão te fazer esquecer qualquer desastre romântico da sua vida e ter certeza que sempre tem alguém passando por algo pior. São casos extremamente divertidos e eu passei essa meia hora gargalhando sozinha cantina. Não tem nada de romance romântico mimimi the feels aqui, mas histórias narradas de um jeito bem engraçado, com tiradas muito espirituosas da autora. O epílogo é genial: se realmente aprendêssemos com nossos erros, eu seria um gênio. 

Escala pop de sensualidade: "Wrecking Ball", da Miley Cyrus. Uma ideia genial? Um grande erro? Jamais saberemos. 






5) O romance nacional de época: Senhora (José de Alencar): Pendência de anos finalmente resolvida, me apaixonei perdidamente pela história de Aurélia e Fernando. Dos livros que eu li, é o que melhor se encaixa naquilo que a Ariel fala no vídeo lá de cima, sobre uma narrativa não precisar ter sexo explícito e descritivo pra ser extremamente sensual e carregada de tensão. O maior contato entre os personagens desse livro é um único beijo, BUT THE TENSION, AND THE FEELS!!1111 Minhas tripas derreteram com uma valsa e uns olhares. Tipo aquela comunidade no Orkut: não pega ninguém, mas é cada olhada. Com todo o respeito.  Outro ponto a favor de Senhora é que, considerando a época em que foi escrito (1875), é um livro extremamente progressista com relação à representação feminina,  com uma protagonista muito forte e dona do próprio destino. Mesmo tendo sido escrito por um homem, também dá pra dizer que o livro possui um viés feminista forte. Essa conclusão vem de uma leitura superficial da obra, mas é uma análise que definitivamente merece ser feita. 

Queria muito incluir um título nacional nesse projeto, e tive dificuldades de encontrar exemplares que se encaixassem. Além de Helena e Iaiá Garcia, ambos do Machado de Assis, que eu já tinha lido, consegui pensar apenas em Senhora e A Moreninha. Perguntei pros amigos do Twitter e as sugestões ficaram entre esses títulos, sem nenhum exemplo contemporâneo. Estou viajando ou nossa literatura tem poucas histórias cujo enfoque principal é um relacionamento amoroso? Questões. 

Escala pop de sensualidade:"Flawless", da Beyoncé. Aurelinha mandando um BOW DOWN pra quem pensa que heroínas do século XIX não podem ser maravilhosas.






6) O romance novela das seis: As Pupilas do Senhor Reitor (Júlio Dinis): Minha avó me recomenda esse livro há anos, mas nunca dei bola. Coloquei ele na lista mais por ser um romance português, o que deixaria minha seleção mais diversa geograficamente, e no fim das contas, depois de Senhora, foi meu favorito entre todas as leituras. É um romancinho de época absurdamente divertido e delicioso, que conta a história de dois irmãos e duas irmãs, e todo mundo que se mete na vida deles. A história se passa numa aldeia portuguesa, e o clima é de novela das seis de época e de roça, com vizinhos fofoqueiros, um padre que está por trás de todos os grandes acontecimentos, e uma sociedade extremamente hipócrita, que acaba ditando o rumo da vida dos personagens. O relacionamento amoroso em questão é desses inocentes, ingênuos e castos, e é por pouco, muito pouco, que a mocinha não passa como uma rapariga romântica idealizada como tantas da época. Ainda bem que o Júlio Dinis conseguiu lhe imprimir uma substânciazinha - mas o personagem mais interessante é mesmo o mocinho Daniel. 

Apesar da minha edição ser brasileira, não sei se por problemas de tradução ou de propósito mesmo que o texto tem muito da estrutura e do vocabulário do português lusitano. Isso desacelera um pouco o ritmo da leitura, mas deixa as coisas ainda mais divertidas, porque li todos os diálogos com sotaque e as expressões são todas muito boas. 

Escala pop de sensualidade: "Love Story", da Taylor Swift. Com o padre o tempo todo na sala, difícil ir mais longe que isso. We were both young when I first saw you, etc.




Achei minha experiência super positiva, e de uma forma ou de outra, gostei de todos os livros que li. Sei que ainda tem ~nichos~ de romance que não foram contemplados, e pretendo fazer uma segunda edição em breve, só vou me dar uma folga pra ler outras coisas. Sugestões são sempre apreciadas! E pra quem tem preconceito com o gênero (ou com qualquer outro tipo de livro), fica aí meu exemplo: vá atrás dos livros e descubra se é uma questão de gosto ou preconceito (esse post ótimo explica a diferença entre os dois). É super ok não gostar de um determinado gênero literário, o que não vale é sair por aí falando que não gosta sem conhecer.  

Na praia

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Desço no aeroporto de qualquer cidade turística no litoral e já procuro um agente uniformizado pra me entregar o certificado de inadequação, que costuma chegar antes das malas. Meu cabelo infla progressivamente com a umidade inesperada - e nesses dias de agostosetembro, já até meio esquecida - enquanto encaro, aflita, a esteira de bagagens. Minhas malas nunca foram extraviadas, mas eu sempre saio do avião tendo certeza absoluta que dessa vez o azar não me escapa.

Felizmente, mais uma vez, não foi dessa vez, e, com minhas tralhas já no carrinho, ando pelo aeroporto sentindo as roupas me grudarem no corpo e os pés inflarem dentro dos sapatos. Fica evidente naquele momento que eu não pertenço àquele lugar, ou pior, que eu não mereço aquela cidade. Eu e meus jeans com stretch (necessários para meus contorcionismos desesperados em busca de conforto numa poltrona de avião), eu ali de camiseta preta do Darth Vader, tênis e meia pra coroar, eu com minha franja ridícula deformada pela umidade relativa do ar a 94% - que eu ouso odiar bem baixinho, mostrando mais uma vez que eu não tenho o direito de estar ali. 

You can't sit with us, sussurra a brisa do mar. 

Um banho gelado e uma noite de sono compõe o intervalo de tempo que eu preciso pra me adaptar, e são suficientes para que no dia seguinte eu já me sinta ridícula por ter levado uma mala tão grande quando, de verdade verdeira, tudo que eu preciso pra ser feliz nos próximos dias são um par de havaianas, biquínis, protetor solar e um short jeans. Ficam esquecidos no armário aquele vestido mais arrumadinho, daquela cota do vai que né, a sapatilha vermelha, a camisa de manga comprida (qual o meu problema?) e um necessaire inteiro de maquiagem, tudo automaticamente obsoleto quando penso na minha canga de bolinhas comprada em Ipanema, que me protege da areia, serve de bolsa improvisada e faz as vezes de inspiradíssimo acessório contemporâneo quando enrolada no pescoço. 

As pessoas que me conhecem dizem que eu não tenho cara de quem gosta de praia, e eu sempre respondo que isso é porque elas não me conhecem na praia. Ainda sou eu, claro, porque eu que insisto num filtro solar 60 e quase nunca fico no sol, e ainda sou eu que procuro desesperada por uma ducha de água doce sempre que saio do mar. Mas, na praia, eu sou a pessoa que fica deitada onde as ondas quebram, por horas e horas até, se me esquecerem ali. Na praia eu que ensino as pessoas a flutuarem olhando o céu, e digo coisas como você tem que relaxar o corpo e confiar na água ou presta atenção no ritmo das ondas e esquece o resto. Eu receito goles acidentais de água salgada pra curar gripe e constipação, e juro de pés juntos que já fui curada de dor de garganta depois de levar um caldo desses de perder o rumo de casa.

Na praia eu sou uma pessoa que quase acredita em astrologia, porque meu signo é peixes e no mar eu me sinto em casa. 

O mar de Maragogi tem a maré baixa na maior parte do dia. A gente anda até o meio dele, até quase chegar na África, e a água não passa dos joelhos, com ondas que quebram antes mesmo de serem ondas o suficiente pra quebrar. À medida que a tarde avança, o mar avança com ela, e naquele primeiro check-point a caminho da África a água já chega no umbigo, e antes de quebrar as ondas já ultrapassam a minha cabeça. Nesses últimos dias, às cinco e meia da tarde, todos os dias, eu corria pro mar e assistia o dia ir embora deitada na água de barriga pra cima, só olhos, nariz e dedões do pé pra fora daquela água quente como água de chuveiro do mar de Maragogi. Ao meu redor tinha um casal, com o mocinho ensinando a mocinha a soltar água pelo nariz na hora de mergulhar, enquanto um homem de meia idade nadava dando braçadas na água, pra lá e pra cá. 

As ondas levantavam e abaixavam minha cabeça num ritmo regular, e meus ouvidos se enchiam e esvaziavam de água de acordo com esse compasso. Por causa disso eu oscilava entre estar ora ciente dos barulhos do mundo, e ora surda por submersão. Era como se estivessem me sintonizando pra dentro e pra fora da realidade, e nesses momentos eu tinha um delírio que ia mudar de vida, viver de luz e de arte, enterrar meu iPhone na areia, nunca mais usar calça jeans e estar sempre com flores no cabelo, franjinha nunca mais. Eu ia parar de comer carne e lasanha congelada, tomar menos café e aprender a gostar de água de coco, poderia começar a correr no parque e comprar uma bicicleta. 

De barriga pra cima no mar, olhando o céu meio lilás, e a lua que apareceu antes do sol ir embora de vez, não havia pessoa no mundo que eu invejasse, porque nenhuma delas era eu, e ser eu naquele momento estava bom demais. Saía da água feliz e contente comigo mesma, ainda que meus objetivos e resoluções nunca durassem tempo suficiente pra eu esquecer de tirar uma foto da paisagem pra postar depois no Instagram. 

Por mais que a cada noite eu deitasse minha cabeça no travesseiro pensando que tinha um dia a menos no paraíso, com certeza absoluta que não suportaria viver um minuto só na minha cidade feia, seca, suja e sem mar, foi com uma satisfação quase obscena que eu vesti meus jeans com stretch no dia de ir embora. Meus tênis pareciam simplesmente certos nos meus pés, meus poros, que até então tinham se escondido, pediram uma camada de base no rosto, e eu pensei que a vida é muito melhor porque o delineador existe. Tomei café da manhã já nos meus trajes civis, mas no restaurante do hotel as pessoas estavam seminuas e cheirando a protetor solar, certamente me olhando com dó - enquanto eu só conseguia pensar que era muito bom não estar com areia grudando no corpo. 


Gosto de passar férias na praia porque é um jeito que arranjei de, sem querer, tirar umas férias de mim. Is not as much a matter of travelling as of getting away, escreve a George Sand, e eu acho que todo mundo precisa de uma folga de si mesmo de tempos em tempos. Which of us has not some pain to dull, or some yoke to cast off? Existir é cansativo, por isso gosto tanto de, nesses dias a beira-mar, acreditar que posso mesmo ser uma dessas pessoas que não comem nada congelado, não usam jeans e muito menos se importam com celular e e-mails não lidos. Eu sei que não vou ser assim, ao menos não agora, ao menos não por muito, muito tempo, mas é uma ilusão quentinha como aquele mar - que graças a Deus enche o saco na mesma velocidade que minha pele sucumbe por excesso de sal, e nem as duchas são suficientes pra expulsar minhas alergias - uma metáfora barata em forma de dermatite de contato. 

Confiro os cadeados da mala pela última vez antes do despacho, penso no que eu preciso fazer caso elas sejam extraviadas, e me sinto muito satisfeita comigo mesma por dessa vez ter lembrado de pegar uns grampos caso minha franja saia do controle. Voltar pra mim é tão bom quanto chegar em casa, e eu senti quase tanta falta dessa paz interior como senti da minha própria cama. Bom mesmo seria se eu tivesse um mar na minha porta e pudesse descarregar os efeitos colaterais de mim mesma pelo menos a cada quinze dias, mas estar com o cabelo no lugar já é um consolo que me sustentará até as próximas férias.

A problemática da internet

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Não entendo de política como eu gostaria, nem o suficiente pra me sentir confortável em expor minhas opiniões sobre o assunto o tempo inteiro, porque sei que sempre vai ter alguém que irá fazê-lo com mais desenvoltura do que eu. Eu gosto muito de saber que sempre tenho mais pra aprender sobre isso, e embora alguns dos meus posicionamentos passados hoje já não tenham nada a ver comigo, e até me envergonhem um pouco, fico orgulhosa de mim por ter aprendido o suficiente pra mudar. 

Sou gente de humanas desde o ensino fundamental, e se eu já tinha um pendor para a subversão, como meu pai colocaria, foi a universidade que me ajudou a transformar achismos e simpatias pessoais em argumentos coerentes, embasamento histórico e referências bibliográficas. Não que a gente precise de uma formação acadêmica pra ter qualquer opinião sobre política, mas eu tenho essa inclinação pros livros e costumo resolver minhas questões com artigo científico e consulta aos autos da biblioteca. 

Sim, minha vida universitária contribuiu muito pra minha formação, mas outra fonte responsável por uma educação constante e bem eficiente foi a internet. Não por meio de cursos online ou nada tradicional assim, mas pela troca de ideias com as pessoas, em grupos fechados, convívio nas redes sociais e às vezes até mesmo textão no Facebook, quando sobra paciência. A internet é uma fonte inesgotável de zoeiras e mina nossa produtividade de jeitos infinitos, mas acho muito ingênuo pensar que ela serve só pra perder tempo. 

Vejo gente muito competente na frente de blogs sobre coisas sérias e outras não tanto - mas Deus me livre ser séria o tempo inteiro - compartilhando experiências e coisas que aprendeu por aí, e muita gente disposta a discutir e debater questões caras dentro de espaços como grupos no Facebook. Cinema, feminismo, políticas públicas, futebol e literatura: tudo tem seu espaço, e se hoje sei explicar o que é um tapetão, defendo o Bolsa Família, políticas de cotas, a descriminalização do aborto e sempre bato o pé e encho o saco quando vejo personagens femininas subaproveitadas em filmes, livros e séries, é muito mais por conta do que aprendi na internet nesses anos do que já li em qualquer capítulo de livrão disponibilizado por um professor no xerox da esquina. 

Por essas e outras que eu sempre defendo a internet e gasto a maior saliva com qualquer pessoa que pense que ela é sinônimo de propagação de mentiras e procrastinação. Acho que, se não fosse pela internet, nem na faculdade de Jornalismo eu estaria, e às vezes acreditaria que essa coisa de escrever fosse uma mania passageira. Aqui eu aprendi sobre feminismo, samba e easter-eggs de Breaking Bad, e foi aqui também que eu conheci gente maravilhosa e fiz amigas com quem hoje eu rodo o Brasil, vivendo altas aventuras.

A internet, como qualquer outro espaço no mundo, é um lugar de pessoas. A única diferença é que a gente pode selecionar quem está perto da gente e até esquecer quem não tem nada a ver. No mundo real eu também só ando com quem eu quero, mas ainda tenho que conviver com chefe, parentada, colega de sala, vizinho que fuma na sacada e o escambau. Na internet eu posso dar mute ou unfollow se não quero ouvir o coleguinha fazendo live do jogo do time dele duas vezes por semana, do mesmo jeito que tenho todo o direito de não me sentir obrigada a ver discursos de ódio ou meme engraçadão do TV Revolta no meu feed. Na internet o mundo é filtrado e me mostra aquilo que eu quero, e não sei até que ponto isso pode ser produtivo. 

Com essa liberdade a gente segue um fluxo específico e de repente estamos sentados numa rodinha maravilhosa só com pessoas maravilhosas que dividem conosco os mesmos, ou pelo menos a maioria, de interesses maravilhosos. Acho delícia entrar no Twitter e ver que as pessoas que eu sigo, assim como eu, são igualmente interessadas em debater como o Vicente, da novela, tem cara de quem beija bem, e em troca de ideias sobre o marco civil da internet. No meu espaço da internet todo mundo é a favor da descriminalização do aborto e ninguém compartilhou links das fotos das atrizes que vazaram. Minha bolha da internet lê e defende young adult, brincou horrores na época da Copa, e achou lindo a Lu Genro peitar o Aécio no último debate.

O negócio é que às vezes eu me sinto tão à vontade nesse mundinho que esqueço que ele não passa disso: uma bolha. Uma ilha da fantasia descolada da realidade. E às vezes eu sou forçada a lembrar que o mundo, e em especial o Brasil, é ridiculamente maior que tudo isso. Porque é tão confortável viver nesse mundo supimpa que pouco me confronta e só me acrescenta, é tão mais fácil trocar ideia com quem eu tenho uma meia dúzia de ideias em comum e acreditar que tá tudo bem, que agora vai. É bem menos desgastante viver essa realidade composta por elementos que eu mesma selecionei e organizei, numa curadoria bem cuidadosa que reuniu tudo que eu mais prezo.

No entanto, é preciso lembrar que existe um mundo inteiro lá fora, muito mais complexo do que supõe minha vã filosofia, e a gente não chega muito longe se não abrir a janela pra entendê-lo melhor. O dia de ontem foi um choque bem dolorido de realidade pra mim, que acordei entusiasmada para votar e cheia de esperanças num mundo melhor, e fui dormir magoada ao ver que, opa, não era bem assim. Uma vez, conversando com algumas amigas, comentei que o mal de ser gente de humanas é que a gente se perde no nosso mundo, se cerca de gente de humanas, e acha que o mundo inteiro é um grande centro acadêmico. 

A ironia das ironias é que, na universidade, sempre que vou defender meus projetos, me amparo no Gay Talese e sua lição, eternamente gravada em mim, que pra ser um bom jornalista é preciso gastar a sola do sapato. O meu verso favorito de uma das minhas músicas preferidas diz que we've got information in the information age but do we know what life is outside of our convenient Lexus cages? Fico até com vergonha desses meus lapsos de ingenuidade quando penso que já vi essas lições antes, mas é sempre bom e absolutamente necessário relembrar. 


O mundo é muito maior que isso, o mundo é muito maior que a gente, e o Brasil está aí inteirinho do lado de fora, contraditório, desigual e fascinante, pra ser entendido e conhecido. Sempre tem mais coisa pra gente aprender e não, eu não vou encerrar esse post com a máxima do Sócrates que está mesmo na ponta da língua, mas fica aí a reflexão.

Em outras notícias, fiz um Tumblr! Sim, outro, sim, eu tô lembrada que aquele lá não deu em nada. Mas fiz um Tumblr pra falar sobre música, pequenas, aleatórias e despretensiosas divagações de quem passa um tempo razoável pensando sobre essas coisas, mas não tinha lugar apropriado pra dividir isso com o mundo. Tá lá: Monólogo em Ré Bemol.

Músicas para cantar no karaokê

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Era uma vez Duets, um filme bem ruim. Naquele modelo narrativo de Love, Actually, Duets mostra várias histórias que se conectam de alguma forma, e o que une esses personagens é o amor pelo karaokê. Sim, existe um filme sobre pessoas que se encontram, se redimem, se iluminam e tem suas vidas mudadas pelo karaokê, e eu o assistia obsessivamente quando era mais nova, posto que ele passava todo fim de semana na TV. Foi nesse filme que eu ouvi Try a Little Tenderness pela primeira vez e me apaixonei, bem antes de Duckie eternizá-la pra mim. Foi nesse filme que eu vi a Gwyneth Paltrow cantar Bette Davis Eyes de um jeito horrível, porém maravilhoso, que só os filmes horríveis, porém maravilhosos, conseguem fazer. 

Fui tentar reassistir recentemente e larguei no meio, porque algumas coisas não podem ser destruídas pelo cinismo da maturidade. Assim como Duets, o karaokê é uma atividade que demanda esse espírito moleque, essa aura sem noção, esse coração liberto e esse desprendimento ingênuo pra ser completamente apreciado. Não existe isso de não gostar de cantar no karaokê porque você acha que não sabe cantar, porque a ordem do karaokê é você cantar, dançar e performar justamente por não saber fazer isso. Por isso que aquele pessoal que faz showzinho e rouba o microfone pra cantar Djavan, Jorge Vercilo ou Evanescence dificilmente encontram adeptos na plateia, porque ninguém merece aguentar por três ou quatro minutos uma pessoa que se leva a sério. Já defendi, inclusive, a tese de que o karaokê é um modelo da democracia que dá certo, pois coloca todos em seu devido lugar e celebra o espírito da zoeira.

With a little help from my friends 




























A idade pode ter me deixado imune a Duets, mas espero que nunca cresça o suficiente pra deixar de gostar de karaokê. Agora, uma lista das minhas músicas preferidas para esse momento sublime e descomplicado de libertação pessoal:

#1 Dancing Queen (ABBA)
Sabe aquele momento que a gente para tudo que está fazendo, levanta os braços e grita MINHA MÚSICAAAAAAAA? Dentre todas as minhas músicas do mundo, Dancing Queen certamente é a maior delas. Foi uma das primeiras músicas que eu cantei num karaokê, com tenros 7 anos de idade, e foi Dancing Queen que eu cantei numa máquina de karaokê velha no Hot Zone e fiz o parque inteiro olhar pra mim. Aquele dia foi foda.


#2 Evidências (Chitãozinho & Xororó)
Depois de Dancing Queen, Evidências é definitivamente minha música do karaokê. Minha e do Brasil inteiro, estou ciente disso, mas não tenho ciúmes porque a humanidade precisa disso, sabe? O mundo seria um lugar melhor se todo mundo, ao menos uma vez na vida, pudesse abraçar o coleguinha e urrar, do fundo da alma, SÓ QUERO OUVIR VOCÊ DIZER QUE SIM. Essa versão deles com a Fresno é absolutamente sensacional (e subestimada), mostrando que dá sim pra uma música perfeita ficar melhor.


#3 Quando Você Passa (Sandy & Júnior)
Qualquer música da SandyJúnior é um hit de karaokê em potencial. Essa música (aquela do famigerado TURUTURU, para os menos familiarizados) é minha favorita primeiro porque evoca sentimentos de um amor juvenil que nunca vivi ou evitava viver, mas principalmente porque a gente só percebe como ela é enorme e absurda de se cantar na hora do vamos ver. Chega num ponto que você não suporta mais falar de turuturuturuturu e começa a enrolar a língua, não completar as frases e dar aquela embromada clássica. Se não for decadente, não é karaokê.


#4 Lua de Cristal (Xuxa)
Só um karaokê consegue passar a dimensão verdadeira do apelo emocional dessa música. É tanta mensagem de positividade e magia que é praticamente impossível não chorar. Recomendo reunir as amigas, espremer todas num palco, bem abraçadinhas, pra chorar juntas ao bradar NÓS SOMOS INVENCÍVEIS PODE CRER, TODOS SOMOS UM E JUNTOS NÃO EXISTE MAL NENHUM. A gente encerra a cantoria acreditando na vida, na amizade, no amor e no que quer que seja uma lua de cristal. #momentos


#5 A Fórmula do Amor (Kid Abelha)
A vida está me devendo um momento decente com essa música, porque da última vez que tentei era a última apresentação da noite, eu cantava num ritmo, Analu cantava em outro, e o fundo musical do leãozinho dava um tom completamente diferente. Nossa voz não saía mais, a gente mal parava em pé e a pouca adesão do público nos fez colocar a viola no saco e tentar outro dia. Mas foi uma escolha de repertório maravilhosa e mais a nossa cara impossível - e dependendo da circunstância, dá pra fazer charminho pra algum bonitinho do lugar, afinal, além de ter bom papo e saber dançar, ele vai saber que você não faz feio no microfone. Ou não, vai saber. 


#6 Total Eclipse Of The Heart (Bonnie Tyler)
Nunca cantei essa música no karaokê, mas eu e o Matheus temos a manha de cantá-la no carro que olha, abalamos o trânsito e a cidade ao nosso redor. Também é o tipo de clássico que se enquadra nos nichos chuveiro, fossa e música de bêbado em fim de festa, ou seja, tudo que uma boa música de karaokê tem que ser. É música pra fazer a Claudinha Leitte e terminar o número 100% deitada. #momentos 


#7 Olhar 43 (RPM)
Essa é a música que separa as meninas das mulheres e os meninos dos homens. Prova de fogo na hora de saber quem pertence àquele lugar e quem a qualquer momento pode arregar ou, pior ainda, resolver que Lanterna dos Afogados é uma boa ideia de repertório. A música é grande, rápida, e a letra tem muitas palavras. Além de tudo, o ritmo é super traiçoeiro. Entretanto, no fim, todo esforço é recompensado e ainda temos a chance de sensualizar com nosso olhar 43 ao descer do palco assim meio de lado, já saindo, indo embora, deixando o público louco por você. 


#8 Marrom Bombom (Os Morenos)
Karaokê sem pagode não é karaokê. E são tantas opções que eu poderia fazer uma lista com os 10, 20, e até 50 melhores pagodes pra se cantar no karaokê. Raça Negra, Molejo, e Só Pra Contrariar são grupos que entram na categoria SandyJúnior de: qualquer música é música de karaokê. No entanto, escolhi esse clássico subestimado d'Os Morenos pelo teor de constrangimento da letra, bem como sua falta de nexo. Porque cantar TIRA A CALÇA JEANS BOTA O FIO DENTAL (MORENA VOCÊ É TÃO SENSUAL) é só pros fortes.


#9 Mulher de Fases (Raimundos)
O refrão todo mundo canta junto, mas na segunda parte da música, os singelos versos PÕE FERMENTO PÕE AS BOMBA QUALQUER COISA QUE AUMENTE E A DEIXE BEM MAIOR QUE SOOOOL POUCA GENTE SABE QUE NA NOITE O FRIO É QUENTE E ARDE E EU A-CEN-DI-IIII se transforma em algo como põe fermento nanansjdkfeleof maior que o soool pouca gente sabe quenananaparara acendiiiiii. 


#10 Tempo Perdido (Legião Urbana)
Normalmente sou contra qualquer música série e realmente emocional num karaokê, mas Tempo Perdido é uma exceção porque eu já vivi momentos mágicos com ela nessa ocasião e se o Wagner Moura e a MTV tem direito de fazer isso (e ainda cobrar ingresso das pessoas e depois vender DVDs disso), por que não nós? 

Garota enxaqueca

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Tem uma cabeça na minha dor
E de olhos abertos eu vejo pontos pretos, às vezes brancos
Sinais de uma luta inglória em que dor e cabeça se digladiam
Pelo domínio de mim

Tem uma cabeça na minha dor
E de olhos fechados eu vejo pontos pretos, dessa vez drágeas
(Às vezes sorrindo)
Dipirona sódica cafeína anidra numa embalagem amarela
Eu tomaria uma caixa, mas só comprei a cartela

Tem uma cabeça na minha dor
E agora a moda é dizer que a culpa é do calor
Se é dor, é calor
A água secou, mas também, com esse calor
Coração azedou, não está fácil nem pro amor
E no elevador só se fala nele: ai, o calor!

(Enquanto isso, na minha cabeça: dordordor)

Tem uma cabeça na minha dor
E às 17h17 eu jogo tudo pra cima e deito no chão da sala, embaixo do ventilador
(O que importa é o que te faz fechar os olhos antes da uma da manhã)
Procuro desencaixar da dor a cabeça, separá-las desse abraço
E deitá-las, lado a lado
No tapete, ao pé de mim

Elas podem até dar as mãos, se ficarem caladinhas
Se prometerem ficar quietinhas, cada qual em seu lugar
Com uma dor de cabeça eu sei lidar
O que não dá é brincar de existir enquanto elas se atracam e bagunçam tudo por aqui:
Impulso vital e nervos sensíveis, preocupação banal e vasos contraídos
- Diga ao povo que sucumbi!

Tem uma cabeça na minha dor
E eu, que só queria, nem que seja por quarenta e sete minutos, parar de existir
(Planar, em estado de graça, acima de mim)
Enfrento a dor e palavras que dançam ao meu redor, assim assim
Sílabas poéticas, pra quem nunca tinha prestado atenção naquela aula métrica,
Saem soltas da ponta da lapiseira como se fluíssem de outrem e não de mim

(Dipirona sódica e cafeína anidra, são vocês?)

Tinha uma cabeça na minha dor
E tão logo me livrei desse problema
Vi, diante de mim, meu primeiro poema.

Aquele com o cara que vivia num mundo pequeno demais

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                     Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui.


Mês passado eu conheci o cara mais bonito da minha vida. Conheci é modo de dizer, porque foi mais uma dinâmica de ver de perto do que qualquer outra coisa. Mas ainda assim. Mês passado, eu vi o cara mais bonito da minha vida.

Eu sei o que vocês devem estar pensando. Posso digitar Michael C. Hall, George Clooney, Rodrigo Santoro, Brandon Flowers ou Xabi Alonso na busca de imagens do Google a qualquer momento e contemplar pelo tempo que eu quiser os homens mais bonitos do mundo. Eu sei disso, ok. Mas ainda assim. Frente a frente, cara a cara, beijo a beijo, é outra coisa.

Não sei como dizer isso sem parecer superficial, mas a beleza exerce um poder muito grande sobre mim. E eu nem acho que isso possa ser algo que classifique alguém como superficial, é uma questão de sensibilidade. A beleza, no geral, mexe comigo. Não precisa nem ser essa beleza clássica da proporção áurea, muito menos uma beleza vinculada a padrões de beleza. Basta, simplesmente, ter um algo a mais que me faça sentir algo a mais.

Uma das quotes mais populares de Eleanor & Park é uma que eu, particularmente, detestei na hora que li. Eleanor was right. She never looked nice. She looked like art and art wasn’t supposed to look nice. It was supposed to make you feel something. Sei lá, achei brega? Achei over? Falei: Rainbow, amiga, menas? Achei. Falei. Mas agora, enquanto escrevo este post e tento expressar o efeito que a beleza causa em mim, só consigo dizer que é o tipo de característica que deve fazer você sentir alguma coisa. Tipo quando eu me arrepio sempre que escuto Here Comes The Sun. Tipo quando meus olhos se encheram de lágrimas na primeira vez que eu vi meu quadro favorito do Monet na minha frente. Tipo quando eu não consegui tirar os olhos do cara mais bonito da minha vida, tão logo ele entrou na minha vida, por uma porta de hospital.

Obrigada, Morrissey, por dar voz às minhas devoções mais ridículas

Pois é, cenário mais anticlimático não há, mas até essas circunstâncias infelizes contribuíram pro impacto do momento. Porque eu estava tendo um dia horrível, numa semana horrível (já escrevi isso tantas vezes que na próxima vamos deixar subentendido que 2014 está sendo um ano bem mala na minha vida) e, pra piorar, estava com pressa. Só que minha avó machucou o pé, precisava tomar uma antitetânica, e precisava que alguém a levasse até o hospital, porque não conseguia dirigir. Como ninguém mais podia, sobrou pra mim. Eu, que nem carteira tirei (longa, longa história); eu, que odeio dirigir; eu, que nunca consegui pegar o jeito com o carro da minha avó. Eu, que quase morri fazendo uma baliza no meio da rua movimentada; eu, que tremia tanto na sala de espera que, se alguém estivesse prestando atenção, pensaria que a doente era eu.

Só que quando o Cara Mais Bonito da Minha Vida entrou pela porta do hospital, eu entendi o motivo de todas as desventuras daquele dia, quiçá daquela semana. O universo estava me recompensando por todo o perrengue, e a partir daquele momento a ordem cósmica da minha vida foi restaurada.

Gente, ele era lindo. O que mais eu posso dizer?

Posso dizer que ele era alto, tinha o cabelo claro, a barba (meu deus aquela barba) ruiva e os olhos da cor da camiseta verde-água que ele usava. Ele era um cruzamento muitíssimo interessante entre o Xabi Alonso, o Domhnall Gleeson, com as maçãs do rosto do Spencer Tweedy. Ele parecia um fauno, uma criatura mágica, sei lá. Ele não parecia desse mundo. Ele era lindo. E eu não conseguia parar de olhar pra ele.


Só consegui desviar o olhar para dividir com todas as pessoas do meu Whatsapp que eu estava diante de um cara tão tão TÃO gato que nem parecia de verdade. Numa dessas, não resisti ao impulso e fiz uma coisa horrível da qual eu muito me envergonho: tirei, disfarçadamente, uma foto dele. Eu sei, foi uma atitude péssima, se fosse comigo eu ficaria puta, e me arrependi quase que instantaneamente. Mas tirei o raio da foto. E mandei pra uma amiga minha.

(Crianças, por favor, não façam isso em casa.)

Sabe por que vocês não devem fazer essas coisas? Porque tudo que o universo dá tem um preço, e tudo que você tira dele uma hora é cobrado. Minha conta chegou instantaneamente: minha amiga não apenas conhecia o cara da foto, como tinha uma crush de eras por ele. Ela inclusive já tinha falado dele pra mim, várias vezes, mas sem oferecer informações visuais. Eu só sabia que ela gostava dele, que ela tentava puxar papo com ele no bandejão, que ela tinha vontade de chorar só de olhar pra ele. Porque lógico, né? E ele nessa história toda não passa de um cara, com uma namorada (porque eles sempre tem namorada), que, como outros tantos por aí, não faz e nem vai fazer ideia que eu existo.

It was a beautiful dream.

O Cara Mais Bonito da Minha Vida não vai render nem um amor platônico, mas que fique registrado aqui, para a posteridade. E que o universo interprete tudo isso como um desafio pra mandar outro mais bonito ainda, dessa vez com um futuro. Imagina que doidera.

Enquanto isso, eu e minha amiga nos recolhemos à nossa insignificância e seguimos em frente. Porque os homens vem, às vezes nem ficam, e sempre vão, mas as amigas são pra sempre.

HOES BEFORE BROS
UTERUSES BEFORE DUDERUSES
OVARIES BEFORE BROVARIES

KNOPE, Leslie

Como sobreviver a dias difíceis

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Para ler ouvindo:


Eu sei que eu pareço nunca ter paciência com as coisas, que meus amigos dizem que minha característica mais marcante é revirar os olhos pra tudo que os outros dizem, que eu ando de cara fechada assustando inocentes por aí, que eu comemoro as chances que eu tenho de estar nos lugares sem ter que lidar com gente e digo sempre não, não não. Mas, querido leitor, não me leve a mal: no fundo eu só quero mesmo manter a minha fama de má. 

A verdade verdadeira é que eu sou uma flor. Gótica suave, no máximo, mas com um bom coração. Eu bati palmas pro sol no Arpoador e cantei bossa-nova pelas ruas do Rio de Janeiro, eu converso com animais e faço voz de bebê, eu me emociono assistindo Cosmos porque acho a natureza perfeita demais e, sobretudo, eu me sinto pessoalmente atingida por manifestações de ódio que eu vejo por aí. 

E, nos últimos dias, o que tem sobrado por aí é ódio gratuito, por todos os lados. 

Tenho sentido uma necessidade bizarra de enfrentar o mundo, tanto online como offline, com aquela roupa que os personagens de Hurt Locker usam para desarmar bombas. Desde que a disputa pelo segundo turno das eleições as pessoas andam desesperadas para defender seus candidatos, desesperadas ao ponto da inconsequência e inconsciência, e fico pensando se isso é mesmo sobre política, sobre um projeto de país, ou se, na verdade, é sobre estar certo acima de todas as coisas, ou ainda sobre procurar subterfúgios para destilar raiva, ódio e ressentimentos que sempre estiveram ali e só precisavam de uma desculpa mais ~nobre~ para serem extravasados. 

O calor e a chegada do horário de verão também não ajudam muito. Sempre fui contra ficar falando o tempo inteiro sobre o tempo, mas com essa bolha de calor da última semana é meio difícil ter outro assunto. Quando o professor decide que não existe a menor condição de ficar dentro da sala de aula por causa da temperatura, é meio difícil ignorar. Quando suas coxas grudam, é meio difícil abstrair. E eu continuo firme no meu posicionamento de que, quanto mais falamos sobre, pior fica, mas não tem sido fácil. Então a gente reclama do calor, e o calor fica pior ainda.

Quanto ao horário de verão, é impossível ser feliz sem dormir bem, e eu ainda lembro da época em que estudava de manhã e demorava umas duas semanas até me acostumar e voltar pros eixos. Eram duas semanas miseráveis, de desespero puro e mau humor recorde. Então, sim, eu entendo quem sofre, eu entendo quem se queixa, mas acho que é preciso todo mundo entender também que, assim como com relação ao calor, não tem nada que a gente pode fazer. 

São tempos difíceis, querido leitor, para todos nós e não só pros sonhadores. Citei três circunstâncias gerais, mas tem a falta d'água, tem o ebola, tem a barra pesadíssima que está sendo esse ano pra todo mundo, e tem as circunstâncias infelizes do cotidiano de todos nós. A espinha na cara, a chefe inoperante, o prazo apertado, o cabelo caindo, a cabeça se perdendo por aí, o trânsito e ai meu Deus as lojas já estão com decoração natalina. Não está fácil. 

Por isso, resolvi inaugurar essa semana de crônicas (sim! outra! eu não desisto!) com uma receita particular para sobreviver a essa morte horrível que às vezes é viver. Ninguém me ensinou e eu não li em lugar nenhum, foi meu instinto agindo num momento de desespero. No caso, era uma aula de direção que, pra variar, eu saí tremendo, me recuperando de uma caimbra, e fazendo muita força pra não chorar. Quando vi, eu estava na porta da Cacau Show. Quando eu vi, eu tinha enfiado uma trufa inteira na boca. Quando eu vi, meu dia estava melhor.

Parece estranho, parece desesperado, parece até pouco higiênico e talvez até seja mesmo tudo isso, mas uma trufa inteira na boca é uma solução para os seus problemas. Primeiro porque o excesso de chocolate na boca tira sua atenção do resto dos problemas. A prioridade é engolir sem babar e manter o resto da dignidade. Você não pode falar, não pode ousar reclamar, e precisa se concentrar em se livrar daquilo. Então, à medida que você mastiga, à medida que sua mandíbula trabalha, o chocolate começa a agir no seu organismo e todas as suas propriedades químicas maravilhosas batem com força potencializada. Quando você termina, o mundo, querido leitor, é um lugar mais doce pra se viver. 

Pelo menos enquanto o gosto do chocolate durar - mas até ele acabar, existe tempo o suficiente pra que você get your shit together e consiga seguir em frente.

Então hoje, nessa madrugada, guarde no coração o conselho que essa blogueira que vos escreve compartilha:

Antes de xingar, gritar, brigar e destilar o ódio gratuito;
Antes de reclamar do calor;
Antes de descontar nos outros a frustração pelo horário de verão;
Antes de odiar o mundo por um dia ou pessoa ruim;
Antes de deixar um idiota estragar seu dia;

Não apenas coma chocolate, como recomenda o poeta, mas coma uma trufa inteira de uma vez, porque se não há mais metafísica no mundo senão chocolates, o poder de uma trufa é tamanho que não deixa espaço para a metafísica alguma. E às vezes isso é tudo que a gente precisa. 

Isso e um elefante feliz brincando na lama:


A gente sempre vai ter Paris

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Ingrid Bergman não fica com Humphrey Bogart no final de Casablanca.

Querido leitor, se acalme, isso não é um spoiler. Quer dizer, tecnicamente é sim, mas sério, eu estou falando de um clássico de 1942. Quem viu, parabéns, quem não viu, eu juro que saber do fim não vai mudar nada. Eu mesma só quis ver Casablanca porque em Harry & Sally os personagens perdem um bom tempo discutindo justamente esse final, e o fato concreto do casal não terminar junto importa bem menos do que as motivações para eles ficarem separados.

Um breve contexto: estamos na Segunda Guerra Mundial, e Bogart e Ingrid se conhecem em Paris. Eles se apaixonam perdidamente e combinam de viver esse tórrido romance sem fazer muitas perguntas (e havia boatos de que filmes antigos eram bobinhos, diz Ilsa Lund jogando o cabelo pra trás e dando gostosas risadas), porque esses amores de alma transcendem conhecimentos banais de trajetória pessoal, traumas de infância, passagens na prisão e fatos relevantes dos últimos cinco anos. Quando a França é ocupada pelos alemães, os dois combinam de fugir juntos, mas no dia D a Ingrid simplesmente não aparece, e Bogart se manda sozinho e amarguradíssimo para Casablanca. 

Anos depois eles se encontram, porque o passado sempre volta pra nos atormentar, e depois de ofensas, rancores e muita torta de climão, aquele desentendimento do passado é desfeito, os erros são perdoados e eles resolvem ser felizes pra sempre de novo. Até que, como vocês já sabem, eles não são. Na despedida, Humphrey Bogart, com toda a sua exuberância, todo o seu charme e toda a sua canastrice perfeita que Zé Mayer sonha em emular porém nunca será, ele diz uma das frases mais icônicas do cinema americano: we'll always have Paris. 


Em bom português: o que foi nosso ninguém tasca. O amor deles vai viver pra sempre na lembrança daquele idílio parisiense e esse é o máximo que a vida pode lhes oferecer. Eles viveram aquele romance descolados da pessoa que eles eram e toda a complicação que isso acarreta, mas não se pode fugir da realidade pra sempre. Então eles seguem seus rumos separados, porém com o coração tranquilo sabendo que o amor deles vai viver pra sempre, aquele eterno enquanto dure encapsulado num desses globos de neve, pra sempre guardado na estante da memória. 

Eu tenho um problema muito grande com fins. Odeio despedidas, fico deprê no fim do ano, em festas de formatura, e sou dessas que chora em festinha de fim de semestre. Eu demorei anos pra assistir ao último episódio de Friends, ainda não terminei House e sempre postergo as cinquenta últimas páginas de um livro que eu esteja gostando demais. Eu guinchei de chorar assistindo Toy Story 3, um filme que simplesmente nos força a despedir da nossa infância, e nem preciso dizer o que aconteceu quando eu assisti ao último filme do Harry Potter no meu último ano de ensino médio.

É um alívio pensar que tudo nessa vida passa quando se tem em mente as coisas ruins, mas as boas também passam e isso é desesperador. No entanto, uma amiga querida, depois de terminar um relacionamento de seis anos, me disse uma coisa muito forte: as pessoas ficam tristes porque a gente terminou como se a gente não tivesse dado certo; mas não é porque acabou que deu errado, acabou porque as coisas mudaram e tinha que acabar. 

Coincidentemente, pensando sobre isso, me deparei com esse texto ótimo da Isadora no qual ela defende a tese de que relacionamentos são narrativas, e por isso tem começo, meio e necessariamente um fim. Essas ideias ficaram na minha cabeça por semanas, meses, me fizeram acreditar que eu devia escrever um livro sobre isso. Me atormentaram pacas e me fizeram confrontar todos os fins da minha vida, até que eu revi Casablanca e entendi que nada é pra sempre, porque a gente não é pra sempre. 

Não estou falando isso porque vamos todos morrer mesmo (mesmo tópico, outra longa história), mas porque a gente muda, eis um fato, e o nosso mundo muda junto com a gente, eis uma consequência. O felizes pra sempre tem muito mais a ver com a ideia de continuidade do que com uma eternidade concreta, imóvel e imutável. As time goes by. 

A minha primeira melhor amiga de verdade saiu da minha vida de forma tão espontânea quanto entrou. Não teve briga, babado, confusão, muito menos gritaria. É bem verdade que ela mudou de escola, mas a gente continuou a se ver nos fins de semana e nas aulas de inglês, até que um dia eu percebi que não suportava mais ficar com ela porque ela era outra pessoa, e eu também era outra pessoa, e essas duas pessoas não tinham mais motivo para serem melhores amigas, ou até mesmo amigas banais. 

Foi totalmente indolor e nada dramático, e sei que infelizmente sei que não é assim sempre, pra tudo, muito menos pra todo mundo. Mas, outra sabedoria importante vinda daquela cena final de Casablanca, é que logo depois da emblemática frase sobre Paris, vem a cereja do bolo: We didn't have, we, we lost it until you came to Casablanca. We got it back last night. 


Em bom português: só acaba quando termina. A gente precisa confrontar nossos fins, abraçá-los e perdoá-los, para garantir nossa Paris particular, para eternizar lembranças num globo de neve - ou então pra queimar tudo de uma vez e não deixar nem as cinzas pra contar a história. Enquanto ignorarmos solenemente tudo que mudou e tudo que acabou, sempre vai ficar esse ranço, esse Bogart estagnado em Casablanca tomando vodka sozinho de madrugada.

Tenho pensado muito sobre isso nos últimos tempos, e aberto de novo várias portas que eu jurava trancadas, com a chave jogada fora. Assisti o último episódio de Friends, penso cada vez mais naquele livro, e estou tentando fazer as pazes com um monte de fins. É como diz aquela crônica: o amor acaba pra começar de novo em todos os lugares a qualquer minuto. Mas não se enganem: ele tem que acabar.


A gente sempre vai ter Paris.  

Era uma vez um garoto chamado Bárbaro

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Poderia ser uma história qualquer, contada por uma amiga querida, como tantas outras que já ouvi antes. Até que de repente, sem aviso, sem sinal, Analu solta: "Então o meu amigo Bárbaro...".

Nessa hora, como boa pessoa madura que sou, eu interrompi a conversa e ri em caixa alta por umas sete linhas inteiras, e repeti esse processo durante todo o resto de caso sempre que o Bárbaro era mencionado. Vale dizer que o Bárbaro era um personagem bem importante nessa história.  

Não era uma risada de deboche, eu juro, era simplesmente uma risada de quem se encanta com a vida, com o mundo, e com as circunstâncias que permitem a existência de um ser humano chamado Bárbaro. Deus está nas pequenas coisas, e uma delas certamente é no coração do pai e da mãe que um dia decidiram dar ao filho um nome com tantas possibilidades. Bárbaro, gente. Bárbaro! 


Eu gosto de nomes, é uma coisa que eu sempre reparo nos outros e é uma coisa pra qual que sempre atribuo significados, mesmo sabendo que na maior parte das vezes eles só fazem sentido na minha cabeça. E Bárbaro, além de ser um nome interessante porque totalmente inesperado - a gente conhece Julianos, Márcios, Cláudios, Sandros, mas poucos, raros e únicos Bárbaros - é também um nome trocadilho com mais de uma possibilidade. O trocadilho é aquela molecagem ingênua que a sisudez dos nossos tempos não permite mais, mas que se faz necessária justamente pra que a gente nunca se esqueça que essa vida é uma grande piada, nesses tempos em que a nova moda é se levar muito a sério.

Bárbaro era tão levado a sério que fiquei sabendo que seu próprio pai vira e mexe soltava por aí: Barbáro, você é bárbaro! Eu imaginava um pai risonho e bonachão dizendo essa pérola num churrasco de família, com um pano de prato nos ombros, logo após pedir uma cerveja - que era servida por seu filho, o Bárbaro. Com um afago carinhoso, feito com a mão pesada que só os pais mais bonachões tem, viria a piada: Bárbaro, você é bárbaro! e todos dariam gostosas risadas, mesmo que isso fosse repetido todo santo domingo.

O Bárbaro se tornou uma presença tão constante nas nossas conversas que Analu logo começou a tratá-lo como "seu amigo Bárbaro". Eu dava minhas gargalhadas, maravilhada, enquanto ela contava mais uma anedota que ajudava na construção desse personagem interessante. Dei aquela conferida básica no Facebook, porque essa é a tônica dos nossos tempos, e não demorou para que o Bárbaro se tornasse uma entidade na minha cabeça.

#momentos 

Bárbaro, esse cara legal que gosta de cultura japonesa, tem um pai engraçado e aprendeu com o tempo que, mais fácil do que lutar contra essa sina que lhe foi dada no dia de batismo, era unir-se aos bons e abraçar o gracejo, fazer dele a sua força. Bárbaro fez bons amigos por causa do seu nome e eles eram incansáveis na arte dos trocadilhos. Bárbaro pegou muita mulher por se chamar Bárbaro e não estar nem aí, porque a essa altura os homens devem saber que existem poucas coisas mais sexies numa pessoa do que ela saber e fazer rir. Bárbaro era aquele cara gente boa, querido por toda a turma, aquele que ganharia a primeira festa surpresa e seria destinatário dos presentes mais caros das vaquinhas de aniversário. 

Eu gostei tanto da ideia que eu fiz do Bárbaro na minha cabeça que minha proposta inicial era começar o projeto 1001 pessoas contando a história desse cara que eu nunca conheci. No entanto, com o frigir dos ovos, inspiração acabou cedendo lugar a outras mais urgentes e ficou deixada de lado, até que foi descartada de vez com uma infeliz atualização no meu arquivo mental de referências bárbaras: Analu me contou de um recente contato dos dois no qual Bárbaro perdera uma excelente oportunidade de ficar calado. Para muitos pode até ter sido uma ofensa banal, mas pisou forte em um dos meus calos e naquele dia eu nem ri ao ouvir seu nome. 

O que eu só percebi recentemente é que, pior do que a piada infeliz do Bárbaro, foi eu ter me achado no direito de me decepcionar com ele por causa disso. Sem querer, transformei o Bárbaro nesse personagem que eu construí a partir das minhas próprias ideias, concepções e expectativas, tudo isso em cima de um único dado nada relevante e umas histórias perdidas do tempo da escola. 

O que me assustou nessa epifania foi pensar que fazemos isso o tempo inteiro uns com os outros, ao dispensar a chance de conhecer alguém de verdade, com seu senso de humor que pode ser espirituoso mas bem equivocado de vez em quando, porque é muito mais confortável transformar as pessoas em ideias e atribuir a elas a responsabilidade de andar de acordo com nossas expectativas. 

Não somos nossos nomes, nem nossos pais bonachões, muito menos um simples espirro escandaloso, um queixo grande ou um hábito incômodo de roubar a batata frita do prato alheio. Não somos nossas músicas preferidas e nem aquelas que detestamos, somos mais que nossos filmes, nossos óculos e nossas patéticas intenções de voto. Tão traiçoeiro quanto acreditar que uma pessoa é mais do que uma pessoa, como nos alerta o John Green em uma de suas iluminações mais importantes, é ir pelo caminho contrário e transformá-las em algo menor que isso. 

Ou seja: não somos bárbaros e nem barbaridades, mas algo ali no meio. 

Nada na cabeça

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Para ler ouvindo:

Essa música me descreve em todos os níveis e instâncias possíveis, prestigiem, por favor

Vocês acreditam em intuição? Eu achava que era coisa de novela até o dia que minha mãe insistiu para que eu não fosse em uma viagem na escola, porque ela teve uma ~intuição~ que algo ruim ia acontecer. Eu fui teimosa, viajei mesmo assim e voltei pra casa com 42 picadas de abelha. Desde então tenho prestado mais atenção nesses pequenos insights que surgem como relâmpagos na minha cabeça: rápidos, mas escandalosos o suficiente para serem notados. E olha, é impressionante a frequência com que eu acerto - pro bem e pro mal. 

Ontem eu estava parada na calçada do meu prédio, meio tomando chuva, esperando um táxi. O terceiro táxi da noite. O primeiro que eu chamei jurou que tocou o interfone de casa e ninguém atendeu, por isso ele foi embora. Eu só queria saber qual interfone ele tocou, porque não foi aquele que estava do meu lado naquela hora e meia que passei esperando. O segundo simplesmente não apareceu, decerto que achou de bom tom me deixar na mão numa noite de sexta. O terceiro resolveu passar reto também, e quando liguei na companhia de novo, pela terceira vez, a atendente simplesmente me disse: "olha, não sei o que está acontecendo, mas todas as suas corridas estão sendo canceladas, se a senhora quiser pode ligar em outro lugar". 

Quando três táxis misteriosamente não aparecem na porta da sua casa, todos eles vindos daquela companhia que nunca te deixou na mão, o que você pensa? Eu, que naquela altura já estava com uma veia pulsando na testa de tanta irritação e a cabeça doendo, pensei que eu deveria desistir. Já estava duas horas atrasada pra encontrar meus amigos, ia praticamente chegar no bar e ir embora, e infectaria todo mundo com meu mau-humor. Como pessoa sábia que às vezes eu sou, coloquei minha viola no saco e subi de volta pra casa.

Já estava começando a tirar o sapato quando minha mãe lembrou que tinha um cartão de taxista na bolsa, disse que não custava eu tentar. Prometi que só toparia se o cara estivesse perto, que eu não esperaria mais de 10 minutos, e que na verdade eu já estava querendo mesmo ver televisão. Só que eu liguei, o cara me prometeu ser rápido, e eu tinha feito um gatinho de delineador certinho demais pra simplesmente ir lavar o rosto pra dormir. 

Da portaria do prédio eu vi o carro do seu Zé Manoel se aproximar lentamente do meu prédio. Primeiro eu pensei que ele estivesse procurando o número, mas quando entrei no táxi vi que era essa a velocidade média dele mesmo. Uns 30 quilômetros por hora. O que é mais meia hora pra quem já está duas fora do horário, né? Vamo que vamo. Seu Zé Manoel errou o retorno e parou no meio da avenida pra refletir sobre os próximos passos. Os carros buzinando atrás, ele fazendo conjecturas sobre o mapa da cidade, e eu querendo abrir a porta no meio da rua e voltar correndo pra minha casa. Seu Zé Manoel subiu uma ladeira de segunda quando deveria ter engatado a primeira, e se até eu que sou eu percebi isso, vocês imaginem só a situação do carro. Seu Zé Manoel queria porque queria achar um lugar pra estacionar pra só então me deixar descer, mesmo que a rua estivesse lotada, mesmo que eu estivesse morrendo de pressa. Seu Zé Manoel não enxergava as notas direito pra calcular o troco, e eu na minha falta de paciência, pedi licença, troquei eu mesma o dinheiro e saí correndo. 

"Que morte horrível", disse eu antes de sentar na mesa e antes de qualquer oi. Só que nada é tão ruim que não possa piorar, e morte horrível mesmo foi a hora que eu tateei meus bolsos, revirei minha bolsa e o chão, e não encontrei meu celular. Meu celular novo, gente. Duas semanas com ele, pra nossa história terminar no banco de trás do seu Zé Manoel, e sabe Deus se ele ainda estaria lá. Nessa hora, só conseguia lembrar da hora que resolvi voltar pra casa, de quando eu sentei no sofá e comecei a tirar meu sapato, de quando os relâmpagos se transformaram em fogos de artifício e explodiram no céu com a mensagem: NÃO SAIA DE CASA. 


E sabe qual é a parte mais desesperadora disso tudo? Não é nem a primeira vez que eu faço isso. Pra quem já conseguiu esquecer a bolsa inteira dentro do táxi, eu acho um milagre que tenha sido a primeira vez que meu celular fora esquecido (eu tava com um cachorro machucado e desesperado no colo, cut me some slack). Costumo perder minhas coisas com exagerada frequência. Não apenas coisas, como também horários, obrigações, e-mails a responder e o que é mesmo que eu vim fazer na sala? É um péssimo hábito que eu tenho e me esforço muito pra tentar me livrar, mas às vezes post-its, anotações no braço, despertador no celular e lembrete no espelho não funcionam. Sou como aquela música do Gianoukas que dá título a esse post: tenho a cabeça no lugar, porque em algum lugar ela deve estar.

Então, pela quarta vez naquele noite, eu tive que ligar pra companhia de táxi. Aquela mesma que eu tinha feito barraco algumas horas antes, porque é lógico que o taxista da minha mãe não podia atender e chamou um colega, o seu Zé Manoel, que só podia ter saído daquele mesmo buraco. Era a mesma atendente, que quando ouviu meu nome do outro lado da linha deve ter suspirado e pensado "mas que booosta de noite que não acaba nuncaaaaaaaaaa queria estar morta". 

Peguei o número do seu Zé Manoel, cujo celular obviamente estava desligado. Sinal que o plantão dele tinha chegado ao fim, e a única coisa que eu podia fazer era torcer pra ninguém ter entrado no táxi depois de mim e esperar a manhã seguinte. Andei pela casa feito barata tonta a noite inteira, sem conseguir dormir ou me distrair com outras coisas, oscilando entre planos B desesperados caso o pior acontecesse (ADEUS RIO DE JANEIRO), auto-piedade e ataques a la Crazy Eyes nos quais eu só queria socar minha cabeça.

Mas, como diz o Cartola, finda a tempestade o sol nascerá, e às sete horas de uma manhã chuvosa de sábado, lá estava eu ligando pro seu Zé Manoel. Ele que, só pra eu me sentir um pouquinho pior por ter reclamado tanto dele no dia anterior, foi um fooooofo e disse que estava mesmo indo deixar o celular na central, mas suspeitava que era meu porque aquela capinha do Mickey era minha cara. Pedi desculpas pelo incômodo, agradeci efusivamente, rimos bastante da minha cara de idiota, nos abraçamos, talvez eu tenha chorado um pouco, e o mais importante é que meu celular voltou são e salvo pra casa. 

A lição que fica disso, queridos leitores, é que quando algo disser pra vocês não saírem de casa, não saiam. Mas se saírem, por favor, verifiquem se nada ficou no banco de trás do táxi. 

Estive em 1989 e conto o que ouvi por lá

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It keeps you guessing
Like any real love
It’s ever changing
Like any true love
It drives you crazy
But you know you wouldn’t change anything, anything, anything

Interrompemos nossa programação para discorrer sobre um evento que abalou o nosso fim de semana, que desordenou o país e balançou as estruturas do mundo. Estou falando, claro, da reeleição da soberana das Américas MANDAMO BEM PETRALHADA do vazamento do aguardado disco novo da Taylor Swift, o 1989.




































Eu detestava a Taylor Swift antes de conhecer a Taylor Swift. Mas, sem saber, eu ouvia Love Story no rádio todos os dias indo pra escola e amava demais aquela música. Quando descobri quem cantava, minha cara caiu no chão. A partir de então fui me tornando cada vez mais simpática à menina Taylor, e quando o Red saiu o amor e a felicidade foram mais do que plenos. Enfim nos encontramos. 

Anunciada sua mudança de ~linha editorial~, abandonando de vez o country e abraçando o pop, é claro que eu temi. Eu odeio mudanças, principalmente em time que está ganhando. No entanto, no meio desse frenesi pré-lançamento do 1989, andei numa febre Taylor Swift que me levou a ler muita coisa sobre ela e assistir alguns dos seus shows (for the love of sweet baby Jesus, assistam o especial Story Tellers dela e chorem abraçados com o computador). E o que eu concluí nessa jornada foi que Taylor Swift está crescendo, mudando, aprendendo. Essa mudança de sonoridade (e de atitude também, quando prestamos atenção nas letras) é um reflexo disso, e como eu acho que ela mudou pra melhor, fico feliz por ela. Por mais que eu ame a fase Fearless, por mais que Red esteja tatuado na minha alma, 1989 nos oferece uma Taylor Swift mais madura, mais segura, mais dona da sua música e, finalmente, mais posicionada

Artistas sempre mudam, a música tem que evoluir junto com eles. Muitas bandas que eu conheço e gosto tiveram pontos de mudança importantes em suas trajetórias. Alguns eu curti, outros não, e o importante é lembrar que o antes sempre vai estar ali pra gente lembrar com saudades e ser feliz. "Everybody here was someone else before"

Como foi do meu entendimento que esse lançamento tinha um impacto muito importante nas nossas vidas, resolvi fazer um faixa a faixa do disco pra discorrer sobre cada momento desse novo trabalho da nossa melhor amiga famosa preferida. Me acompanhem:


Welcome to New York: Começa com esse sintetizador que é a cara dos anos 80 e eu já estou com os braços pra cima gritando MINHA MÚSICAAAAAA. É minha vertente pop favorita: batida marcada, refrão chiclete, música que faz dançar logo nos primeiros segundos. A letra fala muito sobre mudanças e adoro especialmente a parte em que ela diz que é hora de deixar a bagagem no chão, colocar o coração partido na gaveta, que todo mundo ali já foi alguém diferente. 
Blank Space:Pronto, na segunda lista temos Taylor falando de amor, do jeito que a gente gosta. Que letra maravilhosa, que ser humano é essa garota. É uma música sobre o começo e o fim de relacionamentos, uma referência direta ao fato de todo mundo pegar no pé da moça por seu elenco de ex-namorados e ela estar se importando tanto com isso que não vê a hora de escrever mais um nome na lista. "You look like my next mistake. Love's a game, wanna play?". Inspiração de vida.
Style: Nesses dois dias ouvindo o disco, se tornou minha favorita. A primeira que eu decorei o refrão logo de cara, aquela que me fez sair cantando e pulando pela casa. E sabe, preciso confessar que quando ela coloca referência de modas na letra e fala sobre como ela e o mocinho se vestindo, só consigo pensar em jeans com jeans. Não tenho paciência pra investigar, mas essa música é pro Harry, né? James Dean daydream look, cabelo grande, sem falar no título nada direto. Risos.  
JHDAJHDKAJHDKJAHHJFGSJFHGAF
Out Of The Woods: Foi uma das poucas músicas que eu ouvi logo quando ela liberou, e de início não tinha curtido. A presença do Jack Antonoff, que compôs a música junto com ela me pareceu muito marcante, e não sei se vocês sabem, mas eu não suporto .fun. No entanto, ouvindo a música no contexto do CD, consegui curtir mais, acho que ornou legal. Outra sobre o Harry, aliás. 
All You Had To Do Was Stay: Caras, quando eu digo que todos os caminhos levam à Kelly Key ninguém acredita. Isso é tipo a "Baba" da Taylor Swift. Refrão chiclete, desses pra gente ouvir andando na rua se sentindo maravilhosa, pra limpar a casa se sentindo soberana, pra lavar o cabelo se sentindo a poderosa dos gritinhos finos.  
Shake It Off:  Adoro muito que Taylor está rindo muito de si mesma nessa novo disco, e se fazendo menos de vítima do que o costume. Shake It Off me ganhou logo na primeira ouvida pelos primeiros versos e acho um avanço desde Mean, outra música pros haters que eu, pessoalmente, acho que tem uma letra bem infantil. No entanto, meu ideal do melô de perseguida ainda é Piece Of Me, de Neidoca. Melhor que dar os ombrinhos por críticos é jogar na cara deles que eles sobrevivem às suas custas. Sobre o clipe polêmico, essa mesa redonda tem várias problematizações importantíssimas que vale super a leitura. 
I Wish You Would: Essa música me lembra muito uma outra música que eu não consigo lembrar qual é (?) e até eu resolver esse mistério não vou conseguir prestar atenção o suficiente pra formar uma opinião sobre ela.  
Bad Blood: Me lembrou outra música, e dessa vez eu sei qual: Boom Clap, da Charlie XCX. Outra coisa que essa música lembra é a treta da Taylor Swift com a Katy Perry, e por conta disso minha má vontade com ela aumenta um pouquinho. Nem tem a ver com escolher um lado, e sim com o fato de essas picuinhas de bastidores me irritar bastante. A gente não precisa de reforçar esse estereótipo nocivo de que mulheres estão sempre sabotando umas às outras e estão sempre competindo. Não ajuda ninguém, pior ainda se for por causa de homem. Taylor, você é melhor que isso.  
Wildest Dreams:  Estou louca ou dessa vez Taylor Swift bebeu da mesma fonte que a Lana Del Rey? Não sei, os arranjos me lembraram muito as músicas dela, e esse tom meio onírico, meio sexy, sei lá. Eu gostei do refrão, vale?
How You Get The Girl: Gente, se estivéssemos em 2005 a Taylor Swift super estrelaria um romancinho da Disney no cinema, de preferência algum em que a protagonista sonhasse em ser cantora, e essa seria a principal música da trilha. Quando escuto essa música só consigo pensar em Hilary Duff, A Nova Cinderela e todos os seus filmes maravilhosos. Não que isso seja um defeito - quer dizer, depende da sua opinião sobre esse paradigma. Mas não é como se não tivéssemos ouvido isso antes.
This Love: Primeira música lentinha de 1989 e, sei lá, não me cativou muito. As baladas da Taylor Swift não costumam me ganhar de primeira, então sempre há esperança. Mas, por enquanto, é meio irrelevante pra mim.

Não vou comentar o resto do disco porque, como aparentemente é regra no trabalho da Taylor Swift, suas últimas músicas costumam ser bem pouco interessantes. Talvez seja bloqueio meu, mas nunca consigo prestar atenção às últimas faixas, de modo que não vou emitir opinião alguma sobre o resto do CD.

Meu veredito final? Três chicorinhas e meia. 1989 trouxe uma mudança, e o importante é que a mudança funcionou. Você pode não curtir música pop, pode sentir falta da vibe de antes, pode não suportar a batida dos anos 80, mas o negócio é que a moça resolveu arriscar e sustentou a manobra, segurou firme a ambição e se deu bem com ela. Acho que ela ainda pode se encontrar mais nesse nicho, fazer com que as músicas soem mais dela e menos de suas influências, mas ei, já é um começo. 

Aliás, já tem tempo desde que Taylor Swift era aquela mocinha que cantava country em Nashville, e se prestarmos atenção na evolução de discografia, estava tudo meio que aí. Em 1989, Taylor Swift tá pisando firme, tá rindo de si mesma, continua escrevendo bem pra caramba e continua sendo nossa melhor amiga famosa preferida.


Bem-vinda a Nova York, Taylor, ela estava esperando por você.

Onde você estava?

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No dia 26 de outubro de 2014 eu vi meu país reeleger a Dilma Rousseff na eleição mais acirrada que o Brasil já teve. Coincidência ou não, foi também a eleição em que eu mais estive envolvida - menos por uma paixão específica por um dos lados, mais por uma convicção nunca antes tão firme em certos ideais que eu não suportava ver ameaçados. Eu não fazia a menor ideia de que resultado teríamos às oito da noite, e lá pelas quarto da tarde parei de fingir que estava tudo bem, que eu não estava nem aí, para assumir que minha falta de concentração e o desconforto no estômago eram, sim, por conta do pleito.

Para fugir um pouco do climão pesado - se essas eleições vão ficar marcadas pela disputa apertadíssima do segundo turno, infelizmente vamos lembrar dela  também como aquela em que as pessoas deixaram ver o seu lado mais cruel, preconceituoso e odioso - combinei com o Matheus que faríamos uma pequena indulgência a nós mesmos: jantar num restaurante maravilhoso e um tanto quanto além das nossas posses. Nós comeríamos hambúrgueres suculentos (tipos de Anna Vitória: vai jantar num lugar especial e come hambúrguer), dividiríamos waffles com a calda de chocolate mais maravilhosa que já se teve notícia, e tomaríamos água do balde de gelo porque that's how we roll. A gente ia falar bobagem, rir mais alto do que seria de bom tom, discutir amenidades - e quando saíssemos de lá o destino do país estaria decidido.

O que aconteceu foi que não desgrudamos do celular a noite toda. O que aconteceu foi que nesse dia 26 de outubro eu perdi o apetite, eu deixei meus hamburguinhos esfriarem porque estava ocupada demais atualizando o Twitter em busca de notícias. A gente sabia que a cena era ridícula, a gente jurou mais de dez vezes que o celular ia ficar no centro da mesa e só seria olhado quando houvesse certeza do resultado. A gente estava com vergonha da nossa situação lastimável, mas a 10 minutos da grande resposta falar bobagem não era uma opção, muito menos rir, muito menos falar amenidades, imagine só comer!

Eu cogitei até abrir mão da sobremesa. É grave, doutor?

Fatos históricos relevantes estão destinados a se transformar em caso de mesa de bar, desses que  se tornam uma conversa reincidente, um caso que ninguém se importa de contar de novo e de novo, a cada efeméride significativa. Onde você estava? Isso porque são raras e marcantes as chances que temos de ser testemunhas vivas da história, e recordar essas circunstâncias é como fincar uma bandeira particular naquele Grande Acontecimento. É como tirar uma selfie com a História.


A minha foi tirada com as mãos trêmulas segurando um celular, porque não foi suficiente que me contassem, eu não acreditava nas manchetes que liam pra mim. Eu precisava ver com meus olhos, com as minhas mãos, e me certificar de que eu estava ali. Com uma garrafa de champanhe intimidadora na minha frente, que não tínhamos dinheiro para pagar, mas bem que eu queria. Porque eu estava lá, eu fiz parte daquilo, eu sofri pra caramba, ainda que na minha gritante insignificância diante da grande ordem das coisas.

Eu não faço a menor ideia do que vai acontecer daqui pra frente, eu não acho que vai ser tão bom como meu otimismo inevitável tenta me fazer acreditar, eu me questiono se valeu o sacrifício, mas para todos os fins narcísicos e egoístas da minha narrativa pessoal, fica aqui a minha história. O resto é o nosso futuro.

Onde você estava? 

Manifesto contra quem pensa que assédio é motivo pra dar risada

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Para ler ouvindo:


You're trying to tell me sexism doesn't exist, but if it doesn't exist, what the fuck is this?
Kate Nash, mas poderia ser eu e qualquer mulher sobre as coisas que temos que aguentar.

Então que ontem eu me peguei vendo Amor & Sexo. Nas chamadas mais cedo vi que eles iam falar sobre questões femininas e logo imaginei que a chance de feder era grande, por isso mesmo queria passar longe da televisão. Mas me distraí, a TV estava ligada mesmo, sabe como é. De repente, não mais que de repente, eu estava cuspindo moscas varejeiras de ódio e não conseguia nem dormir só pensando a respeito do desserviço que foi aquele programa.

A primeira pauta foi sobre cantadas na rua, coisa que eu prefiro chamar de assédio sexual mesmo. All fun and games, apresentadora e convidados rindo bastante de tudo, falando que dependendo da fala  pode ser ofensivo, mas que faz parte, é paquera, é esse remelexo gostoso do acasalamento, é um impulso irrefreável masculino. Não cantar uma mulher bonita na rua é como ver seu time jogando e não torcer. 


Enquanto o pessoal estava relativizando uma questão séria e dando mais motivo para sermos chamados de loucas, frígidas e histéricas na hora de reclamar a respeito dessa agressão, eu lembrava de um dia em que eu estava andando na rua e um carro começou a andar devagar bem perto de mim. Já era de noitinha, não tinha muito movimento, e o dono do carro abaixou o vidro, assobiou e começou a falar psiu. Eu fui apertando o passo, olhando ao redor e pensando em como eu poderia fugir, ou me defender, caso aquele homem resolvesse encostar  e vir atrás de mim. Não olhei pro carro em momento algum, só fiz minha melhor cara de dragão das trevas e andei mais rápido. Então ele falou ei, gatinha e pela voz eu reconheci que era meu pai. Brincando comigo. 

Fiquei tão transtornada na hora que mal falei com ele, só dei um tchau rápido, recusei a carona e segui em frente. Tremendo ainda. Porque eu estava assustada, eu estava pensando em coisas horríveis, eu só conseguia imaginar o pior. Esse pior não era um assalto, um sequestro relâmpago, eu não estava com medo de perder minha bolsa ou meu celular. Eu ando na rua todos os dias com medo de ser estuprada, com medo que alguém passe a mão em mim, com medo que um cara se ache tanto no direito de invadir o meu espaço que acredite poder também levar isso pra um outro nível. 


Vai ver ele acha que meu vestido está lhe dizendo alguma coisa, vai ver ele acha que meu não, na verdade, é um sim, como c e r t a s m ú s i c a s nas paradas de sucesso do mundo todo levam ele a acreditar. 

Pros homens tudo é noooooossa, né? A gente que é nervosinha e não sabe brincar. Eles só querem descontrair, paquerar, melhorar nossa autoestima. Risos. Risos eternos. O que eles não veem é que essas pequenas, insignificantes, indolores agressões cotidianas acabam legitimando outras maiores, mais sérias. Eles não enxergam o quão grave é isso porque nunca se sentiram vulneráveis desse jeito. O que pra eles é uma gracinha é motivo de pavor pra alguém que, como eu, quando tinha 13 anos foi cercada por uns sujeitos bêbados no meio da rua, durante o carnaval, e ouviu que só sairia dali depois de beijar todos eles. Não preciso dizer que nunca mais passou pela minha cabeça curtir um carnaval de rua, e que até hoje fico meio cabreira de circular sozinha por festas grandes, né? 

Ninguém nunca puxou esses caras pelo braço no meio de uma balada, uma, duas, três vezes e um não não foi o suficiente. Por que, não? Você é tão linda. Porque eu não quero. Você é lésbica? Eu não quero. Você tem namorado? Eu não quero, dá licença. Vai se foder então. Enfim, um sábado a noite como outro qualquer. E sabe o que é pior? Nem é novidade mais. Faz parte. A gente sai de casa sabendo que sempre vai ter um idiota pra te puxar pelo braço, pra vir passando a mão no cabelo. Vira rotina. Às vezes vem caras legais falar comigo, acontece também, mas estou tão acostumada a ficar na defensiva que tenho dificuldade de levar a sério. Isso é muito triste, quando a gente para pra pensar.

Eu participo de três grupos sobre feminismo no Facebook, e não passo um dia sem ouvir um desabafo de alguma mulher sobre assédio, sobre agressão, sobre abusos sofridos na rua, dentro de casa, na faculdade. Nunca vi nenhuma delas comemorar porque nossa, um cara na rua me chamou de gostosa e isso fez meu dia. 

Assinado: NINGUÉM
Normalmente é assim: estava voltando pra casa a noite, no meu bairro que nunca me deu motivos para me sentir insegura, quando da sacada um homem começou a falar comigo. Boa noite, moça. Boa noite, moça. Oi, linda. Ele ficou falando até eu virar a esquina, e enquanto isso eu só pensava que ele estava no primeiro andar e tinha tempo o suficiente pra descer correndo as escadas, me alcançar, e fazer o que quiser comigo. A chance era mínima, claro, mas é tanta coisa que a gente ouve por aí, tanta coisa que a gente passa, que, sim, qualquer coisinha dessas é motivo pra ter medo, e não é pouco. 

Esse caso é meu, o episódio da semana. Pode ter certeza que semana que vem vai ter um novo, e na outra também. Eu poderia fazer uma newsletter sobre isso, que tal? Como Um Cara Fez Com Que Eu Me Sentisse Suja, Agredida, Assustada e Invadida - Semana #34. Eu tenho medo, todos os dias. Podem até usar o meme da Regina Duarte pra ilustrar, se quiserem. 

Tem mulher que gosta? Aposto que sim, já me falaram, mas tem gente que gosta de apanhar na cara e nem por isso eu saio por aí enfiando minha mão nas fuças de quem eu acho que está merecendo umas bifas. Na dúvida, fica calado, fica no seu canto e respeita as minas. Se estiver interessado mesmo, aja que nem gente, não seja um idiota, vai que. Até porque nunca ouvi uma história que começou co Então, a gente se conheceu porque ele gritou que minha bunda era maravilhosa e então eu soube que era amor.


Quanto a certos programas, se não for pra ajudar, por favor, não atrapalhe. 2014, caras. Melhorem. O expediente no escritório feminista já é cansativo demais sem vocês empurrando o movimento pra trás. Não passarão.

Update: a  ♥ Clara Averbuck ♥ escreveu sobre o programa de ontem também e, como sempre, matou a pau. Prestigiem.

Taylor Swift Book TAG

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Faz um milhão de anos que fui indicada para essa maravilhosa TAG pela Ana, do Oh So Fangirl, e pela Analu, do Minha Vida Como Ela É. Eu realmente queria respondê-la em vídeo, mas ando numa fase bem péssima diante das câmeras e meio que perdi o pouco de jeito que eu tinha para lidar com essas coisas. Eu pensei que fazer telejornalismo ia me ajudar nesse ponto, mas tudo que consegui foi falar de livros e músicas da Taylor Swift com uma entonação ridícula de apresentadora wannabe do Jornal Nacional. Vida que segue.

O importante é que um ser humano iluminado, mais especificamente a Sarah Jane, do canal The Book Life, teve a brilhante ideia de propor uma TAG na qual devemos relacionar LIVROS E MÚSICAS DA TAYLOR SWIFT! É ou não é a melhor ideia de todos os tempos? É sim. Ainda estou na febre 1989, por isso acho que não existe momento mais oportuno pra brincar disso. Para quem ainda não viu, semana passada eu contei um pouco da minha ~relação~ com a cantora e comentei todas (na verdade quase todas) as faixas do seu disco novo. 


1) We Are Never, Ever Getting Back Together (ou livro ou série que você estava amando, até que decidiu terminar pra nunca mais voltar): Já contei essa história antes, mas lá vai de novo: Eu li o primeiro livro da saga Crepúsculo quando eu tinha 14 anos e, nossa, foi uma experiência maravilhosa. Foram uns três dias de histeria completa, eu ligava para minha melhor amiga e nós relíamos juntas nossos trechos preferidos, nós dávamos gritinhos e passávamos a aula toda falando sobre isso. Fui no embalo e emendei Lua Nova, mas larguei o livro no meio assim que a Bella começou a morder os travesseiros de saudades do Edward. Se tem uma coisa que eu não sou nessa vida é obrigada a aguentar esse tipo de piti. 

2) Red (ou um livro com a capa vermelha): Tento organizar meus livros pelas cores, e boa parte da minha estante improvisada é composta de livros vermelhos, com a lombada vermelha ou com detalhes vermelhos na capa. Acho que Febre de Bolaé o mais vermelho de todos, porque a não ser por esses desenhos pretos e o título em branco, ele é inteiro de um vermelho vivo, tipo o violão da Taylor Swift (que eu AMO de paixão). Falei bastante sobre ele durante minha semana de crônicas sobre a Copa do Mundo e acho que não poderia ter época mais apropriada para lê-lo. Nele o Hornby escreve uma espécie de autobiografia tendo como referência sua paixão pelo Arsenal, e apesar dele ser meio machistinha às vezes, quem gosta de futebol vai se identificar bastante, e quem não gosta vai ver o esporte de um outro jeito.

3) The Best Day (ou um livro que te deixe nostálgica): Essa foi bem fácil de escolher, porque eu li Nada Dramática, da Dayse Dantas, esse ano e o livro me fez revisitar um monte de coisas da minha época de ensino médio. Ele é bacana porque entrega uma experiência de escola brasileira bem diferente da americana, que é uma referência constante pra quem costuma ler YA. Outra coisa legal é que o ano de vestibular da Camila, a protagonista, foi extremamente parecido com o meu - tanto que ela até presta o vestibular da UFU - e foi divertido ver que eu não sucumbi à loucura sozinha e que em outros cantos tinha gente tão doida quanto eu.


4) Love Story (ou um livro com uma história de amor proibido): Eu jurava que teria várias respostas pra esse item, mas olhei minha estante e não encontrei *nenhum* livro com uma história de amor proibido. Então eu lembrei de Vampire Academy, com Rosinha e Dimitri. Eu gosto dessa saga porque ela não gira em torno do romance, muito menos a vida da protagonista. Ela e Dimitri não podem ficar juntos porque fizeram escolhas na vida que invalidam essa opção, e eles meio que entendem que existem circunstâncias maiores que os dois em jogo. Eu admiro eles por isso, e gosto ainda mais de Richellinha por ter apostado nisso. Várias coisas mudam ao longo da saga, mas o que me faz gostar tanto dela é tipo essa frase acima: os motivos para eles não ficarem juntos só me fazem gostar dos livros ainda mais.

5) I Knew You Were Trouble (ou um personagem mau pelo qual você se apaixonou mesmo assim):Então, eu realmente não tenho uma resposta. Eu poderia citar o Adrian, bad boy de Vampire Academy e Bloodlines, mas ele não é um cara mau. Ele é um anti-heroi autodestrutivo, mas que costuma fazer as coisas certas. Outra opção seria o Draco Malfoy, de Harry Potter, mas não foi o Draco da J.K.Rowling que me conquistou, e sim aquele das fanfictions. Acho que um dos motivos para eu nunca ter botado fé no casal Harry & Gina é porque eu fui lobotomizada por essas fics, e na minha cabeça Gina e Draco são o casal perfeito, e eu sou irremediavelmente apaixonada por ele. Culpem Miss Lali Diggory e outras autoras queridas do eterno Floreios & Borrões. SDDS!

6) Innocent (ou um livro que alguém tenha estragado o final pra você): Como vocês devem saber, a saga d'As Crônicas de Gelo e Fogo possui MUITAS mortes. Quando estava lendo o primeiro volume da série, uma amiga que também estava lendo veio saber em qual parte eu estava. Mas ela não simplesmente perguntou o que estava acontecendo, e nem qual capítulo eu tinha parado. Ela chegou perguntando: "VOCÊ JÁ CHEGOU NA PARTE EM QUE FULANO DE TAL MORRE?". Não, eu não tinha chegado. Quem leu vai saber quem é esse fulano. Preciso ser sincera e dizer que não chegou a estragar o livro pra mim, mas certamente diminuiu bastante o impacto do momento e eu nem pude torcer inutilmente para que esse Fulano de Tal se salvasse.

7) You Belong With Me (ou um livro que você esteja ansiosa para o lançamento): Não costumo acompanhar os lançamentos de livro e normalmente sou dessas que só fica sabendo depois que todo mundo já leu e comentou a respeito. Esse ano tive duas exceções: há alguns meses soube que a Amy Poehler, rainha do meu universo, lançaria um livro e fiquei bem ansiosa pra isso. Yes Pleasesaiu semana passada e eu estou só esperando o dólar baixar para comprar, hehe. Outro livro que tem me deixado bem ansiosa é a coletânea de textos da Jessica Hopper, que deve sair ano que vem. Pra quem não conhece, ela é jornalista e escreve sobre música, e eu adoro seus textos na Rookie e na Pitchfork. The First Collection Of Criticism By a Living Female Rock Critic sai em maio do ano que vem. E como se soubesse que eu estaria respondendo a esse meme, ninguém mais e ninguém menos que Chico Buarque anunciou hoje que vem livro novo por aí, o que sempre é motivo para expectativas.

8) Everything Has Changed (um livro com um personagem que se desenvolve bastante): Arcos de amadurecimento pessoal são os meus favoritos, e acho que é por isso que eu gosto tanto de YA's e livros coming of age no geral. Fangirl, da Rainbow Rowell, foi um livro que ficou tatuado no meu coração pela sensibilidade com a qual retratou esse movimento. A autora conseguiu construir uma personagem que amadurece sem perder a sua essência, e a Cath é uma inspiração para todos os introvertidos por aí, porque mostra que ser assim não é um defeito. Ela nunca vai ser uma pessoa extrovertida e não precisa ser uma garota extrovertida. Se abrir mais pro mundo e para as outras pessoas são mudanças que não fazem com que ela seja menos ela mesma, mas simplesmente a deixam mais confortável nessa condição.


9) Forever and Always (ou seu casal literário favorito): Em vão tenho lutado comigo mesma e nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que permita-me dizer que acredito que vou ler todos os livros do mundo e nenhum deles vai fazer eu me sentir como eu me senti lendo Orgulho e Preconceito. Só de pensar em Lizzie Bennet e Mr. Darcy meu estômago é completamente devorado por intermitentes borboletas.

10) Come Back, Be Here (ou um livro que você não gosta de emprestar com medo de que não volte nunca mais): Já respondi numa outra TAG que não tenho muita frescura com isso, e o único livro que me deixou com ciúmes foi minha cópia de The Fault In Our Stars autografa pelo John Green (que é também o livro mais cheiroso do mundo). Para não repetir, vou confessar que teria mixed feelings em emprestar meu The Great Gatsby da Penguin Classics porque a jacket é linda, clara e super frágil, e a capa dura de dentro é toda branquinha. Pavor de sujar essa preciosidade.

Como muita gente fez, vou deixar minha contribuição com mais uma pergunta, referente a uma música de minha escolha:

11) Welcome To New York (ou um livro que se passe num lugar que você tenha vontade de conhecer): Sou meio que obcecada pela Rússia desde que assisti Anastasia pela primeira vez. Eu gosto muito da história do país, e acho lá um lugar louco pra caramba, com coisas bem diferentes de tudo que estamos acostumados. Anna Karenina, do Tolstói, faz um trabalho sensacional na hora de construir um panorama histórico do país num momento crucial, que é o fim do século XIX - ou quando tudo começou a mudar. Além disso, tem paralelos muito bacanas sobre as duas grandes cidades de lá, Moscou e São Petersburgo. E pra falar de Richelle Mead mais uma vez, no quarto volume de Vampire Academy, Blood Promise, Rosinha se aventura pela Sibéria, logo ali do lado, e eu fiquei doente de vontade de conhecer o lugar. Sim, a Sibéria. Me deixem.

Repasso a bola para Ana Mattos, pra Cacá, pra Larie, pra Iralinha, pra Del e pra Kat. Se alguma de vocês já tiver feito é só ignorar. E agora, além do Skoob, eu também tenho um perfil no Goodreads! Vou tentar manter os dois, então se quiserem podem me adicionar lá também, vamos ampliar nosso tricô literário!

Muitos (!) filminhos dessa vez #8

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Eis que o impensável aconteceu: dessa vez começo um post sobre filmes falando que andei vendo muitos filmes desde a última vez que dividi com vocês o que eu tenho assistido. Pois é. Fui bastante no cinema esses dias, mas o principal é que agora minha ~coluna~ no Move That Jukeboxé semanal (toda segunda no computador mais perto de vocês #ad) e eu estou tendo que reforçar meu repertório, pois o estoque de pautas aqui é limitado. Então, além de ter visto muito filmes legais, vi filmes legais com música boa, o que sempre é maravilhoso. Eis a lista das últimas semanas: 

They Came Together (David Wain, 2014): Sabe quando você lê a respeito de um filme e fica tão louca pela proposta que larga tudo o que tem que fazer para assistir? Pois é, eu não sabia até ler a respeito de They Came Together. Eu literalmente larguei o que eu estava fazendo para baixar o filme e assistir. Mas sério, como não amar e obcecar por uma comédia romântica satírica que tem Amy Poehler e Paul Rudd como protagonistas, num pastiche com milhões de referências a outros filmes que amamos? I know right!! Gosto que o filme dá uma zoada nos clichês das rom-coms, mas não é malvado com elas. Dá pra ver que o roteirista é também um fã do gênero e brinca com amor com seus lugares comuns. Me diverti horrores, principalmente na hora de identificar todas as referências (são muitas!). 

Os Guardiões da Galáxia (James Gunn, 2014): Tanta coisa já foi dita e escrita sobre esse filme que sinto que estarei sendo redundante em defendê-lo, mas não tem como falar a respeito dele sem repetir que é o filme mais legal de super-herói que sai em muitos, muitos anos. Eu tinha visto o trailer (várias vezes) e tido zero interesse pela proposta, e só fui assistir porque precisava escrever sobre ele. Que alegria saber que eu estava totalmente errada! Esse quinteto improvável, direto do underground do catálogo da Marvel, me conquistou totalmente, por suas motivações bem pouco nobres e todas as quebras de expectativas que oferecem. O filme é histericamente divertido, tem piadas absurdas, um universo interessante e uma trilha sonora direto do melhor do pop rock dos anos 70, totalmente delícia. Vale muito a pena! 

Lucy (Luc Besson, 2014): Eu não costumo ver filmes de ficção científica. Nada contra, inclusive tenho amigos que gostam, só não é a minha vibe. Então o que diabos eu fui cheirar numa sessão de Lucy? Também não sei. A grande surpresa foi que eu terminei gostando muito do filme e me divertindo pra caramba. Não sei se pelos motivos certos, já que eu e meus amigos éramos as únicas pessoas de uma sala lotada gargalhando no final, mas o importante é se divertir, certo? Sei lá se é cientificamente coerente (né não, pois fiz o dever de casa e fui ler a respeito), tem milhões coisas que não fazem o menor sentido, mas enquanto entretenimento tá ótimo. Eu gosto do Luc Besson, e cheguei a comentar que o filme tinha um sei lá o quê que me lembrava Leon. Quando vi seu nome nos créditos, tudo fez sentido. Tá de parabéns, tio. 

If I Stay (R. J. Cutler, 2014): Essa é a parte que Chatanna assume o comando e vocês ficam com raiva de mim, porque gente, gostei bem pouco desse filme. Não, não li o livro, então posso estar sendo injusta com a história, mas senti que a trama era um monte de desgraça empilhada sem motivo algum a não ser apelar e fazer um dramalhão desses de colocar crítico de coração gelado pra chorar. Eu chorei minha alma pelos olhos, mas justamente porque o filme é muito perfeitamente manipulado pra tocar nos pontos certos e emocionar, mas se a gente tira isso a história não tem força nenhuma. E eu descobri que Carrie quebrou algo dentro de mim com relação à Chloe Moretz e talvez eu nunca mais goste dela num papel. Os pais da protagonista valem o filme, o gatinho do rock por quem ela se apaixona é gatinho mesmo, e as músicas são legais, tipo Strokes limpinho. Quer dizer... 

Heavenly Creatures (Peter Jackson, 1994): Que filme maravilhosamente estranho! Ele se passa nos anos 50 e é baseado na história REAL de duas amigas que tinham um relacionamento bem intenso, extremo, e juntas elas criam um universo paralelo. À medida que o filme evolui a linha que separa a fantasia da realidade é cada vez mais confusa, bem como aquela que as diferencia dos personagens que elas inventaram para si. As famílias de ambas começam a achar essa história muito estranha e tentam separar as duas, e digamos que as consequências disso são bem drásticas. É um filme bizarro, cheio de sutilezas e recursos narrativos legais, é chocante e meio assustador, vocês precisam mesmo ver.  É a estreia no cinema da Kate Winslet e com 19 anos ela já era um absurdo de tão boa. 

God Help The Girl (Stuart Murdoch, 2014): Esse filme surgiu no dia que o vocalista do Belle and Sebastian compôs uma música e viu que ela pertencia a um universo diferente daquela da sua banda principal. Outras músicas vieram desse mesmo lugar, e ele logo sentiu que aquilo tinha uma narrativa com potencial para servir de espinha dorsal para um musical, e então temos God Help The Girl. Stuart, te amo, mas o potencial que você viu não foi o bastante, porque esse filme não faz o menor sentido. Mas não é ruim. Eu juro. Ele só é limpinho demais, tipo fofo ao extremo, esteticamente impecável, a coisa mais hipster retrô brechó da Escócia que vocês podem imaginar, dá vontade de arranhar os olhos. As músicas são legais, o trio principal é lindo, as dancinhas são uma delícia, mas não esperem mais que isso. 

Friends With Kids (Jennifer Westerfeldt, 2011): Da série: aleatoriedades do Netflix. Comédia romântica com a trupe de Bridesmaids e Bachalorette, dois filmes que eu não gostei tanto assim, mas esse eu resolvi ver por um motivo chamado Adam Scott. Sei que não é proposta aqui, mas só eu que tenho vontade de ver mais histórias com amizades entre um homem e uma mulher que não acabe em romance? Sei lá, acho cansativo, principalmente porque é sempre a mulher que se apaixonada e ~não tem maturidade~ pra separar as coisas. Suspiro. O filme é previsível, engraçadinho, mas ficou na minha cabeça porque, de forma bem aleatória, toca não só uma, mas duas das minhas músicas favoritas. A Shot In The Arm e You Are What You Love não tem nada em comum, what are the odds?

Begin Again (John Carney, 2013): Acho que esse filme só é bom para quem nunca assistiu Once, musical irlandês maravilhoso do mesmo diretor. Isso porque Begin Again e Once são o mesmo filme, a diferença é o orçamento e a autenticidade. Once é espontâneo, foi filmado no improvido, sem roteiro fechado, pouca grana, etc. É simples, mas é maravilhoso. Já o Begin Again tem uma proposta de roteiro bem parecida, é muito bem feito, tem músicas ótimas, a Keira Knightley e o Mark Ruffalo são sempre maravilhosos, mas a história não parece real, sabe? É uma versão enlatada e superproduzida do primeiro filme, parece aquela banda com ótimas demos, mas que é totalmente descaracterizada quando vai pro estúdio e perde sua essência numa produção exagerada. Mas as músicas aqui acabam salvando a história

Annabelle (John R. Leonetti, 2014): Outra surpresa bem boa esse filme, meio que um spin-off de Invocação do Mal que, na minha opinião, acaba sendo mais legal que seu filme de origem. Pensei que um filme aparentemente sobre uma boneca do mal só poderia ser trash, mas Annabelle entrega um terror sutil, que me lembrou muito O Bebê de Rosemary (o melhor filme de terror que já assisti), e assustador pacas. Os sustos são ótimos e em vários momentos ele conseguiu me arrepiar a espinha, e isso de um jeito nada explícito, que brinca mais com as coisas que ele não te mostra do que com o que a tela mostra. Um monte de coisas não acontecendo pode ser mais assustador que uns bichos estranhos dentro de um armário. De contras, só a protagonista inexpressiva e o final fácil e bem brega. 

Garota Exemplar (David Fincher, 2014): Provavelmente a única pessoa que não fazia ideia do que esse filme se tratava, fui ver o filme com expectativas bem altas por conta do buzz que ele causou na internet, e saí de lá positivamente surpreendida. David Fincher, always a pleasure. Baseado no livro da Gillian Flynn que eu acabei de ler ONTEM, o filme é uma adaptação bacana dessa história a respeito, principalmente, da forma como nos acomodamos nos papéis que a sociedade nos impõe, e o quão assustador pode ser conhecer alguém de verdade. Tive alguns issues com o filme, que o livro conseguiu resolver bem, e terminei com um nó maravilhoso no cérebro, estou digerindo a história até agora. Não sei falar mais sem dar spoilers, então recomendo pra todo mundo, e talvez ver o filme primeiro seja mais legal. 

Boyhood (Richard Linklater, 2014): NÃO SEI O QUE DIZER, SÓ SEI SENTIR. Linklater fez aqui algo inédito no cinema: acompanhar um mesmo garoto por 12 anos e construir um filme a partir da sua história, com toques de ficção, mas muita coisa emprestada da própria vida do ator e contribuições do resto do elenco. São mais de duas horas e meia de filme onde pouca coisa acontece, mas é sensível e absurdamente lindo observar como pequenos eventos marcam a nossa vida e fazem parte da construção daquilo que iremos nos tornar. É a história de Mason, mas poderia ser qualquer um de nós. A trilha é um espetáculo particular, e o filme ainda nos apresenta o Black Album dos Beatles, feito com o que de melhor John, Paul, George e Ringo fizeram pós-Beatles. Idealizado por Ethan Hawke. Precisamos de mais?

O Harrison Ford do Busão™

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Esse post é parte do meu projeto 1001 Pessoas, inspirado nesse blog aqui.

Harrison Ford do Busão™ é cobrador do ônibus que eu pego cotidianamente. Se a sua vida fosse uma novela, ele seria aquele ex-noivo da sua avó que foi pra guerra e reapareceu anos depois, para semear dúvida e fazer seu avô calcular quando foi mesmo que sua avó ficou grávida do primeiro filho. Ele se parece com o Harrison Ford, tem uma cara de mau, e tem certeza que eu sou idiota. 

Não é como se eu não desse motivos. Tenho uma incapacidade crônica de entrar no ônibus sem fazer papel de idiota em algum momento, e desconfio muito que ele e o motorista tenham um bolão para ver qual será a trapalhada da vez. O mais comum é que eu prenda minha bolsa ou os fones de ouvido na catraca e leve um tranco de mim mesma tentando sair desavisada, mas é comum que eu perca o equilíbrio no corredor, tropece na hora de sentar no banco mais alto, deixe cair as moedas no chão, e um dia eu confundi uma moeda de R$025 com uma de R$1 e levei uns três minutos para entender por que o Harrison Ford estava dizendo que faltava dinheiro pra minha passagem. 

Quando comecei a andar nessa linha, tinha impressão que, além de me achar idiota, o Harrison Ford me odiava. A cada vez que eu me envergonhava na sua frente sentia seu olhar de desprezo e decepção pra mim, como quem pensa na irresponsabilidade das pessoas que um dia deixaram eu sair de casa desacompanhada, como quem tem certeza de que não ganha o suficiente pra ter que aturar meu espetáculo de estupidez dia sim dia não. O Harrison Ford do Busão™ não tinha a menor paciência comigo. 

No entanto, com o tempo, eu percebi que a dinâmica da nossa relação mudou um pouco, e vem melhorando a cada dia que passa. Notei a mudança de ares quando ele começou a fazer um meneio com a cabeça sempre que eu descia do ônibus, movimento que foi logo seguido por uma boa tarde audível na hora que eu entro. Teve também o dia que ele percebeu que eu estava distraída na minha leitura e não tinha apertado o botão de parar, então ele disse, meio que entre os dentes mas alto o bastante pra eu ouvir: ô mocinha, sua parada é a próxima. Nesse dia eu soube que as coisas entre a gente tinham mudado, e, satisfeita, pensei comigo que os brutos também são gentis.

Só que nenhum aviso amigo ou boa tarde sincero poderiam me preparar para o que estava para vir. Aconteceu um dia que eu estava por demais distraída no meu celular que não vi o ônibus se aproximar do ponto. Ele já tinha passado no embalo quando comecei a acenar e pular, feito boa idiota que sou, e eu já estava começando a pensar se meu dinheiro dava para um táxi quando, por um milagre, o ônibus parou no fim do quarteirão. Fui correndo até ele, entrei ofegante e mortificada, já imaginando o olhar gelado de desaprovação que ganharia do Harrison Ford, e quando cheguei na catraca, ele estava rindo. Rindo não, gargalhando. 

Da minha cara, óbvio.

Poderia me sentir ofendida, mas juro que prefiro ele se divertindo às minhas custas do que me olhando como se eu fosse incapaz, ou como quem acha que eu merecia ser atropelada por um ônibus. Ele estava rindo de mim, sim, mas ele também pediu pra parar fora do ponto pra me ajudar. E quando eu entrei ele podia ter tripudiado, ele tinha direito de tripudiar pois só idiotas muito profissionais perdem o ônibus por causa do Whatsapp, mas só tive um: foi quase, hein como reação. Pois é, moço, foi quase mesmo, obrigada pelo apoio, isso não vai se repetir.

Em poucos meses fomos do ódio à pena, e dessa pena parece que chegamos a uma estranha cumplicidade feita de acenos de cabeça, paradas de emergência, e parceria na hora de catar moedas espalhadas pelo chão. Como não andei de ônibus semana passada, hoje o tio Harrison comentou sobre minha ausência: tá sumida, mocinha, tava matando aula semana passada? Foi a maior quantidade de palavras que eu já ouvi saindo da sua boca, e eu boto fé que qualquer dia desses ele vai reclamar do calor, ou comentar sobre o futebol, ou até, talvez, me contar um caso sobre aquele romance da juventude que foi interrompido pela guerra. Porque os brutos também amam, e esse parece ser o começo de uma bela amizade. 

One Lovely Blog Award, etc

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Eu já fui melhor nesse negócio de ser blogueira. Já revirei os olhos para as pessoas que deixavam esse passatempo de lado tão logo a rotina apertasse, porque pra mim blogar era tão vital quanto comer um docinho depois das refeições e lavar o cabelo depois de um dia cansativo, escrever aqui era tão relaxante quanto assistir novela deitada no sofá. 

O problema é que a vida acontece e você se torna uma pessoa cansada que prefere chegar em casa de um dia cansativo e, depois de lavar o cabelo, pular direto pra parte da novela e do sofá. Com aquele docinho depois da janta. É tão bonito o descanso, tão legal não pensar, tão alegre a sensação de não estar em frente a um computador. Suspiro. Queria escrever sobre muitas coisas, da viagem incrível que fiz, do show lindo que assisti, e discutir a evolução da beleza do Alex Turner ao longo dos anos. Sabe como é, questões relevantes e urgentíssimas. Eu ainda vou fazer isso; eu ainda quero fazer isso, o que é mais importante, mas hoje não dá. 

Então deixo vocês com mais uma tag, a One Lovely Blog Award, que fui indicada por muitas pessoas queridas (se eu esquecer alguém me chamem de escrotona nos comentários que eu viro a outra face e me retifico com amor): Dani, Ana, Ana Luíza e Camyli. No final, mais cinco perguntinhas sobre o blog que fui indicada a responder pela Cacá. Resolvi juntar os dois memes porque, afinal, tá tudo dentro de uma mesma proposta. Vamos lá?

1) Por que decidiu criar o blog e quando começou?
Meu primeiro blog, láááá de 2004, foi criado porque um dia a Capricho falou sobre essa nova moda de diário virtual que estava bombando entre os adolescentes e eu, como boa menina de 10 anos cuja maior aspiração na vida era ser adolescente, não poderia ficar fora dessa. Era também o jeito mais fácil de eu ter uma revista só minha. Antes eu fazia minhas publicações no Power Point, mas comecei a cansar das capas terem sempre aquela menina andando de patinete dos clip-arts. Já o So Contagious surgiu em 2007. Na época eu tinha fotolog, era ~ativa na comunidade~ e tudo, mas percebi que eu gostava mais de escrever os posts do que tirar fotos, então talvez fosse a hora de redirecionar essas inspirações. 

2) Quais os benefícios que o blog te trás?
Eu gosto de escrever, eu amo escrever, eu escrevo o tempo inteiro, até quando eu não estou propriamente escrevendo, e meu blog é o espaço que eu tenho para escrever sobre o que eu quiser. Só quem vive escrevendo sabe como isso é maravilhoso e quase vital. Registrar as coisas que ficam zanzando pela minha cabeça, além de me ajudar a dormir melhor, é também um jeito de ter um arquivo mental e sentimental ao alcance da mão - ainda que eternamente incompleto. Adoro reler textos antigos e me lembrar do que eu senti lendo aquele livro, como foi viver aquela experiência, o que eu estava pensando naquela época. Write to rememberé um dos meus motes. No entanto, o mais legal são mesmo as pessoas, que leem, que ainda se importam, que trocam ideias e que migraram do offline pra vida real. É definitivamente o maior benefício. 

3) Qual seu post mais acessado?
Ali na sidebar mantenho um ranking dos cinco posts mais acessados da história do blog. Se você em algum momento já botou reparo nisso, provavelmente viu que há anos que um post não abandona o primeiro lugar: Mórulas, hematomas e colmeias, também conhecido como o post no qual eu compartilho a minha tripofobia, ou o meu bizarro medo de bolinhas juntas e padrões da natureza (sim). Meu blog é uma das poucas páginas que falam sobre isso em português e a maioria das pessoas chega aqui buscando desesperadamente no Google sobre o que diabos significa essa comichão na cabeça que acontece sempre que olhamos esses padrões. Nos comentários rola toda uma discussão sobre o tópico, e vira e mexe alguém manda um depoimento anônimo contando sobre o seu caso, tem até psicólogo no meio da história, uma loucura. 

4) Você usa as redes sociais?
Sim, bastante. Minha favorita de todos os tempos, onde você definitivamente vai me encontrar perdendo tempo e falando bobagem pelo menos uma vez por dia, todos os dias, e onde é mais fácil de me achar do que no meu próprio celular, é o Twitter. Tenho também perfil pessoal no Facebook, onde também mantenho uma fanpage pro blog. Tenho também Instagram, Tumblr, Skoob, Filmow, Pinterest e Goodreads

5) Como o blog tem evoluído?
Não tem? Quer dizer, é claro que não ele não é o mesmo desde dezembro de 2007 (ainda bem!), mas acho que tem uns bons anos que atingimos uma certa estabilidade, tanto em termos de conteúdo como de público. Eu ~achei minha voz~, escrevo, as pessoas leem. Às vezes mais, às vezes menos, normal. E eu gosto disso, então acho que está dando certo.

6) Já viveu alguma coisa importante por causa do blog?
Um texto meu já fez com que meu blog fosse indicado na Folha de São Paulo, através de um colunista que eu era fã e lia religiosamente, toda semana. E ele escreveu pra mim, dizendo que tinha gostado de algo que eu escrevi. Isso foi bem legal. O blog me deu algumas oportunidades de trabalho, abriu portas pra eu escrever em outras publicações - o que foi bem legal também (inclusive, mores, estamos aí pra qualquer coisa hehe). Mas o resto que me desculpe, porque trabalho e reconhecimento não fazem nem cócegas perto do que foi descobrir que eu tinha pedaços de mim espalhados pelo Brasil inteiro, gente que, literalmente, se não fosse pelo meu blog eu jamais conheceria e que hoje é parte de mim. Eu vivi viagens malucas, noites em claro, voos perdidos, churrascos na laje, sonhos e dores compartilhadas, noches mentirosas eos no canot, etc. Resumindo: a coisa mais legal foi a Máfia

7) De onde nasce a inspiração de escrever e continuar com o blog?
Eu disse lá em cima: eu escrevo o tempo inteiro, até quando eu não estou escrevendo. Eu atravesso a rua pensando na cor do céu, na atmosfera da música que estou ouvindo e numa história imaginária pro cara dentro do Corsa parado no semáforo. Ou seja, tudo que eu vivo, imagino, escuto, leio, assisto, etc.

8) O que você tem aprendido a nível profissional e pessoal esse ano?
2014 foi o ano que eu gravei uma passagem dentro de um bar lotado, e consegui fazer isso sem fazer papel (completo) de idiota. Se você visse meu primeiro teste de câmera, diria que eu aprendi bastante. Em 2014 eu também aprendi os pronomes do francês e a diferenciar o passado simples do imperfeito, e quase não erro na hora de usar o subjuntivo. Aprendi a diagramar um jornal sozinha, a mandar um e-mail pra vaga de estágio, a cortar minha franja sozinha e a nunca chegar com menos de meia hora de antecedência no aeroporto. 2014 é um ano que tem me ensinado a errar, que tudo bem estragar tudo e que é normal estar na merda de vez em quando. Esse ano eu aprendi que eu não posso e nem preciso ter medo - mas isso não significa que eu tenha me livrado dele completamente.

9) Qual sua frase favorita?
Não faço a menor ideia, mas a primeira que me veio na cabeça foi: "Each time my heart is broken it makes me feel more adventurous", verso do poema Meditations in an Emergency, do Frank O'Hara, que inspirou a música e o álbum More Adventurous, do Rilo Kiley.


10) Qual conselho você daria para alguém que esteja começando agora no mundo dos blogs?
Escreva sobre o que você realmente gosta, e faça o blog que você gostaria de ler. Be true to yourself.

11) O que os blogs que você vai indicar tem em comum?
Todos eles responderam esse questionário antes de mim, então acho que são todos mais eficientes. Sei lá, eu já vi esse award em todos os blogs que costumo ler, mas se você ainda não respondeu e tá aí esperando uma desculpa, pode usar meu nome e brincar também. 

TÁ POUCO DE PERGUNTA, MANDA MAIS!!!111onze


1) Justificar o nome do blog:
Então, eu sou péssima com títulos. Eu passei literalmente seis meses pensando no nome do blog, até que eu enchi o saco e coloquei o primeiro que veio na cabeça - basicamente seguindo o padrão que eu uso em 95% das decisões na minha vida. Eu detesto o título, acho brega, as pessoas sempre vem com uma referência errada, e eu já cheguei perto de mudar umas três vezes, mas nunca tive coragem. Não era amor, era cilada, mas me apeguei mesmo assim.

2) Prefere postar fotos ou textos? 
Quase nunca fotografo pro blog, sempre escrevo pro blog, então acho que meio que tá respondido, né?

3) Qual o tempo médio usado para escrever um post?
Muito. Umas duas horas, no mínimo. Vira e mexe eu e a Analu combinamos de postar juntas, aí depois de uma meia hora ela já está com o texto escrito, publicado e respondendo comentários, enquanto eu não saí da introdução. Levo bem umas três horas pra postar, em média, contando todo o processo de escrever, editar, procurar imagens, anexar links, etc. É por isso que eu sumo!

4) Para conseguir acessos, links, amigos: como foi a saga para dar maior visibilidade pro blog?
Acho que a boa e velha arte de ler & comentar com carinho nos blogs que você gosta de ler, com conteúdo com o qual você se identifica, não falha nunca e nem vai sair de moda tão cedo.

5) Fotos de si (não necessariamente selfies) entram em algum post ou não? Por quê?
Raramente, só mesmo quando tem a ver com o contexto do post e o contexto dos meus posts dificilmente pedem uma foto minha fazendo qualquer coisa. Até porque eu não sou nada fotogênica e odeio ser fotografada. E entre eu e o Harry Styles, podem ter certeza que eu sempre vou escolher o Harry.

De nada

Diário de viagem: Rio de Janeirinho

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"Tripulação, pouso autorizado no aeroporto Santos Dumont. São oito horas e cinquenta dois minutos, tempo encoberto, temperatura de 22º, e pelo que eu tô vendo aqui a coisa não tá muito bonita não".

Foi assim que o Comandante Sincerão anunciou a chegada no Rio de Janeiro, e lá fui eu grudar meu nariz na janelinha do avião, porque aquele pouso na Baía de Guanabara é uma coisa que eu não vou superar tão cedo. É o melhor jeito de ser recebida pela cidade, ainda que estivesse chovendo, cinza, e nublado. Oi Rio, cheguei. Eu disse que voltaria.

E trate de ficar bonito porque não foi pra isso que eu saí de casa
Há duas semanas tive a chance de ir pro Rio de Janeiro passar um maravilhoso fim de semana sendo amada pelas minhas queridas amigas dessa terra bonita de meu Cristo Redentor, que me levam pra passear, me ensinam life hacks cariocas e me fazem extrapolar todos os meus limites pessoais no que tange à integridade física da pessoa humana. Mas eu sobrevivi pra contar essa história, e olha que teve um Alex Turner ali no meio pra colocar tudo a perder (o show é um caso a parte, depois eu conto), e é isso que vocês vão ler agora.

Enfim, estamos no Rio, eu acabei de desembarcar e corri para fazer festa com Giuliana Rebeca e Gabriela Couth, travessura essa que me deixou presa para fora da área de desembarque antes de pegar minhas malas (queria dizer que foi a primeira vez que quase perdi minhas malas, mas não). No fim das contas deu tudo certo, mas eu realmente queria saber o que é que o aeroporto Santos Dumont tem contra mim. 

Saindo de lá fomos tomar café na Confeitaria Colombo do Forte de Copacabana, uma coisa bem sofisticada, toda uma vibe café da manhã de blogueira acontecendo. O que as fotos não mostram é que tivemos que defender nossa comida dos pombos do lugar e que boa parte do tempo foi gasta observando as pessoas caírem enquanto tentavam subir na prancha de stand-up paddle na praia de Copacabana. Mas a vista, os pãezinhos não identificados e o café estavam bem de parabéns. 




Subimos no Forte pra admirar a vista, fingir compreender o conceito por trás das selfies com o canhão sendo tiradas ao nosso redor, tudo isso enquanto eu tentava com todas as minhas forças não ser dominada pela minha vertigem. Além da Confeitaria, o forte tem uns barzinhos simpáticos e o Museu do Exército, uma proposta interessante se você curte essa vibe bélica meio século XVIII. Grande época. O que eu achei mais legal, além da comida e da vista, é que na costa rola uma espécie de Stonehenge tupiniquim que eu quis muito fotografar, mas fiquei com medo de chegar na extremidade e o vento me derrubar. Momentos. 

Depois de algumas horas de bonding moments na casa de Vovó Couth -  com direito a pintar as unhas dos pés, ouvir Miley Cyrus, Taylor Swift e Beyoncé, e comentar as evoluções capilares de famosas que amamos - foi hora de sair pra comer. De novo. Porque lógico. Perguntaram no Instagram se a única coisa que a gente faz da vida é comer, e eu vos pergunto o que pode ser mais importante que empada, pastelzinho e caipirinhas na muretinha da Urca? 

Fomos no Bar Urca, que a Couth vive recomendando, e não existe jeito mais correto do que aproveitar o fim de tarde. Mesmo com a garoa leve e o dia cinza, é a vista da Baía de Guanabara, com seus barcos e garças contemplativas, é o bairro antigo e as janelas velhas dos prédios, é a empada maravilhosa e os companheiros de mureta cantando Anna Júlia e outras pérolas nacionais dessas que todo mundo sabe cantar. Sem falar nos caras lindos que passavam correndo ou de bicicleta. Eita cidade de homem bonito, Jesus conserve.










































Lá no bar encontramos a menina Paloma, a única responsável do rolê, que passou o dia trabalhando enquanto nós só fizemos comer e falar bobagens. Voltamos para a casa de Vovó para carregar um pouquinho as baterias porque a noite seria longa. Eu já contei pra vocês que eu estava praticamente virada? Pois é, na noite anterior fui dormir à uma da manhã, para acordar às três pra pegar o avião. Ou seja. Era essa Anna Vitória que estava com planos de ir para a balada mais tarde e eu juro que duvidei que isso aconteceria até o último minuto. Porque já eram mais de dez da noite e nós estávamos vendo o DVD da Beyoncé e cochilando enquanto caía uma tempestade lá fora, mas não sei como conseguimos sair desse estado para nos colocarmos belas e antes do relógio bater a uma novamente, lá estávamos nós, na fila da Gafieira.

Eu, virada, na chuva, na fila da balada. Pois é.

A questão é que quando uma pessoa como a Giu avisa que vai te levar numa festa que vai fazer você querer morrer e ser enterrada na pista de dança, você precisa acreditar. Principalmente quando ela diz que vai ser tão bom que você só vai sair dali na hora que te expulsarem. Eu duvidei, principalmente quando deu umas três e meia e eu senti minha barrinha de energia chegar no vermelho, mas por um plot twist desses que ninguém acredita, dançamos até o esgotamento e, sim, só fomos embora quando soou o alarme expulsando a gente do lugar. 

EXPECTATIVAS:


REALIDADE:


Que festa maravilhosa. Quis morrer e ser enterrada na pista e senti que todas as minhas dance parties sozinha em casa foram um treinamento pra noite que eu iria dançar Clara Nunes, Chico Buarque e Novos Baianos até amanhecer, com direito a pequenos interlúdios de Beatles, Oasis e Beirut - sendo esse último responsável pelo momento em que um cara chegou na nossa roda e disse nunca ter visto uma dança tão sensacional quanto a nossa. Teve também o cara que veio dizer que eu estava sendo desagradável com o DJ, só porque cruzei os braços e fiz cara de bosta quando ele tocou Djavan. O cara me manda um Djavan às cinco da manhã e a desagradável sou eu?

Pelo menos a marra deu totalmente certo e logo o cara se tocou e voltou a tocar música boa, e lá estávamos nós pulando abraçadas jurando de pés juntos que quando a gente ama não pensa em dinheiro, só se quer amar se quer amar se quer amar. Não sei se seria capaz de tamanha abnegação, mas quando a gente ama eu tenho certeza que não pensa nos pés moídos, nem no cansaço das vinte e sete horas acordada, mas só no infinito acontecendo ao nosso redor.


No sábado não tivemos tempo de fazer muita coisa além de acordar, colocar nossas ressacas em stand-by e juntar nossas trouxas rumo à casa de Paloma, do outro lado da serra. Fizemos uma transição rápida entre a vibe boemia carioca e a faca na botinha, porque tínhamos um importante encontro marcado com Mr. Alex Turner, no show dos Arctic Monkeys logo mais. Farei um post só pro show, porque é tradição aqui no blog, mas adianto que foi incrível, desgraçou minha cabeça, o Alex é uma delícia que eu dificilmente vou superar, e eu e Giu quase caímos de tanto pular R U Mine, mas se eles continuassem repetindo o refrão, eu continuaria pulando feliz da vida. 


Depois da experiência de quase morte que foi a noite pós-show, pro domingo restou pouca opção senão rolar um pouquinho no quarto e ignorar a triste realidade aeroportuária que nos aguardava logo mais. Para não repetir a experiência do voo perdido da outra visita - e eu, pessoa corajosa, comprei uma passagem no mesmo voo, no mesmo horário, no mesmo aeroporto - saímos com bastante horas de antecedência. Não perdi o avião, voltei pra casa e lá se foram duas semanas, mas eu ainda não consegui parar de ouvir Mardy Bum e lembrar da gente, rir de novo das mesmas bobagens, repetir mentalmente os mesmos diálogos e me sentir extremamente grata por saber que achei mais uma casa - não um teto numa cidade linda que eu amei logo de cara, mas em pessoas maravilhosas, meninas lindas, que transformaram três dias num flawless weekend. 

E há boatos de que em dezembro tem mais!


Suzana Vieira das TAGs

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Queridos leitores, ando com minha cabeça lá pelas tabelas. É impressionante como Chico Buarque vem a calhar nessas horas de sobrecarga. Por exemplo: apesar de você amanhã há de ser outro dia, graduação em Jornalismo/2014/vidinha. Quer mais? Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor, e dou risada do grande amor/diploma/futuro/vidinha. Eita nóis. 

Por mais que eu esteja numa fase de apego com meu homem dos olhos azuis-verdes, pra respirar no meio de uma semana zicada nada como apelar para os bastiões do poder da nossa cultura pop. Temos que mudar a tônica de cabeça na baixela para who run this mothafucka pra ver se a coisa anda. Então resolvi hoje responder a essa maravilhosa TAG inventada pelo André, que gentilmente me indicou para responder. Estou há se-ma-nas trabalhando nisso, porque cada item demanda uma reflexão profunda baseada em uma dance party de pelo menos umas trinta músicas. 

A TAG das Divas™, que é destruidora mesmo, consiste em associar livros às divas pop do momento. Como complemento, depois de cada item coloquei minha música favorita da referida, para valorizar a pesquisa empírica que fiz antes de responder as perguntas. Não é maravilhoso? É sim, então vamos lá.

que mulheEeEeEerrrr
1) Beyoncé: indique um livro de tirar o fôlego
Acho que já li uns três livros desde que li Garota Exemplar, da Gillian Flynn, mas é impressionante como ele não saiu da minha cabeça até agora. Eu já tinha visto o filme quando li, e mesmo assim o livro não deixou de desgraçar minha cabeça - aliás, ouso dizer que ele só potencializou o desgraçamento. Além de ser um thriller muito bom, tem tantas questões importantes sendo discutidas que eu poderia passar horas debatendo essa história. Quando terminei de ler fiquei um tempão atordoada, pensando no que tinha acontecido, bem o que acontece sempre que termino de ouvir Love On Top e penso cá com meus botões: como essa mulher faz isso? 


2) Katy Perry: indique um livro que deveria ser mais reconhecido


Tá, se a Katy Perry realmente precisasse ser mais reconhecida, ela deveria ser, sei lá, a Beyoncé? Desculpa, nunca será. Mas enfim. Northanger Abbeyé um livrinho da Jane Austen que acho que deveria ser mais lido e reconhecido. Se não fosse por Orgulho e Preconceito, inclusive, ele seria o meu favorito da autora. É um dos livros mais diferentes dela porque é uma paródia aos romances góticos da época, e essa sátira é feita de um jeito espirituoso e genuinamente engraçado, através de uma protagonista muito divertida e carismática. O romancinho não é nem de longe a melhor parte, e isso é fantástico. Como não poderia deixar de ser, tem crítica social feminista também, e o estilo narrativo dele é maravilhoso. Se você gosta de Jane Austen, leia, se você não gosta, vai começar a gostar por causa dele. Juro.


3) Taylor Swift: indique um livro sobre superação, ignorar os haters e seguir em frente


Eu não gosto de histórias de superação. Sei lá, acho que a maioria se perde em algum momento pra ser levada por um lado piegas que meu coração gelado e exigente tem dificuldades de lidar. Poucos chegam lá, tocando no lugar certo sem cair em saídas melodramáticas fáceis. Eleanor & Park, da Rainbow Rowell, é assim. Eleanor e Park são dois adolescentes confusos, desconfortáveis consigo mesmos, perdidos. Como todos, mas um pouco pior. Ao longo da história eles se dão as mãos e ficam imensos, brilham no escuro, enfrentam a pressão dos colegas, suas questões familiares, e superam, principalmente, a eles mesmos. Dá gosto de ver como eles crescem juntos, como eles transformam um ao outro, como um torna o outro melhor na mesma medida. Esse livro é muito lindo. Vocês deveriam ler.


4) Avril Lavigne: indique um livro que, por mais que envelheça, continue atual;
5) Miley Cyrus: indique um livro que começa meio tímido, meio bobinho Disney, mas acaba despirocando e mudando os rumos

Tomei a liberdade de unir essas duas categorias porque pra ambas só consigo pensar em um livro: The Bell Jar, de Sylvinha Plath. Acho ele atemporal porque as coisas que Esther sente fazem tanto sentido hoje como faziam nos anos 60, quando ele foi escrito, principalmente no que diz respeito à desigualdade entre os gêneros que a personagem lentamente começa a perceber. O que, se a gente for pensar, é triste demais. 50 anos e pouquíssima coisa mudou. Risos. O livro começa com os relatos da Esther, que deveria estar vivendo a melhor fase da sua vida, mas não estava e ela não sabe bem por quê. No entanto, a personagem entra numa espiral de loucura e depressão que só vai piorando ao longo da história, e é então que ela despiroca (meio que) e as coisas ficam bem brutais. No Disney material here.

6) Christina Aguilera: indique um livro que não deu certo com você

Vou usar esse espaço para falar de um livro que, tal qual a Lotus Tour da nossa querida Xtina, tinha tudo pra ser mas não foi - e não é só comigo. Todo Dia, do David Levithan, conta a história de uma pessoa de gênero não identificado que todos os dias acorda num corpo diferente. Por 24h elx tem a chance de ser aquela pessoa, viver sua vida, conhecer seus amigos, etc. Era a única vida que A. conhecia e lhe parecia boa, até, claro, o momento que elx se apaixona. O quão superlegal é isso? Um ser que vai pulando de corpo em corpo, uma discussão massa sobre gêneros a ser feita, uma metáfora sobre as mudanças da adolescência, e tudo isso vai por água abaixo ao ser mal desenvolvido pra caramba. Uma pena, ainda sou apaixonada por essa ideia que nunca foi. 

8) Britney Spears: indique um livro que tem uma narrativa tão sem graça quanto um show com playback Querido André, achei ofensivo, por isso apaguei. Não posso responder a uma coisa dessas quando a Britney Spears é minha diva pop favorita. Passei um bom tempo conjecturando a respeito dessa questão metafísica de qual livro Neidoca seria se um livro ela fosse, e concluí que essa mocinha que as pessoas adoram gongar é a eterna princesinha da América. Vocês riem da Britney mas não vivem sem ela, e todo mundo aqui dança Toxic na balada com lágrimas de felicidade nos olhos que eu sei. Todo mundo quer um pedaço dela. Por isso vou usar a categoria pra um gênero que vira e mexe as pessoas se justificam por gostar, colocam como prazer culposo, dizem ler pra criticar com propriedade, etc, que é o chick lit. Amigas, se libertem. Pode gostar de chick lit sim, pode rir, pode chorar, pode querer casar com os mocinhos. Pode se divertir sem culpa. Do mesmo jeito que pode sempre pedir Britney pro DJ, porque nenhuma pista de dança permanece a mesma quando toca ...Baby One More Time.

BRITNEY ESTAMOS COM VOCÊ
9) Adele: indique um ator que tenha uma voz própria e única
Gabriel García Márquez, sem nem precisar pensar. Acho a literatura dele muito forte e muito única, o jeito como suas histórias sugam a gente para mundos extraordinários onde chove por anos, garotas bonitas sobem aos céus e as pessoas passam meses inteiros sem dormir. 

10) Lady Gaga: indique um livro bizarro que você custou a entender

Quando li Memórias Sentimentais de João Miramar, do Oswald de Andrade, pela primeira vez, só faltei jogar o livro na parede, tamanha a incredulidade. É um livro modernista, bem modernista, modernista tr00, e na primeira leitura várias partes não fizeram o menor sentido. No entanto, a segunda leitura foi dirigida pelo meu querido professor de Literatura do terceiro ano, então tudo se iluminou, sabe? Eu procurava onde eu tinha visto falta de sentido e insanidade e simplesmente não encontrava. Oswald de Andrade era um gênio injustiçado por mim. Claro que se não fosse pelo professor eu continuaria sem entender lhufas, mas adorei essa iluminação intelectual. Será que se eu ligar pro Peterson ele me explica esse clipe de Yoü and I?

11) Lana Del Rey: indique um livro para quando você estiver morta melancólico

A deprê bate logo na capa, porque as pessoas veem você lendo algo como Como Ficar Sozinho e já vem cheias de palpite achando que é alguma autoajuda. Não é não, mas talvez você precise de uma para superá-lo. Esses ensaios de Jonathan Franzen são cheios de melancolia e desilusão, alguns tão tristes que beira o insuportável, como aquele em que ele conta como foi o fim da vida de seu pai doente com o mal de Alzheimer. O campeão da melancolia é o relato da viagem que ele fez pra uma ilhota absolutamente isolada no Chile, lugar que ele visitou para depositar parte das cinzas de seu melhor amigo suicida, David Foster Wallace. Sei que vocês adoram odiar o Franzen na mesma proporção que ele ama odiar tudo, mas cara, esse livro é realmente bom. Queira estar morta ou seu dinheiro de volta.

12) Madonna: indique um livro que nunca perde a majestade na sua estante

Quer falar sobre guilty pleasure, fale sobre não conseguir parar de gostar do trabalho do Woody Allen, apesar de tudo. Sério, vamos conversar sobre isso, fazer um grupo de apoio e tudo mais. Por favor. Até lá, sigo amando o meu Conversas Com Woody Allen, um livro que reúne entrevistas que o Eric Lax fez com o cineasta desde o começo de sua carreira, que acaba dando um ponto de vista legal sobre vários de seus filmes. É um livro realmente interessante e inspirador para quem gosta do trabalho dele e dos temas abordados nos seus filmes. Sempre tiro dali alguma coisa importante, e sustento com orgulho meu livrão de capa dura da Cosac Naify que comprei com um dos meus primeiros salários pois sou bobinha assim mesmo. 

13) Gretchen (estou chorando): indique um livro nacional que tenha todo o piripipi necessário para te conquistar: Sou monotemática e não posso indicar algum livro nacional que não Dom Casmurro, do Machado de Assis. Ele vem da minha época favorita da literatura nacional, da minha escola literária favorita, que é o realismo, é o tipo de livro que eu mais gosto, a crônica urbana, com narrador não-confiável, personagens densos, quase indecifráveis, um final em aberto, uma moral bem ambígua e uma narração maravilhosa de meu Deus. Machadão é insuperável. 


Nunca sei quem indicar pra essas coisas porque nunca sei quem realmente gosta disso, mas se você tiver achado legal e quiser fazer também, por favor, faça. E deixe nos comentários para eu ver depois, ok? Espero que tenham achado divertido - eu adorei brincar! Obrigada pela indicação, André!

Sobre registrar, dirigir e esquecer: uma história sobre o show do Arctic Monkeys

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Eu já tinha desistido de escrever sobre o show dos Arctic Monkeys porque fiz exatamente aquilo que eu sabia que iria fazer, mas mesmo assim me permiti acreditar que dessa vez seria diferente: deixei passar o calor do momento. E, não sei como funciona para vocês, mas acredito no calor do momento como fator de suma importância quando quero escrever algo numa pretensão besta (que me é, porém, muito cara) de fazer com que quem leia se sinta exatamente como eu me senti -- naquele momento, no seu calorzinho gostoso. 

Só que na sexta-feira passada eu estava em um bar com meus amigos, já na fila para pagar, quando começou a tocar Mardy Bum. Foi como se as quase três semanas que me separavam do show tivessem sumido pelos ares e eu estivesse de novo virando geleia ao ouvir aquele "Well, now then Mardy Bum..." sair da boca do Alex Turner. Naquele dia 13 a música foi tocada na guitarra acústica, só a primeira parte, por um Alex com uma voz tão mais grossa e diferente do que aquela que a gente ouve no Whatever People Say I Am, That's What I'm Not (e isso é ótimo!), que me deixou ir embora pra casa sem o solo que eu tanto queria, e sem a redenção da parte em que ele diz "But I can't be arsed to carry on in this debate that reoccurs, oh when you say I don't care, BUT OF COURSE I DO, YEAH, I CLEARLY DO!". 

Ou seja, foi diferente do que eu esperava, bem menos do que eu queria, mas mesmo assim ouvir aquela música de novo me levou de volta pr'aquele momento, e dessa vez foi perfeito (como tinha sido desde o começo, apesar do jeito torto) e quando a moça do caixa me perguntou se era crédito ou débito a primeira coisa que saiu da minha boca foi ar-gu-men-ta-ti-ve. 

Aí eu pensei: dane-se, vou contar como foi mesmo assim.


Tenho por regra odiar e jurar de morte todas as pessoas que ficam fotografando e filmando os shows que assistem. Acho uma estupidez sem tamanho gastar um dinheirão no ingresso para ver o show através da tela do celular, mas isso seria problema só da pessoa se além disso não atrapalhasse quem está por perto. Não é como se numa pista sobrasse muito espaço pessoal para você levantar seu celular e é frustrante pra caramba perceber que o rostinho lindo do gatinho do rock lá do palco foi bloqueado por um pau de selfie inconveniente de alguém da plateia.

Apesar disso, fiz dois vídeos no show do Arctic. O primeiro deles foi logo na abertura, quando gravei um pouquinho de "Do I Wanna Know?"à pedido de uma amiga. O segundo foi quando as pessoas levantaram seus celulares enquanto o Alex cantava "No. 1 Party Anthem" e estava tão claro que era como se as luzes do lugar tivessem sido acesas. Foi lindo, foi sublime, foi algo impactante o bastante para que Mr. Turner saísse do seu transe musical introspectivo para dizer que queria estar no meio de nós. Eu nem pensei, só liguei a câmera, porque sabia que queria guardar isso para ver depois.

E foi o que eu fiz logo quando acordei no dia seguinte, e me senti imensamente grata por ter tido o insight de filmar aquilo, permitindo que eu vivesse aquele momento de novo e de novo, até cansar.

First Person é o tema desse mês da Rookie, minha coisa favorita da internet. Em seu editorial no dia primeiro, a Tavi contou um pouco sobre como é ser uma pessoa constantemente obcecada em registrar as coisas que vive e como funciona a cabeça de quem tenta ser diretora de arte da própria vida. Esse é um dos pontos que mais me fazem identificar com o trabalho dela, essa ânsia por registrar, lembrar, e viver momentos que, no futuro, sejam como filmes perfeitos em nossas cabeças.

Meus amigos frequentemente se irritam comigo pela frequência com que eu tento dirigir artisticamente nossas saídas ao invés de ver onde a noite vai nos levar - A gente pode usar essas cores, andar por essa rua, ouvir essa música? Essa coesão molda o momento e o transforma na cena de um filme. Eu não sei direito como deixar que essas experiências se desenrolem e ser surpreendida pela forma como elas me afetam; eu quero saber que vou escrever os detalhes estéticos daquele dia mais tarde e ficar satisfeita diante de como tudo se encaixa: a gente usava casacos de pele e cachecóis de lã pela Lafayette enquanto ouvia Blonde on Blonde. 
{Tavi Gevinson porcamente traduzida por mim}

O problema dessa documentação é que uma foto, um vídeo e uma gravação nunca vão se equiparar à experiência do presente. A mediação, qualquer que seja ela, transforma a realidade que ela registra numa ficção, ainda que seja um fac-símile perfeito. Parece, mas não é. E fico aqui pensando no que a gente pode estar perdendo enquanto, ao invés de ~aproveitar o momento~, tenta registrá-lo de alguma forma; ou então no quão inútil pode ser acreditar que você vai conseguir capturar aquele instante. É sobre isso que trata o último texto que o Jon Foreman escreveu em seu blog, que eu li hoje de manhã.

O vídeo de "Do I Wanna Know?" não ficou tão legal assim, porque foi interrompido na hora em que um jato de cerveja atingiu em cheio eu e minhas amigas, molhando meu cabelo, minha roupa e até um pouco do celular. O vídeo tem nossas exclamações de nojo quando percebemos que aquilo não era água, e mal dá pra ouvir o que a banda está tocando porque as pessoas estão cantando junto, bem mais alto que o microfone.

Nem passou pela minha cabeça compartilhar esse vídeo, mas esse registro zoado me parece bem mais legítimo quando penso no que foi, de fato, estar lá naquela noite, mais real do que aquele aparentemente perfeito da outra música. 

Por fim, resolvi não subir nenhum deles. São dois vídeos distintos que contam duas histórias diferentes: uma sobre desastre e outra sobre o infinito em um instante. Resolvi escrever esse texto para me lembrar que aquilo que eu vivi se encontra no meio dos dois, porque um show não existe sem bagunça e sem a inconveniência das pessoas (e eu que vi tudo praticamente no meio de uma rodinha punk que o diga) (tinha muito espaço pra dançar e foi realmente tranquilo) (mas eu não recomendaria), mas a gente não seguiria pagando dinheirões por isso não fosse pelos momentos em que o tempo parece suspenso no ar junto com as pessoas segurando seus celulares sobre a cabeça, enquanto o artista cantarola uma de suas músicas favoritas. 

A Tavi defende a documentação, apesar de tudo, porque ela acredita (e eu também) que a gente transforma a vida num filme para cristalizar momentos reais. Nossos filmes particulares são como um greatest hits da vida, e que mal há em querer uma coleção assim? 

Já o Jon Foreman também defende os registros porque o que os legitima é o fato de que, de um jeito ou de outro, nós fomos lá correr atrás dessas experiências. Eles não serviriam para nada se fossem histórias inventadas da nossa própria vida, seriam uma ficção vazia baseada porcamente em fatos reais. E não sei vocês, mas eu não pretendo parar tão cedo. 

No próximo show só espero que eles toquem Mardy Bum de novo, dessa vez inteira.

Mas se registrar é a arte de esquecer, então talvez a arte da vida seja encontrada na sua presente atenção ao momento. Talvez você e eu somos a pintura, o poema, o gravador. Ondas de luz e som passam por nós, e nossa tela responde com ações próprias: experimentando essa alegria e a passando adiante. Então tire fotos das ondas de cor que passam por você. Escreva sobre isso. Grave o momento da melhor forma que puder. Mas saibe que essas ondas que quebram na sua costa não podem ser capturadas por mãos humanas, mas elas nos acenam para que a gente volte para suas águas profundas e navegue nelas novamente. 
{Jon Foreman, vergonhosamente traduzido por mim}

E como eu só falei groselha até aqui, um top 5 dos meus melhores momentos no show, para virar filminho e passar na minha cabeça antes de eu morrer:

  1. Do I Wanna Know? na abertura, cantada tão alto por todo mundo que eu não conseguia ouvir a voz do Alex. Depois de um banho de cerveja, em volta de um monte de gente errada. Mesmo assim. Meu Deus, this is happening!
  2. Arabella, minha música favorita do AM, com todo o louvor do seu solo maravilhoso e Alex dançandinho de braços abertos igual o clipe;
  3. No. 1 Party Anthem iluminada pela luz dos celulares;
  4. Fluorescent Adolescent encerrando a primeira parte do show. Pulei e gritei tanto que achei que fosse realmente morrer;
  5. Dobradinha de Mardy Bum e RU Mine pra encerrar o show, com o refrão repetido 3x depois que a música acabou, e eu pulando em todas quase caindo, existindo com dificuldade, mas sem um pingo de vontade de ir embora.
Hors concurs: essa coisa absurda de linda e deliciosa e errada que é Alex Turner. Mesmo calado, mesmo sem fazer gracinhas, mesmo mudando minhas músicas favoritas. Esse homem deitou no palco na minha frente e foi maravilhoso por 90 minutos, com licença. 

Se eu vou superar Alex deitado: jamais (Foto)


























*Eu disse que ia contar sobre como foi o show mas acabei viajando na maionese. Escrevi uma resenha mais ou menos séria sobre ele pra outro site, caso estejam interessados: Arctic Monkeys na HSBC Arena no Rio de Janeiro;
* Os textos da Tavi e do Jon merecem ser lidos na íntegra e no original, não deixem de fazer isso: First Person e Recording Is The Art Of Forgetting - Enjoy Yourself. 
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